segunda-feira, 4 de novembro de 2019

189 – NÃO FOI NO GRITO – OUTUBRO e NOVEMBRO de 1819 e 2019

VENEZUELA e BRASIL em NOVEMBRO de 1819 e em 2019:  POLÊMICAS SEM FIM  . 
“Todos os povos do mundo tem pretendido â liberdade; uns pelas armas, outros pelas leis, passando alternativamente da anarquia ao despotismo, ou do despotismo á anarquia: mui poucos são os que se tem contentado com pretensões, moderadas, constituindo-se de um modo conforme a seus meios, o seu espirito, e as suas circunstancias. Não aspiremos ao impossível; para que não aconteça, que, elevando-nos acima da região da liberdade, desçamos á região da tirania. Da liberdade absoluta se desce sempre ao poder absoluto, e o meio entre estes dois extremos é a suprema liberdade social. Teorias abstratas são as que produzem a perniciosa Idea de uma liberdade ilimitada”.
Correio Braziliense - Novembro 1819 p, 480 Política
 01 As legiões de refugiados venezuelanos que atravessam, em novembro de 2019,  as fronteiras limítrofes são Índices como o PODER ORIGINÀRIO da AMERICA LATINA sofre com as distâncias e as desavenças ideológicas, políticas e econômicas.. Desavenças que devido à prioridade da ORDEM ECONÔMICA que atropela a ORDEM SOCIAL e minimiza  os mais sagrados DIREITOS HUMANOS


BRASIL e da VENEZUELA seguiram paradigmas, caminhos e mentalidades completamente diferentes entre si na conquista da soberania.  Razão pela qual não se entendem e  fazem longos discursos. até novembro de 2019, para vizinhos surdos.
Na busca da sua soberania o BRASIL optou por uma passagem pelo regime imperial onde a  Casa Bragança e os nobres lusitanos sentiam-se num casa ampliada. A VENEZUELA optou por um projeto republicano e uma ruptura definitiva com a Espanha.
A TESE da MUNDIALIZAÇÃO PLANETÁRIA está um curso, em novembro de 2019. Na ANTÍTESE são cada vez mais densos os movimentos NACIONALISTAS, a REGIONALIZAÇÃO e TERROIR próprio e único.
PRIMEIROS SONS do HINO da INDEPENDÊNCIA
Fig. 02 As primeiras notas do HINO DE INDEPENDÊNCIA na interpretação de DOM PEDRO  I.  Nos bastidores corriam negociações com as CORTES EUROPEIAS, pois o Brasil optou por uma fase na transição do REGIME COLONIAL para a REPÚBLICA. Esta fase foi o regime IMPERIAL e que se prolongou por 67 anos. Neste tempo a casa dos BRAGANÇA e a NOBREZA COLONIAL continuaram intocados tão bem como  a manutenção da ESCRAVIDÂO LEGAL

CORREIO BRAZILINSE vol. XXII. N°. 137 outubro de 1819
volume XXII. No. 137, pp, 421 até 432. Miscelânea
Justificação do Correio Braziliense contra o Correo de Orinoco
(Continuada de p. 186. Quanto mais se adianta o Correo de Orinoco, menos acha de argumentos para nos atacar, e portanto mais se. alarga em declamaçoens, e em invectivas pessoaes; fraco modo de produzir a convicção. Temos ja explicado a grande differença, que ha, tanto no direito, como nas conseqüências practicas, entre o motim de uma cidade, ou outra qualquer parte minima de uma monarchia, e a revolução de toda a naçaõ. O escriptor do Correo do Oronoco sem se fazer cargo desta distincçaõ, continua a tractar como revolução nacional o motim de Pernambuco, naõ attendendo a tam importantes differenças, nem conhecendo as circumstancias peculiares, que accompanháram aquelle acontecimento
Batalla de Boyaca de Martin TOVAR Y TOVAR
Fig. 03   A BATALHA de BOYACA evidencia os meios violentos e extremos enfrentados pela REPÚBLICA da VENEZUELA para obter a sua soberania plena.. Em novembro de 2019 estas batalhas campais  transformaram-se em radicais confrontos ideológicas e políticas com  perdas de toda ordem para o PODER ORIGINÀRIO  venezuelano


Ouçamos o que mais diz.
" Os epithetos, com que o Correio Braziliense enegrece a insurrecçaõ de Pernambuco, saõ os mesmos que em todos os tempos tem os tyrannos applicado ás acçoens, necessárias para abolir a tyrannia; as suas phrazes saõ as daquelles que julgam da bondade e malícia dos actos humanos, pela superfície das cousas, ou pelo êxito das emprezas. Porém na verdade, o objecto e intenção do agente saõ o critério de suas operaçoens; graduállas pelo resultado he uma vulgaridade alheia de literatos, e escriptores de profissão."
Quer os tyrannos usem, quer naõ, impropriamente das phrases do Correio Braziliense, isso nunca pôde servir de reproche á nossa opinião. O criminoso chama-se innocente; o juiz injusto cobre um acto arbitrário coma capa das leys ; o tyranno opprime os povos com o pretexto do bem publico; mas esta confusão estudada nunca illudio ninguém, e a saã razaõ sempre soube distinguir entre o abuso dos termos e a sua justa applicaçaõ. Pouco importa que o assassino chame oppressaõ á sentença que lhe ordena o castigo; o mundo moral julgará sempre do facto como elle merece ser characterizado. 
http://naofoinogrito.blogspot.com/2011/11/nao-foi-no-grito-021.html Desenho de   Johann Moritz RUGENDAS (1807-1858)
Fig. 04 -  FRANCISCO de MIRANDA[1]  recebido em La Guaira em 10.12.1810. Neste desembarque desfraldou pela primeira vez a BANDEIRA VENEZUELANA, MIRANDA estava acompanhado  por David G. BURNET (1788-1870[2])f uturo presidente do TEXAS na sua separação do México e antes de sua incorporação aos Estados Unidos em 1848.  

Que he uma vulgaridade alheia de literatos, diz o escriptor, e de escriptores de profissão, graduar as emprezas pelo resultado. Seja assim, mas no que nós dissemos sobre o motim de Pernambuco, nem um sô argumento produzimos fundado no mao existo do motim; se fora possível, que diversa cousa succedesse, nem por isso deixaríamos de raciocinar como fizemos. Um general, que inconsideradamente dá uma batalha, e alcança a victoria a pezar de seu erro, poderá ser applaudido pelo vulgar, porém o homem intelligente naõ julgará da sciencia ou prudência daquelle general pelo êxito fortuito, mas sim pelo injudicioso de suas disposiçoens, Deixemos por agora, a questão do Direito. El Rey commandava as forças de todo o Brazil; Pernambuco éra uma só cidade; logo éra um impossível moral, que os revoltosos se pudessem manter contra El Rey. Logo, naõ havendo probabilidade de bom suecesso a sua empreza se pôde e deve characterizar de temeridade, e de imprudência.
" Cremos que, quando o Correio Braziliense chama aos revolucionários de Pernambuco totalmente ignorantes em matérias de Governo, administração e modo de conduzir os negócios públicos, insiste em que naõ deviam procurar a reforma, pelo caminho da revolução, mas sim pelo caminho da petição; porém esquece-se da insumencia deste meio nas monarchias absolutas, quando a reforma tem por objecto o estabelecimento de uma magistratura constitucional, ou do systema de Governo Representativo ; e se a via, que propõem, he a única, que naõ adoece de injustiça, melhor a recommendaria inserindo em seu periódico uma copia dos memoriaes do Duque de Bragança, e seus partidários a Phillippe IV., buscando por este caminho o remédio aos males políticos, que padecia Portugal, e a remoção de Miguel de Vasconcellos, assassinado vélosjacciosos e demagogos Portuguezes, rebeldes e traidores. Eram estes os nomes, que lhe dava a Corte de Hespanha; e elles sabem da approvaçaõ do Correio Braziliense."
O êxito só serve para demonstrar ajusteza deste racionio; porque depois dos revoltosos estarem de posse do Governo da cidade de Pernambuco, naõ appareceoum só facto que mostrasse sua combinação prévia, esperanças de soecorros internos ou externos, precauçoens anticipadas, em fim cousa nenhuma que nelles mostrasse previdência ou conhecimentos dos meios necessários para obter seus fins. Neste sentido o resultado demonstra o argumento. Ao sarcasmo insignificante, que envolve este paragrapho, applicando os epithetos, que demos áo motim de Prenambuco, à revolução de Portugal em 1640; ja respondemos, naõ com frivolos dicterios, mas com argumentos capazes de estabelecer a distincçaõ essencial, que se deve admittir, entre aquelles dous acontecimentos. pelo que naõ julgamos necessário dizer mais a este respeito.
Mas a outra parte deste paragrapho, em um montam de palavras confusa, envolve o seguinte argumento contra nós; e he de que o nosso conselho de promover as reformas úteis por via das petiçoens, propõem um meio insufficiente nas monarchias absolutas, quando a reforma tem por objecto o estabelicimento de uma magistratura constitucional, ou do systema de Governo Representativo. Nestes termos, naõ se tracta ja de reforma, mas sim da destrucçaõ total do Governo existente; enesse caso todo o Governo tem o direito e he do seu dever manter a sua existência. Um rey, que se. acha governando uma monarchia, hereditária por tantos séculos, vendo um ataque dirigido á sua destrucçaõ, tanto delle rey, como da forma de Governo, naõ tem outra alternativa mais do que defender a coroa, com todas as forças que puder. Para isto até naõ precisa ser rey: nenhum homem em authoridade pôde ou deve soflYer um ataque directo para a destruição dessa authoridade; da parte de seus subditos; porque o primeiro dever de seu cargo he manter essa authoridade; e pois sem a manter, naõ pôde exercitar nenhumas das funcçoens, que por essa authoridade lhe saõ connnettidas. Mas tiremos um exemplo, mesmo de Venezuela, que naõ pôde ser desconhecido ao escriptor do Correo de Orinoco. O General Piar, um dos chefes daquelle Estado, mostrou-se descontente, e quiz retirar-se da obediência do General Superior, Bolívar, que entaõ commandavá todas as tropas insurreccionarias. i Que fez o Chefe Supremo Bolívar? Mandou processar o general Piar em um Conselho de Guerra, e passou-o pelas armas. Bolívar naõ éra um monarcha hereditário, em uma monarchia existente ha séculos; éra chefe de um Estado revolucionário, e a legitimidade do poder e authoridade que possuía lhe éra questionada, e quando muito éra dúbia. Mas nem por isso hesitou em manter essa authoridade, que possuía, mandando arcabuzar o geral Piar, que a ella se oppunha. Agora naõ vemos o argumento; por que um rey, cuja authoridade he reconhecida por todo o mundo, e exercitada por séculos, deixe de manter essa authoridade, como Bolívar mantevea sua. Responderá o Correo de Orinoco, que os de Pernambuco chamavam a authoridade do Rey tyrannica; seja assim, mas também Piar chamava a authoridade de Bolívar naõ só tyrannica mas illegal e usurpada, e naõ concedida a elle Bolívar por nenhum titulo legitimo; pois até naõ existia um acto do povo todo, mas somente de uma porçaõ infiinitamente pequena, naquelle paiz, que a authoridade de Bolívar tivesse reconhecido naquelle tempo. Se pois o General Bolivar éra obrigado a manter a authoridade, que possuía, a pezar de que o Geneial Piar a chamasse tyrannica e usurpada, naõ pode o escriptor do Correo de Orinoco esperar, que um Rey fizesse menos. Nôs continuamos a suppôr, que o motim de Pernambuco naõ tinha fim nem objecto determinado; que os que nelle entraram primaria ou segundariamente, obraram por impulsoens momentâneas; e que as suas expressoens, nos mi sorrimos papeis, que ali se expediram depois do levantamento, foram palavras desatinadas, de que seus authores nem conheciam o verdadeiro sentido. Fundados nisto, lamentamos que a alçada ,mandada a Pernambuco, para devassar daquelle motim, prendesse tanta gente, e fizesse parecer tam avultada uma sediçaõ insignificante, que El Rey ao depois com summa prudência mandou metter na escuridão que merecia, acabando tudo por um perdaõ geral, E oxalá, que as ordens d 'El Rey fossem interpretadas como deviam ser. Porém se aquillo éra, como pretende o Escriptor, uma uma revolução para introduzir, em vez do actual Governo, nma magistratura constitucional,e um Governo Represeutativo; entaõ todo o rigor contra os revoltosos he justificado, pelas leys do paiz, e pela forçosa necessidade, em que está El Rey, de manter a authoridade de sua coroa. Talvez o fim, que este escriptor tem, he o de instigar com isto o Governo do Brazil, a que use com os Pernambucanos de todo o rigor, e se faça assim odioso, mas se essas saõ suas vistas sinistras, ja El Rey as acautellou concedendo o perdaõ ; e outra vez o dizemos, desejamos e esperamos, por essa mesma razaõ, que ao perdaõ se dê a interpretação, que a mente d' El Rey lhe destinava, mas que os agentes sabalternos sempre procuram restringir.
" Total ignorância em matérias de Governo, administração, e modo de conduzir os negócios públicos, uaõ he um obstáculo de direito, para sublevar-se contra o poder arbitrário; nem esta ignorância, filha do mesmo systema despotico da Corte do Rio de-Janeiro, dá titulo ao oppressor, para continuar a sua oppressaõ ; pelo contrario, essa ignorância, com que se faz mofa do acontecimento de Pernambuco, he outro justo motivo para levantar-se contra a tyrannia ; e fundar em seu lugar outro Governo liberal, que dissipe as trevas da ignoraneia; que introduza as luzes, que fomente a industria, e abra a todos os cidadãos o caminho, por onde tem de chegar a ser peritos em matérias de Governo, administração e modo de conduzir os negócios públicos."
Que a ignorância em matérias de Governo &c. naõ he um obstáculo de direito para a sublevaçaõ, diz o Escriptor. Seja assim, mas ninguém duvida, que he um obstáculo de facto.- e se homens sem os conhecimentos necessários, se mettem a querer governar um Estado, principalmente intentando dar-lhe nova forma de Governo, e destruir a antiga; por força devem causar a ruina da pátria. Logo essa ignorância he um obstculo de facto, que deve fazer parar com reflexão todo o homem prudente, na carreira revolucionaria, Argumentar-se-ha, talvez, que também nas Américas Hespanholas o estado dos conhecimentos políticos estava ao par dos de Pernambuco, e com tudo elles tem feito a sua revolução, e em algumas secçoens da America Hespanhola ha ja Governos Independentes estabelecidos
e que mantém sua soberania contra as forças e sciencia política da antiga metrópole de Hespanha.
Fig. 05   A cidade espanhola de CADIZ dá sobre o OCEANO ATLÀNTICO ao suk de Portugal, Diante desta cidadã a INGLATERRA travou a BATALHA de TRAFALGAR (21.10.1805)[1] pel qual se tornou senhora dos mares e frustrando as pretensões de NAPOLEÂO BONAPARTE. Nesta cidade – relativamente  livre do controle e investidas da hostes napoleônicas - reuniram-se as CORTES ESPANHOLAS para escrever a CONSTITUIÇÂO depois denominada de BEPA


