sábado, 24 de janeiro de 2015

112 - NÃO FOI no GRITO

BRASIL em janeiro de 1815 e  2015
INTRIGAS JORNALÍSTICAS
Fig. 01 -  Até o advento da imprensa industrial os reis e bispos eram os formadores absolutos da opinião e que deveria predominar nas populações dos seus respetivos territórios.  As únicas fontes de informação provinham das notícias que eles permitiam que circular. Com a Revolução Inglesa, Norte-Americana(1776)  e Francesa (1789) que guilhotinou a sua realeza, os jornais assumiram este papel. Com este poder era natural o confronto entre concepções antagônicas do Evidente quanda a plebe se julgava rei bispo ou autoridade, os conflitos entre estes novos soberanos eram rotina e os novos formadores de opinião.

A era industrial estava tomando conta do planeta após as revoluções inglesa  (1642-1645), americana (1776) e francesa (1789) e das quais as máquinas eram um índice e uma motivação material. A mente, a vontade e a inteligência receberam recursos físicos e técnicos para se expressarem e se colocarem de uma forma inédita no mundo. A criação dos jornais, a sua impressão e a circulação dependiam cada vez mais das máquinas que acompanhavam e davam corpo físico a este despontar de uma nova era.
Os problemas, as dúvidas e os conflitos era muitos e apenas estavam começando como é possível verificar no texto a seguir:
CORREIO BRAZILIENSE  DE JANEIRO, 1815.VOL. XIV. Nº. 80. pp 136-140  -
CORRESPONDENCIA.
Carta ao Redactor sobre o Investigador.
Parabens e mais parabéns, Senhor Redactor! que ja o seo Jornal faz moça na consciência do Paralvilho ! ao ponto de estar fazendo há 3 mezes, rabiscas, e convocar hum congresso da boa gente! para se publicarem no se o Moniteur de Janeiro! Sem me approveitar da fama, que aqui he constante sobre o autor da grande, e informe Tirada! e quem estiver, como eu, accostumado á ver os seos chefes d'obra! e quem tiver recebido cartas suas, nas quaes em 10, 8 tem postscriptum quasi sempre maior que a carta! sabe imediatamente quem he o deplomatico autor de tam sabia Lenda.
ALBERT SAMUEL ANKER 1831-1910 - ESCRITURÁRIO  1899
Fig. 02 -  A indústria gráfica foi a grande beneficiada com a alfabetização gradativas de suas populações. Populações convidadas ao exercício do seu LIVRE ARBÌTRIO passava a ser produtor, distribuidor e consumidor destes texto impressos e economicamente mais acessíveis na medida de sua produção em escala. A indústria da produção de máquinas impressoras foi uma fonte de renda da Inglaterra.

Sem duvida depois da introducçaõ da imprensa na Europa se naõ podem lizongear os sábios de ter servido essa de instrumento á chefe» d'obra, e de deplomacia, como lhe tem succedido desde 1809. Os mais celebres na historia da literatura roividica saõ, os artigos mandados inserir no Correio de Londres de 15, 19, e '22 de Dezembro, de 1809, muito principalmente n'este ultimo e agora no seo Jornal Scientifico ! A grande falia Bacanal, que elle fez a 18 de Dezembro do dito anno era uma taverna de 5. James-street, de que nem ainda, depois de passados os fumos embriagantes se arrepeudeo, a mandou pelo Mineralogista do Strand, com o nome entam Ae Morgan, ao Redactor do Correio de Londres para se inserir a todo o custo no dito Jornal: a qual eu vi escrita pelo M____er, emmendada e borrada pelo patram, n'esta tinha V. M.ce,  a desgraça de ser elogiado por aquelle mesmo que agora o descompoe! Isto porque o seduetor das Mulheres Cazadas! assim como dos Jornalistas, andava entam por intervenção do seo Mercúrio ! seo actual agente em Vienna ; cuidando em o seduzir para que naõ fallasse mais nas propriedades Portuguezas e mudasse para Partidos Francezes no Rio! para Cortes! para inveclivas contra Antônio d' Aranjo, &c. &c. Graças, e graças ao Senhor Redactor, que já naõ merece elogios fúnebres de tal alma! mas sim notas deplomaticos, com a declaração de que continuar- se haõ ! Se os Portuguezes naõ estivessem por dura experiência bem inteirados da capacidade, e dos serviços de tal deplomatico bastava-lhe conhecer as suas producçoens n'este gênero para ajuizarem para o resto. Basta de preâmbulo, vanaos á nota deplomatica do Investigador 
O CLUBE dos PENSASORES Der-Denkerclub em_1819
Fig. 03 -  A conquista da liberdade de associação formação de  grupos de interesse, de partidos e ideologias necessitava da imprensa para fazer circular as suas ideias e conseguir a adesão de prosélitos para reforçar numericamente partidos, correntes filosóficas. O LIVRE ARBÌTRIO passou a ser exercício  coletivo. O PODER ORIGINÀRIO de uma nação tinha na imprensa um instrumento deste exercício coletivo da voz negado e controlado em outros foros do poder monocrático e central. Grupos de interesses econômicos entendeu logo o poder deste instrumento e fundaram jornais com amplo lastro monetário dos seus controladores.

Principia o Appendice, pag. 506, com um N. B. Primeiro Sinnete do autor, e principal Redactor do Investigador ! Depois, a Carla aos Investigadores contem 4 linhas, e o postscrijitum 48 ! Serunda, e principal característica do Protector.
V. M.ce. certamente naõ preciza clientes; sei que tem pólvora e baila de subejo; e oxalá se quizesse servir da fabrica dos fogueteiros d' arroios e South Audley! pois sei que n' outro tempo se lhe mandou bastante provimento pelo Poeta Forumfias—Farofias, &c. &c. com que tanto quis incendiar a naçaõ, que elle agora chama Triste', e com que tam precário quiz fazer o Governo, e o Throno Portuguez ! eu me explico .- V. M.ce. tem em seo poder, se naõ queimasse, obras, e artigos encomendados, e remetidos pelo dito Autor para se publicarem no seo Jornal! E para se fazer justiça ao Correio Braziliense teve principio, e data d'esse tempo o nome, que alguns lhe deraõ de incendiario, e revolucionário; quando era soprado e bafejado pelo deplomatico, hoje Redactor de um Moniteur. No entanto sem idea de coadjutor, nem mesmo sem me querer meter nos dnellos dos outros desejo, e até ambiciono pôr me a campo, e dizer alguma coiza ao impostor, que ha muito se desmascarou, e agora, mais que nunca, com o cavaco que quis dar, pensando meter uma lança era África ! quando aliás naõ fez, que marrar em si mesmo, segundo as suas próprias expressoens ou zurrar ; e pela sua lingoagem se deo a a conhecer!
George Caleb  BINGHAM -_The_County_Election
Fig. 04 -  A Inglaterra  já possuia uma monarquia constitucional desde a Revolução de Cromwell. Este pacto nacional britânico exigia a atenção, esclarecimento e manifestação da voz e da vez do seu PODER ORIGINÀRIO. Esta Revolução Puritana  Britânica (1642-1645) não ficava fixa num momento do passado mitificado pelo governo de plantão. Ao contrário: esta revolução era trazida para o presente, discutida  e VOTADA em todas as comunidades. O papel do jornal era indispensável neste processo de atualização da inteligência, das vontades e sensibilidades populares. A imagem acima evidência os leitores dos jornais. Ao mesmo mostra a ausência da figura e da voz feminina e que  conquistara arduamente o seu lugar, na Inglaterra,  apenas no início do século XX pelas sufragistas britânicas

