domingo, 13 de novembro de 2011

NÃO FOI NO GRITO - 023


UM IMPÉRIO de MENTIRINHA APARENTE

... ou uma das estratégias para saturar o mundo empírico dos sentidos humanos com o objetivo de bloquear e emperrar o funcionamento do mundo conceitual do PODER ORIGINÁRIO. Processos reais, dos quais o dominador se vale, com o objetivo de obter lucros simbólicos e materiais. No entanto oculta o seu objetivo e mantém intocadas as estratégias pelas quais instaura instrumentos para perpetuar a geração da HETERONOMIA do OUTRO.

Foto Círio Simon em 04.11.2011
Fig. 01 – Obra que se apropriou, em 2011,  de um endereço de prestígio no âmbito do  poder originário de Porto Alegre. e se vale deste prestígio para os seus objetivos.  Obra descartável como aquelas espalhadas e abandonadas no Parque Marinha do Brasil.  Nesta imagem evidencia-se como a propaganda e o marketing busca substituir,  esconder e corromper a publicidade de uma fachada necessariamente limpa e identificável de um prédio do Serviço Público.

O povo brasileiro celebrava, há duzentos anos, o seu imperador e muito antes da chegada do Príncipe Dom João. Havia impérios espalhados por todo território nacional antes do ESTADO IMPÉRIO inaugurado por Dom Pedro I.

Esta herança cultural lusitana continua em boa forma nas ilhas dos Açores Herança que o povo cultiva muito além da sua vigência política no reino lusitano e no império brasileiro. É verdade que nos Açores, a associação da imagem das sete línguas de fogo do Divino, encontra um suporte físico na imagem das emanações ígneas das atividades vulcânicas do seu ambiente geológico.

Fig. 02 – Coleta de donativos para a festa em 1974,  nas Ilhas Açores em vez do tradicional muar um bovino puxa a carroça Terminada a cerimônia da plantação do mastro e a eleição do imperador, que eram o anúncio solene de tais festas, saíam todos pelas ruas, a esmolar.

A corte política lusa promovia a sua dominação subliminar, ao se valer do populismo social e econômico, inclusive da cultura pública religiosa. Este processo apostava e continua a sua aposta na onda da inércia tradicional, que arrasta, esconde, torna oco e sem sentido a circulação do autêntico poder originário. O Estado colonialista buscava legitimar, com este instrumento subliminar, e mascarava o uso de todos o seu arsenal aversivo e coercitivo inerente ao seu projeto de dominação pela dominação.

Segue-se este costume no texto “O Imperador do Divino  e suas práticas externas do livro O RIO de JANEIRO no TEMPO dos VICE REIS do escritor Luis Edmundo (2000, PP 185-192) da Academia Brasileira de Letras:

Mandava a tradição que no domingo de Páscoa, diante das igrejas onde se organizavam as festas do Imperador do Divino, junto a um coreto que se chamou império, se erguesse, com toda a solenidade, grande mastro, mostrando no tope, alvissareira, a pomba simbólica do Espírito Santo.

Imagem Luis Edmundo 2000, p.183
Fig. 03 –  Os monarcas do Espírito Santo eram, em geral, meninos de dez, onze e doze anos

Essa cerimônia era festivamente realizada depois da eleição do imperador, que, embora não coroado ainda, a tudo já assistia, na sua esplêndida indumentária de grande gala, cercado, não só por uma guarda de honra, como ainda por uma corte luzida e numerosa.

Os monarcas do Espírito Santo eram, em geral, meninos de dez, onze e doze anos. Não obstante, muitos foram os adultos eleitos para imperar durante as sete semanas de folia, que iam da Páscoa a Pentecostes.

Fig. 04 – A áulica e numerosa comitiva do monarca provisório numa das Ilhas dos Açores no ano de 2010.

Conta-se, por exemplo, no começo do vice-reinado, o caso de certo tanoeiro chamado Cunha, ao qual fizeram os moradores desta cidade imperador do Espírito Santo, por sinal que imperador atrevidíssimo. Sagra-se o homem após uma missa cantada no primeiro domingo de Pentecostes, aceitando ele as insígnias do poder, e instalam-no sobre um trono magnífico a fim de receber, da submissa vassalagem, as saudações do protocolo. Estão as cousas neste pé, quando, para saudar Sua Majestade, surge o vice-rei Conde da Cunha, que, logo da escada do coreto, lhano e amabilíssimo, numa cortesia das chamadas de mergulho, saúda-o por três vezes.