Assim he; mas convém aqui tornara lembrar as differenças dos dados, para que se conheça a inconcludencia da applicaçaõ. A metrópole da Hespanha, estava sem governo, quando começou a revolução nas colônias; porque havia dous reys Hespanhoes, um prezo outro desterrado; e terceiro rey estrangeiro, a que a naçaõ fazia a guerra; e por fim uma Juncta de homens, chamada Cortes gereaes, limitada a Cadiz, cuja authoridade todos disputavam; neste estado de cousas, literalmente naõ havia na Hespanha Governo algum, cuja authoridade pudesse ser respeitada na America; assim, os povos, considerandose sem governo, começaram a çlleger o que melhor lhes pareceo; e quando os Hespanhoes quizéram oppor-se ás inovaçoens da America, ja estas tinham adquirido demasiada consistência, para se abaterem com fracos meios; e a Hespanha naõ tinha forças adequadas para a empreza. Em Pernambuco nenhuma destas circumstancias existia; porque o Governo do Brazil, naõ somente existia integro, mas ali ao pé no Rio-de Janeiro, e com forças mui superiores ás que Pernambuco poderia exibir, para manterá sua revolução; ainda que Pernambuco tivesse forças iguaes, o Governo por sua proximidade e recursos, se poderia approveitar de qualquer erro, que a ignorância dos de Pernambuco os induzisse a commetter: de maneira que, por esta differente posição, éra ali muito mais necessário do que na America Hespanhola reunião de talentos e de conhecimentos, cuja falta seria» como dissemos, um obstáculo de facto invencível.
http://naofoinogrito.blogspot.com/2011/11/nao-foi-no-grito-021.html pintura de 1896 de  Francisco Arthuro MICHELENA Castillo 1863-1898
Fig. 06    FRANCISCO de MIRANDA na prisão espanhola de CADIZ -  Miranda foi um dos lideres na PROCLAMAÇÂO da INDEPENDÊNCIA da VENEZUELA. Diante da Invasão  das tropas espanholas foi elevado à presidência do país e se rendeu para evitar um massacre da população desarmada. Foi imediatamente atacado por uma feroz oposição interna que o aprisionou e o entregou aos espanhóis que o levaram para Cadiuz onde morreu na Prisão

Mesmo na America Hespanhola naõ tem ficado impunes os erros de seus Governos, procedentes de sua falta de conhecimentos políticos; e sem enumerar algum em particular; porque isso nos levaria a uma digressão estranha, e tam larga, quanto fora do assumpto, baste que apontemos, em geral, o facto de que, naõ obstante a anarchia, que tem reynado na metrópole da Hespanha; naõ obstante a fraqueza em que se acha aquelle Governo, e as dissensoens intestinas, que o ameaçam todos os dias com a ruína ultima, com tudo isso tem um punhado de Hespanhoes feito e continuam afazer, em tam desastrosas circumstancias, uma guerra cruel na America, e nessa mesma Venezuela, de que ainda se naõ tem podido libertar, a pezar dos desejos de todo, ou pelo menos de uma grande maioridade daquelle povo. E se a ignorância dos que tem estado á testa dos negócios daquelles paizes tem tido nisto culpa (como parece ser a opinião do Director de Chili, pelo que expressou aos Commissarios dos Estados Unidos, e como pareceo também aos mesmos Commisarios) he preciso confessar, que, a pezar das combinaçeons que lhes eram favoreveis, os erros desses Americanos Hespanhoes, procedidos de sua falta de conhecimentos políticos, naõ tem ficado de todo impunes. O successo, pois, a seu favor, he divido a causas, que naõ existiam em Pernambuco, suppondo a ignorância igual em ambos os casos,
" Ao systema tenebroso da Corte de Portugal temos attribuido o envilecimento da penna do Edictor do Correio Braziliense ; por mais ignorantes que este julgue aos revolucionários de Pernambuco, qualquer pessoa imparcial, que compare a sua censura com as producçoens que elles deram á luz, em quanto subsistio o seu Governo Provisório, achará muito mais ignorância n'aquella doque nestas. Se os opprimidos nas demais partes do Reyno naõ imitaram o brilhante comportamento dos Pernambucanos, naõ foi culpa sua, mas sim conseqüência necessária do pezo das cadèas, e do maligno influxo de uma doutrina tal como a do Correio Braziliense, consagrada desde tempos mui remotos no código da tyrannia : novo crime, que justifica a revolução de Pernambuco."
Naõ nos está bem responder á asserçaõ do Correo de Orinoco, quando diz, que as producçoens, que deram á luz os revolucionários de Pernambuco, comparadas imparcialmente com as do Correio Braziliense, mostram neste muito mais ignorância. O publico decidirá isto» pelo que nos toca. Mas diz este escriptor, que " naõ foi culpa delles revolucionários, se as demais partes do Reyno naõ seguiram seu excemplo, mas culpa dascadêas e do sytema do Governo, doutrinas do Correio Braziliense, &c. Tudo isto quer dizer, que as ideas dos povos nas demais partes do Reyno, naõ estavam preparadas, para seguirem os planos dos revolucionários de Pernambuco. Proceda isso do systema do Governo, das doutrinas do Correio Braziliense ; ou proceda do que proceder, quando se admitte que certa disposição de circumstancias, voluntária, ou involuntária, naõ permittia que a mais gente do Brazil seguisse o exemplo de Pernambuco, naõ podiam os revolucionários daquella cidade esperar, que tivessem a cooperação das demais províncias, e sem ella os seus planos deveriam cair por terra, sem poderem verificar-se, quer fossem bons quer mãos, e por fauto a empreza éra temerária e filha da ignorância. Agora, que publicamos a falia do General Bolívar, sobre a Constituição que he própria de Venezuela, naõ podemos deixar de citar ao Correo de Orinoco essa authoridade. Se naõ he a de Licurgo, de Solon ou de Montesquieu, he de uma personagem, a quem os compatriotas do Correo de Orinoco escolheram para seu cabeça* Toda aquella falia se dirige a provar, que em Venezuela devem adoptar uma forma de Governo, que seja congenie ás ideas e aos custumes daquelles povos, O Escriptor a quem respondemos, por tanto, deveria mostrar-nos, que as ideas de Governo dos revolucionários de Pernambuco, eram conformes ao espirito, á educçaõ, aos conhecimentos, e ás circumstancias dos povos do Brazil. Se isso assim naõ éra, sejam as razoens quaes forem, os seus planos só podiam ser parto da ignorância, e da precipitação, como nós dissemos. i Por que razaõ recommenda Bolívar, que se naõ imitte em Venezuela, o Governo dos Estados-Unidos? Porque naõ suppoem a educação nem os custumes dos dous povos em igual parallelo: e pela mesma razaõ dizemos que simihantes ideas no Brazil naõ podem ter applicaçaõ. Supponhamos que no estado presente do Brazil, El Rey estava prompto a rescindir o pacto entre a família Real e os povos, e que deseja estabelecer, e recommenda o estabelicimentode uma republica representativa; ^donde havia tirar os elementos para ella ? Uma multidão de gente, requerendo honras titulares, commendas hábitos, fardamentos, uniformes, galoens. i Seria esta a gente para formar uma Republica ? E tal he o estado actual do Brazil. Se as circumstancias mudarem as ideas daquelles povos, entaõ mudará a forma de Governo; ehe possível, que essa mesma profusão de honras as vulgarize tanto, que mude os custumes dos povos; he mui possível que o estado morai da America, mude as ideas do povo no Brazil, e entaõ naõ haverá poder, que obste, á mudança do Governo ; mas em quanto isso naõ succede as tentativas dos revolucionários seraõ sempre vaãs, sempre sem effeito. O Leitor verá por esste nosso modo de racionar, que muito de propósito deixamos sem resposta as personalidades do Escriptor, porque em matéria de tanta importância as consideraçoens pessoaes devem submerger-se e naõ merecer a menor attençaõ, quando interresses tam geraes se envolvem nestas consideraçoens. Continuaremos depois com o nosso Escriptor, e no entanto recommendamos a nossos Leitores a falia do General Bolívar; authoridade que naõ pôde ser suspeita.   (Continuar-se ha.) 
Fig. 07  A IMPRENSA foi um dos instrumentos da PRIMEIRA ERAINDUSTRIAL EUROPEIA foi as multiplicas copias possíveis na primitivas maquinas das linhas de montagem industrial  A ERA INDUSTRIAL na AMÈRICA IBÈRICA foi vivamente combatidas pela metrópoles coloniais ao exemplo do ALVARÀ de 05 de janeiro de 1785 de Dona Maria I de Portugal[1], isto evidentemente visava as MAQUINAS da IMPRENSA

