terça-feira, 4 de dezembro de 2018

176– NÃO FOI no GRITO


Magistrados e  Juízes corrompidos e corruptos, em dezembro de 1818 e em 2018
Fig. 01 – As CAPITANIAS do BRASIL COLONIAL eram  comandado por CAPITÃES até o momento de sua soberania Nacional. Estes CAPITÃES concentravam  nas suas mãos, o LEGISLATIVO, o EXECUTIVO e também o JUDICIÁRIO. Neste sistema, que reproduzia o papel do monarca, autocrático e centralista do rei, Os MAGISTRADOS e JUIZES existiam formal e burocraticamente, no entanto subalternos e, muitas vezes,  corrompidos e corruptos. Os revolucionários de 1817 enfrentaram um tribunal de da Capitania de Pernambuco, sendo vários deles condenados à pena capital.
  
O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO possui uma terrível carga de hábitos, privilégios e soberania que lhe permite exercer uma hermenêutica favorável a este PODER.   Soberania, privilégios e hábitos que facultam abrir a porta para criar LEGISLAÇÂO em causa própria com o objetivo de comandar uma EXECUÇÃO sempre com ônus para o ERÁRIO PUBLICO.
Fig. 02 – A execução da PENA CAPITAL de TIRADENTES resultou de um longo processo formal na qual a pena já estava prevista deste o início, Coube aos  MAGISTRADOS e JUIZES apenas formalizar e dar ao ato final  maior aparecia legal possível
Apesar do espírito de corpo dos MAGISTRADOS e JUIZES não é possível personalizar os nomes daqueles que agiam num sistema corrupto e corruptor. Assim repete-se o que Hipólito José da Costa escrevera na página 710, do Correio Braziliense na de novembro de 1814[1], que  as pessoas serão  boas ou más, acidentalmente; o sistema é que acusamos de mau radicalmente”
Hipólito José da Costa voltou a carga no CORREIO BRAZILIENSE de DEZEMBRO de 1818 – Vol. XXL, Nº . 127, pp. 660-664 onde destacou na seção Miscelâneas.

Administração da Justiça no Brazil.

O respeito, que he preciso guardar aos Ministros de Justiça, nos tem obrigado a omitlir as repetidas commuuicaçoens, que do Brazil temos recebido, sobre o escandaloso procedimento de muitos Magistrados. E com tudo convém dizer alguma cousa sobre a administração da justiça em geral. O mal naõ provém deste ou daquelle indivíduo, mas do systema em geral; e uma vez que se introduz a corrupção, por mais que se mudem os ministros, continua a oppressaõ.
Temos sempre declamado, contra a jurisdicçaõ arbitraria dos Governadores militares; e éra de suppor, que lhes serviria de freio a administração da justiça pelos ministros letrados; mas a corrupção destes fatos dependentes dos Governadores, e assim todos de maõs dadas contribuem para a oppressaõ


[1] CORREIO BRAZILIENSE, novembro de 1814,  p. 710 http://naofoinogrito.blogspot.com.br/2014_11_01_archive.html

Fig. 03 – Hipólito Jose da COSTA em vez de insistir no descalabro das práticas jurídicas lusitanas, passa a procurar remédio para o mal. De sua parte sabe que qualquer mudança do SISTEMA INJUSTO passa, pela IMPLEMENTAÇÂO antes de qualquer IMPLANTAÇÂO geral e universal. Para tanto escolheu o segmento dos comerciantes e os seu litígios para introduzir a PUBLIDADE   da NEGOCIAÇÂO para atingir um CONTRATO no qual todos saiam ganhando. No entanto este projeto - que privilegiava a fonte e  a sua sustentação no POVO dos NEGOCIANTES e JUEADOS - militava frontalmente contra as fontes divinas  do regime monárquico centralista, monocrático e sagrado do trono lusitano expressas e consolidadas  nas.  ORDENAÇÔES e LEIS do REINO de PORTUGAL

¿ Qual o remédio? A publicidade dos processos; a introducçaõ dos Jurados. O Governo Francez mandou recentemente um magistrado instruído, para viajar a Inglaterra, com o único intento de freqüentar as Cortes de Justiça, e aprender a practiea das regras, na admissão das provas.
Esta importante parte na administração da justiça he deixada, no Brazil, segundo a legislação actual, inteiramente á consciência do julgador. Daqui provém todo o mal; porque cada julgador faz para si mesmo a medida de sua consciência. A introducçaõ dos jurados seria uma innovaçaõ ; e tanto basta para que encontre com terrível op posição : esperamos por ella, mas isto naõ deve desanimar-nos. A primeira difficuldade attendivel, nesta introducçaõ, he ensinar aos povos em geral o officio dos jurados. Para isto reconimendariainos dous methodos. Um, a publicação de breves, e claras instrucçoens, que estivessem ao capto das pessoas de educação; as quaes somente se podem no Brazil nomear para este importante  officio. O segundo, a introducçaõ gradual desta importante e ulil instituição, Supponhamos, que a primeira introducçaõ dos jurados se admittia nas causas commerciaes. Neste caso se fariam, em todas as cidades do Brazil, listas dos negociantes mais instruídos, e destas listas se tirariam os nomes dos doze, que deviam servir em cada causa. O grande numero de pessoas, que se achariam em cada lista, faria incerto, quaes haviam ser aquelles, em quem recairia a escolha; e esta incerteza preveniria os empenhos. Os negociantes estaõ de algum modo acustumados á decisão de muitas causas por árbitros; e por tanto aquelles, que saõ capazes de ser árbitros, teriam um só passo mais a dar, para se habilitarem a serem jurados; porque a distineçaõ entre os magistrados e juradas, he a mesma, que todos os legistas Portuguezes sabem, que existia no Direito Romano, entre os Magistrados e os Juizes: isto he, que o Magistrado conhecia, explicava e decidia da ley; e o juiz decidia do facto, a que a ley se tinha de applicar. Faltando na linguagem commum, para melhor sermos entendidos de todos,a nossa recommendaçaõ he, que as causas commerciaes sejam sempre decididas por árbitros, presididos por um ministro letrado, que lhes explique as leys, no caso especial de que se tractar. Para prevenir os empenhos, e a collusaõ dos jurados com as partes, convém que os jurados naõ sejam nomeados, senaõ depois que os advogados de ambas as partes tiverem preparado todas as provas, que se lhes haõ de apresentar; e que depois de nomeados dem a sua decisão em publico, sem fallar ou ouvir mais ninguém, senaõ os advogados de ambas as partes, e o juiz ou juizes, que presidirem ao processo.
Fig. 04 –  A micro sociedade da família patriarcal certamente foi para Hipólito Jose da COSTA onde o chefe de família seria o jurado ideal para o seu sistema de informação, negociação e contrato. Certamente esta célula familiar repetia, como um fractal  o GRANDE  SISTEMA no qual o REI, o CAPITÂO e o Magistrado exerciam o PATRIO PODER. Em dezembro de 2018 certamente este paradigma já se esgotou Assim na ÉPOCA PÒS-INDUSTRIAL as INFORMAÇÔES e a sua CIRCULAÇÂO, enunciadas por Hipólito da Costa valem  e objetivam CONTRATOS PONTUAIS e diferentes para cada caso