He gallante o tom, como começa á elogiar o seo próprio Jornal ! e he gallante, ainda que requer muito pouca vergonha para dizer o Seductor de todos os Sexos ! ' e estados ! Que resistam (os seus opperarios) inabaláveis á qualquer seducçaõ ! &c. &c.
He impossível ser se mais Impostor:  ainda que com menos felicidade, e successo ; he um mau Impostor, porque tudo que elle aqui quer impurrar a V. M.ce., ou a outros; he privativo d'elle. Quem he que sopprou o fogo das intrigas domesticas? Quem he que se quis servir dos prelos estrangeiros para calumnias; e perturbar a sua pátria? se naõ elle ! como ja disse; e como V. M.ce. melhor que ninguem sabe. E tem o descaramento de dar o titulo de triste á nossa pátria! Quem he que lhe tem dado motivos de luto e tristeza?  Se naõ o Imposto r! e Degradador Deplomatico '. Elle bem sabe de que he credor á Naçaõ ! eo que elle se empenhara em lhe pagar os seos serviços fúnebres por isso naõ quer sahir d'aqui, nem a pao.
Dom Joao VI_-_retrato_no Palacio_Real_d'Ajuda. DETALHE
Fig. 05 -  O grande mérito de Dom João VI foi conduzir o sistema monárquico lusitano  para o âmbito de uma monarquia constitucional. Condução sem grito, alarde ou derramamento de sangue como aconteceu na Inglaterra (1649)  e na França (1793) .  Porém o  pacto nacional português estava muito distante da atenção, do esclarecimento e da manifestação da voz e da vez do seu PODER ORIGINÀRIO. Este silêncio e discrição permitiam tacitamente a escrita, a impressão na Inglaterra e a circulação no reino lusitano  do jornal CORREIO BRAZILIENSE de Hipólito José da Costa.  

No segundo parágrafo, chama lhe no estilo das creanças pseudo Braziliense; isto porque ouvio fallar o Orangotau em pseudo e por que tem V. M.ce. chamado pseudo ao Jornal de que elle he o primeiro agente. Isto he, que he macaquisse ; ou para melhor dizer, monisse vista a idade, e figurai Chama lhe libelista ! aquelle mesmo, que o quiz seduzir para fazer libellos, e calumnias ao governo de S. A. R. e que espalhou  aqui ; que tudo era Traidor em Portugal quando ele e a sua família tem sido os mãos por essência !
A$ expressoens de enxafurdar-se, e outras similhantes da ribeira nova, ainda que dizem bem no cujo por essência: houve aqui empréstimo da parle do que lhe cura as mazellas, e lhe limpa os Cáusticos, pois todos sabem a lingoagem deste operário de S. Jozé que por isso que exportado innocentemente de Portugal achou graça, o accolhimento uo que se oppóem a tudo que he feito pelo governo de Lisboa, e do Brazil, e que acolhe sempre com os braços abertos os que tem affinidade com elle. A linha 17 do segundo parágrafo mostra o que sabe Portuguez, e a rellé, que assistio a esta grande obra ! pois interpretam naõ he erro de imprensa, nem do compositor; he sim cscolla da Ribeira ! o mesmo digo da reposta na linha 3ª: Vem outra macaquisse no dito parágrafo; e he : se bem me lembro em um dos seos números disse V. M.ce., que o Irmam fora reprovado na Universidade de Coimbra : e elle agora orangotang tias a Universidade de Coimbra, e auctoridade dos seos condiscipulos, que naõ sei aonde os foi buscar ; pois a gente que tem a honra de viver com ele nunca foraõ condiscipulos de V. M.ce., nem mesmo viraõ a universidade por fora !
Gabriel von MAX- 1840-1915 - Macacos críticos 1889- óleo 84 x 106.5 cm
Fig. 06 -  Antes de Darwin e a sua obra científica  as comparações maliciosas entre os orangotangos e as criaturas humanas alimentavam intrigas a partir de índices pontuais e sem fundamento ou propósito cientifico. Esta comparação acintosa e por qualquer motivo era arma na mão de uma mentalidade acintosa de uma imprensa que buscava visibilidade, circulação e dinheiro. De fato buscava  poder e autoridade para deliberar e decidir por meio de uma opinião pública distorcida por ela e facciosa nos seus interesses.
   
E para que conheça o atrevimento do erangolang chama-lhe ignorante em sciencias exactas ! e uza dos termos impressoens na mente  ! quando devia saber, que nas sciencias exactas que elle profana disse impressoens no cérebro, e sensassoens na mente: porem isto he grego para o orangotang acabando a pagina que, os taes condiscípulos armados, " duvidam se chega até as quatro operaçoens, ou se contenta de somar os lucros, que lhe resultam das exportulas, que lhe mandão os medrozos de Portugal, e Brazil.- para que se calle, e se contente com designallns em massa debaixo do nome de godoyanos, nome, que ele tam estupidumente inventou, c applicou." Ainda que o nosso heroe naõ faz uma exacta idea da extensão da significação de Godoyano, visto que he tam miserável, que suppoe haja quem dezejê, ao menos em massa, ser comutado em godoyano! assim-mesrno elle dôe se, porque repete a lenda de godoyano muitas vezes, e já a pag 510, em que depois de mencionai* tudo que lhe he applicavel, acaba em decifrar a seo modo, ainda que sem ja se lembrar do que disse na pag. 508—quer dizer um valido, que absorva toda a sua autoridade para abuzar d'ella escandalosamente como fez Godoy a Carlos IV., ora quere-o mais asno? diz na pag. 508, que os medrozos de Portugal, e Brazil lhe mandaõ esportulas para que se contente somente em designalos em massa debaixo do nome de Godoyanos! bagatella! Ele há muito tempo que pensa assim ! e naõ está persuadido que o peor que elle tenha feito seja o ter absorvido toda a auctoridade do Soberano! Éter abusado d'ella escandalozamente ! mizerias ! mizerias! Vamos adiante, e contentemonos com a definiçaõ, que em tudo lhe he applicavel, menos no ser valido : nem o podia ser, vislã a sagacidade, que admitte em S. A. R. ! Ter sido confundido com os premiados, e com os merecedores de o serem ; agradeça-o ás intrigas!
Joseph WRIGHT of DERBY (1734-1797) -  Aula de Newton
Fig. 07 -  A Inglaterra pagou caro entregar a Ciências, as Comunicações e o Voto ao Poder Originário. Este preço foi pago  individualmente por Charles Darwin com os atrozes e constrangimentos que passou na sua pátria cujo governo não se envolveu na intrega Em compensação  surgiram cientistas políticos, econômicos  e acadêmicos da grandeza e perspicácia de Isaac Newton. Estes intelectuais afirmaram-se sem uma crença mítica no ESTADO NACIONAL. De outra parte também nõ o naturalizaram sabendo que era uma construção artificial humana