CORREIO BRAZILIENSE,  vol. XXIII. N°. 138[2]. Novembro de 1819 3 o pp. 470 até  494 - Política


VENEZUELA.
Discurso pronunciado pelo General Bolívar ao Congresso Geral de Venezuela, no acto de sua installaçaõ.
(Continuado de p. 368.)
A republica de Esparta, que parecia uma invenção chimerica, produzio mais effeitos reaes do que a obra engenhosa de Solon. Gloria, virtude, moral, e por conseguinte a felicidade nacional, foi o resultado da legislação de Licurgo. Ainda que dous reys em um Estado, saõ dous monstros para o devorar, Esparta teve pouco que sentir de seu duplicado throno: no entanto que Athenas se promettia a sorte mais esplendida, com uma soberania absoluta, livre eleição de seus magistrados, freqüentemente renovados, leys suaves, sábias e políticas. Pisistrato, usurpador e tyranno, foi mais saudável a Athenas, do que as suas leys, e Pericles, ainda que também usurpador, foi o mais útil cidadão. A republica de Thebes naõ teve mais vida que a de Pelopidas e Epaminondas; porque as vezes saõ os homens, e naõ os princípios, os que formam os Governos. Os códigos, os systemas, os estatutos, por mais sábios que sejam, saõ obras mortas, que pouco influem sobre as sociedades: homens virtuosos, homens patriotas, homens illustrados constituem as republicas.
A constituição Romana he a que maior poder e fortuna produzio a povo algum do mundo; ali naõ havia uma exacta distribuição dos poderes. Os Cônsules, o Senado, o povo eram ja legisladores, ja magistrados, ja juizes: todos participavam de todos os poderes. O executivo, composto dos Cônsules, padecia o mesmo inconveniente que o de Esparta. A pezar de sua deformidade, naõ soffreo a Republica a desastrosa discordância, que toda a providencia teria supposto inseparável de uma magistratura, composta de dous indivíduos, igualmente autborizados, com as faculdades de um monarcha. Um Governo, cuja única inclinação éra conquista, naõ parecia destinado a consolidar a felicidade da Naçaõ. Um Governo monstruoso, e puramente guerreiro, elevou Roma ao mais alto esplendor de virtude e de gloria, e formou da terra um domínio Romano, para mostrar aos homens de quanto saõ capazes as virtudes políticas; e quam indiílerentes custumam ser as instituiçoens. E passando dos tempos antigos aos modernos, encontraremos a Inglaterra e a França, chamando a attençaõ de todas as naçoens, e dando-lhes liçoens eloqüentes, de todas as espécies, em matérias de Governo. A revolução destes dous grandes povos, como um radiante meteoro, tem innundado o mundo com tal profusão de luzes políticas, que ja todos os entes, que pensam, tem aprendido quaes saõ os direitos do homem, e quaes os seus deveres; em que consiste a excellencia dos governos, e em que consistem os seus vicios. Todos sabem apreciar o valor intrínseco das theorias especulativas dos philosophos e legisladores modernos. Em fim este astro, em sua luminosa carreira, tem até accendido os peitos dos apathicos Hespanhoes,q ue também se tem lançado no turbilhão político, tem feito suas provas ephemeras de liberdade, tem reconhecido a sua incapacidade para viver debaixo do doce domínio das leys, e tem tornado a sepultar-se em suas prisoens e fogueiras immemoriaes. He aqui o lugar de repetirvos, Legisladores, o que vos disse o eloqüente Volnei, na dedicatória de sua obra ruínas de Palmyra:" Aos povos nascentes das índias Castelhanas, aos chefes generosos, que os guiam â liberdade: que os erros e infortúnios do mundo antigo ensinem a sabedoria e a felicidade ao novo." Naõ se percam pois as liçoens da experiência; instruam-nos as eschólas de Grecia,de Roma, da França e da Inglaterra, na difficil sciencia de crear e conservar naçoens com leys próprias, justas, legithras, e sobre tudo úteis. Naõ esquecendo nunca, que a excellencia de um Governo naõ consiste na sua theoria, na sua forma, nem no seu mechanismo, mas sim em ser appropriâdo á natureza e ao character da naçaõ, para quem-se institue. Roma e a Gram Bretanha saõ as naçoens, que mais tem sobresaido, entre as antigas e modernas, ambas nasceram para mandar e ser livres, porém ambas se constituíram naõ com brilhantes formas de liberdade, mas sim com estabelicimentos sólidos. Assim, pois, vos  recommendo, Representantes, o estudo da Constituição Britannica, que he a que parece destinada a operar o maior bem possível aos povos, que a adoptam; porém, por mais perfeita que seja, estou mui longe de propor-vos a sua imitação servil. Quando falo do Governo Britannico só me refiro ao que tem de Repubicano, e na verdade ¿ póde chamar-se monarchia um systema, no qual se reconhece, a soberania popular, a divisão e o equilíbrio dos poderes, a liberdade' civil, de consciência, de imprensa, e quanto ha de sublime na política?,; Pode haver mais liberdade em nenhuma espécie de Tepublica? ¿ e pôde pretenderse mais na ordem social ? Recommendo-vos esta constituição, como a mais digna de servir de modelo a todos os que aspiram a gozar dos direitos do homem , e de toda a felicidade política, que he compatível com a nossa frágil natureza.
Em nada alteraríamos as nossas leys fundamentaes, se adoptassemos um poder legislativo, similhante ao Parlamento Britannico. Temos dividido como os Americanos a Representação Nacional em duas Câmaras; a dos Representantes, e a do Senado. A primeira está composta mui sabiamente, goza de todos os aftributos, que lheconrespondem, e naõ he susceptível de uma reforma essencial; porque a Constituição lhe tem dado a origem, a forma, e as faculdades, que requer a vontade do povo para ser legitima e competentemente representada. Se o Senador, em vez de ser electivo, fosse hereditário, seria em meu conceito a baze, o laço, a alma de nossa Republica. Este corpo, nas tempestades políticas, pararía os rayos do Governo, e repelliría as procéllas populares. Addicto ao Governo, pelo justo interesse de sua própria conservação, se opporía sempre ás invasoens, que o povo intenta contra a jurisdicçaõ e authoridade de seus magistrados. Devemos confessar, que a maior parte dos homens desconhece os seus verdadeiros interesses, e constantemente procuram assai tallos, nas maõs de seus depositários: o indivíduo pugna contra a massa, e a massa contra a authoridade. Portanto he preciso que em todos os Governos exista um corpo neutro, que se ponha sempre da parte do offendido,e desarme ao oíTensor. Este corpo neutro,paraque possa ter tal, naõ ha de dever a sua origem á eleição do Governo, nem á do povo; de maneira que goze de uma plenitude de independência, que naõ tem, e nem espere nada destas duas fontes da authoridade. O Senado hereditário, como parte do povo, participa de seus interesses, de seus sentimentos, e de seu espirito. Por esta causa naõ se deve presumir, que um Senado hereditário se desprenda dos interesses populares, nem se esqueça de seus deveres legislativos. Os Senadores em Roma, e os Lords em Londres tem sido as columnas mais firmes, sobre que se tem fundado o edifício da liberdade política e civil. Estes Senadores seraõ eligidos, a primeira vez, pelo Congresso. Os successores ao Senado chamam a primeira attençaõ do Governo, que deveria educállos em um collegio, especialmente destinado para instruir aquelles tutores, legisladores futuros da pátria.
ROWLANDSON Thomas Billingsgate at Bayonne pubicado em 10.0 7.1808 https://www.metmuseum.org/art/collection/search/742870

Fig. 08   As colônias ibéricas da América buscavam meios se libertarem dos soberanos da Europa em constante e intermináveis conflitos. Conflitos regiamente pagos com os tributos das colônias saqueadas do seu ouro, das suas riquezas naturais e das matérias primas das máquinas da PRIMEIRA ERA INDUSTRIAL EUROPEIA cada vez mais vorazes  e predadoras