O modo de tirar os nomes da lista, para fazer a escolha dos jurados, requer também precauçoens, que saõ obvias, e para o que a legislação Ingleza serviria de excellente norma. Se esta instituição se admittir, no Brazil, nas causas commerciaes a experiência mostrará em breve a sua utilidade, para reprimir a corrupção dos magistrados; e daqui se poderia estender a causas de outra natureza.
Nos casos dos crimes he, sem duvida, aonde esta instituição he mais proveitosa; mas a sim applicaçaõ, por isso que he tanto mais delicada, requer maior cirtumspecçaõ; e assim podia seguir-se depois; quando se achassem em cada cidade do Brazil, sufficiente numero de homens bons, assas instruídos no officio de jurados em causas eiveis. Aquellas pessoas, que se oppoem á introducçaõ de qualquer melhoramento, só porque he novidade; devemos lembrar, que a decisão de causas por árbitros, he mui congenie com a legislação Portugueza; e a instituição dos jurados naõ he outra cousa mais do que a admissão de árbitros em todas as causas, sendo esses árbitros presididos em sua decisão por um juiz letrado, que lhes explique as leys do caso.
Fig. 05 –  O grande esforço do JUDICIÁRIO, dos CAPAS PRETAS de COIMBRA e MAGISTRADO  era o de compilar as ORDENAÇÔES e LEIS do REINO de PORTUGAL. Ato contínuo cabia as JUIZES do REINO  -  sob severo controle da CORTE, dos BISPOS e CAPITÃAES - prover a sua estrita aplicação destas ORDENAÇÔES.  Qualquer duvida, expressão ou ato que colocasse em questão estas ORDENAÇÔES  que sustentavam este sistema era considerado CRIME LESA MAJESTADE  e suscetível da PENA CAPITAL. CRIME praticado por Tiradentes, Padre Miguelinho e o General  Gomes Freire da Andrade e que lhe valeu a pena capital e desonroso tratamento dos seus despojos mortais

Para mais alhanarmos a difficuldadc e o medo da ínnovaçaõ, notaremos, que as decisoens por árbitros, saõ expressamente admiltidas no livro 3° das Ordenaçoens, titulo 16[1]: assim nao ha para que ninguém se assuste com esta ínnovaçaõ; somente se requerem tres circumstancias addicionaes, aos princípios, que admitte a mesma legislação nos árbitros. 1ª . Que elles sejam introduzidos em todas as causas, sem que se precise o compromisso das partes. 2ª. Que sejam escolhidos de maneira imparcial; e depois de todos as provas promptas, para evitar o coluio delles com as partes. 3ª- Que sejam presididos, quando derem a sua decisão, por um magistrado, que lhes explique a ley, depois dos advogados d'ambas as partes terem ai legado seu direito, e produzido suas provas. Comparando os jurados aos juizes árbitros, posto que demos ao juiz ou magistrado presidente o conhecimento de direito, e aos jurados o conhecimento do facto; nem por isso dizemos, que estes jurados sejam meros arbitradores, de que faz menção a mesma ordenação do Livro 3o. tt. 17; aonde he bem clara distincçaõ; mas queremos dizer, que estes jurados ou arbitras estejam debaixo da presidência do juiz letrado, para elle lhes explicar as leys, ficando toda a decisão aos jurados.

Fig. 06 –  As ORDENAÇÔES e LEIS do REINO de PORTUGAL tinham sua fonte, sustento e sentido no regime monárquico centralista, monocrático e sagrado do trono lusitano.  Muito distante de um CONTRATO SOCIAL estas ORDENAÇÔES  vinham de CIMA para BAIXO e eram reforçadas  por um corpo jurídico formando um  GRANDE  SISTEMA no qual o REI delegava o seu poder pessoal e divino para seus CAPITÂES e BISPOS nomeados pela corte e controlados pela MESA da CONSCIÊNCIA e pela SANTA INQUISIÇÂO.

He claro, que os advogados de ambas as partes, expondo os factos, e produzindo as provas, explicarão cada um delles as leys segundo melhor convier a seus clientes; e o juiz dirá entaõ o que for necessário para guiar o jurado, entre as opinioens oppostas dos advogados; mas ouvido isto. a decisão pertencera aos jurados. A Ordenação do Reyno dá appellaçaõ da decisão dos Árbitros em todos os casos. Mas na admissão dos jurados se deve fazer nesta parte especial legislação. Qual ella deva ser he matéria demasiado difusa para os nossos limites; que nos prescrevem naõ passar por ora adiante nesta discussão.
JUSTIÇA TARDIA: DENFORCAMENTO de IRIADENTES https://fotospublicas.com/tjrj-anuncia-desenforcamento-de-tiradentes/
Fig. 07 –  O ato simbólico do “DESENFORCAMENTE de TIRADENTES” quer reparar simbólica e tardiamente um ato jurídico de um governo e de um judiciário que quis mostrar um ato de força, de poder e de hegemonia que de fato acabou evidenciando toda a fragilidade, o arbítrio e e de um minúsculo circulo de poder monocrático e  centralista Esta condenação e execução, com  requintes de publicidade e crueldade evidenciou uma casta interesseira, corrupta e insensível para o PODER ORIGINÀRIO  que sustentava -  com trabalho, lágrimas e sengue -  um REGIME COLONIAL alheio ao seu TEMPO, LUGAR e SOCIEDADE

Numa visão retrospectiva as condenações dos Revolucionários de Pernambuco, do General GOMES FREIRE DE ANDRADE  e de TIRADENTES são a continuação direta dos  hábitos, privilégios e soberania PODER JUDICIÁRIO LUSITANO BRASILEIRO acostumada e embalada pela onipotente, onisciente, onipresente, eterna  e subliminar SANTA INQUISIÇÃO.
Fig. 08 –  O condenado, executado e execrado Tiradentes  transformou-se de TABU em TOTEM  reverenciado, reabilitado e  mártir do regime republicano brasileiro. O feriado nacional do dia 21 de abril foi consagrado como a comemoração dos PRCURSORES da INDEPENDÊNCIA do BRASIL, resumidos em TIRADENTES, pelo Decreto de nº 155B do dia 14 de janeiro de 1890 [1] sendo oficialmente o representante  de todos os brasileiros  que combateram e morreram pelo regime republicano  