De tal sorte, porém, se compenetra o tanoeiro da sua alta jerarquia, que tem como resposta ao gesto de gentileza do conde apenas um leve franzir de testa e um muchocho... Absolutamente desconcertado, o conde sorri, não sem algum constrangimento, dizendo para os da sua comitiva esta frase, que a História ainda guarda:

– Ah, que se o tratante não representasse tão ao vivo o seu papel, metia-lhe este bastão pela boca...

E os seus dedos crispados e trêmulos apertavam singularmente a vasta bengala de jacarandá de cabo de marfim e biqueira de prata...

Fig. 05 – Procissão, em 1910, das Ilhas dos Açores  No domingo de Pentecostes, isto é, cinqüenta dias depois do domingo de Páscoa, paramentava-se toda a igreja, engalanavam-se todos os altares, acendiam-se as luzes dos grandes dias de festa, e, ao som de músicas e coros, havia missa cantada

Muitos desses monarcas improvisados foram a vergonha e humilhação de várias irmandades, diga-se de passagem.

Vieira Fazenda refere-se, por exemplo, a um deles, certo meninote eleito imperador do Espírito Santo, e, que, furioso com o embaraço que lhe causavam coroa, cetro, manto, trono e corte, vendo-se privado, ainda por cima, do recreio e dos brincos naturais da sua idade, resolveu vingar-se da confraria que o elegera, e que em trono dourado o retinha em atitude de cerimoniosa e severa etiqueta. E é assim que nasce da cabeça do garoto uma idéia absurda, que ele não tarda a pôr em prática.

Simula, assim posto, certa necessidade inadiável, e, sem dizer água vai, abala, correndo à procura dos fundos discretos da igreja... Resultado – move se-lhe, na cauda, imediatamente, cingindo-se ao severo protocolo, toda a áulica e esplendorosa comitiva, composta de provectos e sisudos irmãos. Volta, momentos após, o imperador ao trono, porém, havendo descoberto, no despique, diversão que o alegra, de novo abala a correr, levando, ao encalço, o cortejo majestático que, nesse dia, nada mais fez que correr do coreto para a igreja e da igreja para o coreto...

Fig. 06 – Início da procissão, em 2010,  de um Ilhas dos Açores. No domingo de Pentecostes, isto é, cinqüenta dias depois do domingo de Páscoa, paramentava-se toda a igreja, engalanavam-se todos os altares, acendiam-se as luzes dos grandes dias de festa, e, ao som de músicas e coros, havia missa cantada

Terminada a cerimônia da plantação do mastro e a eleição do imperador, que eram o anúncio solene de tais festas, saíam todos pelas ruas, a esmolar. À frente ia o alferes da bandeira com o estandarte do Divino, seguido de algumas figuras da irmandade, com sacolas, e logo as músicas e o imperador no seu espetaculoso uniforme de gala entre dois irmãos de opa vermelha. Em geral, tanto o alferes como a legião de pedintes, formando o coro da festança, vestiam indumentárias garridas, os tricórnios ou chapéus de massa festivamente decorados de fitas, flores e plumas.

Fig. 07 – Procissão em 1910 numa Ilhas dos Açores.  No domingo de Pentecostes, isto é, cinqüenta dias depois do domingo de Páscoa, paramentava-se toda a igreja, engalanavam-se todos os altares, acendiam-se as luzes dos grandes dias de festa, e, ao som de músicas e coros, havia missa cantada

Quem não tinha a moeda de prata para meter na sacola, vinha com o seu peru, com uma caixa de rebuçados, um metro de fita, o que fosse – mas, que por pouco, não deixava nunca de provar ao santo elevado apreço e maior devoção.

Davam todos, até os pobrezinhos.
O Divino é muito rico,
Tem brasões e tem riqueza,
Mas quer fazer a sua festa
Com esmolas da pobreza.
Fig. 08 – Procissão  em 2011,  em Aveiro Portugal . No domingo de Pentecostes, isto é, cinqüenta dias depois do domingo de Páscoa, paramentava-se toda a igreja, engalanavam-se todos os altares, acendiam-se as luzes dos grandes dias de festa, e, ao som de músicas e coros, havia missa cantada

Para garantir o transporte das dádivas em objetos, sempre numerosos e, por vezes, das mais estapafúrdias em qualidade e feitio, fechando o préstito, vinha, sempre, um burro ou uma carroça, sob a guarda e tutela de irmãos levantando círios acesos.
Dai aquilo que quiserdes,
De alma boa, de alma cega,
Ouro mesmo em barra ou pó,
Que o burro tudo carrega!
O alferes pedinte não esquecia que as ofertas em dinheiro podiam ser substituídas por qualquer cousa que os alimentasse naquela hora de diversão e de quete:
O Divino Espírito Santo
É um grande folião,
Amigo de muita carne,
Muito vinho e muito pão.
Venha um bom copo de vinho,
Venha um naco de galinha,
Venha um peixe, um ovo, um fruto
Ou uma cuia de farinha
Qualquer cousa servia para consolo do
Divino Espírito Santo,
Divino e celestial,
Na terra mansa pombinha,
No céu pessoa real..