 Assim mesmo a naçaõ sabe distinguir os titulos, e honras dadas por merecimento, das que se daõ por serviços á outrem ! Alem de que Valimento, e auctoridade saõ couzas muito differentes; um vassallo pode ser valido, sem ter auctoridade. O Godoy comprometeo, e sacrificou a sua pátria, a Europa, e a America, naõ como valido, mas como ministro, a quem tinha dado Carlos IV. toda a auctoridade. E n'este sentido he o autor do artigo ainda superior na maldade a Godoy, poisque sem lhe ter o soberano confiado a suma auctoridade, elle a usurpou para comprometer c degradar o mesmo Soberano, e a naçaõ ! Portanto em quanto a mim naõ deve ser classificado nos godoyanos, mas sim denominado Napoleaõ 2°. e saõ Godoyanos os que ao pé do Soberano desculpara, e engrandecem Napoleaõ 2 ' . ; Como fazia Godoy junto a Carlos IV. a respeito de Napoleaõ Iº. He peor que Godoy, e da raça d' Ajacio ! Porque aquelle tratante a pezar de tudo que fez para comprometer o Soberano, e a naçaõ nunca lhe veio a cabeça, como á Napoleaõ 2º ' . cometter atentados contra o seo Soberano, e avançar contra elle o que até he indecente, e horroroso repetir; e se naõ se lembrar do que disse; já que tem a fraqueza, e o arrojo de fallar em Lord Ellenborough, queira mecher na porquidade parto iramundo de taes entranhas, que talvez se suffoque com o cheiro, ainda que congenial ! E talvez se faça de todo publico, o autor de todas as calamidades Portuguezas o hjpocrita, e desaforado Impostor, que ainda em cima se regozija de dar o epiteto de triste a sua pátria !
Fig. 08 -  Imagem do ministro espanhol  Manuel de Godoy y Alvarez de Faria Rios Sanches Zarzosa (1767-1851) ou simplesmente GODOY para o redator do Correio Braziliense. Confiado na espada e no compasso do conquistador francês visava o poder, a fama e glória em nome da RAZÃO que os franceses de Napoleão 1º se diziam representar e serem portadores. Não contava com o sono, os cochilos e as longas “sestas” a que esta mesma RAZÂO  se entregava. Como Goya ele também teve o seu fim solo francês

Para acabar com o primeiro ponto, reservando para outra occaziam o resto lhe direi, que a prova de que o exportado de Lisboa taõ bem deu sua penada, (ao momento que limpava os cáusticos de trás das orelhas do orangotang,) n'este chefe d' obra. saõ naõ so asexpressoens limadas de enxafurdrar e Caraquenha, mas mesmo a pag. 519, se descobre sobre o V. M.ce. naõ dar Iugar no seu Jornal a elogios do Patram ; pois sem V. Mce. mo dizer sei, que elle andou fazendo de Mercúrio, com papeladas, tendo o descaramento de se arrojar a pedir lhe as publicasse no Correio Braziliense; isto he, a respeito ainda de se abrirem as Cartas dos Portuguezes aqui ; e he precizo muito descaramento ; e ter ou á melhor, ou a mais mesquinha idea de V. M.ce. ! fazerem o mais conforme ao espirito do Evangelho para voltar a face para outra boflétada ! ou fazerem o mais estúpido para publicar contradiçoens ao que V. M.ce. tinha provado; eo mais he em abono de um seo inimigo declarado ! Se o autor do tratado quizer que se lhe prove como em sua caza se abrem Cartas, e se ficaõ com ellas ! em vindo o seo expresso do Brazil se lhe fará ver diante de Lord Ellenborough como elle teve a ouzadia de o fazer conhecidamentc em L812 ! e como pela conducta dos escriturarios deve responder opatram !
Fig. 09 -  Nesta imagem fica evidente a pobreza do cenário da corte lusitana refugiada no Rio de Janeiro. Dom João VI estava muito longe do conforto e do esplendor do  Palácio da Ajuda e, mais distante ainda, dos palácios dos demais reis e príncipes europeus e os recursos, educação e requintes de súditos profissionais dispensavam aos seus soberanos. Cercado de um povo espantado com a presença de alguém que estava no topo da administração, mitificado pelos áulicos e pela Igreja. Áulicos que jamais imaginava servir ao seu soberano nestas condições e parcos recursos intelectuais, técnicos e logísticos. Recursos logísticos, técnicos e intelectuais que podem ser medido pelos jornais que ali eram produzidos, circulavam e eram lidos.

Acabo em lhe dizer que aqui tem feito muita bulha nos caixeiros que naõ intendem Latim, e que por isso ficaõ atordoados quando se lhe arruma algum texto venha, ou naõ a propozito, e lhe chamaã logo um Salomão, pela regra d' dmirar o que se ignora ao ponto de dizerem agora alguns que elle naõ he nada tollo, pois que maneja latim! eu so admiro a ouzadia com que elle tradus a seo modo! ate nisto he Napoleaõ pois que uzurpa com a maior ouzadia o sentido que os pobres auctores deraõ aos seos discursos.
Perdoe, e desculpe tudo que achar d' estilo áspero, porem que he  para ser conforme ao tratado deplomatico.
Sou seo . . . .