Na medida em que um GOVERNO  furta informações, escamoteia a verdade, desvia verbas públicas ele ABRE a PORTA para o cidadão desviar e sonegar impostos, criar jurisprudência imoral,  agredir e matar o seu semelhante. O exemplo vem de cima e de cargos muito bem remunerados,
Em dezembro de 2018 esta terrível lógica lastrada em crescente carga e números de que permite a um GOVERNO de plantão,  exercer uma hermenêutica favorável ao seu PRÓPRIO PODER e distante de qualquer CONTRATO SÈRIO, RESPEITOSO e IMPESSOAL.   Soberania, privilégios e hábitos que lhe facultam abrir a porta para criar LEGISLAÇÂO em causa própria com o objetivo de comandar uma EXECUÇÃO sempre com ônus para o ERÁRIO PUBLICO.
Um tal GOVERNO inicia pela ABERTURA da PORTA com a corrida aos CARGOS PÚBLICOS CARENTES de CONTRATOS específicos com o EXERCÍCIO das FUNÇÕES PRESCRITAS pela LEI. CARGOS PÚBLICOS, com GORDAS e OBSCENAS mordomias pagas com o ERÀRIO PÚBLICO  Nesta ABERTURA da PORTA não existe o MAIS DÉBIL CONTRATO com a NAÇÃO ou com POVO além da POSSE (furtada) dos CARGOS.
Neste ponto surge a pergunta fatal e incontornável:
-¿ Se o GOVERNO ROUBA, POR QUE EU NÃO POSSO ROUBAR? . 
 Este PODER ORIGINÁRIO, além de sentir-se FURTADO, presume-se no DIREITO ATIVO e PRÁTICO de  desviar e sonegar IMPOSTOS, criar JURISPRUDÊNCIA imoral,  AGREDIR  e ELIMINAR o seu semelhante que potencialmente poderá ser um concorrente desleal.


FACE  BOOK
Condenação e execução, no dia 18.10.1817 o General GOMES FREIRE DE ANDRADE e os seus companheiros
O TRIBUNAL do GENERAL GOMES FREIRE de ANDRAD
A execução  da sentença

Revolucionários de Pernambuco executados em setembro de 1817
Julgamento do Pe. MIGUELINHO

BRASIL  DEZEMBRO de 2018
CIÊNCIAS JURÌDICAS e HERMENÊUTICA

TRBUNAL TIRADENTES

JUSTIÇA TARDIA: DENFORCAMENTO de IRIADENTES

Tiradentes real

MAGISTRADOS NÂO PRECISAM FAZER EXAME da oAB

Imagem MAGISTRADO na mira da JUSTIÇA

ORDENAÇÔES  do REI:

TRÊS ORDENAÇÔES
Ordenações Filipinas
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sexta-feira, 2 de novembro de 2018

175 – NÃO FOI no GRITO


Entre a NATUREZA e a CIVILIZAÇÃO em NOVEMBRO de 1818 e 2018.
Fig. 01 - O Rio Pardo nasce em Minas Gerais atravessando  o estado da Bahia depois de percorres 565 Km  atinge o mar na cidade de Canavieiras.  Este fértil vale foi o destino da expedição de João GONÇALVES da COSTA três séculos após a chegada dos portugueses num ponto próximo no dito Monte Cabrália. O espanto é o triunfo da NATUREZA sobre a CIVLIZAÇÂO  quando esta CULTURA HUMANA  não encontra referencias seguros de sua existência e objetivos defensáveis por tempo indeterminado.

Em Londres repercutia em NOVEMBRO de 1818 as peripécias vividas entre a NATUREZA e a CIVILIZAÇÃO no RIO PARDO BAHIA  e MINAS GERAIS. Não se exaltava tanto os feitos militares,  aventuras  épicas e  grandes descobertas. Pelo relato é possível perceber e sentir dois mundos distintos que se confrontavam, negaceavam e reagiam conforme o mundo íntimo de que deram portadores.
De um lado os selvícolas - próximos da NATUREZA -  cuja visão de mundo não iam muito além de sua taba, da sua clã e no cenário de algo sempre este ali. Do outro lado o europeu buscava terras, riquezas e um mercado para os seus produtos dos primórdios  da ERA INDUSTRIAL
A narrativa publicada no CORREIO BRAZILIENSE, em novembro de 1818 tinha se originado de legendas orais antigas e que ganharam forma escrita em 1806,   portanto dois anos antes de vinda do Dom João VI ao Brasil.
Na sua leitura em novembro de 2018 é possível perceber esta fronteira ainda próxima do mar e medir e compreender os esforços de sair do conforto do caranguejos da praia para meter a sua existência no BRASIL PROFUNDO.
De outra parte esta peripécias são índices  do espírito e o ânimo dos brasileiros em arrumar a casa para os eventos que culminaram na SOBERANIA NACIONAL BRASILEIRA  em 1822. De um forma genérica pode-se inscrever que estres feitos  da conquista da SOBERANIA BRASILEIRA NÃO FORAM NO GRITO. Este evento solitário do dia 07 de setembro de 1822 nada significaria sem este universos de conquistas profundas e silenciosas.
Fig. 02 O quadro de Henrique BERNARDELLI (1858-1936)[1] - do ano de 1889 - parece inspirado na saga João GONÇALVES da COSTA no seu percurso do fértil  e inexplorado vale do Rio Pardo.. Este quadro - cujos esboços eram denominados ainda, em1887,  “A BUSCA do ELDORADO”-  parece saído  da leitura da expedição de João GONÇALVES da COSTA subiu este rio a partir da Bahia em direção a Minas Gerais


CORREIO BRAZILINSE - OUTUBRO - NOVEMBRO de 1818
 VOL. XXI. Nº 119 pp.458-462  +Nº . 120. 3Y pp.532-543  Miscellanea.
BRAZIL.
Memória sobre a conquista do Rio-Pardo, em 1806; extrahida das Gazetas da Bahia ; de 14, 21, «3 28 de Julho.
CORREIO BRAZILINSE - OUTUBRO de 1818 VOL. XXI. Nº 119 pp.458-462    Miscellanea


[1] Os esboços  deste quadro são descrito por Carlos Von KOSERITZ na página 320 do seu livro IMPRESSÔES d’ITÁLIA editado em Porto Alegre em 1887
Fig. 03 A cidade de CANAVIEIRAS fica na COSTA do DESCOBRIMENTO no ponto em que o Rio Pardo desagua no Oceano Atlântico e de onde partiu a expedição de João GONÇALVES da COSTA.. Apesar da fertilidade das terras que ladeia este rio  a NATUREZA ainda era predominante  sobre a CIVLIZAÇÂO  que em outros pontos do Brasil já estava adiantado. Enquanto isto ILHEUS estava regredindo e em ruinas conforme relato desta expedição que ocorreu três séculos após o DESCOBRIMENTO do BRASIL
  
A Gazeta em que descrevemos o rio Jequetinhonha, e a facilidade da communicaçaõ de Minas com a Bahia, pela navegação daquelle rio, excitou nesta Cidade o desejo, e o projecto de se fazer no porto de Canaveiras um estabelecimento mercantil, para fornecer aos navegantes do rio aquelles gêneros de que elles necessitam, e que podem permutar pelos productos da sua lavoura sem o detrimento de demandar a Cidade. Accresce mais, que arrematando-se o contracto do Páo Brazil em virtude de um Alvará remettido á Juncta da Fazenda necessitam os arrematadores achar commodidades no sobredicto porto de Canavieiras, para fazerem as suas expediçoens pelo rio acima, e para conduzirem o páo Brazil até ao porto, donde o devem embarcar para o reniclterem ao exame.
Fig. 04 As flores da árvore do Pau Brasil[1]  que deu o nome ao país. A narrativa  da expedição de João GONÇALVES da COSTA descreve a abundância desta árvore no fértil vale do Rio Pardo. A riqueza, outrora abundante estava chegando ao seu limite de exploração direta e indiscriminada.