Imagem Luis Edmundo 2000, p.186
Fig. 09 –  Sagra-se o homem aceitando ele as insígnias do poder, e instalam-no sobre um trono magnífico a fim de receber, da submissa vassalagem, as saudações do protocolo. Quando, surge o vice-rei Conde da Cunha para saudar Sua Majestade que, logo da escada do coreto saúda-o por três vezes numa cortesia. Porém o tanoeiro compenetra-se da sua alta jerarquia, que responde ao gesto de gentileza do conde apenas um leve franzir de testa e um muchocho... O conde sorri desconcertado, não sem algum constrangimento, dizendo para os da sua comitiva
– Ah, que se o tratante não representasse tão ao vivo o seu papel, metia-lhe este bastão pela boca...

Pela frincha da casa colonial, enfiava-se, então, o estandarte de seda, que era respeitosa e anti-higienicamente beijado, lambido por toda a carola família, do dono da casa ao último escravo. Na volta, vinha o estandarte acompanhado de alguns embrulhos ou de algumas moedas. Moedas para a sacola, embrulhos para a cangalha do burro...
Obrigado, minha gente,
Pelo que vindes de dar.
O Divino Espírito Santo
Muito vos há de aumentar.
E, dando por finda a missão do bando, depois do eloqüente resultado:
A bandeira se despede
Com toda a sua folia.
Viva a dona desta casa.
Viva toda a companhia...
Dias inteiros andam os pedintes pelo bairro, a sacola na mão e os alforjes do burro escancarados como goelas à generosidade do público.
Fig. 10 – Um Imperador no seu trono em 1910 numa das Ilhas dos Açores. Era das mãos de um sacerdote que o improvisado imperador recebia a coroa de metal ou de papelão, o cetro, o globo e a bênção católica A sacra coroação do monarca, feita com todos os preceitos estabelecidos para a coroação dos verdadeiros reis. Só aí, sob o pálio da irmandade o monarca deixava a nave da igreja, ingressando o seu império, onde ia receber as saudações da vassalagem respeitosa e submissa.


Que não se calcule, porém, a dinheirama que se levantava aos poucos, nem o número de objetos recebidos, e que eram, depois de levados pela cavalgadura, postos no leilão de prendas, sempre pelo melhor dos preços.

No domingo de Pentecostes, isto é, cinqüenta dias depois do domingo de Páscoa, paramentava-se toda a igreja, engalanavam-se todos os altares, acendiam-se as luzes dos grandes dias de festa, e, ao som de músicas e coros, havia missa cantada, e, logo a seguir, a sacra coroação do monarca, feita com todos os preceitos estabelecidos para a coroação dos verdadeiros reis. E era das mãos de um sacerdote que o improvisado imperador recebia a coroa de metal ou de papelão, o cetro, o globo e a bênção católica. Só aí, sob o pálio da irmandade, deixava ele, o monarca, a nave da igreja, ingressando o seu império, onde ia receber as saudações da vassalagem respeitosa e submissa.

Imagem Luis Edmundo 2000, p.190
Fig. 11 – Erguendo os mastros da “FRAGATA” e da  FORTALEZA” no pátio IMPÈRIO do DIVINO . Como último número dessa fantasiosa luminária, após uma saraivada vistosíssima de rojões, vinha sempre o combate da fortaleza com as fragatas. Ao meio ficava o forte, tendo uma nau de guerra de cada lado.

O império, em alguns lugares, era de pedra e cal. A maior parte, porém, cifrava-se em modestos coretos de madeira e lona pintada, sobre os quais se estendia um toldo de fazenda vistosa.