Aprenderiam as artes, as sciencias, e as letras, que adornam o espirito do homem publico: desde a sua infância elles saberiam a que carreira a Providencia os destinava, e desde mui tenros annos elevariam a sua alma á dignidade que os espera. De nenhum modo seria uma violação da igualdade política a creaçaõ de um Senado hereditário, naõ he uma nobreza o que pretendo estabelecer; porque, como ja dice um celebre Republicano, seria destruir de uma vez a igualdade e a liberdade. He um officio, para o qual se devem preparar os candidatos, e heumofficio, que exige muito saber, e os meios proporcionados para adquirir a sua instrucçaõ. Naõ se deve deixar tudo ao accaso e à ventura, nas eleiçoens J O povo engana-se mais facilmente que a natureza aperfeiçoada pela arte: e ainda que he verdade, que estes Senadores naõ sairiam do seio das virtudes, também he verdade que sairiam do seio de uma educação illustrada. Por outra parte os libertadores de Venezuela saõ credores a occupar sempre uma alta graduação na Republica, que lhes deve a sua existência. Creio que a posteridade veria com sentimento reduzidos a nada os nomes illustres de seus primeiros bemfeitores: digo mais, he do interesse publico, he da gratidão de Venezuela, he da honra nacional, conservar com gloria, até â ultima posteridade, uma raça de homens virtuosos, prudentes e esforçados, que, superando todos os obstáculos, tem fundado a Republica, á custa dos mais heróicos sacrifícios. E, se o povo de Venezuela naõ applaude a elevação de seus bemfeitores, he índigo de ser livre, e nunca o será. Um Senado hereditário, repito, será a baze fundamental do poder legislativo, e por conseguinte será a baze de todo o Governo. Igualmente servirá de contrapezo para o Gabinete e para o Povo: será uma potência intermedia, que embace os tiros, que reciprocamente atiram estes eternos rivaes. Em todas as contendas a calma de um terceiro vem a ser o orgaõ da reconciliação: assim o Senado de Venezuela será a trave deste edifício delicado, e assas susceptível de impvessoens violentas: será o íris, que acalmará as tempestades, e manterá a harmonia entre os membros e a cabeça deste corpo político. Nenhum estimulo poderá alterar um Corpo Legislativo, investido com as primeiras honras, dependente de si mesmo, sem temer nada do povo, nem esperar nada do Governo; que naõ tem outro objecto senaõ reprimir todo o principio de mal, e propagar todo o principio de bem; e que está altamente interessado na existência de uma sociedade, na qual participa de seus funestos ou favoráveis effeitos. Tem-se dicto com sobeja razaõ, que a Câmara Alta de Inglaterra he preciosa para a Naçaõ; porque oflerece um baluarte á liberdade; e eu accrescento, que o Senado de Venezuela, naõ só seria um baluarte da liberdade, mas um apoio para eternizar a Republica. O poder executivo Britannico está revestido de toda a authoridade Soberana, que lhe pertence; porém também está circumscripto com uma triple linha de diques, barreiras, e estacadas. He Chefe do Governo, porém os seus Ministros e subalternos dependem mais das leys do queda sua authoridade; porque saõ pessoalmente responsáveis; e nem ainda as mesmas ordens da authoridade Real os eximem desta responsabilidade. He Generalissimo do Exercito e da Marinha; faz a paz e declara a guerra; porém o Parlamento he o que decreta annualmente as sommas com que devem pagar-se estas forças militares. Se os tribunaes e juizes dependem delle, as leyg emanam do Parlamento, que as tem consagrado. Com o objecto de neutralizar o seu poder he inviolável e sagrada a pessoa do Rey: ao mesmo tempo que lhe deixam livre a cabeça, lhe ligam as maõs com que deve obrar. Os Soberano da Inglaterra tem três formidáveis rivaes: o seu Gabinete, que deve responder ao Povo e ao Parlamento: o Senado que defende os interesses do Povo, como representante da Nobreza, de que se compõem: a Câmara dos Communs, que serve de orgaõ e de Tribuna ao povo Britannico, A demais, como os Juizes 6aõ responsáveis pelo cumprimento das leys, naõ se separam dellas; e os administradores do Erário, sendo perseguidos naõ somente por suas próprias infracçoens, mas ainda pelas que faz o mesmo Governo, guardain-se bem de alguma malversação dos fundos públicos. Por mais que se examine a natureza do.Poder executivo em Inglaterra, naõ se pode achar nada, que naõ leve a julgar, que he o mais perfeito modelo, Bêja para um Reyno, seja para uma Aristocracia, seja para uma Democracia. Applique-se a Venezuela este poder executivo, na pessoa de um Presidente nomeado pelo povo ou por seus Representantes, e teremos dado grande passo para a felicidade nacional. Qualquer que seja o cidadão, que execute estas funceoens, se achará auxiliado pela Constituição: aulhorizado para fazer bem, naõ poderá fazer mal; porque, sempre que se submêtter ás leys, os seus ministros cooperarão com elle: se, pelo contrario, pretende infringlllas, os «eus próprios ministros o deixarão isolado no meio da Republica, e até o accusaraõ ante o Senado. Sendo os ministros os que saõ responsáveis das transgressoens, que se commêttam, saõ elles os que governam, porque saõ elles os que as pagam. Naõ he a menor vantagem deste systema a obrigação, em que põem os funecinarios immediatos do poder executivo, de tomar a parte mais interessada e activa nas deliberaçoens do Governo, e a olhar como própria esta Representação. Pôde sueceder que o Presedente naõ seja homem de grandes talentos, nem de grandes virtudes ; e naõ obstante a falta destas qualidades essenciaes, o Presidente desempenhará os seus deveres de modo satisfactorio; pois em taes casos o Ministério, fazendo tudo por si mesmo, carrega com o pezo do Estado. Por exorbitante que pareça a authoridade do poder executivo em Inglaterra, talvez naõ he excessivo na Republica de Venezuela. Aqui o Congresso tem ligado as maõs, e até a cabeça, aos magistrados. Este corpo deliberativo tem assumido uma parte das funcçoens executivas, contra a máxima de Montesquieu, que diz, que um corpo representante naõ deve tomar resolução alguma activa: deve fazer leys, e ver se se executam as que faz. Nada he tam contrario á harmonia entre os poderes como a sua mixtura. Nada he tam perigoso a respeito do povo, como a debilidade do executivo, e se em um Reyno se tem julgado necessário conceder-lhe tantas faculdades, em uma republica saõ estas infinitamente mais indispensáveis. Fixemos a nossa attençaõ sobre esta differença, e acharemos, que o equilíbrio dos poderes deve distribuirse de dous modos. Nas republicas o executivo deve ser o mais forte; porque tudo conspira contra elle: em quanto nas monarchias o mais forte deve ser o legislativo; porque tudo conspira a favor do monarcha. A veneração, que professam os povos á magistratura Real, he um prestigio, que influe poderosamente a augmentar o respeito supersticioso, que se tributa a esta authoridade. O esplendor do throno, da coroa, e da purpura, o apoio formidável, que lhe presta a nobreza: as immensas riquezas, que geraçoens inteiras accumúlam, em uma mesma dynastia: a protecçaõ fraternal, que reciprocamente recebem todos os reys; saõ vantagens mui consideráveis, que militam a favor da authoridade Real; e a fazem quasi ilimitada. Estas mesmas vantagens saõ, por conseqüência, as que devem confirmar a necessidade de attribuir a um magistrado republicano maior somma deauthoridade do que possue um príncipe Constitucional. Um magistrado republicano, he um indivíduo isolado, no meio de uma sociedade,e ncarregado de conter o impeto do povo para a licenciosidade, a propençaõ dos juizes e administradores para o abuso das leys. Està sugeito inimeditamente ao Corpo Legislativo, ao Senado e ao Povo: he um homem só resistindo ao ataque combinado das opinioens, dos interesses e das paixoens do estado social, que, como diz Carnot, naõ faz mais do que luctar continuamente entre o desejo de dominar, e o desejo de subtrahirse á dominação. He em fim um atleta, luctando contra uma mutidaõ de atletas Só pôde servir de correctivo a esta debilidade, o vigor bem fundamentado e mais bem proporcionado â resistência, que necessariamente oppôem ao Poder Executivo, o o Judicial e o povo de uma Republica. Se naõ se põem ao alcance do Execustivo todos os meios, que uma justa attribuiçaõ lhe assignála, cáe inevitavelmente nanullidade, ou em seu próprio abuso; quero dizer, na morte do Governo, cujos heredeiros saõ a anarchia, a usurpaçaõ e a tyrannia. Se se quer conter a authoridade executiva com restricçoens e entrâvez, nada hemais justo, porém advirta-se, que os laços, que se pretendem conservar, fortificam-se sim mas naõ se apertam.
Fortifique-se, pois, todo o systema do Governo, e estabsleca-se o equilíbrio de modo que se naõ perca, e de modo que naõ seja a sua própria delicadeza uma causa de decadência. E pois nenhuma forma de Governo he tam débil com a Democrática; por isso mesmo deve a sua estructura ser de maior solidez, e consultarem-se as suas instituiçoens para a estabilidade. Se assim naõ he contemos com que se estabelece um ensaio de Governo, e naõ um systema permanente: contemos com uma sociedade discola, tumultuaria e anarchica; e naõ com um establicimento social, d'onde tenham seu império a felicidade a paz e a justiça. Legisladores; naõ sejamos presumpçosos, sejamos moderados em nossas pretençoens. Naõ he provável conseguir o que o gênero humano naõ tem gozado: o que naõ tem alcançado as mais grandes e sabias naçoens. A liberdade indefinita, a democracia absoluta, saõ os escolhos aonde tem naufragado todas as esperanças republicanas. Lançai uma vista de olhos sobre as republicas antigas, sobre as republicas modernas, sobre as republicas nascentes, quasi todas tem pretendido estabelecer-se absolutamente democráticas, e a quasi todas se lhe tem frustrado seus justos desejos. Saõ honraveis certamente os homens, que anhelam por instituiçoens legitimas, e por uma perfeição social; porém i quem disse aos homens que já possuem toda a sabedoria, que já practicam toda a virtude, que exigem imperiosamente a liga do poder com a justiça? Anjos, naõ homens, podem unicamente existir livres, tranquillos, e ditosos, exercitando todo o poder soberano. 
APOTEOSE de Simão Bolívar -pintura 1970 de Tito SALAS [1]

Fig. 09   Simon Bolívar, levou o ideário das revoluções norte-americanas e francesa  para iniciar o processo de  libertação de seis nações sul-americanas.. Apregoou a divisão do poder central, destas novas  nações, em três vertentes conforme Montesquieu, Prognosticou a precedência da Lei e do contrato social sobre o executivo fiscalizado pelo judiciário. Este ideário  ainda não tem consenso prático na sociedade venezuelana em novembro de 2019. Impedido e escurecido por interesses internos e externos que estão atiçando o mundo empírico e prático, para a discórdia enquanto as ideias de Simon BOLIVAR continuam a pairar inconclusas  sobre o ideal  do PODER ORIGINÁRIO venezuelano