A pouca distancia de Canavieiras, tomando para o Rio Pardo, ha grande abundância de páo Brazil, segundo nos informam pessoas que foram empregadas por varias vezes neste negocio ; e como o Rio Pardo se ajuceta com o da Salça, e ambos fazem barra em Canavieiras, he da maior evidencia que esta Ilha venha a ser o ponto de maior concurrencia ao Sul da Bahia, assim pela navegação de Minas, como pelo corte do páo Brazil, que alli ha de vir parar. He também muito averiguada a excessiva oopia de peixe por todos aquelles sitios; e isto unindo á fertilidade tias margens fará crescer com muita rapidez a população, a qual sempre augmenta na razaõ dos meios da subsistência local, quando naõ he empecida por algumas causas políticas. He muito para notar, que, sendo a Comarca dos Ilheos, e Porto Seguro talvez o melhor terreno desta Capitania., se ache com tudo despovoada, e pobre; entretanto que o Rio das Contas, campos da Cochoeira, Jnbambupe etc. aonde naõ he tam bom o terreno, contam muita gente polida, muito luxo, e muitas casas opulentas!
Fig. 05 As raras árvores nativas  de Pau Brasil chegam ao estágio de aproveitamento após séculos de desenvolvimento. Apesar da severa proibição de seu corte e aproveitamento hoje os maiores estoques desta madeira estão nas mãos de companhias multinacionais[1] nas quais  os fabricantes de arcos de violino necessitam comprá-lo a peso de ouro  .

Qual será pois a razaõ desta differença . Talvez que fosse preciso escrever muito para se darem todas a« causas simultâneas deste fenômeno. Naõ saõ próprias de uma Gazeta tantas indagaçoens, e diremos com Virgílio: Non nostrum inter vos tantas componere Lites. A razaõ mais obvia que pôde occurrer a qualquer, he que estes sitios do sul foram .sempre infestados do gentio, que destroe as plantaçoens, e lançava fogo ás casas dos Portuguezes; mas esta causa já cessou de todo pela felicidade das conquistas; e agora naõ ha receio de fazer estabelecimentos em toda a comarca dos llheos,e margens do Rio Pardo, e Jequetinhonha aonde ha excellentes sitios de Lavoura, e Fazendas de gado, como consta da seguinte Memória de Joaõ Gonçalves da Costa, que em 1806 conquistou o Rio Pardo, a qual agora publicamos para conhecimento de quem quizer fazer qualquer estabelecimento para aquellas bandas.
Fig. 06 O afro lusitano João GONÇALVES da COSTA (1720 – 1820) na época da sua expedição ao vale do Rio Pardo já havia fundado, em 1783,  a atual cidade de Vitória da Conquista[1] nos altiplanos da BAHIA que separam o Rio São Francisco dos rios PARDO e JEQUITINHONA  Assim conhecia usos e costumes dos indígenas da região. Entre os seus objetivos estava a descoberta, na Bahia,  de novas minas de ouro que estavam se exaurindo em Minas Gerais  

Memória.
Promptos no primeiro de Agosto do anno passado de 1806 os Soldados, mantimentos e todo o mais necessário para a conquista do Rio Pardo até a sua embocadura, fiz entrar no trabalho de um caminho da Barrada Vareda até a da Giboya, que saõ dous ribeiroens, dos quaes o rio nasce das Veredas de um campo aonde ha fazendas de gado, e o 2o. nasce de um pasto do mesmo nome, e ambos desemboçaõ no Rio Pardo, por cuja margem septentrional desceo o caminho, e ficou uma boa estrada com distancia de 4 léguas com pouca differença. Por ella fiz conduzir os mantimentos, que de minha ordem apromptou, sem duvida, nem repugnâncias, Antônio Ferreira Campos, afazendado na dieta Barra de Vareda, cujos mantimentos e mais trem se acondicionáram no abarracamento, que havia mandado apromptar na dicta Barra da Giboya, aonde parei cora a estrada, por haver boas malas com avultados paos de vinhatico, dos quaes mandei fazer 5 canoas para vadear o rio, e aliviar os Soldados do pezo das cargas, abrindo picada por terra para ver o plano do terreno. Logo fiz construir uma canoa mais ligeiramente para passar um corpo de tropa á parte do Sul do rio, por me noticiar um índio, (que em conquistas anteriores aprehendi, e o tenho domeslicado) que para aquella altura pouco mais ou menos, havia uma Aldêa de genlio da sua naçaõ, que chamaõ Mongoyos. Passaram para a diela parle do Sul 70 Soldados commandados pelo Sargento Mór Aiitonio Dias de Miranda, e o Capitão Raymundo Gonçalves da Costa, recommendando-lhes naõ a caulella, e valor (pois em tudo saõ experimentados) mas a docilidade, com que se deviam portar nesta empreza; porque se poderia fazer sem resistência, por ter lingua da mesma naçaõ.
Marchou esta tropa com alguma infelicidade, pois ao .3° dia picou uma cobra a um soldado, e para acudir-lhe com algum curativo se fez alto 5 dias, no fim dos quaes morreo o soldado. Sem este continuou a tropa, e a poucos passos outra cobra picou a dous soldados, e para lhes acudir com remédios se suspendeo a marcha, mas com 7 dias de demora pela virtude de hervas recuperaram a saúde, e acompanharam a tropa, e no fim do décimo quinto dia cortou um soldado o pé com um machado, e para o curar parou a marcha bastantes dias; porém logo que pôde andar, continuou a tropa, até que chegaram á dieta inculcada Aldêa com viagem de 45 dias


Fig. 07 O indígena que afro lusitano João GONÇALVES da COSTA encontro no Vale do Rio Pardo estava em transição do NOMADISMO para as primórdios da ERA AGRÍCOLA   Foi graças a estes últimos que  expedição pode se deslocar e estabelecer pontos de referência de CIVLIZAÇÂO  A utilização da língua nativa foi fundamental para o êxito desta aproximação entre as duas mentalidades