Tiveram diversas formas e tamanhos esses impérios memoráveis; foram, entretanto, todos eles, suficientemente espaçosos e capazes de receber não só a áulica e numerosa comitiva do provisório monarca, como, ainda, os múltiplos presentes, que lhes chegavam a cada hora, arrecadados todos em benefício da igreja.
Fig. 12 – Junto ao império outro palanque  para o leilão de prendas
Junto ao império, erguia-se, quase sempre, outro palanque para a música e para o leilão de prendas. Uma girândola anunciava a entrada do imperador para o império. Os instrumentos soavam e, enquanto o povo, de um lado, saudava o príncipe, beijando o pavilhão do Divino, de outro lado as músicas e o leiloeiro cuidavam do que era mais importante: da parte financeira da folgança.

– Quanto dão por esta caixa de segredo em forma de coração? Quem tiver namorada que a compre. Pode não haver nada dentro, mas também pode existir uma jóia de altíssimo valor... Quanto dão pela jóia de altíssimo valor? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três...

E batia com o vasto martelo de pau sobre o balaústre do coreto, fechando o negócio.

O leiloeiro foi sempre um homem de chalaça fácil, embora de difícil propósito, não raro escolhido entre atores de farsa nos elencos do teatro local e convidado pelas irmandades para garantir o bom humor e o lucro nos leilões.

Entre a música e as farsolices do pregoeiro, corria a noite tranqüilamente até a hora dos fogos de artifício, que a encerravam com dignidade, em números de uma pirotécnica simbólica e divertida.

Fig. 13 – Entre a música e as farsolices do pregoeiro, corri o dia tranqüilamente ainda em 2010.
Como último número dessa fantasiosa luminária, após uma saraivada vistosíssima de rojões, vinha sempre o combate da fortaleza com as fragatas.

Ao meio ficava o forte, tendo uma nau de guerra de cada lado.

O número, apesar de velho, interessava sempre. Fazia-se mister que a fortaleza ganhasse e as fragatas perdessem a incruentíssima batalha, que se travava.

Rompia o inominável bombardeio entre evoés e palmas.

Em dado momento, as naus, menos por falta de intrepidez que de pólvora, cessavam fogo. Era a derrota confessada.

Dominando o campo da luta, a fortaleza, no delírio da vitória, então, salvava em direção ao povo, que recebia os chamuscos e aplaudia satisfeito.

Era quando, por um dispositivo qualquer, o quadro que representava o forte, caía, deixando ver, em vez de um reduto de guerra, a imagem suavíssima de uma pomba, a do Divino Espírito Santo, de asa queda, de bico aberto, fulgindo entre luzes de várias cores. Todos, aí, se ajoelhavam, rezando, batendo piedosamente com as mãos no peito...

Fig. 14 – Nas das ruas de uma cidade das Ilhas do Açores em 2010. O dia corre  tranqüilamente entre a música e as farsolices do pregoeiro..

Subiam as últimas girândolas a anunciar aos quatro ventos o final da festança. Repicavam os sinos.

Com aplauso, vivas ao fogueteiro que, ainda quando não prestasse, era saudado como muito bom, e vivas ao Divino Espírito Santo, a multidão, satisfeita, dissolvia-se, espalhava-se e perdia-se, desaparecendo sob o manto da noite escura e silenciosa.

Este hábito. mantido por forças subliminares, abriu caminho e tornou natural a prática do poder imperial no Brasil. No caminho deste tsunami, silencioso e subliminar, ele foi reforçado pela onda da moda parisiense do poder histriônico imperial napoleônico e trazido, em 1816, na bagagem da cultura atualizada da Missão Artística Francesa. No contraditório não se deseja afirmar que a tradição popular, associada a tradição erudita francesa do culto imperial, tenha sido a causas do Brasil adotar, em 1822, o Regime Imperial. Apenas limita-se, aqui a constar que, este regime imperial havia se tornado “natural”, não causou muita espécie e resistência quando foi transferido para valer de fato, e de direito no âmbito do poder político brasileiro. Os ecos desta força subliminar ainda foram possíveis ouvir em Canudos em, 1896, em pleno Sertão e Regime Republicano. Certamente reduzir este movimento de Antônio Conselheiro a uma pura vertente messiânica e sebastianista é querer desconhecer as forças de inércia de uma cultura coercitiva de 400 anos de dominação colonial continuada. Cultura sem direito de deliberar e decidir a não ser sobre superfluidades e festas para alienar os cinco sentidos humanos.

Fig. 15 – Ainda em 2010, numa das Ilhas dos Açores os instrumentos soam e, enquanto o povo, de um lado, saúda o príncipe, beijando o pavilhão do Divino, de outro lado as músicas e o leiloeiro cuidam do que era mais importante: da parte financeira da folgança.

