quinta-feira, 4 de abril de 2019

181– NÃO FOI no GRITO

Emigração de SUÍÇOS ao BRASIL:  “sempre se acharão alguns descontentes” .

Fig. 01 – Cena da despedida dos imigrantes suíços ao atravessar rios, lagos como o Neueburgerrsee[1],  estradas da Alemanha e em direção da Holanda para ai embarcarem  num veleiro rumo ao BRASIL Para a maioria era a última vez que viam a sua terra natal pois era viagem sem volta.

Os suíços do cantão de FRIBURGO foram os primeiros europeus não ibéricos a se estabelecerem definitivamente no Brasil. Eles vieram amparados num projeto do corte de Lisboa ainda sediada no Rio de Janeiro. Os demais imigrantes vieram no período imperial ou republicano. 

Fig. 02 – A saga dos imigrantes suíços iniciou no outono do ano de 1819. A maioria dos veleiros chegou no Rio de Janeiro no final deste ano.   Porem outros três veleiros chegaram ao Brasil depois de mais de 100 dias no mar.
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As massivas mobilizações dos refugiados, de abril de 2019, possuem motivações muito próximas daqueles dos suíços em abril de 1819.  Ambos buscam um lugar para viver melhor e dar um futuro aos seus descendentes direto e indiretos. O que distingue os suíços foi que vieram como COLONOS. Como COLONOS traziam na sua bagagem a CULTURA e as TÉCNICAS do seu pais de origem. Como COLONOS projetam, disseminam e tentam reproduzir, na terra de adoção, seus hábitos, costumes e leis.  Os nativos aceitam estes ESTRANGEIROS[1] como juízes neutrais acima e por fora das suas intrigas locais.



[1] SIMMEL, Georg  Sociología y estudios sobre las formas de socialización. Madrid:         Alianza. 1986,  817.  2v.

Fig. 03 – A permanência dos dois meses no mar em embarcações apertadas certamente estreitou a solidariedade entre estes suíços nabusca de um futuri no Novo Mundo. A grande perda de vidas humanas evidencia a coragem em enfrentar algo em condições tão precárias. Estas vítimas certamente pesaram em decisões posteriores de tal formas que os demais emigrantes europeus e os armadores aprenderam com o sacrifício destes pioneiros das grandse migrações dos europeus para as demais terras e através de todos os mares
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CORREIO BRAZILINSE ABRIL de 1819 - VOL. XXII. N°. 131. Pp. 429-419

As noticias da Suissa dizem, que do Cantaõ de Friburgo se achavam promptas a partir para o Brazil duzentas famílias, e que de outras partes da Suissa mais 5.000 indivíduos tinham annnunciado a sua intenção de seguir o mesmo destino. Naõ se pode communicar aos Brazilienses noticia de maior iuteresse ; porque naõ pode haver medida que lhes seja mais útil, do que a recepção destes emigrados Europeos, principalmente da Suissa; e todas as despezas, que para promover esta emigração fizer o Coverno do Brazil, lhe seraõ pagas com multiplicadas vantagens, por estes mesmos emigrados e sua descendência. A abolição do trafico da escravatura terá lugar mais dia menos dia; e o melhor preparativo, para esse acontecimento, he a introducçaõ de braços, que substituam os Africanos

Fig. 04 – O acampamento dos suíços num porto da HOLANDA em setembro de 1819. Inevitável a comparação com os acampamentos dos refugiados esperando serem socorridos em abril de 2019[1].   Expostos a todas as intempéries, precariedades higiênicas e alimentares as doenças e os, óbidos vitimaram o grande número deles. De cada 100 destes imigrantes 15 pereceram no caminho para o Brasil

A diiferença da côr he um obstáculo invencível, para assimilhar os negros, ainda livres, com o resto da população; quando os Europeos, depois de passada uma só geração, em que se extinga a diiferença da linguagem, formarão de todas estas famílias de emigrados Europeos um povo verdadeiramente Brazilienze, em todos os sentidos. He, porém, essencialissimo, que o Governo esteja preparado para a recepção dos emigrados. Que tenha d' ante maõ marcado os lugares, aonde haõ de formar os seus estabelicimentos. Que tenha preparado, nos portos de mar aonde chegarem, os transportes necessários, para serem conduzidos sem demora ao lugar de seus destinos. Que nesses lugares tenha os mantimentos precisos, as ferramentas, o gado, e todas as mais cousas misteres para começarem logo a edificar suas habitaçoens, e romper a terra, que haõ de cultivar.