A narrativa de João GONÇALVES da COSTA - publicada no CORREIO BRAZILIENSE, em novembro de 1818 - evidencia alguém conhecedor e respeitoso da língua e costumes do indígena brasileiro.  Um século antes de do Marechal Rondou
Chegando a tropa á referida Aldêa deram-lhe cerco, e mandaram o lingua entrar nella, levando alguns machados, fouces, facas e anzóes, que se enviavam ao gentio convidando-os a uma boa paz, e amizade, o que o tal interprete fez com tal confiança e efficacia, que sem a menor resistência vieram todos aquelles índios, naõ como bárbaros, receber a tropa dos conquistadores por amigos e recolhendo a todos em suas choupanas os soecorreram de mantimentos de suas roças, por ser esta naçaõ dos Mongoyos a única entre os bárbaros, que vive de cultivar a terra. Está situada esta Aldêa á margem de uma ribeira, cujas águas alli mesmo se dividem por dous braços, um que se encaminha ao sul e vai desaguar no Rio Grande de Bello Monte, e outro que segue ao norte e desemboca neste Rio Pardo. Nesta já dicta Aldêa se contaram 196 almas pagaãs; e se achou também um índio da mesma naçaõ de nome Victorino, o qual aprehendi em outras conquistas, e instruindo-o com a doutrina mais essencial o fiz baptizar, e o remetti para o trabalho da estrada do Coronel Jozé de Sá, d'onde diz fugira. Pelo nome deste índio chamaram a esta povoaçaõ Aldêa Victorina. O mesmo Victorino deo noticia aos Officiaes da Tropa, que dalli mais para o centro havia uma antiga lavra d'ouro, cuja noticia admiraram, tanto pela distancia, como por serem aquellas terras batidas do gentio d'outras naçoens ainda mais barbaras, que esta, e por isso movidos da curiosidade, e do gosto de communicar uma verdadeira nova, resolveram ir examinar ocularmente a dieta lavra.
(Continuar-se-há.)
CORREIO BRAZILINSE NOVEMBRO de 1818 VOL. XXI. Nº . 120. 3Y pp.532-543  Miscellanea
Memória, sobre a conquista do Rio-Pardo, em 1806_: extrahida das Gazetas da Bahia; de 14, 21,e28 de Julho.
(Continuada de p. 462j)
Marcharam para ella levando junctamente o noticiador e outros da mesma naçaõ, e caminhando dous dias incompletos, quando já estavam perto da lavra, encontraram uma tropa de gentio da naçaõ Botocudos, e por outro nome Imboré, ou Aymoré, que se encaminhava a bater os Mongoyos, por serem inimigos acerrimos; e no repentino encontro frecháram os Botocudos a um Soldado Portuguez, muito destro e valoroso, o qual se adiantara  algum tanto do Corpo da Tropa, e como a ferida foi mortal por ser sobre o peito o fizeram voltar carregado em uma rede, e acompanhado de 4 armas de fogo, para ser curado na Aldêa o melhor que possível fosse.
Fig. 08 O indígena que a expedição militar de João GONÇALVES da COSTA denominou de BOTOCUDP devido aos efeitos labiais e das orelhas não era de uma única etnia.. O uso destes adereços marcava a busca de espantar e de aterrorizar os seus inimigos. Ou, ainda,  a proximidade dos hábitos primitivos  da NATUREZA e a distância que queriam da CIVLIZAÇÂO dos EUROPEUS   