O povo de Venezuela ja disfructa os direitos, que legitima e facilmente pode gozar: moderemos agora o ímpeto das pretençoeus excessivas, que talvez lhe suscitaria a forma de um Governo incompetente para elle: abandonemos as formas federaes, que nos naõ convém; abandonemos o triumvirato do poder executivo e concentrando-o em um Presidente, confiramos-lhe a authoridade sufficiente; para que alcance manter-se luctando contra os inconvenientes annexos à nossa recente situação, ao estado de guerra que soffremos, e ã espécie de inimigos externos e domésticos, contra quem teremos que combater por largo tempo. Desliguem-se do poder Legislativo os attributos, que conrespondem ao Executivo, e naõ obstante adquirirá nova consistência, nova influencia no equilíbrio das authoridades. Sejam os tribunaes reforçados pela estabilidade e independência dosjuizes, pelo estabelicimento de jurados, de códigos civis e criminaes, que naõ sejam dictados pela antigüidade, nem por Reys conquistadores, mas sim pela vózda natureza, pelo grito dajustiça,e pelo gênio da Sabedoria. O meu desejo he que, todas partes do Governo e administração adquiriam o gráo de vigor, que unicamente pôde manter o equilíbrio, naõ só entre os membros que compõem o Governo, mas também entre as differentes fracçoens, de que se compõem a nossa sociedade. Nada importaria, que as molas de um systema político se relaxassem por sua debilidade, se esta relaxaçaõ naõ arrastrasse com sigo a dissolução do corpo social, e a ruína dos associados. Os gritos do gênero humano nos campos de batalha, ou nos campos tumultarios, clamam ao Céo contra os inconsiderados e cegos Legisladores, que tem pensado, que se podem fazer impunemente ensaios de instituiçoens chimericas. Todos os povos do mundo tem pretendido â liberdade; uns pelas armas, outros pelas leys, passando alternativamente da anarchia ao despotismo, ou do despotismo á anarchia: mui poucos saõ os que se tem contendado com pretençoens, moderadas, constituindo-se de um modo conforme a seus meios, a seu espirito, e as suas circumstancias. Naõ aspiremos ao impossível; para que naõ aconteça, que, elevando-uos acima da regiaõ da liberdade, desçamos á regiaõ da tyrannia. Da liberdade absoluta se desce sempre ao poder absoluto, e o meio entre estes dous extremos he a suprema liberdade social. Theorias abstractas saõ as que produzem a perniciosa idea de uma liberdade illimitada. Façamos com que a força publica se contenha nos limites, que a razaõ e o interesse prescrevem: que a vontade nanacional se contenha nos limites, que umjusto poder lhe assigne; que uma legislação civil e criminal análoga á nossa constituição domine imperiosamente sobre o poder judiciário; e entaõ terá um equilíbrio, e naõ terá a concussaõ, que embaraça a marcha do Estado, e naõ terá essa complicação, que etráva em vez de ligar a sociedade. Para formar um Governo estável, se requer a baze de um espirito nacional, que tenha por objecto uma inclinação uniforme para os pontos capitães, moderar a vontade geral, e limitar a authoridade publica: os termos, que fixam theoreticamente estes dous pontos saõ de difficil assignaçaõ; porém pode-se conceber, que a regra, que os deve dirigir, he a restricçaõ, e a concentração reciproca, a fim de que tenha o menos attrito possível entre a vontade e o poder legitimo. Esta sciencia se adquire insensivelmente, pela practica e pelo estudo. O progresso das luzes he o que amplia o progresso da practica ; e a rectidaõdo espirito he a que amplia o progresso das luzes. O amor á pátria, o amor ás leys, e o amor aos magistrados, saõ as nobres paixoens, que devem absorver exclusivamente a alma de um republicano. Os Venezuelanos amam a pátria, porém naõ amam as suas leys; porque estas tem sido nocivas, e eram a fonte do mal: tam pouco podiam amar os seus magistrados ; porque eram iníquos; e os novos apenas saõ conhecidos na carreira, em que tem entrado. Se naõ ha um respeito sagrado pela pátria, pelas leys e pelas authoridades, a sociedade he uma confusão, um abismo, he um conflicto singular de homem a homem, de corpo a corpo. Para tirar deste cháos nossa nascente Republica, naõ seraõ bastantes todas as nossas forças moraes, se naõ fundimos a massa do povo em um todo: a composição do Governo em um todo: e o espirito nacional em um todo. Unidade, Unidade, Unidade, deve será nossa divisa. O sangue de nossos cidadãos he differente, mixturêmollo para o unir: a nossa Constituição tem dividido os poderes, enlacêmollos para os unir, as nossas leys saõ funestas relíquias de todos os despotismos antigos e modernos; derribe-se este edifício monstruoso, caia, e apartando até as suas ruínas, elevemos um templo ájustiça, e debaixo dos auspícios de sua sancta inspiração dictemos um Código de leys Venezuelanas. Se queremos consultar monumentos e modêllos de legislação, a Gram Bretanha, a França, a America Septentrional os offerecem admiráveis. A educação popular deve ser o cuidado primogênito do paternal amor do Congresso: moral e luzes, saõ os pólos de uma republica: moral e luzes, saõ as nossas primeiras necessidades. Tiremos de Athenas o seu Areopágo, e os guardas dos custumes e das leys; tiremos de Roma os seus censores e os seus tribunaes domésticos, e fazendo uma sancta aliança destas instituiçoens moraes, renovemos no mundo a idea de um povo, que naõ se contenta com ser livre e forte, mas também quer ser virtuoso

Fig. 10   Nos BANQUETES, que as NAÇÔES EUROPEIAS estavam tentando organizar, ninguém se lembro de  convidar as potenciais nações americanas. Estas organizaram as suas soberanias enquanto as nações europeias estavam caminhando de surpresa em surpresa depois que a Revolução Francesa de 1789 abriu a CAIXA de PANDORA, donde saltou NAPOLEÃO BONAPARTE..  

Tiremos de Sparta os seus austeros estabelicimentos, e formando destes três mananciaes uma fonte de virtude, demos á nossa Republica quarta potência, cujo domínio seja a infância e o coração dos homens, o espirito publico, os bons custumes, e a moral republicana. Constituamos este Areopago para que vigie sobre a educação dos meninos, sobre a instrucçaõ nacional, para que purifique o que se tenha conrompido na Republica, que accuse a ingratidão, o egoísmo, a frieldade do amor da pátria, o ócio, a negligencia dos cidadãos : que julgue dos princípios da corrupção, dos exemplos perniciosos, devendo corrigir os custumes com penas moraes, como as leys castigam os delictos com penas afflictivas, e naõ somente o que choca contra ellas, mas também o que as escarnece: naõ somente o que as ataca, mas também o que as debilita; naõ somente o que infringe a constituição, mas também o que viola o respeito ao publico. A jurisdicçaõ deste tribunal, verdadeiramente sancto, deverá ser effectiva, a respeeito da educação e da instrucçaõ, e da opinião somente nas penas e castigos. Porém os seus annaes e registros, aonde se consignem as suas actas e deliberaçoens, os princípios moraes, e as acçoens dos cidadãos, seraõ os livros da virtude e do vicio. Livros, que consultará o povo para as suas eleiçoens, os magistrados para as suas resoluçoens, e os juizes para suas sentenças. Uma instituição similhante, por mais que pareça chimerica, he infinitamente mais realizável, que outras, que alguns legisladores antigos e modernos tem estabelecido, com menos utilidade do gênero humano. Legisladores! Pelo projecto de Constituição, que reverentemente submêtto á vossa sabedoria, observareis o espirito que o tem dictado. Propondo-vos a divisão dos cidadãos em activos e passivos, pretendi excitar a prosperidade nacional pelas duas maiores palancas da industria ; o trabalho e o saber. Estimulando estas duas poderosas molas da sociedade, se alcança o mais defficil entre os homens, fazêllos honrados e felizes. Pondo restricçoens justas e prudentes nas Assembleas Primarias e Electoraes, pomos o primeiro dique á licenciosidade popular, evitando a concurrencia tumultuaria e cega, que em todos os tempos tem imprimido o desacerto na8 eleiçoens, e tem ligado, por conseguinte, o desacerto aos magistrados, eá marcha do Governo; pois este acto primordial, he o acto generativo da liberdade ou da escravidão de um povo. Augmentando, na balança dos poderes, o pezo do Congresso, pelo numero dos legisladores e pela natureza do Senado, tenho procurado dar uma baze fixa a este primeiro corpo da naçaõ; e revestillo de uma consideração, importantíssima para o êxito de suas funcçoens. Separando com limites bem marcados a jurisdicçaõ executiva da jurisdicçaõ legislativa, naõ me propuz dividir, mas sim enlaçar com os vínculos da harmonia, que nasce da independência, estes poderes supremos, cujo choque prolongado ja mais tem deixado de aterrar a um dos contendentes. Quando desejo attribuir ao executivo uma somma de faculdades, superior á que d'antes gozava, naõ desejo authorizar um déspota, para que tyranize a Republica; mas sim impedir que o despotismo deliberante naõ seja causa immediata de um circulo de vicissitudes despoticas, em que alternativamente a anarchia seja substituída pela oligarchia e pela monarchia. Pedindo a estabilidade dos juizes, a creaçaõ dos jurados e novo Código, tenho pedido ao Congresso a garantia da liberdade civil a mais preciosa» a mais justa, e a mais necessária; em uma palavra a única liberdade, pois sem ella as de. mais saõ nullas. Tenho pedido a correcçaõ dos mais lamentáveis abusos, quesofire anossajudicatura, por sua origem viciosa desse pelago da legislação Hespanhola, que, similhante ao tempo, recolhe de todas as idades, e de todos os homens, tanto as obras da demência como as do talento; tanto as producçoens sensatas como as extravagantes; tanto os monumentos do engenho como os do capricho. Esta encyclopedia judciaria; monstro de dez mil cabeças, que ate agora tem sido o açoite dos povos Hespanhoes, he o supplicio mais refinado, que a cólera do Ceo tem permittido, que se descarregasse sobre este desgraçado Império. Meditando sobre o modo effectivo de regenerar o character e os custumes, que a tirannia e a guerra nos tem dado, tenho sido sensível â audácia de inventar um poder moral, tirado do fundo da obscura antigüidade, e daquellas esquecidas leys, que mantiveram, em outro tempo, a virtude entre os Gregos e Romanos. Bem pôde ser tido por um cândido delírio, mas naõ he impossível ; e me lisongeo, que naõ desdenhareis inteiramente um pensamento, que, melhorado pela experiência e pelas luzes, pôde chegar a ser mui efficaz. Horrorizado com adivergenica, que temreynado edeve reynar entre nós, pelo espirito subtil, que characteriza o Governo Federativo, tenho sido arrastado a rogar-vos, que adopteis o centralismo, e a reunião de todos os Estados de Venezuela, em uma Republica só e indivizivel. Esta medida, na minha opinião, urgente, vital, redemptora, he de tal natureza, que, sem ella, o fructo de nossa regeneração será a morte. O meu dever he, Legisladores, representar um quadro prolixo e fiel de minha administração política, civil e militar; mas seria cançar demasiado a vossa importante attençaõ, e privar-nos neste momento de um tempo tam precioso como urgente. Em conseqüência, os Secretários de Estado daraõ conta ao Congresso das suas differentes Repartiçoens, exhibindo ao mesmo tempo os documentos e archivos, que servirão de illustraçaõ, para tomar um exacto conhecimento do estado real e positivo da Republica, Eu naõ vos fallarla dos actos mais notáveis do meu commando, se estes naõ incumbissem á maioridade dos Venezuelanos. Tracta-se, Senhor, das resoluçoens mais importantes deste ultimo período. A atroz e impia escravidão cubria com seu negro manto a terra de Venezuela, e o nosso Cèo se achava carregado de tempestuosas nuvens, que ameaçavam um dilúvio de fogo. Eu implorei a protecçaõ de Deus e da humanidade, e logo a redempçaõ dissipou as tempestades, A escravidão rompeo seus grilhões, e Venezuela se tem visto rodeada de novos filhos, agradecidos, que tem convertido os instrumentos de seu captiveiro em armas de liberdade. Se os que antes eram escravos ja saõ livres: os que antes eram inimigos de uma madrasta, ja saõ defensores de uma pátria. Encarecer-vos a justiça, a necessidade, e a beneficência desta medida, he supérfluo, quando vós sabeis a historia dos. Helotas, de Spartaco, e de Hayti: quando vós sabeis que naõ se pode ser livre e escravo ao mesmo tempo senaõ violando ao mesmo tempo as leys naturaes, as leys políticas e as leys civis. Eu abandono á vossa soberana decisão a reforma ou revogação de todos os meus estatutos e decretos; porém imploro a confirmação da liberdade absoluta dos escravos, como imploraria a minha vida, e a vida da Republica. Representar-vos a historia militar de Venezuela, seria lembrar-vos a historia do heroísmo republicano entre os antigos :• seria dizer-vos, que Venezuela tem entrado no grande quadro dos sacrifícios feitos sobre o altar da liberdade. Nada tem podido encher os nobres peitos de nossos generosos guerreiros, senaõ as honras sublimes, que se tributam aos bemfeitores do gênero humano. Naõ combatendo pelo poder, nem pela fortuna, nem ainda pela gloria, mas tam somente pela liberdade, títulos de libertadores da Republica saõ os seus mais dignos galardoens. Eu, pois, fundando uma sociedade sagrada com estes enclytos baroens, institui a Ordem dos libertadores de Venezuela: Legisladores! a vós pertence a faculdade de conceder honras e decoraçoens, vosso he o dever de exercitar este acto augusto da gratidão nacional. Homens, que se tem desapegado de todos os prazeres, de todos os bems que d'antes possuíam, como o producto de sua virtude e talentos: homens, que tem experimentado quanto ha de cruel em uma guerra horrorosa, padecendo as privaçoens mais dolorosas, e os tormentos mais acerbos: homens tam beneméritos da pátria, tem devido chamar a attençaõ do Governo; em conseqüência mandei recompensállos com os bens da Naçaõ. Se tenho contrahido para com o povo alguma espécie de merecimento, peço a seus Representantes, que ouçam a minha supplica, como prêmio de meus débeis serviços. Que o Congresso ordene a distribuição dos bens nacionaes, conforme a ley, que em nome da Republica decretei, aos militares Venezuelanos. Ja que por infinitos triumphos temos alcançado annihilar as hostes Hespanholas, desesperada a Corte de Madrid tem pretendido surprehender vaãmente a consciência dos magnânimos Soberanos, que acabam de extirpar a usurpaçaõ e a tyrannia na Europa, e devem ser os protectores da legitimidade, e da justiça da causa Americana. Incapaz de alcançar com suas armas a nossa submissão, recorre a Hespanha à sua política insidiosa; naõ podendo vencer-nos tem querido empregar suas artes suspeitosas. Fernando se tem humilhado até o ponto de confessar, que tem necessidade da protecçaõ estrangeira, para nós voltar-mos a seu ignominiosojugo: a um jugo, que, para o impor, todo o poder he nullo! 
Fig. 11   São evidentes os sinais e as  imagens confusas que a VENEZUELA emite para Mundo, em  NOVEMBRO de 2019.. Confusão gerada pela recepção em repertório e guerras de ideias que nunca estiveram tão acesas e letais em nações de pouco poder econômico, De outro lado esta confusão diz das águas turvas que nações poderosas agitam para pescar o que restou nestas economias cada vez mais na heteronomia  e controle internacional