Joseph WRIGHT of DERBY 1734-1797 -  O vácuo
Fig. 10-  A dramática imagem da pomba sendo sufocada pela falta de ar na campànulo de vácuo pode ser vista como uma metáfora da falta de ar e de liberdade de imprensa A Ciência estava busdcando metáfoura na cultura popular e se defundindo e tentando explicar o mundo real e  aquele que a era industrial estava construindo com a ajuda das máquinas. Cabia aos jornais, como o Correio Brasilense um setor com a divulgação destas experiências e livros publicados sobre o tema

O texto mostra algumas páginas um jornal do início da era industrial.  O editor e proprietário do Correio Braziliense adotou uma atitude  sem concessões ao contraditório e defende de forma intransigente os seus pontos de vista. Pontos de vista que ele edita, transcreve e aprova por intermédio de um leitor, real ou fictício, pois omite o nome do correspondente.
Nos dois séculos entre 1815 e 2015 aos poucos e depois de muitos percalços fica cada vez mais evidente que qualquer condicionamento, limite e norma terá eficácia e será respeitada na medida da interação de está envolvido profissional e eticamente no processo da comunicação na direção bem Arendt (1983() entende o termo processo. Como a ética médica, jurídica ou estética os que dedicam a sua existência aos seis campos de forças necessitam ser ouvidos, seus juízos ponderados e acatados no âmbito de suas competências. Certamente as excomunhões reciprocas e a produção para os concorrentes nas concepções de Bourdieu ( 1983 e 1992ª) ) mostra quem  entende um ao outro. 
Jean_Baptiste_Debret_-_Botica,_1823
Fig. 11 -  Os resultados da aliança entre a ciência e a indústria chegaram até a população no início da era industrialsob a forma de remédios. Inicialmente artesanais e embalados em vistoso vasilhame como os da figura de Debret. Na 2ª era industrial entram em cena as máquinas para em produção e distribuição em escala. A imprensa e o jornal conseguiam uma simbioso por meio da divulgação dos remédios e os seus efeitos aguardados deles. Evidente que qualquer publicidade enganosa era imediatamente percebida não só pela medicina como também  pela população.consumidora destes produtos.

Os critérios econômicos, ideológicos ou culturais podem interagir no sentido da complementariedade,  sem os critérios finais do jornalismo como mostra a pesquisa e livro de Marçal ( 2004) na imprensa operária de Porto Alegre.
O massacre dos jornalistas da revista francesa Charlie Hebdo acendeu o sinal vermelho dos cuidados para estas interferências extemporâneas. Se revela a importância da comunicação revela o conflito aberto e aceso pela luta do poder e controle da comunicação no mundo de janeiro de 2015.
No sentido geográfico o pensamento, redação e publicação do jornalismo,  de janeiro de 2015, está muito mais atomizado e em migalhas se comparado a janeiro de 1815. Na medida em que o editor e proprietário do Correio Braziliense dominava um visão do conjunto brasileiro ele estava de posse  de um projeto de manter Portugal na linha do Commonwealth britânico.. Este projeto naufragou com a independência e soberania brasileira. Por sua vez na medida em que avançam os meios tecnológicos, os leitores, os jornalistas e empresário segmentam subdividem e se dedicam cada vez mais a questões pontuais. O “Armazém Literário Nacional” fragmentou-se em regional, estadual, municipal e de bairro, dirigido a interesses pontuais e excludentes entre si. Se houve ganho numérico é discutível a qualidade, a abrangência e a efetiva interação entre leitores, jornalistas e empresário que detém a efetiva posse destes veículos.  Certo é que muito poucos tem o alcance, profundidade e coerência de proprietário e editor do Correio Braziliense de janeiro de 1815. A incerteza as ameaças e as efetivas demissões de jornalistas em janeiro de 2015 certamente não estão na linha de um pacto nacional por tempo indeterminado. Predomina o exercício da “Microfísica do Poder” ainda na trilha de Foucault (1995)

FONTES BIBLIOGRÀFICAS
ARENDT, Hannah (1907-1975) Condition de l’homme moderne. Londres: Calmann-Lévy 1983.

BARTHES, Roland.  Système de la mode. Paris: Seul, 1967. 327p.

BOURDIEU, Pierre (1930 -2002) Economia das trocas simbólicas. São Paulo: EDUSP- Perspectiva,  1987.  361p.
 ____.  As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. São Paulo : Companhia das Letras, 1996a. 421p.

FOUCAULT, Michel.  Microfísica do poder. Rio de Janeiro : Graal, 1995. 295.

MARÇAL João Batista A Imprensa Operária do Rio Grande do Sul 1873-1974– Porto Alegre: do Autor – 2004, 288 p. il.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS.
Commonwealth

DEMISSÔES em MASSA de JORNALISTAS  BRASILEIROS em JANEIRO de 2015

ICONOGRAFIA – DOM JOÃO VI
Palácio da Ajuda

LISTA do JORNAIS da REVOLUÇÂO FRANCESA 1789
UMBERTO ECO e ROBERTO SAVIANO

MANIFESTO a favor de um NOVO JORNALISMO

Manuel de Godoy y Alvarez de Faria Rios Sanches Zarzosa (1767-1851)

Massacre dos jornalistas da revista Charlie Hebdo

2015 O QUE NÂO se DIZ e NÂO SE PUBLICA NOS JORNAIS
o que não se diz, do que não se discute na prática jornalística

REVOLUÇÂO PURITANA (1642-5)

VIRADEIRA
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Referências para Círio SIMON








sábado, 17 de janeiro de 2015

111 - NÃO FOI no GRITO


BRASIL em janeiro de  1815 e  2015

RECONSTRUINDO o REINO e 
PREPARANDO o IMPÉRIO.
Fig. 01 -  São naturais as hesitações do príncipe Regente Dom João VI diante das dúvidas, das pressões políticas, econômicas e sociais  levando-o a beira de delicadas escolhas pontuais e urgentes diante da nova era contratual, da era industrial e emergência da burguesia. A  Abertura dos Portos do Brasil, a  elevação do Brasil ao Reino e evidente potencialidade América sobre a Metrópole e as colônias africanas e asiáticas levavam o Brasil a pretender e ter condições reais para aspirar ao estatuto de outras nações soberanas.

A fuga da corte lusitana ao Brasil em 1808 foi a ponta do iceberg de um vasto problema submerso. Após a derrota de Napoleão e o tratado de Paris de 1814 começaram a emergir e aparecer os problemas submersos e que haviam sido procrastinados. Problemas derivados do aniquilamento da administração e da ordem econômica, cultural e social. Neste acumulado da destruição e da postergação urgia a reconstrução. 
Fig. 02 -  A capital do Brasil colonial  ganhava outro sentido com a presença da corte e a consequente transformação em capital de uma rede de colônias africanas e asiáticas. A Abertura dos Portos do Brasil exigia a  ação e a integração dos serviços públicos. A elevação do Brasil ao Reino Unido era um ato legal. Porém os hábitos, a mentalidade e os gostos - gerados por três séculos de heteronomia - eram mais gritantes, entravavam e atrapalhavam qualquer ação governamental mais do que as miseráveis condições materiais nas quais o Brasil vivera até a chegada da corte.