Na medida em que for possível tomar ao pé da letra o relatório de João GONÇALVES da COSTA- publicada no CORREIO BRAZILIENSE, em novembro de 1818 -  havia vestígios da antropofagia indígena em pleno século XIX.  Esta prática foi o motivo da investida militar contra um destes grupos em cujo poder encontraram evidencias e índices de não só de antropofagia mas canibalismo.  
Porém os Officiaes, e mais soldados, tomando aquella desgraça por causa commum, determinaram marchar sobre os Botocudos[1], que se haviam retirado, e caminhando em seguimento delles a marcha dobrada, ao quarto dia acharam as rancharias, das quaes se occultaram para dar-lhes cerco ao amanhecer o dia seguinte, hora em que costumam estar todos arranchados. Assim suecedeo: mas os Botocudos naõ temendo o estrondo das armas, nem o som do Tambor valorosos fizeram a mais temerária resistência, e postos por detrás dos páosse repararam de alguns tiros, que quasi a montaõ se davam, tendo as mulheres ao lado carregadas de frechas, as quaes iam distribuindo aos homens, para que mais rapidamente fizessem seus tiros, de forma que com o chuveiro de frechas ficaram tres soldados feridos: o que visto pelo intrépido Capitão Raymundo, puxando da espada, foi investindo para levar tudo a ferro frio; mas os bárbaros naõ esperaram, pois vendo esta resolução abandonaram os postos, e se foram pondo em fuga, deixando no campo mortos 21 e alguns rapazes, dos quaes o mesmo Capitão, e Sargento Mór com alguns Soldados amarraram oito dos mais pequenos, a saber, 3 machos, 3 fêmeas e 1 mulher de maior idade com sua criança, ambos os quaes duraram pouco. Acabada a contenda entraram nas rancharias, e nellas acharam vários arcos, e frechas, e com muito maior terror ficaram quando viram a innummeridade d' ossos de gente, e os das espaduas enfiados em cordéis, que lhes serviam de chocalho,a cujo som dançavam depois de fartos da carne tirada dos mesmos ossos como costumam. Persuado-me que esta naçaõ come os filhos, e parentes, que entre elles morrem; ainda mais, que mataõ os velhos, e inúteis para os comer, porque me asseveraram todos os Soldados da Tropa, e maiormente os Officiaes, os quaes merecem todo o crédito, que entre -toda aquella gente naõ se vio um só velho, mas somente homens, e mulheres ainda moços, e meninos. Saõ taes estes selvagens, que, nascendo perfeitos, e sendo em tudo a nós similhantes, se fazem disformes, introduzindo no beiço de baixo e orelhas, umas grandes rodas de pào com o que parecem animaes horrendos. " Partioa Tropa dos Conquistadores coma sua preza, mas desconsolados pelo perigo de vida em que se achavam os feridos, e procurando caminhar para a Aldêa Victorina foram encontrar com a inculcada lavra. Acharam ter nella trabalhado grande força de homens mineiros, mas em tal antigüidade, que dentro na mina já haviam grossos paos, e alguns que naquelle tempo cortaram haviam brotado ramos, que se achavam tam grossos como os primeiros troncos. Junto a esta lavra passa uma ribeira de cristalinas águas, que corre para o Sul a desembocar no rio grande de Bello Monte: mas naõ se fez exame na dieta lavra, nem na ribeira para ver a pinta d'ouro, porque o cuidado dos enfermos naõ deo lugar.
Daqui marcharam mais bem encaminhados para a Aldêa, onde chegaram, e foram recebidos com notável satisfacçaõ dos Aldeoens, que com festejos a seu uzo celebraram a chegada, e victoria dos Conquistadores. Tractaram logo de repetir novas curas aos feridos, mas o primeiro frechado morreo, ao quarto dia depois da chegada da Tropa; e os 3 aos 18 dias de curativo de ervas, que os índios applicavam, se acharam em termos de caminhar. Em quanto os soldados estiveram parados discorreram por aquellas mattas em dilatadas distancias, por onde acharam muitas ribeiras, e ainda que nada percebiam do trabalho de minerar, o descanço e curiosidade os fez mexer as arêas de todas as ribeiras que encontravam, e me certificaram pintarem todas ouro graúdo, e palpável, como eu vi, em umas breves migalhas, que ajunctaram no exame. Depois de restabelecidos os doentes, como ficou dicto, munio-se a Tropa de mantimentos com que suppriram os Índios Mongoyos e regressou para a Barra da Giboya, conduzindo um Columim, filho dos dictos índios, para a mostra; porém a marcha foi lenta por causa dos doentes, naõ só os que foram frechados, que ainda naõ podiam violentar o passo, mas outros de differentes moléstias, e com isto gastaram no regresso 15 dias de viagem. No abaracamento da Barrada Giboya recebi a Tropa com prazer, e dando-lhe alguns dias de descanço, e applicando remédios aos infermos, assim que os achei vigorosos tornei a despedir os mesmos Officiaes, e Soldados reforçando-os com mais alguns de refresco, e lhes ordenei marchassem para a conquista d'outra Povoaçaõ do mesmo Gentio Mongoy os, de que dava noticia o mesmo índio manso, que denunciou a primeira, e dizia chamar-se a tal Povoaçaõ Aldêa grande, determinando-lhes outro sim, que alli practicassem a mesma docilidade, estabelecida a paz e concórdia, que esperava, marchassem logo procurando a Barra de Catolé. He este um ribeirão, que nasce nos pastos do arrayal da conquista, por onde passa diminuto, e dalli em diante recebendo águas de um e outro lado vai engrossando proporcionadamente, ate entrar era mattas grossas, pelas quaes passa navegável a fazer Barra no Rio Pardo, com o dicto nome de Catolé, onde fazia tençaõ esperar. Caminhou a tropa dos conquistadores em busca da Aldêa grande situada nas mattas do Norte do Rio Pardo 18 dias, naõ pela distancia o pedir, sim pela falha de alguns dias por conta do inverno, chegaram em fim, e segundo o systema practicado com Aldêa Victorina, foraõ igualmente recebidos, e tractados como amigos fazendo-os participar de seus mantimentos, e mais legumes de suas lavouras. Nesta Aldêa grande se contaram 105 almas pagaãs, além de alguns índios que andavam por fora. Conservou-se nella a Tropa alguns dias de inventada, e por força de conversaçoens que teve o lingua da naçaõ com os seus, interpretou aos Officiaes, que adiante haviam mais 4 Aldêas desmembradas daquella, pelo que logo resolveram estes marchar a ellas, tanto que parassem as chuvas. Como abrandasse o rigor do inverno caminhou a Tropa com guia á conquista das 4 Aldêas ; e na distancia de tres e quatro legoas de umas a outras, acharam todas, e se renderam sem repugnância, offerecendo os seus mantimentos, e mais viveres á disposição dos conquistadores, os quaes recebiam só quanto lhe era necessário, repartindo sempre com igualdade as ferramentas, e mais quinquilharias, que eu lhes havia entrege para as distribuir com a mesma gentilidade. Também lhes recommendei trouxessem um índio maior da Aldêa grande, por isso os Officiciaes da Tropa tiraram um de cada Aldêa, e os Aldeões com gosto os entregavam fielmente. Estas 4 Aldêas ultimas se acham situadas em Catingas, que saõ umas mattas rasteiras, e entre ellas pastagens para criaçoens de gados. Todas as dietas Aldêas fundadas á borda de ribeirões, os quaes erícaminhando-se a um terreno bem assentado abi se unem, e formam um rio navegável, cuja corrente moderada procura a costa do mar. Certificou o Gentio, que acompanhou a Tropa, que descera pela margem daquelle rio até topar mattas grossas, e sempre continuava navegável, e moderado na sua corcorrente. Inda mais me affirmou o Capitão Raymundo, que segundo o seu parecer chegou a estar pouco distante da dieta costa do mar, e que da barra do Catolé ao lugar onde aquelle rio se faz navegável, poderá haver 8 legoas em linha recta a rumo de Leste, em cujas Catingas ha muito Pao Brazil, e Sebastião d' Arruda, e as terras próprias para a plantação de algodoens, pois o Gentio Mongoyos plantavam alguns pés para cordas dos seus arcos, e se viam carregados das massas lanigeras. Em quanto a tropa dos conquistadores se oecupava nos seus deveres, e exames daquelles terrenos, ribeiras e rio, tractei eu de navegar pelo Pardo abaixo embarcando-me com todo o trem, e bagagem, e mais 5 canoas, em que remavam alguns soldados practicos daquella navegação: e para averiguar o terreno por aquella mesma parte do norte, mandei marchar por terra 6 soldados, seguindo sempre a margem do rio. Este já se achava superabundante de águas, que recebera do inverno, e com a força de sua corrente, batida nas cachoeiras, que a cada passo topava, em uma dellas, apezar do meu cuidado, e diligencia do practico, se virou uma canoa, em cujo naufrágio se perderam 4 armas de fogo, uma canastra com a roupa do Sargento Mór Antônio Dias, e Capitão Raymundo, e outras formosas bagatellas dadas pelos índios da Aldêa Victorina, como também os chocalhos dos ossos das espaduas do corpo humano, que se acharam na rancharia dos Botocudos; e o mais sensível foi o mantimento; pelo que dahi em diante houve maior cautela nas passagens das cachoeiras, que amiudadamente se encontravam: desta sorte cheguei á barra do Catolé; passando igualmente por innumeraveis inconvenientes de morros escarpados, pedreiras abrolhosas, os soldados, que caminhavam pela margem do rio. Nesta referida barra mandei apromptar um ligeiro abarracamento, aonde propuz esperar os conquistadores que chegaram no fim de 35 dias de ausência, e tam derrotados do inverno, e incommodos annexos a similhantes caminhos, que pareciam uma tropa de moribundos, cujo espectaculo me deixou consternado, ao mesmo tempo que pela noticia da alliança effectuada com todas as 6 Aldêas dos Gentios Mongoyos, me deixaram cheio de prazer; logo depois apresentaram-me os 5 índios que conduziram; sendo um do cada povoaçaõ, que com o Colunam da Aldêa Victorinafaz o numero de 6, que proponho apresentar ao Illussrissimo e Excellentissimo Senhor General,
Necessitando a Tropa de maior curativo, e por isso logo que se refizeram um pouco, fiz marchar o Sargento Mór Antônio Dias com 50 Saldados dos mais faltos de saúde para se curarem em suas casas; com elles pretendi mudar junctamente o Capitão Ray mundo, por ser o que mais doente estava, com duas feridas medonhas,e a peior era sobre a garganta, porem elle naõ quiz desacompanhar-me apezar do risco da sua vida e saúde. Vista a sua constância resolvi ficasse para me acompanhar, e as feridas sararam à força de remédios caseiros. Com o resto da Tropa em numero de 21 pessoas e mais bagagem embarquei nas 5 canoas, resoluto a vadiar e descobrir a navegação do Rio Pardo até á sua foz. Parti no dia 17 de Fevereiro tempo em que já se achava o Rio em seu natural, mas tam embaraçado de cachoeiras, recifes razos, e pedreiras altas, que a cada passo era necessário arrastar as canoas por cima dos recifes e pedreiras, para se naõ precipitarem nas cachoeiras, onde as mesmas canoas ficariam em migalhas: e naõ obstante a cautela com que governavam os practicos canoeiros, muitas vezes se alagavam as canoas nas correntezas, e bancos de pedras, de que naõ podiam fugir. Com indizivel trabalho, no fim de 17 dias chegamos a uma grande cachoeira, que a água corria de altos bancos, e prolongada distancia, de forma que foi necessário falhar a viagem 3 dias para arrastar as canoas mais de meia légua. Desta para baixo navegamos 3 dias por cachoeiras e recifes similhantes as que se acharam pela parte superior da grande, e no fim dos ditos 3 dias acabaram-se as cachoeiras, e achámos o Rio manso, e bem assentado, com moderada corrente. O terreno de uma e outra parte deste Rio he na maior distancia terras seccas e escabrosas e as suas colunas de pedreiras, e incapazes de produzir, mas logo que findam as cachoeiras começaram dalli para baixo mattas grossas, que inculcam serem boas terras de ambas as margeus, e próprias para produzir mantimentos : porem muito povoadas do Gentio da naçaõ Botocudo ; que do Rio víamos fumegar as rancharias, cuja vista me fazia pular o coração com desejos de os conquistar, o que nao fiz por estar com pouca gente e esta cançada. Aos 14 de Março cheguei á povoaçaõ de Canavieiras, Freguezia de S. Boaventura de Poxin, aonde saltei e fui recebido dos moradores com demonstraçoens de alegria, e concorrendo cada qual conforme suas forças me fizeram muito boa hospitalidade. Destes moradores soube ser o Rio de Patipe o mesmo Pardo, pelo qual naveguei: mas he certo que fica descoberto ser impossível subir por elle, e trabalhosamente se pôde descer, com evidentes perigos de vida. Também me informaram e concordaram os mesmos moradores ser aquelle rio que forma, das ribeiras unidas nas Castingas das Aldêas dos Mongoyos, um que entre Patipe, e Ilhéos faz barra, com o nome de Una, o qual dizem ser navegável, e as suas cachoeiras pequenas, em forma que por ellas navegam as canoas sem perigo, e estas cachoeiras  saõ perto da barra, a qual também dizem naõ ser ruim, e que admitte embarcaçoens de mil alqueires. Por tanto-aflirmo que será cousa muito interessante ao commercio do sertaõ da Ressaca, e de toda conquista, e ainda de todas aquellas villas da costa, desde Bello Monte até Ilheos, e ainda acima, abrir-se uma estrada da barra do Catolé, direita ao rio de Una, cuja distancia poderá ter 8 até 9 legoas toda por Catingas, com pastagens, e na foz do dicto rio campo sufficiente para restabelecimento dos gados, e dalli podem ser dispostos por toda a comarca de Ilhéos, e igualmente para a de Porto Seguro.
A matéria publicada no CORREIO BRAZILIENSE, em novembro de 1818 - evidencia a fertilidade das terras ainda devolutas descritas no relatório de João GONÇALVES da COSTA