Convencida Venezuela de possuir as forças sufiicientes para repellir seus oppressores, tem pronunciado pelo orgaõ do Governo a sua ultima vontade de combater até espirar, para defender a sua vida política, naõ só contra a Hespanha, senaõ contra todos os homens, se todos os homens se tivessem degraduado tanto, que abraçassem a defensa de um Governo devorador, cujos únicos moveis saõ uma espada exterminadora e as chamas da Inquisição. Um Governo, que ja naõ quer domínios, mas sim desertos; naõ cidades, mas sim ruínas: naõ vassallos mas sim tumbas. A declaração da Republica de Venezuela, he a acta mais gloriosa, mais heróica, mais digna de um povo livre : he a que com maior satisfacçaõ tenho a honra de offerecer ao Congresso, ja sancionada pela expresaõ unanime do Povo livre de Venezuela. Desde a segunda epocha da Republica, o nosso Exercito carecia de elementos militares; sempre tem estado desarmado: sempre lhe tem faltado muniçoens; sempre tem estado mal esquipado. Agora os soldados defensores da Independência, naõ somente estaõ armados da justiça, mas também da força. Nossas tropas podem medir-se com as mais selectas da Europa, ja que naõ ha desigualdade nos meios destruidores. Tam grandes vantagens devemos á liberalidade sem limites de alguns generosos estrangeiros, que tem visto gemer a liberdade e succumbir a causa da razaõ, e naõ tem olhado para ella como tranquillos expectadores, mas sim tem voado, com seus protectores auxílios, e tem prestado á Republica quanto ella necessitava, para fazer triumphar seus princípios philantropicos. Estes amigos da humanidade saõ os gênios custódios da America, e a elles somos devedores de extremo reconhecimento, como igualmente de um cumprimento religioso. A divida nacional, legisladores, he o deposito da fé, da honra, e da gratidão de Venezuela Respectai-a como a Arca Sancta, que encerra naõ tanto os direitos de nossos bemfeitores, como a gloria de nossa felicidade. Pereçamos antes do que quebrantar um empenho, que tem salvado a pátria, e a vida de seus filhos. A reunião de Nova-Granada e Venezuela em um gran" de Estado, tem sido o voto uniforme dos povos e Governo destas Republicas. A sorte da guerra tem verificado este enlace, tam desejado por todos os Colombianos; de facto estamos incorporados. Estes povos, irmaõs, ja vos tem confiado seus interesses, e seus direitos e destinos. Contemplando a reunião desta immensa comarca, a minha alma se eleva á eminência, que exige a perspectiva colossal, que offerece um quadro tam assombroso. Voando por entre as próximas idades, a minha imaginação se fixa nos séculos futuros, e observando de lá, com admiração e pasmo, a prosperidade, o esplendor, a vida, que tem recibido esta vasta regiaõ, sinto-me arrebatado, e me parece que ja a vejo no coração do Universo, estendendo-se sobre suas dilatadas costas, entre esses oceanos' que a natureza tinha separado, e que a nossa pátria reúne, com prolongados e largos canaes. Ja vejo ser" vir de laço, de centro, de empório á familia humana. Ja a vejo enviando a todos os recintos da terra os thesouros, que abrigam as suas montanhas, de prata e ouro. Ja a vejo distribuindo por suas divinas plantas a saúde e a vida aos homens doentes do antigo universo. Ja a vejo communicandoseus preciosos segredos aos sábios, que ignoram quam superior he a somma das luzes, a somma das riquezas, que lhe tem prodigalizado a natureza. Ja a vejo assentada sobre o throno da liberdade, empunhando o sceptro da justiça, coroada pela gloria, mostrar ao mundo antigo a majestade do mundo moderno. Dignai-vos, Legisladores, acolher com indulgência, a profissão de minha consciência política; os últimos votos do meu coração, e os rogos fervorosos , que em nome do povo, me attreveo a dirigir-vos. Dignai-vos conceder a Venezuela um Governo eminentemente popular, eminentemente justo, eminentemente moral, que agrilhoe a oppressaõ, a anarchia, e a culpa. Um Governo, que faça triumphar, debaixo do império de leys inexoráveis, a igualdade e a liberdade. Senhor ! Começai vossas funcçoens: eu tenho acabado as minhas
Imagem em Antônio NARIÑO https://www.lifeder.com/antonio-narino/

Fig. 12   A TIPOGRAFIA, REDAÇÂO e PRENSA da época do CORREIO de ORINOICO na VENEZUELA .. Antônio NARIÑO traduziu do francês o “OS DIREITOS HUMANOS" e os Imprimiu na Venezuela motivo pelo qual foi preso.