Permitir superfluidades e festas, e até estimulá-las, desvia a inteligência e a vontade de tudo o que pode comprometer diretamente e frontalmente o poder real e efetivo do ESTADO ou do PODER RELIGIOSO. Para estes poderes urge criar, induzir e permitir o surgimento “espontâneo” de estratégias para saturar o mundo empírico dos sentidos humanos tendo com o objetivo de bloquear e emperrar o funcionamento do mundo conceitual do poder originário. Poder anestesiado e alienado permitindo ocultar e manter intocados os instrumentos da dominação e objetivo de outrem. Para encobrir a tragédia real do exercício do poder do Estado cruel e implacável do Poder este vale e faz ressurgir a SÁTIRA romana associada aos autos-de-fé medievais. No Barroco colonial este limite era zelosamente estabelecido pelos instrumentos jurídicos escravidão legal, da Inquisição e da Mesa da Consciência real. Este conjunto era planejado pela Propaganda da Fé que usava e estimulava os cinco sentidos humanos para atingir os seus objetivos subliminares de dominação colonial e de espoliação do trabalho humano. Para este projeto não escapava nenhum mistério sacro. Antes era oportunidade e ocasião do simulacro sensorial de uma sátira velada ao poder terreno do Estado. A cultura do poder originário mergulha neste mar do esquecimento.  Cabia aos mecanismos da dominação colonial, e de espoliação do trabalho, preceder e antecipar-se a qualquer crítica potencial contida na natureza dos mistérios sacros, transformando este tabu em totem a ser adorado.

Fig. 16 – Obra em azulejo de 2010 para o cultivo da memória de um IMPÈRIO das Ilhas dos Açores.

O lucro, o êxito e a fortuna do regime colonial, e da espoliação do trabalho que promovia e acobertava, era manter e eternizar a coesão social e a identidade popular ao redor da Igreja e do Estado unidos no mesmo projeto de dominação. Em ambos os casos o Serviço Público civil e religioso investia apenas na propaganda e no marketing que substitui, esconde e corrompe a publicidade. Publicidade que ambas necessitam evidenciar e mostrar continuadamente nas suas intenções e ações, não apenas em eventos isolados e sobre os quais elas deliberavam e decidiam de uma forma soberana e de última instância.

Resumindo: o objetivo do tipo de dominação, que acabamos de estudar, é o de saturar o mundo empírico dos sentidos humanos para bloquear e emperrar o funcionamento do mundo conceitual do OUTRO. Mundo conceitual do OUTRO que poderia tornar-se competente, a qualquer momento, para entender o embuste, a trampa e o logro continuado de algo colocado em outro lugar, tempo e cultura. Operação que se traduz, em bom português, com o termo jogar o OUTRO na “heteronomia” da sua vontade, da sua inteligência e dos seus mais nobres e puros sentimentos.

. Fig. 17 – O trono real português, em 2011, como memória do período real lusitano e das suas dinastias que aguardam o retorno deste regime.

Generalizando: a micro-estrutura reproduz a macro estrutura na qual opera. Politicamente os indivíduos singulares, os pequenos grupos e as instituições reproduzem em si mesmos, e em ponto menores, o macro regime no qual operam, funcionam e se reproduzem. Ou vice-versa, num circulo virtuoso, ou vicioso, conforme a sua origem e sua natureza intrínseca. Se não o conseguem, de fato e de direito, realizam na forma de FARSA, de SÁTIRA ou com o pé na porta.


TEXTO deste BLOG extraído de

Edmundo, Luís. O Rio de Janeiro no tempo dos Vice-Reis – 1763-1808 / Luís Edmundo. – Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2000. 480 p.
– (Coleção Brasil 500 Anos)
1. Rio de Janeiro (RJ), descrição. 2. Rio de Janeiro (RJ), história. 3. Usos e costumes, Rio de Janeiro (RJ). I. Título. II. Série.
CDD 918.1541

FONTES NUMÈRICA-DIGITAIS
 

O Rio de Janeiro no tempo dos Vice-Reis – 1763-1808  DISPONÌVEL no DOMÌNIO PÚBLICO BRASILEIRO em:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=5194


LUÍS EDMUNDO de MELO PEREIRA da COSTA

IMPÉRIO BICENTENÁRIO  nos AÇORES


TRONO REAL PORTUGUÊS VAZIO

SÁTIRA

AUTO de FÈ


ATO  em PORTO ALEGRE, no dia 11.11.2011 contra o IMPERIALISMO

Este blog possui apenas fins pedagógicos.

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