Fig. 09 O algodão encontrou na Bahia na região de Barreiras o seu ponto ideal de produção  porém do outro lado do Rio Francisco. A previsão da expedição de João GONÇALVES da COSTA que este ponto ideal seria o  fértil vale do Rio Pardo não se confirmou Este produto era a matéria prima da primeiras fábricas da ERA INDUSTRIAL da Inglaterra. A busca dos britânicos era encontrar o lugar de MENOR CUSTO de PRODUÇÂO para o MÀXIMO LUCRO dos seus produtos. Esta ‘lógica determinou a conquista inglesa da Índia e transformação da Luisiana dos Estados Unidos numa imensa monocultura de  algodão. Assim se explica  evidente interesse de LONDRES  na notícia desta potencial FRONTEIRA AGRÍCCOLA para o CULTIVO do ALGODÃO no vale do Rio Pardo e facilmente acessível aos navios mercantes britânicos que explicam mais uma das razões para ABERTURA dos PORTOS em 1808.

 Naõ só o commercio dos gados pode ser interessante, mas ainda pode ser maior o da lavoura dos algodoens naquellas Catingas propias para a sua producçaõ, como ficou apontado, e até a expedição dos que se lavram nos mesmos sertoens. Fica sendo finalmente mais conveniente a abertura desta estrada que inculco, se o referido rio for inteiramente navegável, porqne á borda delia se pode formar uma grande povoaçaõ de todos os índios conquistados da naçaõ Mongoyos, dando-se-lhes parodio, que os doutrine, e Director que os dirija, com o que podem ser mais úteis a si mesmos, e ao Commercio, e estando por similhante modo unidos e disciplinados ajudarão, como já agora ajudaram a bater os bárbaros Botocudos, que povoam as mattas nos continentes da costa do mar. Por esta fôrma poderá ser esta estrada muito interessante a sua Magestade Fidelissima, e seus Vassallos.
Fig. 10 O vale do Rio Pardo revelou-se fértil para o cultivo do cacaueiro. Esta região do estado da Bahia revelou-se a maior produtora do cacau no Brasil. A fazenda de Cubículo das margens do Rio Pardo recebeu as primeiras mudas do cacaueiro por volta de 1750 e que depois se espalhou para a região de ILHEUS. A África recebeu as primeiras modas em 1855 e hoje é a primeira produtora mundial