CORREIO BRAZILIENSE  Vot. XXIII. N". 136. Novembro de 1819   pp.554 até 563. Miscellanea
Justificação do Correio Braziliense contra o Correo de Orinoco. (Continuada de p. 428.)
Se as ideas do escriptor, a quem nos propuzemos responder podiam dar ao mundo razaõ para suspeitar mal dos systemas políticos dos Venezuelanos todos, a falia do seu Presidente, Bolívar, que começamos a publicar no nosso N.° passado, e concluímos neste, mostra bem que os erros deste Escriptor naõ abrangem a todos os de seu paiz. Desta falia do Presidente, e do bom acolhimento que ella teve no Congresso, se deve concluir, que a opinião deste Escriptor, sobre matérias de governo, he só sua delle, e naõ geral ao paiz, e daqui se deve seguir um beneficio a Venezuela, que he, o naõ poderem ser todos ali accusados da mania revolucionaria deste Escriptor, o que alias lhe traria a inimizade de todos os Governos dos outros paizes. Continuemos, pois, a expor as opinioens deste indivíduo.
" Poderá ser preferível á insurreição o meio da petição, quando naõ tenha de recair a reforma sobre os vícios cardeáes do Governo, on quando este seja representativo; eosaggravados tenham um corpo de deputados, incorrupto e expedito, para melhorar a naçaõ, removendo os abusos de sua administraçaõ. Será entaõ um absurdo o movimento popular; porque os representantes da naçaõ estaõ encarregados de promover a reforma, sem necessidade de revolução, e o livre uso da imprensa he o melhor vehiculo da expressão de aggravos, e o mais severo censor do comportamento do Governo. Porém se conrompidos os membros da Legislatura, e de concerto com a administração se ensurdecerem ao clamor publico, e se obstinarem no abuso de sua authoridade, naõ ha outro recurso senaõ o da insurreição, por mais que lhe peze ao Correio Braziliense, e aos lisongeádos com sua doutrina."
" Ha nella um rasgo de Machiavelismo, que, sendo mui grato aos déspotas, exige com a maior urgência o remédio da reistencia para obter as reformas. A seu modo haja liçoens, no caso de Pernambuco, para os opprimidos e para o oppressor. Ao Governo admoesta que lhe naõ basta a força e energia, e que o remédio próprio e necessário he mostrar sempre um desejo de melhoras progressivas; pois, ainda quando se naõ realizem, se conservam consolados com a esperança de futuros mais prósperos os homens bons e espirituosos, e a massa geral do povo. Quanto mais natural e sincero éra aconselhar-lhe, que o remédio próprio e necessário éra reparar desde logo os aggravos, e dispor as reformas e melhorias, nomeçando pelo desapego de sua authoridade antisocial e oppressiva, e congregando o povo para assentar as bazes de sua liberdade civil e religiosa e de uma Constituição liberal!"
Quer aqui o nosso escriptor, que o meio das petiçoens nunca seja preferível á insurrecçaõ, quando a reforma tem de recahir sobre vícios cardeaes do Governo, isto he, por outras palavras, quando o plano he a mudança da forma do Governo, segundo o que o mesmo escriptor tinha d'antes explicado. Neste caso, dissemos também ja, que o Governo tem obrigação de resistir aos ameaços da dissolução de sua authoridade. O Escriptor leva a sua doutrina ainda mais adiante porque, ainda mesmo nos Governos Representativos quer que se exercite a insurreição; e diz que no caso em que conrompidos os membros da Legislatura de concerto com a Administração naõ queiram ouvir os clamores do povo, naõ ha outro recurso senaõ o da insurreição, por mais que lhe peze ao Correio Brazeliense." A nós nos naõ péza de naõ haver no caso supposto outro recurso senaõ o da insurreição; porque tal asserçaõ naõ he verdadeira, nem mesmo nos Governos Monarchicos, e muito menos o pode ser, na hypothese dos Governos Representativos; porque nestes, além do remédio das petiçoens tem o povo outro, que he o eleger novos membros para a representação, quando se supponham conrompidos os actuaes: assim, dizer, que até neste caso a corrupção e abusos da Legislatura naõ tem outro remédio senaõ o da insurreição, he negar um facto evidente, he querer insurreiçoens em todos os modos, e desejar a destruição da ordem social, como remédio de todos os males e em todos os casos, mesmo havendo a obvia e efficaz medida de eleger nova Legislatura, por mais que lhe peze ao Correo dei Orinoco. Attribue a um rasgo de Machiavelismo nosso o a conselbarmos ao Governo, que admitta a introducçaõ de medidas úteis, porque ainda no caso de que se naõ realizem, sempre satisfazem o povo das boas intençoens do Governo* Naõ vemos, por certo, que neste conselho haja nada de refolhos Macbiavelicos: do Governo depende a introducçaõ de úteis medidas, mas a sua realização depende em grande parte dos executores, que saõ os instrumentos, e principalmente do gênio e aptidão dos povos; porque sem a concurrencia destas circumstancias se tornarão inúteis todos os esforços do mais bem intencionado Governo. Diz-nos o Escriptor, que mais natural e sincero eria aconselhar, que se reparassem logo os aggravos, começando pelo desapego de sua authoridade oppressiva,ma essa he a mesma questão; laborando o Escriptor no erro do que chamam os Lógicos petição do principio, visto que se tracta de saber, se essa abdicação do poder do Governo, vindo ao principio, e sem que o povo para ella estivesse preparado, seria, em vez de remédio, a introducçaõ da anarchia, e a dissolução da sociedade. Com effeito isso seria a conseqüência, segundo os nossos princípios porque estamos persuadidos, que nenhuma forma de Governo pôde convir a qualquer povo, se naõ for congenie com as suas ideas, custumes, e educação, como temos amplamente mostrado, e como prova o mesmo Presidente Bolívar, esforçando-se em persuadir os seus compatriotas, que lhe naõ convém imitar o systema federativo dos Estados Unidos da America. Que se devem admittir reformas úteis, he o que muitas e repetidas vezes temos dicto; mas negamos, que as revoluçoens sejam por forma alguma meio próprio de as conseguir: quando essas revoluçoens saõ violentas e naõ graduaes, pela mudança dos custumes da Naçaõ, e naõ ha escriptor político moderado, que naõ convenha com nosco, e que naõ admitta a prova, que desta verdade nos offerece a historia de todas as naçoens, e de todas as idades.
"Offerecer melhoramentos e naõ cumprir as offertas; prometter reformas e aggravar os abusos; protestar fazer bem e felicidade á pátria e reduzir as protestaçoens ao interesse pessoal ou familia do protestante, he a máxima predilecta de Monarchas taes como o do Brazil; ja mais a esquecem seus ministros e conselheiros ; ainda que lhe faltem em Londres escriptores que lha lembrem. Repetidos exemplos desta fallacia tem os Americanos do Sul; e Fernando VII, arruinando em seu decreto de Vallencia a obra dos Hespanhoes liberaes, e offerecendo Cortes nacionaes á Hespanha e America, he outra testemunha da vaidade das promessas que aconselha o Correio Braziliense, e outro exemplo da preferencia de taes fraudes na memória e coração dos déspotas, sem necessidade de Correios despertadores."
¿ De que parte dos nossos escriptos tiraria este Escriptor, que nós aconselhávamos ao Governo, que naõ cumprisse suas promessas ? Deveria este Escriptor lembrarse, que a sinceridade e boa fé sao essenciaes ao escriptor publico, se deseja convencer com seus escriptos ; e uma asserçaõ desta natureza contra nós, sem que cite nem possa citar uma só palavra nossa, em que tal accusaçaõ se funde, só pôde servir de o character izar de calumniador; e portanto o mesmo credito lhe daraõ, quando elle extende a mesma accusaçaõ, e pelas mesmas palavras, a " Monarchas taes como o do Brazil." Queixe-se muito embora do naõ cumprimento das promessas de Fernando VII; mas quando intenta generalizar a accusaçaõ a todos os Monarchas, e especialmente ao do Brazil, deveria citar alguns factos em prova. Conhecemos, e nos queixamos, de que no Brazil se naõ tenham admittido muitas reformas úteis, mas transmutar essa omissão em falta de boa fé, ou em naõ cumprimento de promessas, he uma calumnia; porque he allegaçaõ sem prova. A ignorância de alguns Ministros, o egoísmo de outros, a priguiça da maior parte, podem eer causa bastante das omissoens de que nos queixamos; mas quando, sem se ai legar a prova de um só facto, se attribuem os erros do Governo ao Machiavelismo de fazer promessas e naõ as cumprir, e se nota mui especialmente o Soberano, perde a accusaçaõ todo o credito, e o accusador será desmentido pelos factos. Se um Monarcha falta á sua palavra, e naõ cumpre suas promessas, he justo que o mundo o estigmatize, a historia lhe dará também o merecido castigo: mas extender a mesma accusaçaõ a todos os mais Monarchas, contra quem se naõ podem allegar factos da mesma natureza, he uma despropositada generalidade, que o senso commum sempre reprovara. Segundo o raciocínio do Escriptor; porque Aristides foi injustamente banido pelo mais iníquo Ostracismo, será preciso fazer desapparecer da superfície da terra todas as Republicas.
" Reforçando o Braziliense os seus serviços a favor da tyrannia, procura intimidar aos opprimidos, para que se abstenham de revoltar-se contra seus oppressores. Saõ dous os espantalhos, que lbe apresenta, para este fim ; o pezo das contribuiçoens, e o da anarchia. Bem pudera numerar os cadafalsos, as prisoens, os açoutes, e mais torturas, que adoptam os tyrannos contra o povo, que aspira a sua liberdade ; e adiantando o gosto da adulaçaõ pôde também imitar a linguagem dos oradores da monarchia absoluta, descrevendo as penas eternas, que elles dizem esperam aos que resistem o poder arbitrário,"
A penas he necessário fazer caso das asserçoens contra nós, que o Escriptor accumúla a torto e a direito; mas a respeito do que inculca neste paragrapho, sempre convém dizer, que a matéria he demasiado séria, para ser tractada com a leviandade que aqui mostra este Escriptor. Quando consideramos com madureza as conseqüências de uma revolução, para aconselhar o Governo, que a naõ provoque, e para dissuadir o povoa que a nao procure, tractamos de uma matéria da mais alta importância; e naõ devemos demorai-nos com a refutaçaõ do ridículo das phrazes do Escriptor. He preciso desembaraçar o argumento do sophisma, a authoridade do gracejo. Por mais que o Escriptor queira tractar de bagatella os males de uma revolução convulsiva do Estado, a experiência de todos os séculos, e infelizmente para nós, a da nossa mesma idade, prova bem, que se um insensato pôde gracejar com objetos de tanta seriedade. Chamar serviços á Tyrannia nossas ponderaçoeus sobre as funestas conseqüências das revoluçoens, he mostrar a profunda ignorância de quem assim tracta a questão; porque as ponderaçoens desta natureza, naõ saõ dirigidas a ser " espantalhos do povo," mas sim a servirem de úteis lembranças aos que governam; por quanto, uma vez introduzido o vortex da revolução, governantes e governados todos correm igual perigo: e se taes consideraçoens podem ter seu effeito, como admitte oEscriptor, em desviar o povo para que se naõ arroje em revoluçoens, ¿ porque naõ servirão também de admoestar aos que governam, para que naõ adoptem medidas, que próxima ou remotamente provoquem as revoluçoens? E se isto assim he, inepta he a jocosidade com que por isto se nos accusa de " reforçarmos nossos serviços a favor da tyrannia."
" Todos os caminhos da felicidade estaõ semeados de espinhos e dificuldades, que he necessário superar para chegar ao desejado termo ; porém se os emprehendedores tivessem de acobardar-se com as pueris espécies do Correio Braziliense, o caminho da prosperidade seria de todo impracticavel; a industria, as artes e sciencias estariam ainda no berço ; e o gênero humano nada mais seria do que uma manada de escravos e brutos, distribuída entre certo numero de proprietários, e c onduzida por outro numero proporcionado de pastores taes, como os que conduzem o povo do Brazil, de Hespanha, e seus similhantes. Se a triste pinctura, com que faz a negaça aos Pernambucanos o Correio Braziliense, tivesse espavorido ao Duque de Bragança e seus partidários na insurreição de Portugal contra El Rey de Castella, faltaria o objecto de sua adulaçaõ, e naõ existiria no Rio-de-Janeiro o idolo, a quem consagra a sua penna, Custa muito o que vale muito ; e nenhum sacrificio he demasiado, quando se tracta de resgatar a nossa liberdade, e de reivindicar nossos direitos usurpados. He árdua empreza tirar o sceptro a um tyranno, que a favor da ignorância e do engano, e de umas doutrinas taes como as do Corneio Braziliense, se crê inexpugnável, porém os homens bons e espirituosos, menosprezando as cobardes liçoens deste escriptor, e adoptando o idioma dos heroes diraõ. Nihil mortalibus arduum est. Qui studet opta tam cursu contingere metam, Multa tulit, fecit, sudavit, et alsit. Merece uma roca e uma saia e um fuso, o pusilânime, que se amedronta com os espantalhos do novo adulador da tyrannia. Naõ he homem mas sim cervo, quem tolera pacientemente as vexaçoens de um déspota insolente, pelo temor dos males, que propõem o Correio Brazilense." 
Fig. 13   A CASA onde era impresso o “PAPAGAIO do ORINOCO” hoje museu da cidade de Bolívar.. Desta casa partiram os dos primeiros sinais aque a História guardou  da construção da vontade coletiva da soberania da Venezuela atual