Uma vez que o Brasil havia sido sede da corte sentia-se com autoridade distinta e distante de Portugal. A corte lusitana no Rio de Janeiro foi essencial e preparou a soberania brasileira. Dom João VI em muitos aspectos foi compelido a continuar a política do regime despótico e colonial de  Portugal em relação ao Brasil. Porém  na longa duração História Dom João VI  será lembrado como um passageiro da agonia mas que conseguiu salvar não só o trono como havia conduzido uma nova nação a beira de proclamar a sua soberania.
Projeto embrionário, pois basta uma leitura rápida e superficial do Correio Braziliense de janeiro de 1815 para verificar que tudo estava ainda para feito no Brasil. Porém a semente soberania havia sido plantada. As demais nações desenvolvidas - postos na sua frente - aceleravam a marcha em direção a este ideal.

CORREIO BRAZILIENSE  DE JANEIRO, 1815.VOL. XIV. Nº. 80, pp.121- 127 e 135

Melhoramentos no Brazil.
As gazetas lnglezas tem publicado, que, em consequência de planos propostos pelo Conselheiro de Estado Antonio da  Araújo, se introduzio a planta do Chá, no Brazil, aonde prospera, e da esperanças de ser do tal proveito, que se escuse o pagar annualmente aos Chinezes grandes sommas por esta mercadoria.
Fig. 03 -  O chá da Índia foi uma das especiarias que Portugal distribuía na Europa até este comércio tornar-se monopólio dos britânicos. Estes o transformaram em hábito nacional e o impuseram mundialmente. A pretendida plantação do chá no Brasil, a sua industrialização e a transformação em produto de exportação só se concretizaram timidamente um século depois de anunciado pelo Correio Braziliense em janeiro de 1815.   Obra clandestina dos imigrantes japoneses jamais concorreu com a produção e exportação do café..

Sem nos fazer cargo das observaçoens impertinentes, que alguns gazeteiros fizeram a este respeito, sahissem essas observaçoens d'onde sahissem, devemos dizer, que os Portuguezas saõ obrigados ao Ministro, por esta lembrança e cuidado.
Igualmente mencionaram as gazetas lnglezas, o augmento da navegação do Brazil para a Índia. Esta circumstancia nos dá grandíssimo prazer; desejaríamos ter informaçoens authenticas a este respeito, para as publicarmos ao mundo, como taes cousas merecem ser sabidas, a fim de que as outras Potências vaõ conhecendo o que pode ser o Brazil; e lhe prestem o respeito que convém.
Fig. 04 -  A moeda de 1815 comemorativa da proclamação do Reino Unido. Esta  elevação do Brasil ao Reino Unido era não só uma procrastinação do retorno de Dom João VI para Lisboa. Sinalizava a lenta e segura preparação política, econômica e burocrática da soberania do Brasil. Portugal tinha poucos meios para retomar a antiga hegemonia metropolitana divido que estava entre os antigos absolutistas e os novos constitucionalistas.

Finanças do Brazil.
Grande parte dos melhoramentos de que he susceptível o Estado do Brazil, requerem despezas consideráveis, e he preciso que o Governo tenha os fundos necessários para ellas;  alem dos gastos ordinários da administração publica. Esta consideração nos leva a observar dous pontos importantes; e saõ, um, a economia em diminuir empregos desnecessários; outro em estabelecer os tributos com tal arte, que se facilite a sua cobrança, e se ajude com elles, em vez de embaraçar, a industria nacional.
A nobreza, a magistratura, a repartição da Fazenda, o exercito, a marinha de guerra; absorvem as rendas do Estado; devem logo considerar-se miudamente, quaes saõ as despesas nestes ramos, que se naõ podem dispensar; e quaes aquellas, que saõ desnecessárias, inúteis, ou prejudiciaes.
Fig. 05 -  A tradição do “BEIJA MÂO” mantinha a nobreza lusitana alinhada com o trono.  A tradição portuguesa na qual a sua nobreza era mais um cargo pessoal conquistado e pago do que uma herança familiar ao estilo espanhol. Cargo que  exigia um exercício ativo, rituais e uma constante demonstração de servilismo de súditos leais ao soberano monocrático. Aos olhos do francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848),  era algo curioso, anacrônico e o retorno as hábitos e práticas do seu “Ancien Régime”.

Nobreza.
Os nobres Portuguezes estaõ no custume de gozar certas vantages, algumas das quaes saõ mui racionaveis, e próprias da r-raduacaõ da nobreza, e portanto contra estas nada temos a dizer; outras porém resultam da inconveniente influencia que tem os nobres, pezam injustamente sobre o povo, e desfalcam consideravelmente as finanças. Entre as primeiras vantagens contamos as honras, e privilégios da nobreza, as quaes saõ necessárias nos Estados Monarchicos, aonde os differentes gráos estimulam os sentimentos da honra, principio e baze das Monarchias, e ministram ao Soberano um tesouro inesgotável de prêmios, até para feitos, a que se nao pôde dar outra recompensa; depois disto os grandes empregos, em que a dignidade da pessoa faz brilhar a authoridade do cargo, e ajuda a conciliar o respeito do9 povos: estas e outras vantagens dos Nobres, pertencem-lhe indubitavelmente. Porém quando se tracta de lhes dar pensoens, commendas, bens da coroa, e empregos lucrativos, sem que o individuo nobre tenha feito serviços relevantes ; sem que tenha passado pela serie de lugares subalternos, em que estude a profissão a que se destina, até chegar aos mais elevados empregos; entaõ dizemos, que tal systema he contrario á boa administração do Estado, e o dinheiro, que em taes circumstancias se dá aos Nobres, he um verdadeiro desfalque nas finaças, e produz uma oppressaõ relativa nos povos, ¿ Que quer dizer, ver um rapaz com um carachá no peito, denotando, que elle disfruta uma ou mais commendas, sem que tal rapaz alegue outros serviços, nem prove outro merecimento mais do que ser filho de um Conde ou de um Marquez ? Se os nobres querem perpetuar o lustre de snas familias, sejam econômicos, vinculem as suas riquezas, tenham cuidado em naõ esperdiçar seus bens ; e assim teraõ os seus filhos com que manter a própria dignidade, sem que da bolça dos povos se tire o dinheiro, que se naõ pôde aplicar para os nobres, sem manifesta injustiça.
O primeiro ramo de economia, portanto, que recommendamos, he a suppressaõ das pensoens, commendas, bens da coroa, e empregos lucrativos inúteis, que se conferem aos nobres; e esta bem entendida poupança traria ao Erário considerável riqueza.
Alegoria às virtudes de D. João VI 1810- por Domingos Antônio de Sequeira (1768-1837).
Fig. 06 -  Uma nítida imagem do poder monocrático e centralizado e personalizado no ocupante do trono.  As virtudes cívicas personalizadas nos seus soberanos e colocadas no olimpo e acima dos seus semelhantes. As figuras retiradas de um arsenal de representações míticas celestiais são separadas radicalmente do mundo dos mortais e colocados sem conexão além do olhar de figuras no plano terreno. Etnicamente estes personagens são arianos e os seus corpos brancos moldados nos cânones gregos.