He para advertir que deve-se vadiar aquelle rio de dentro para fora, até sua barra: pois supposto me capacite ser o de Una, bem pôde ser outro, mas seja qual for, sendo navegável fica conveniente a estrada pela sua margem para os gados, e para os algodoens, a qual basta chegar só até ás suas cabeceiras, aonde deverá ser a povoaçaõ dos índios. Depois de descançar com a tropa por 15 dias, parti de Canavieira para a Villa dos Ilheos, por naõ haver embarcação naquelle porto- Vim em canoa da dieta povoaçaõ até Comanatuba em que gastei dia e meio, passando por terra da Comanatuba á povoaçaõ de Una, com dous dias e meio de viagem, donde passei por Olivença 3 legoas ao Sul da Villa dos Ilhéos, todas as quaes povoaçoens e praias entre ellas, em distância de quasi 20 legoas achei quasi despovoadas, e as mesmas povoaçoens tam pobres que nos pediam farinha e mantimento, â excepçaõ da Villa Olivença. A causa he o medo que aquelles povos tem dos Patachos, ou Cathachos, que saindo das mattas descem ás vezes a destruir as roças daquelles moradores, cujas plantaçoens eram uma legoa longe da costa, quebrando-lhes as fabricas, e destruindoIhes as lavouras, evitando elles maiores insultos, e até a morte por naõ pernoitar nas mesmas roças.
Estampa-se,  na narrativa  de João GONÇALVES da COSTA o eterno retorno para a NATUREZA quando a criatura humana - mesmo se dizendo civilizada e de posse de altos cargos -  decai e se corrompe pela AMBIÇÂO, pelo  PODER e PREGUIÇA no agir de CORONEIS, CACIQUES e INDÌGENAS UNIDOS que conseguiram aniquilar os 300 anos de história de uma das cidades mais prosperas do Bahia.
Cheguei á Vila dos Ilheos ao meio dia 6 de Abril, por haver falhado a marcha alguns, para alli vio da tropa ; e de todos os lugares por aonde passei na minha marcha foi este, aonde experimentei maior falta, tanto por se mo ter acabado o dinheiro que trazia, como por naõ dar o Juiz ordinário daquella Villa providencia alguma para agazalho da tropa, mandando-me fazer offerecimentos largos, no segundo dia da minha estada, em nome da Vereaçaõ, depois que pedio, e recebeo para isso as intrucçoensde um Senhor de Engenho de Sancta Anna, que ahi ha, que dizem he quem governa aquella Villa, assim na milicia por ser o protector do Capitão Mór, como no Civil por ser padrinho do dicto Juiz, a quem he publica vós que tem conservado no cargo, ha perto de 4 annos. Mas no geral do povo e nobreza da mesma villa experimentei eu e toda a tropa o maior agazalho, offerecendo-se todos para me obsequiar, e servir, e desculpando-se de o nao fazer francamente como desejavam, com receio do mesmo Juiz, de quem geralmente se queixavam todos até o mesmo Reverendo Vigário, attribuindo as desordens, o máo regimen, e penúria da Villa, naõ ser tanto o dicto Juiz, como aquelle Senhor do Engenho, seu Padrinho, naturaes da mesma Villa, e só propensos a destruir tudo. E na verdade a situação da Villa, e a sua grandeza, a largura e profundidade da sua barra, e porto, e a fertilidade que pude notar do terreno, mostram bem a opulencia, que todos asseveram teve em tempos anteriores, de que ainda restam muitos vestígios nos grandes edifícios derrotados, nas muitas, e espaçosas Igrejas, e nos muitos engenhos, e outras propriedades rústicas, de que apenas apparecem vestígios, e se conservam noticias, sendo a reuniam de todas estas circumstancias, que lhe podiam annunciar o competir com uma grande Cidade, e rico porto, ao mesmo passo que pelo máo regimen dos forasteiros intrusos, e pela ausência dos Ouvidores, que alli residiam n'outro tempo, e cabeça de Comarca, de que hoje tem só o nome, está reduzida a uma povoaçaõ de casas e familias arruinadas. Sai de Ilhéos a 12 de Abril para a Villa do Rio de Conta em um saveiro; e nesta Villa achei maior esterilidade de farinha, ainda que nas outras Villas e Povoaçoens do Sul, dando todos os moradores a mesma causa do receio em que estavam das sortidas do gentio, naõ se animando nem a continuar as roças antigas, nem a fazer novas. No Rio de Contas só me demorei 2 dias, e com viagem por terra de 2 dias cheguei a Marahú donde embarquei para o Camamú, e em todas estas Villas achei o maior obséquio e promptidaõ do soccorro que precisava. Depois de descançar a gente embarquei para esta Cidade, aonde saltei em 21 de Abril, dando fim á Commissaõ de que Sua Excellencia me tinha encarregado. Assim o representa a presente noticia summaria, mas em tudo verdadeira etc.
JOAÕ GONÇALVES DA COSTA.
Fig. 11 A atual CANAVEIRAS e a desembocadura do Rio PARDO foi o ponto de partida e chegada do afro lusitano João GONÇALVES da COSTA. A região ainda era fustigada pelo selvícolas nas sua constantes incursões. De outro lado o mandonismo e o coronelismo desestabilizavam qualquer  CIVLIZAÇÂO  por tempo indeterminado.

As peripécias vividas entre a NATUREZA e a CIVILIZAÇÂO no RIO PARDO no estado da BAHIA  não exaltavam tanto os feitos militares,  aventuras  épicas e  grandes descobertas. Os dois mundos distintos que se confrontavam, negaceavam e reagiam conforme o mundo íntimo de que deram portadores.
De um lado as LEIS da NATUREZA são IMPLACAVEIS para quem as tenta ignorar, De outro as LEIS da CIVILIZAÇÂO sempre são ARTIFICIAIS e HUMANAS, portanto volúveis conforme a vontade, a sensibilidade e a inteligência de quem as CRIA e tenta LEVAR ADIANTE um projeto civilizatório
Fig. 12 - O fértil vale do Rio Pardo é fustigado por aguaceiros torrenciais que lavam qualquer fertilidade acumulada nos solos. O clima úmido favorece o rápido e incontrolável mundo de fungos que aniquilam qualquer vegetal que não seja imune a estas pragas tropicais Assim triunfa a NATUREZA e afasta  CIVLIZAÇÂO  por tempo indeterminado. Assim muitas fazendas estão a venda por motivos de qualquer perspectiva de renda.

Na conclusão da narrativa, de João GONÇALVES da COSTA, publicada no CORREIO BRAZILIENSE, em novembro de 1818, encontra seus ecos em mentalidades e prática correntes no Brasil em novembro de 2018. A única diferença é que a NATUREZA, neste meio tempo, FOI IGNORADA, DEVASTADA, EXAURIDA e está a BEIRA da ESTERILIDADE irreversível.


FONTE BIBLIOGRÁFICA
KOSERITZ, Carlos Von (183071890) -  IMPRESSÔES d’ITALIA. Porto Alegre: Estabelecimento Tipographico Gundlach e Cia, 1887

FONTES NUMÈRICAS DIGITAIS
JOÃO GONÇALVES da COSTA (1720 -1820)
Vitória da Conquista
+
ANAGÉ
BOTOCUDOS
+
+
`
RIO PARDO MINAS GERAIS -  BAHIA
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Pardo_(Bahia)

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