Se tractassemos aqui da nossa causa, e naõ da causa de uma naçaõ, ou para melhor dizer da causa das naçoens, naõ nos faltaria com que replicar a chocarrice deste papagaio do Orinoco; mas outro he o nosso objecto, mui acima da repulsa de suas insulsas personalidades. Quando ponderamos os males de uma revolução, naõ temos em vista unicamente o perigo de algum indivíduo, que naõ tendo assas coragem para se expor, quando justamente o deve fazer, mereceria a offerta da roca, fuso e saia. Tractamos dos males, que podem abranger toda uma naçaõ, e naõ só a geração presente senaõ as futuras : comparado com isto, insignificante heo perigo da vida de qualquer indivíduo. Neste paragrapho se esforça o escriptor em recommendar as revoluçoens, ridiculizando, e insultando de cobardes aos que as naõ admittem, como fácil remédio para todos os males do Estado ; e na mesma levada taxa de escravos e manada de brutos aos que naõ adoptam seus princípios. Ha perigos em que a coragem dos indivíduos de nada serve. ¿ Como pôde o homem mais corajoso livrar-se de que um assassino o encontre desarmado e descuidado, e atrai çoadamente lhe de a morte ? ¿ Como pôde o homem mais corajoso eximir-se de ser prezo por uma multidão de esbirros ou de soldados, ser conduzido a uma prizaõ, e dahi a um cadafalso, seja innocente, seja culpado ? Naõ se tracta nestas consideraçoens do esforço pessoal, que por maior que seja nunca está ao abrigo da traição; tractasse de empregar esse esforço pára o bem de toda a naçaõ e de tázer leys, que, destruindo a desigualdade do poder phisico, que os homens recebem da natureza, introduzam na sociedade uma igualdade de poder moral, cora que todos se achem da mesma forma defendidos e protegidos. Um louco teria coragem de atirar com sigo de uma janella abaixo, quando o homem saõ naõ se atreveria a fazêllo; por que este conhece o perigo que aquelle naõ sabe apreciar. Mas no caso actual, em que os males, que se contemplam, saõ os da naçaõ e naõ os do indivíduo, a temeridade de ee expor ao perigo he a demais accompanhada pela injustiça de envolver no mal, outros que no acto criminoso naõ participam. Este raciocínio, he claro, tem seus limites; do contrario nunca uma naçaõ se deveria envolver em guerfa alguma; mas o Escriptor com a sua custumada confusão de ideas, quer que se admitta em todos os casos; ou que senaõ admitta em nenhum: assim argumenta, que se se devesse attender a estas consideraçoens do perigo nunca o Duque de Bragança e seus partidários haveriam libertado Portugal do jugo de Castella. Para que este repizado argumento do Duque de Bragança pudesse ter algum pezo, seria necessário que o Escriptor mostrasse, que a empreza de 1640 éra injusta ou desnecessária em seu principio; e ao depois temerária e infructifera; óra contra isto está a historia daquelle tempo, como temos exposto em outro lugar; pelo que naÕ ha somente que louvar a corragem do Duque e seus partidários, mas a devida applicaçaõ dessa coragem. A corragem de um salteador de estradas nunca lhe merecêo senaõ uma morte ignominiósa pelo consenso universal de todo o gênero humano: e a traição do assassinio nunca teve o nome de prudência.
" Os homens bons e cordatos, diz o Edictor, antes se sugeitam aos males presentes, do que se arriscam ao maior dos males, que he a dissolução do Governo." Quando os governantes naõ saõ intrusos, quando reconhecem que o seu poder he derivado do povo, e quando naõ saõ gravíssimos os males presentes, será prudência soffrèllos, e promover o seu remédio pela via da petição : porém no caso de Pernambuco deve dizer-se o contrario. Dissolver um Governo despotico, que, blasphemando contra Deus, se jacta da Divina descendência de seu poder arbitrário, naõ he um mal, nem o maior dos males mas sim um bem de summa importância, e um dever indispensável dos Baroens fortes e espirituosos. Se do povo vem a authoridade e o poder, com a mesma maõ com que elle dissolve um systema de oppressaõ e tyrannia, pode plantar o da liberdade, e o seu bem estar; naõ tendo que recorrer ao Céo em busca da Soberania, que existe no mesmo ceio da naçaõ, facilmente deposita o exercício delia nos cidadãos mais beneméritos."
Este paragrapho exhibe a mais clara prova do miserrimo modo de discorrer deste escriptor. Admitte, que ha casos, como nós dissemos, em que he prudência soffer os males presentes, e promover o seu remédio pela via da petição; mas assevera que no caso de Pernambuco se deve dizer o contrario. Até aqui bem vai; e devíamos esperar, que o Escriptor mostrasse as circumstancias particulares deste caso, segundo as quaes naõ deviam os de Pernambuco tentar a via da petição mas recorrer logo à da revolução. Se o Escriptor seguisse esta linha, teríamos entaõ de examinar suas razoens, e dissentir ou assentir a ellas segundo seu pezo. ¿ Mas qual he a razaõ que alega, para decidir assim no caso peculiar de Pernambuco ? " Que o Governo do Brazil he um Governo despotico, que se jacta da Divina descendência de seu poder." Eis aqui o resumo do cathologo dos males, que na opinião do Escriptor justificavam a revolução de Pernambuco, e fariam este caso peculiar, e um daquelles, que naõ deve admittir primeiro o tentar a via da petição mas sim passar logo ao extremo da revolução. Se a pobre gente de Pernambuco naõ tivesse melhor advogado, em que ficaria a sua causa? Era aqui de esperar que o Escriptor mostrasse, ainda mesmo que exaggerasse, os males, que o Governo fazia sentir agente de Pernambuco ; que nos desse o cathalogo mais extenso das oppressoens daquella província, ou da impossibilidade de remediar taes males; da ineficácia de fazer petiçoens contra elles, da necessidade de recorrer á rebelião. Nada disto: sáe unicamente com o crime do Governo de darão seu poder descendência Divina; e parece-lhe que tanto basta para justificar uma revolução. 
(Continar-se-ha.)
Evidente que. em novembro de 2019. o pobre índio, brasileiro ou venezuelano não interessam as polêmicas entre o CORREIO do ORINOCO e CORREIO BRAZILIENSE de Novembro de 1819.

Fig. 14   Quanto mais a ÉPOCA PÒS INDUSTRIAL  busca  consertar e unificar o mundo, mais aparecem  fragmentos e peças que não se encaixam.. É a eterna dialética entre o TODO e as PARTES e a busca de homeostase entre estes contrários. De outro lada esta incessante  dialética é sinal de que a HISTÒRIA NAO TERMINOU  e que VIDA etá na construção do novo e do inédito.


Os venezuelanos passaram uma geração que usufruiu os benefícios  econômicos do petróleo que supria  as suas necessidades A percepção da pobreza interna e em relação o mundo externo aumentou com a crise do preço petróleo que despencou na década de 1970 e se radicalizou nos primeiros anos do século XXI. Esta percepção da pobreza  gerou inicialmente um GOVERNO FORTE, mas que não pode segurar esta PERCEPÇÂO de POBREZA da VENEZUELA nos dias atuais.
Já o índio está na busca da TERRA SEM MAL. Com este olhar longínquo  imantado por este seu mito não percebe as DESIGUALDADES ECONÔMICAS não quer perceber
As incompreensões recíprocas, entre brasileiros e venezuelanos, separados por duas bandeiras de dois governos em conflito por uma ou outra razão e interesse pontual[1], só aumenta a PERCEPÇÃO destas  DESIGUALDADES ECONÔMICAS. Os interesses e os agentes externos usam e magnificam esta PERCEPÇÃO  das DESIGUALDADES ECONÔMICAS. Esta PERCEPÇÃO transtorna o peso e aumenta o quadro de castigos sem fim e de limitações de todas as ordens instaurando o desespero e a incredulidade num equilíbrio da ORDEM ECONÔMICA. SENTIMENTO TRANSTORNADO que atropela a ORDEM SOCIAL e minimiza  os mais sagrados DIREITOS HUMANOS




[1] Estatua de Francisco Miranda VANDALIZADA na Avenida Paulista - SÂO PAULO SP
Fig. 15   Quando se trata daquilo que interessa ao PODER ORIGINÀRIO -tanto do Brasil como da Venezuela - o mundo esportivo não conhece intrigas além das naturais rivalidades entre agremiações esportivas, A floresta amazônica interessa igualmente para os dois. O Brasil consome eletricidade produzida na Venezuela,


No contraditório desta PERCEPÇÃO NEGATIVA as NAÇÕES soberanas SUL-AMERICANAS  possuem mais em comum do que as vulgares e interesseiras intrigas podem QUERER JOGAR no ventilador da mídia de intrigas.
Todas s NAÇÕES SUL-AMERICANAS  um dia foram colônias e se libertaram. Todas tiveram a ESCRAVIDÃO em MAIOR ou MENOR GRAU, por MAIS O MENOS TEMPO. Todas sofrem deste passado do heteronomia somado com os REGIMES AUTORITÁRIOS recorrentes nos 200 anos de suas histórias de nações soberanas. No sentido da SOBERANIA NENHUM deles possui PENA CAPITAL na sua legislação conhecida e reconhecida. Todos possuem as suas fronteiras razoavelmente estabelecidas com pequenas divergências. Todos rechaçam o estoque e ameaça do uso de ARMAS NUCLEARES. Todas possuem uma CONSTITUIÇÃO aprovada pelo PODER LEGISLATIVO. Todas com maior ou menor grau possuem os três PODERES em FUNCIONAMENTO no REGIME REPUBLICANO.
 Na antítese da MUNDIALIZAÇÃO PLANETÁRIA são naturais e passageiros os conflitos simbólicos, os interesses e ao mesmo tempo a avaliação daquilo que pode ser bom para toda a humanidade.
Neste caminho, as rusgas do passado, desentendimentos pontuais do presente e temores pelo futuro devem ser colocados em face do território, das águas, do ar e da floresta amazônica[1] que unem o BRASIL e a VENEZUELA.
Evidente que  esta PAZ e CONCÓRDIA, entre nações vizinhas, NÂO  PODE SER FEITA NO GRITO.

FONTES NUMÈRICAS DIGITAIS
CORREIO BRAZILENSE em PDEF

DEBATE CORREIO do ORINOCO e CORREIO BRAZILIENSE 1817-1821
+

 CASA e IMPRENSA do CORREIO do ORINOCO
Antônio NARIÑO

Batalha de Trafalgar

PRIMEIROS SONS do HINO da INDEPENDÊNCIA

BATALHA DE CARABOBO TOVAR Y TOVAR

CONGRESSO DE CÚCUTA imagem
+ General CRAVAJAL

ALVARÁ de 05 de janeiro de 1785

Francisco MIRANDA

Estatua de Francisco Miranda VANDALIZADA na Avenida Paulista - SÂO PAULO SP


David G BURNET (1788-1870)

NACIONALIMO x MUNDIALIZAÇÂO

VENEZULA VISTA do BRASIL em 2019

A VEZ da VENEZUELA  Fernando Henrique CARDOSO

FRONTEIRA

Amazônia: INCÊNDIOS nas fronteiras VENEZUELA BRASIL

BRASIL como VAGÂO de #ª Classe dos ESTADOS UNIDOS desde 1822

ESCOCESES MARCHAM PARA INDEPENDÊNCIA

A VENEZUELA em novembro de 1811

REVOLUÇÂO PERNAMBUCANA de 1817

Oo JULGAMENTOS do BRASIL COLÔNIAS
+


Minissérie SIMON BOLIVAR (1738-1830)

VENEZUELA  2019

Em1854 - VENEZUELA ABOLE a ESCRAVIDÃO

ANEXO VIDEO
FELICIDADE e PERCEPÇÃO de DIFERENÇAS  ECONÔMICAS

ARTES VISUAIS da VENEZUELA

Martin TOVAR y TOVAR (1827-1902)

Tito  SALAS (1887-1974 )

Ricardo ACEVEDO BERNAl 1867-1930
A tentação

SIMON BOLIVAR na PINTURA




[1] Amazônia: INCÊNDIOS nas fronteiras VENEZUELA BRASI 


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