Fig. 05 – Os suíços  foram reduzidos à indigência devido a uma população em constante aumento. Este contingente em expansão aliado com aos velhos e tradicionais hábitos agrícolas com poucas terras disponíveis tornavam a situação insustentável para as novas gerações.  O Novo Mundo -  ainda que distante e com poucas informações disponíveis - não impediu uma escolha radical e arriscada e onde tudo que sabiam devia ser esquecido e recomeçado com outra lógica. A sua cultura permitiu este jogo arriscado

 A necessidade destas precauçoens se fará evidente, considerando, que da boa recepção, que as primeiras familias de emigrados encontrarem, depende a boa fama do paiz. Sempre se acharão alguns descontentes ; mas he preciso evitar quanto for possivel, que o descontentamento seja geral, ou bem fundado. Estes emigrados, logo que chegarem ao Brazil, escreverão a seus parentes e amigos na Europa, e lhes descreverão o paiz com boas ou más cores, segundo as impressoens, que Ibes fi__e_ o bom ou máo acolhimento, que experimentarem. Seria, por tanto, muito para lamentar, que tam sabias medidas se frustrassem, pelo máo modo cia execução ; e sua importância he de tal magnitude para a prosperidade do paiz, que bem vale a pena de o Governo escolher pessoa ou pessoas, que exclusivamente se encarreguem de formar os planos, para a boa accommodaçaõ dos novos colonos

Fig. 06 –  Todo o desconforto, angustias e intrigas foram esquecidas no meio da viagem quando os veleiros ultrapassavam a linha do Equador e iniciavam a rota no hemisfério Sul Festejos organizados pelo capitão e pela sua tripulação ara uma forma de manter a autoridade do barco evitando revoltas e motins a bordo

O Intendente geral da Policia tem até agora tido este cuidado: mas duvidamos que as suas outras occupaçoens lhe deixem tempo para cuidar deste negocio, com a attençaõ que se requer.
Naõ sabemos que se lhe tenham destinado fundos, para as despezas, que esta diligencia necessita. Nem nos consta, que haja algum plano combinado para ser seguido invariavelmente, seja pelo actual Intendente, seja por outras pessoas, que lhe succêdam no lugar; ou que para o futuro sejam encarregadas do cuidado dos emigrados»
CORREIO BRAZILINSE - ABRIL de 1819 - VOL. XXII. Nº 131 - p. 452

Fig. 07 – O gráfico mostra a população da EUROPA, em abril de 1819, distribuída conforme a sua etnia.  Este número é semelhante  a população de BRASIL no início do III milênio[1]  Os suíços foram uma das primeiras populações que iniciaram o fantástico movimento populacional europeu do colonialismo europeu que se derramou sobre as Américas, África, Ásia e Austrália ao longo de século XIX. A maioria compelida pela ERA INDUSTRIAL ima consequente acumulação urbana e a desvalorização do produto agrícola tradicional

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 Entre outras consideraçoens, que se requerem na execução deste plano, he o pagamento futuro das despezas, que Governo fizer: esta retribuição deve ser tardia, para naõ vexar os novos colonos; mas convém que seja certa, para naõ exhaurir o Erário. Sobre tudo he essencial fazer indubitavel a segurança pessoal dos indivíduos; contra o que está a ley novisima sobre as sociedades clandestinas ; as prizoens arbitrarias dos que falláram mal do Banco do Rio-de-Janeiro; e outras misérias desta natureza, que na Europa tem feito demasiado estrondo, desacreditando o Governo, por se lhe attribuir com isto o character de arbitrário : obstáculo invencível no plano de emigração

Fig. 08 – A cidade do Rio de Janeiro como capital de REINO UNIDO PORTUGAL-BRASI- ALGARVES L havia experimentado tranfirmaçoes urbanas e necessitva de um forte amparo da produção agrícola de subsistência imediata e diferente da agricultura de exportação. A leva de imigrantes suíços destinava-se a cultivar a região serrana e com pequenas propriedades unifamiliares..

A múltipla etnia dos suíços era um ponto favorável para tornar o Brasil multiétnico e multicultural. Como COLONOS traziam na sua bagagem a CULTURA e as TÉCNICAS do seu pais de origem a serem experimentados no NOVO MUNDO. No aspecto político os tradicionais cantões suíços tinham um acúmulo de convivências pacificas e integrativas que certamente se projetou através destes que procuraram refazer estas experiências no Brasil.

Fig. 09 –  O que os suíços encontraram foi a cena brutal da floresta, dos mistérios e da força da natureza indomada do BRASIL  O clima sem neve, os novos e desconhecidos vegetais e a alimentação somava-se com as doenças e pragas das lavouras e presentes na criações de animais  eram tantos outros desafios para estes recém chegados


O rude impacto de natureza bruta, com clima inverso à sua origem e vegetais e alimentos da nova terra, fizeram com que muitos suíços procurassem um lugar no Rio de Janeiro onde exerciam o artesanato do seu pais de origem. Eles provinham da cultura medieval onde o agricultor dominava o artesanato nas suas mais variadas expressões. Assim sentiam-se a vontade também no meio urbano onde escravo era treinado e sem a mínima autonomia de delibera e decidir num eventual ofício que era obrigado a exercer. Além do mais, os DONOS do PODER jamais exerciam qualquer oficio na qual necessitavam usar as suas imaculadas mãos. 