Magistratura.
A necessidade de magistrados instruidos, e de legistas formados por uma serie de estudos regulares, he taõ bem conhecida, que naÕ julgamos necessário demorar-nos ema provar. E com tudo o seu excessivo numero he objecto de uma queixa geral em Portugal. A dependência do Ministério, em que os magistrados infelizmente se acham, ja para suas promoçoens, ja porque podem ser tirados dos lugares a arbitrio do Governo, he um mal, que impede a administração imparcial da justiça; porém ha outra dependência ainda mais fatal, que resulta da pequenhez dos ordenados; pois a pobreza lie motivo de naõ se poder combater a poderosa tentação das peitas, ou da influencia dos ricos e poderosos. O numero actual dos magistrados faz impossível que se lhe augmentem os ordenados. Logo, o que neste ramo se devia fazer, éra adoptar differente forma na administração da justiça, segundo a qual se reduzissem a poucos os magistrados letrados, e se lhes augmentassera os ordenados, ao ponto de os fazer perfeitamente independentes.
Jean-Baptiste Debret (1768-1848), Rideau de scène du Théâtre de la Cour à l’occasion du couronnement de D. Pedro I er.
Fig. 07 -  Esta imagem de Debret é índice de uma verdadeira ruptura semiótica na tradição governamental portuguesa. Ao examinar a figura anterior (06) salta aos olhos a cultura lusitana na qual seus soberanos personalizam as virtudes. No contraditório desta tradição o francês afasta qualquer personalização.  Debret e investe e cerca este poder com figuras de cidadãos concretos de todas as raças, etnias com suas vestes, hábitos e costumes. A Missão Artística Francesa havia vivido a Grande Revolução na qual os TRÊS PODERES IDEAIS. Separavam-se entre si e buscavam agentes que ocupavam cargos por tempo determinado.
 Estes personagens correspondem etnicamente aos habitantes brasileiros e os seus trajes e objetos são um registro dos usos, costumes e economia local .

A medida de diminuir o numero dos magistrados, e aumentar os ordenados dos que restam, he aqui recommendada, como objecto de economia nas finanças; mas naõ será fora de propósito observar, que dahi resultam outras importantes vantagens ao Estado. Quanto menor for o numero dos magistrados letrados, maior será a concurrencia a esses lugares, e mais seraõ elles respeitados. A Inglaterra naõ tem scnaõ doze juizes; e. por isso naõ ha lugar algum, sem exceptuar os Pares tio Reyno, que seja mais respeitável do que o de Juiz.
Para a administração da justiça nas differentes villas, lugares, e districtos, bastamos juizes territoriaes, e as Câmaras; com tanto que as Curieiçoens sejam bem feitas, e no verdadeiro espirito das leys do Portugal. Os Corregedores deveriam ir ouvir as appellaçoens aos differentes lugares de sua Commarca, e naõ virem os appellantes á terra de sua residência; e somente as appellaçoens dos Corregedores, ou Ouvidores, se deveriam passar para as cidades aonde existem as rellaçoens.
Todos os Jurisconsultos Portuguezes sabem as epochas em que se infroduziiam os Juizes de Fora, as Corrciçoens, &c. e os que meditarem nos factos alcançarão facilmente as causas, porque se fez decahir a magistratura territorial, e se augmentou o numero dos ministros letrados, ao ponto de fazer com que a Magisfatura seja um verdadeiro incommodo para a naçaõ.
Quanto aos Tribunaes, parece-nos, que a maior parte deles merece a sorte que teve a Juncta dos Tres Estados; c os poucos, que devem restar, naõ precisam nem d'ametade dos membros de que se compõem. O Tribunal da Fazenda, em Inglaterra, tem tres Juizes, e um Presidente; e assim mesmo estes juizes vaõ em seu turno fazer a Correiçaõ das Provincias; e as causas nunca saõ demoradas; e naõ nos diraõ, que no Brazil ha mais causas da Fazenda, nem mais complicação das Finanças do que ha em Inglaterra.
A Meza da Consciência, o Conselho de Guerra, o Conselho Ultramarino em Lisboa, saõ tribunaes que se podiam perfeitamente escusar; porque um só indivíduo em cada uma daquelas repartiçoens he quanto basta; Ü assim acontecia antes da sua instituição.
Fig. 08 -  A onerosa atividade dos estaleiros navais havia fornecido, para o reino de Portugal,  as condições das ousadas navegações e a formação de profissionais nesta complexa empresa. A mitificação desta imagem enquanto o governo pretendia  naturalizar sem esforço financeiro, político e profissional remeteram estes êxitos do passado. Outros povos e nações aproveitaram este conhecimento e investissem massivamente na sua própria indústria naval. Assim aniquilavam toda a logística lusitana, deixando a “ver navios estranhos” passarem por Lisboa.

Repartição da Fazenda.
Refere-se uma anecdota sobre o tributo do papel sellado em Lisboa, que illustrará o que vamos a dizer nesta matéria. Quando D. Rodrigo fez novos arranjamentos para a cobrança deste imposto, creou um lugar, de guarda das aparas do papel, a quem deo de ordenado duzentos mil reis annuaes; no fim do anno vendèram-se as aparas, e produziram noventa e seis mil e tantos reis.
Queremos dizer com isto, que naõ basta impor um tributo, para se obter o seu rendimento, he preciso que a natureza do imposto o faça de taõ fácil cobrança, que naõ absorvam os cobradores a maior parte do rendimento. A excisa Ingleza custa na cobrança um e meio por cento; óra comparem isto com o que custa a cobrança dos direitos no Brazil ?
Fig. 09 -  As rotas marítimas entre Portugal, África,  Brasil e Oriente passaram por um processo de fretamento e de terceirização no qual  o governa retinha as alfândegas e controle militar.  Esta terceirizações  e navios fretados pelo governo não só aumentava a presença de naus de outras nações como o efetivo controle e apreensão de barcos portugueses quando o seu governo não pagava ou ficava inadimplente. Como se isto não bastasse estas nações exigiam a posse e o controle econômico de terras especialmente ao redor do rio Minho e da cidade do Porto em consequência do tratado de 1703 de Methuen entre outros.