Fig. 10 – Uma antiga fazenda do MORRO QUEIMADO decadente e as senzalas dos escravos foram os primeiros abrigos dos imigrantes suíços no BRASIL e que re-denominaram o lugar de de NOVA FRIBURGO. Nome que lhes lembrava a sua MISSÂO de COLONOS de uma cultura multissecular que mudava de endereço sem esquecer as suas raízes nativas
O investimento do erário público no imigrante foi amplamente recuperado com os impostos gerados pelos descendentes diretos e indiretos dos COLONOS suíços e das outras etnias subsequentes. Evidente que se trata de retornos a longo prazo e cuja medida e avaliação sobre passa gerações, regimes e governos.  Esta evidência é possível avaliar ao comparar regiões brasileiras potencialmente bem mais ricas e produtivas, mas permaneceram a margem do movimento dos colonos europeus mais adiantados na cultura, na técnica e na política que trouxeram nas pobres e rotas bagagens de estrangeiros.
Esta contribuição política era indispensável para o Brasil atingir um grau mínimo da sua soberania. Os GRITOS, as INTRIGAS PALACIANAS e as DECLARAÇÕES BOMBÁSTICAS pouco significariam e seriam sufocados como foi a INCONFIDÊNCIA MINEIRA ou REVOLUÇÂO de RECIFE em 1817, carentes deste PODER ORIGINÁRIO CONSOLIDADO. O respeito interno e externo a esta SOBERANIA seria maior na medida em que ela viessem de agentes não contaminados pela COLONIALISMO VETUSTO IBÉRICO e apoiado na ESCRAVIDÂO.
Neste aspecto é claro o prognóstico do Correio Braziliense ao afirmar
. A abolição do trafico da escravatura terá lugar mais dia menos dia; e o melhor preparativo, para esse acontecimento, he a introducçaõ de braços, que substituam os Africanos.
Esta afirmação foi e continua a ser muito mal interpretada quando estes mesmo imigrantes são reduzido e tratados como “NOVOS ESCRAVOS”.

Fig. 11 – A atual NOVA FRIBURGO na REGIÂO SERRANA do RIO DE JANEIRO, lembra a terra de origem e ao mesmo tempo a enorme contribuição no desenvolvimento de terras férteis pequenas e  apertada entre picos de uma serra. O fenômeno irá se repetir no Rio Grande do sul quando foi destinado aos imigrantes italianos a serra gaúcha com enorme desvantagem para terras planas e férteis porém ocupadas por enormes latifúndios improdutivos ou pouca produção. Os retornos destes latifúndios em  impostos -  ao erário público-  é muito menor comparada com aquilo  que os imigrantes europeus conseguiram realizar em estreitos vales e agressivas serras. Emigrantes e os seus descendentes contribuem com milhares de vezes aquilo que foi investido na sua migração ao BRASIL A somatória das contribuições ao erário público deixam em situação vexatória os proprietários das terras planas e férteis ocupadas por enormes latifúndios.

Na conclusão não é possível silenciar as 311 vítimas fatais deste projeto. Entre cada 100 emigrantes que partiram da Suíça, 15 deles terminaram os seus dias sem ver e pisar a terra que buscavam para seu futuro.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS relativa à IMIGRAÇÃO BRASILEIRA
CONSTANTINO, Núncia Maria Santoro (1944-2014)  Italianos em núcleos urbanos e na capital do Rio Grande do Sul 1986 4 p.
-----------------O italiano da esquina: meridionais na sociedade porto-alegrense e permanência da identidade entre moranenses. São Paulo  1990 389 f.

CULTURA  ITALIANA – 130 anos = Cultura italiana – 130 anni / org. Antônio Suliani e Frei Rovílio Costa - ed   bilíngüe – Porto Alegre :  Nova Prova,   2005,  340 p. il. 25 x 29 cm.

Ondas de migrantes, crônicas de 138anis de Brod no Brasil; Vida, obra, escritos.../ Organização de Danilo Bersch e. et al.- Lajeado RS: Univates, 2006, 580 p. il ISBN 85-98611-35-2 

RUGENDAS, João Mauricio (1804-1858) Viagem Pitoresca ao BRASIL 1822-1825 e 1845 –Tradução de Segio MILLET( 6º  ed). São Paulo: Livraria Editpra Martins 1967, 161 p.,  110 gravuras
SIMMEL, Georg  Sociología y estudios sobre las formas de socialización. Madrid: Alianza. 1986,  817.  2v.

TUBINO, Nina A germanidade no Brasil  Porto Alegre: Sociedade Germânia, 2007, 208, il .  ISBN 978-85-999117-15-6

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS.
IMIGRAÇÂO SUIÇA AO BRASIL 1819-1820

COLÔNIA SUIÇA em NOVA FRIBURGO

RELATO da VIAGEM dos SUIÇOS ao BRASIL

NASCIMENTO de NOVA FRIBURGO

MEMÒRIA da IMIGRAÇÂO SUIÇA

A saga de Mathias SIMON (1788-1866) e dos seus descendentes no BRASIL
http://mathiassimon1829.blogspot.com.br/

VIDEO

POPULAÇÃO BRASIL 1980-2010

FIBURGO SUIÇA 2019

 MIGRANTES no MEDITERRÂNEO em ABRIL de 2019
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