A formação da pauta dos direitos da alfândega, he matéria de grande importância, e naõ pequena diíficuldade; ésta pauta deve ser formada segundos os princios seguintes : —
1º. Devem-se estabelecer os direitos de importação taõ baixos, que naõ induzam o negociante a passar as fazendas por contrabando.
2º. Devem estabelecer-se os direitos maiores nos gêneros de grande volume, nos quaes ha maior difficuldade de esconder e passar por alto.
3º . Deve-se estabelecer no gênero estrangeiro, que ha ou pôde haver no paiz, um direito tal, que seja equivalente á sua melhoria comparado com o preço do gênero do paiz.
4°. Deve estabelecer-se uma regra geral de diminuição dos direitos, todas as vezes que o gênero for importado em navios nacionaes.
5º. Deve estabelecer-se o castigo do contrabando em multas pecuniárias proporcionadas ao importe das fazendas, e por-se este negocio em via de processo de justiça inalterável, aonde nao possa haver dispensas, nem favor de protecçaõ, applícando-se uma parte da muleta, maior que o valor da fazenda, ao denunciante, e apprehendor das fazendas.
Fig. 10 -  Moeda de 80 reis cunhada no Brasil, em 1813, circulava em todo Reino Unido de Portugal, África,  Brasil e Oriente.  A emissão e a cunhagem de moedas no Brasil não era novidade, pois elas foram praticadas pelos holandeses em Recife. Ao longo do período colonial lusitano isto aconteceu na Bahia, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.  O fluxo monetário aumentou com a elevação do Brasil ao Reino Unido e facilitava as tradicionais triangulações marítimas lusitanas e cambistas internacionais.
A simplificação da administração das alfândegas deve concorrer, naõ somente para o bom despacho e brevidade na execução, mas também para poupar muitos ordenados que saõ escusados.
A mesma simplicidade deve haver no Erário do Rio-de-Janeiro; e nas ramificaçoens deste Erário nas diferentes capitães das provincias, aonde uma Juncta da Fazenda composta de tres Membros he bastante, havendo os escriptarios correspondentes, os quaes mandarão cada trez mezes para o Erário do Rio-de-Janeiro uma conta corrente da receita e despeza, segundo formulas impressas; aonde se dividam em secçoens os diferentes artigos de receita e despeza. Estas contas parciaes, se formarão em uma conta geral, segundo as mesmas formulas impressas, todos os annos; de maneira, que no Erário se possa fazer uma idea clara dos rendimentos da naçaõ em cada um dos impostos ; e assim se poderá facilmente ver quanto he preciso augmentar os tributos, para que cheguem para ás despezas ; e igualmente quaes saõ aquelles tributos que podem sofrer augmento.
Fig. 11 -  A introdução da imprensa régia no Brasil tinha por objetivo maior a imprensa oficial e a coordenação dos serviços públicos por meio de um instrumento único, idêntico e confiável.   O número e o fluxo  dos documentos oficiais  aumentava com a elevação do Brasil ao Reino Unido.  Aumentava os documentos impressos destinados para Portugal, África, Oriente e as longínquas províncias do Brasil. As notícias populares continuavam a ser manuscritas ao estilo dos “pão-por-deus” ou dos “pasquins” do passado.

Com este arranjamento das formulas impressas, haverá um só Erário, unidade de trabalhos, identidade nas contas, diminuição dos empregados, e clareza nas repartiçoens.
Quando o Erário estiver arranjado com esta clareza, todas as vezes que se der ordem para qualquer pagamento em uma das capitanias, ja se saberá d'onde deve sahir o dinheiro para esse pagamento, que ou deve ser augmentando um tributo ali; ou sacando letras sobre o Erário do Rio-de-Janeiro, as quaes sendo promptamente pagas passarão como moeda corrente. O modo mais fácil de executar este plano he, que as letras sejam sacadas sobre o banco, e como o Erário pelo seu arranjamento deve saber as letras, que se espera que sejam apresentadas, ter promptos no banco os fundos necessários para o seu pagamento.
Este breve esboço dará a conhecer, quanto se pôde poupar em ordenados, havendo as formulas das contas todas impressas, e fazendo-se os pagamentos por meio do Banco.
Fortaleza de São José do AMAPÁ   https://www.youtube.com/watch?v=gDoMrkXzklc
Fig. 12 - O denso e continuado rosário de fortes e de fortalezas que cercavam a colônia brasileira deixou vestígios em todas as fronteiras marítimas ou terrestres. No ato da Abertura dos Portos do Brasil estes fortes ganhavam um novo sentido. Com a elevação do Brasil ao Reino Unido deixavam a prioridade e desestímulo para eventuais piratas avulsos e apátridas. Com a presença de naus de outras nações estas fortalezas assumiam o papel de baluartes que protegiam o fluxo das  triangulações marítimas entre Portugal, Brasil e Oriente aumentava.

Exercito.
Ha certos ramos da arte militar, que exigem um estabelecimento constante em tempo de paz, a fim de que se naõ esteja de todo desprovido em tempo de guerra. Tal he o corpo de engenheiros, os artilherios, as fundiçoens, os arsenaes, &c.  Mas para conservar estas artes, bastam as guarniçoens das fortalezas, das cidades, e villas marítimas; e as milicias, em um bom pé, com alguma infanteria de linha, constituíram   fundo de exercito sufficiente, para se poder augmentar segundo  as necessidades occurrentes o exigirem.
A despeza, por tanto, do exercito, em tempo de paz, deve reduzir-se a mui pouca cousa, sem que se abandone inteiramente a terrível, mas necessária arte de fazer a guerra. Sabe-se muito bem os presentes, que se fazem para obter patentes de officiaes de milicias, &c. Haja pois a prudência, de obviar que se dem taes presentes, e em lugar delles dèm-se os regimentos, e companhias, a pessoas que possam e queiram incorrer nas despezas de certos estabelicimentos relativos á conservação destes úteis corpos de tropas.
Fig. 13 -  Cada porto do reino colonial lusitano era, de fato, uma fortaleza guarnecida. As naus eram castelos flutuantes, a continuação e a afirmação do projeto colonial europeu na Africa, àsia e América. Com o advento das comunicações e dos recursos  da era industrial este projeto perdeu a sua logística.  As nações que acumulavam riquezas, materiais e gente qualificada passaram a contornar e aruinaram esses quistos arcaicos.

Marinha de Guerra.
A extensa costa do Brazil requer indispensavelmente uma marinha de guerra; ja para protecçaõ dos portos em tempo mesmo de paz, ja para vigiar os contrabandos, ja para comboyar os navios de commercio, e ja finalmente para ter um fundo de officiaes para o caso de alguma guerra.
Porem nao consiste a conservação dessa marinha, cm ter um Estado-maior excessivo, e uma lista de Almirantes, Vice-almirantes, Capitaens de Mar-guerra, &c. &c. absolutamente desproporcionada aos vasos de guerra que tem o Governo. Este gasto supérfluo deve diminuir-se, e nelle pôde recahir grande economia. Temos repetidas vezes dicto, que o Brazil deve ser uma Potência Marítima, e portanto he necessário que possua uma grande esquadra; mas isto naõ he dizer, que deve ter um grande numero de officiaes de marinha sem emprego.
Fig. 14 -  A Abertura dos Portos do Brasil, em 1808, exigia o apoio direto e atento de um corpo de militar especifico para cuidar diuturnamente do patrulhamento, defesa e eventual ataque. Este ataque aconteceu já em 1809 quando os Fuzileiros Navais brasileiros foram incumbidos de tomar Caiena e empossar um governo lusitano de ocupação da Guiana Francesa.  Desestimulavam, com este ataque e tomada exitosa,  qualquer pretensão napoleônica na América onde se refugiara a corte lusitana..

Em tempo de paz a marinha de guerra naõ pôde ter outro emprego senão nos paquetes, nas guarda-costas, e n'uma esquadra contra os piratas do Mediterrâneo. Para este serviço naõ se precisão officiaes de alta graduação; e os de menor graduação até Primeiros Tenentes, devem ter permissão de ir commandar navios mercantes de certa grandeza, e contando-se. lhe no entanto a sua antiguidade
Alegoria do regresso de D. João VI do Brasil – 1816 por Máximo Paulino dos Reis (1781-1866),
Fig. 15 -   A imagem de 1816 cujo sentido foi frustrado pela permanência de Dom João VI  no Brasil. Frustração portuguesa que acirrava os ânimos incapazes de se unir num pacto nacional único e linear. A elevação do Brasil ao Reino Unido igualava o Brasil a Portugal que se percebia cada vez mais impotente e o forçava a recorrer ao mundo simbólico arcaico de Dom João VI metido em armadura medieval como da imagem acima.

Exercito Portuguez.   [ p. 135]
Depois de termos publicado os regulamentos das tropas para o tempo de paz, nos chegaram de Lisboa algumas notas a esse respeito, que achamos mui sensatas.
He necessário convir em que os soldos saõ arbitrados demasiadamente baixos. Os officiaes naõ podem viver com taõ módicos estipendios: literalmente haõ de morrer de fome; e os seus serviços saõ taõ conspicuos, e taõ frescos na memória de todos os Portuguezes, que se naõ pode olhar para este arranjamento sem grande pezar.
Se as rendas da naçaõ naõ chegam para sustentar grande exercito em tempo de paz, mantenham-se menos tropas; mas, em nome da gratidaõ, desse a esses que se conservarem bastante para viver, e sufficiente para suportar a dignidade, que compete á sua graduação.
As milicias custam pouco, e podem servir de muito: aqui tem o melhor excercito de reserva; e persuadam-se os que governam, que pagar mal a quem serve, he a peior economia que se pode escogitar: quem naõ pode ter dous creados tenha um; mas pague.lhe quanto basta, para que elle sirva gostoso.
AQUEDUTO das ÁGUAS LIVRES - Alcântara -  Portugal  - Gravura aquarela inglesa 23 x 32.5 cm
Fig. 16 -  A manutenção dos equipamento públicos foi uma tarefa que passou pata 2º plano diante da emergência da Guerra e a ausência da corte refugiada no Brasil. Se a elevação do Brasil ao Reino Unido aumentava o fluxo das tradicionais triangulações marítimas entre Portugal, Brasil e Oriente aumentava com a presença de naus de outras nações.

Impossível recompor as circunstâncias e condições do governo de Portugal anterior a 1808. Dom João VI partiu, de Lisboa,  como Príncipe Regente de um regime monocrático e retornou como rei de um regime constitucional que ele havia jurado no Brasil. Brasil que acordava para a sua soberania depois da ocasião de se surpreender com as suas competências após três séculos da sua heteronomia colonial.
Impossível também mitificar o posterior Regime Imperial Brasileiro e no qual alguns percebem uma nação pujante, rica e próspera. Estes idealistas, ao mitificar o período imperial brasileiro, esquecem  que a escravidão foi legal no Brasil até as vésperas do Regime Republicano. Escravidão que comprometeu qualquer sanção moral desta força de trabalho, acumulação e circulação do poder monocrático agrilhoado aos pés do trono. Este sistema é impossível perpetuar. Mais cedo ou mais tarde entra em contradição e colapso
Estes mistificadores deixam-se contaminar pelo espírito “FIM de SÈCULO”. Espírito temerário de eventos triunfantes que tiveram de serem pago com suor, lágrimas e sangue  na demolidora contradição e no sangrento colapso provocado  pela I Guerra Mundial.
Evidente que é possível compreender as dúvidas e as naturais hesitações daqueles que estavam envolvidos num período tão difícil, delicado e as escolhas pontuais e rápidas diante da nova era industrial. Os interesseiros só emperram, aniquilam e desqualificam qualquer pacto nacional por meio das suas intrigas. Combatem o regime republicano esquecendo o regime vigente, nesta época, nos Estados Unidos e onde suas ideologias imperiais seriam vistas como medievais.
Em janeiro de 2015 persiste falta de um pacto político, econômico e social brasileiro.  As saudades subliminares e práticas dos piores regimes e da mais abjeta escravidão despontam, em pleno século XXI.  As piores pragas dos seus aproveitadores renascem incrustrados neste frágil e corrompido inconsciente coletivo nacional. Pragas que tomam corpo, em janeiro de 2015, na emergência das mais escabrosas revelações ao redor da pilhagem econômica, política e social praticada em cargos da mais alta relevância estatal. Pilhagem política praticada no sistema eleitoral a mercê de “quem dá mais”, na economia e empresas.  Pilhagem econômica altamente lucrativa para os mediadores, atravessadores e tuteladores de empreiteiras e em nome do ícone da Petrobras. Pilhagens que esvaneceram todas as esperanças sociais erguidas pelos marqueteiros dos “lucros do pré-sal” como o ouro de Serra Pelada se esvaneceu sem deixar rastros além do suor, lágrimas e sangue do PODER ORIGINÁRIO BRASILEIRO.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS

A ALEMANHA e NAPOLEÃO BONAPARTE

ASTRONOMIA e FUGA de DOM JOÃO VI

CHÀ em REGISTRO no VALE do RIBEIRA- SP - BRASIL

Dom JOÃO VI CONTRAIA o ALTO CLERO  LUSITANO e INDICA o Pe MAURÍCIO

FINANÇAS do  BRASIL com DOM JOÃO VI

FUZILEIRO NAVAIS

ICONOGRAFIA – DOM JOÃO VI
Palácio da Ajuda

MITIFICAÇÃO do REGIME IMPERIAL

NUMISMÀTICA do BRASIL

REINO UNIDO PORTUGAL ALGARVES BRASIL

 IMAGEM da REGÊNCIA e REINO de Dom JOÂO VI e Dom PEDRO I
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Referências para Círio SIMON