domingo, 12 de abril de 2015

117 – NÃO FOI NO GRITO.

O MUNDO em ABRIL de 1815 e 2015
Um REI como SÍMBOLO
“Com as baionetas pode-se fazer tudo, menos sentar-se sobre suas pontas. Charles Maurice de TALLEYRAND-PERIGORD para Napoleão Bonaparte
Luis_XVIII por François Gerarad
Fig. 01 – Luís XVIII da França assumiu este título em honra do seu sobrinho, Luís XVII, que não pode exercer o cargo.  Luís XVII era filho do irmão Luís XVIII,  Luís XVI e guilhotinado em 1783.  Luís XVII morreu na prisão em circunstâncias misteriosas. Porém Luís XVIII exerceu este cargo sem as funções que seu irmão exercera e já renunciara antes de ser guilhotinado passando a denominar-se Luís Capeto.

O Luís XVIII governou após a Revolução Francesa e Napoleão Bonaparte. Era o retorno da monarquia na França, porém sem o caráter dos “Reis Taumaturgos”. Chefe simbólico de um Estado no qual os monarquistas perdiam cada vez mais espaço e apoio. Monarquistas que necessitavam buscar apoios em outras monarquias de além-fronteiras que se estavam se reagrupando e impondo a lógica que lhes era favorável e dos restos do “Ancién Regime”. 
Execução de LUIS XVI em 21.01.1793 gravura de HEHMAN 1743-1806 água-forte de DOCLOS 1742-1795 ilustração de Charles MONET 1732-180..
Fig. 02 – Luís XVI foi guilhotinado em 1783 enquanto Luís XVII não pode exercer o cargo, pois  morreu na prisão em circunstâncias misteriosas. Assim Luís XVIII da França assumiu este título em honra do seu sobrinho e filho de seu irmão.   Porem o reino de Luís XVIII foi cheio de sobressaltos e altamente patrulhado polítuca, econômica e socialmente patrulhado pelos monarquistas que temiam também pelas suas cabeças, fortunas e títulos nobiliárquicos hereditários.

Estavam muito vivas na memória as narrativas relativas um Luís XVI guilhotinado publicamente e de um Luís XVII ao morrer secretamente na masmorra sem jamais poder governar. Assim depois da grande Revolução um rei francês ao se dispor a governar podia retomar o cargo e o trono. Porém as suas funções são determinados por um contrato constitucional onde as suas funções eram previstas e meramente simbólicas. ´
 Um precioso índice do novo tempo foi derrocada do regime  do Rei Luís XVIII e a sua fuga, em março e abril de 1815 diante do retorno pelas armas de Napoleão Bonaparte. Tempo que exigia atenção redobrada para a magnitude das forças em jogo e a velocidade das mudanças políticas, sociais e econômicas.  Tempos que se seguiram à Revolução Francesa de 1789. Tempo da era industrial que impunha à Europa um estado crítico permanente expresso em crises sem fim. 
Fig. 03 – Napoleão Bonaparte irrompeu no meio da confusão e dos choques das facções que se digladiavam entre si e condenava os desafetos do partido à guilhotina depois de sucessivamente se apropriarem do comando do poder estatal da França. Com o apoio de um exército profissional e de cidadãos voluntários lançou para além das fronteiras onde o esperavam os seduzidos pelo Iluminismo, pela Razão e especialmente industriais  disposto a conquistas de novas fronteiras para os seus produtos.

 As esperanças e as certezas presumidas de um regime descaído mobilizam e usam todos os instrumentos simbólicos e físicos em vão. Por mais que este espere pelos “santíssimos juramentos” esses apenas estão mitificados na mente daquele que se quer manter no PODER ABSOLUTO e MONOCRÁTICO 
Louis_XVIII_sustentando a_França  por CREPIN Louis-Philipe
Fig. 04 – Luís XVIII da França foi representado, em 1814, pelos monarquistas como salvador da França. Porém a sua mitificação do trono e da coroa durou pouco. Em Março de 1815 Napoleão desfez esta mitificação. Luís XVIII não pode efetivar as esperanças e as promessas implícitas no gesto do monarquista que lhe entregaram o cetro, a coroa e o trono. Faltava a deliberação e a decisão do povo francês e especialmente a circulação e renovação do PODER ORIGINÁRIO em todas as competências do corpo da nação.

O texto a seguir é uma prova desta falácia mental e física e mostra o poder de sedução sobre massas acostumadas com o Ancien Regime. Não havendo ainda fotografia não custava aos editores destas narrativas acrescentar “as aclamações populares”. Este povo mal informado e sendo arrastado por uma ou outra corrente sempre foi o marisco entre rocha da realidade as vagas dos panfletários, atravessadores e tuteladores de um ou outro fetiche político.

CORREIO BRAZILIENSE  DE ABRIL, 1815.
VOL. XIV. No. 83. Vol. 3 – pp. 525 até 535 Miscellanea

NARRAÇÃO.
Dos acontecimentos desde o desembarque de Buonaparte até a partida de Sua Magestade Christianissima, Luiz XVIII. das terras de França.
(Esta Narração se publicou como authentica da parte do Rey da França.)

Uma catastrophe igualmente desastrosa e inexperada encheo a Europa do maior espanto. Um Rey, que estava rodeado pela confiança e amor do seo povo, foi compelido a abandonar a sua capital, e, logo depois, se os estados, que haviam sido invadidos por aquelle homem, cujo nome so traz á memória calamidades c crimes : e a França, do estado de profunda paz e progressiva prosperidade a que fora restaurada, vio-se em menos de tres semanas outra vez mergulhada naquelle abysmo de males, que pensava haverem-se terminado para sempre. He importante fazer saber por que progresso de causas irresistíveis pôde a traição, em taes circunstancias, encadear a força publica, e a vontade nacional.
AS RELAÇÕES num ESTADO ABSOLUTISTA
Fig. 05 – O poder monárquico, centralista e absolutista - imaginado com o retorno dos Bourbons na pessoa de Luís XVIII da França – não se efetivou.  A era Industrial não incluía e não podia aceitar este paradigma no seiprojeto de inovação, circulação e num sistema que funciona com uma entrada, um desenvolvimento e saída impessoais e controle objetivo de resultados onde imperava a “mais valia

No dia 5 de Março recebeo o Rey informação por um officio telegraphico[1] do desembarque de Buonaparte no território Francez, á testa de 1100 homens. Esta empresa devia considerar-se em dous pontos de vista differentes : ou era o resultado de uma conspiração, apoiada por extensas communicaçoens, ou um passo de um homem louco, cuja ambição e violência de caracter o naõ deixavam suportar por mais tempo um retiro, que lhe excitava apenas, agitaçoens e remorsos. Em ambas as supposiçoens era necessário adoptar todas as medidas, que a prudência aconselhava, e que a presença do perigo mais eminente haveriam dictado. Naõ se desprezou precaução alguma.



[1] Ver o  TELÉGRAFO ÒTICO de CLAUDE CHAPPE em  http://pt.wikipedia.org/wiki/Claude_Chappe


Fig. 06 – O Tratado de Paris 1814  reconduzia a França aos seus limites do ano de 1792. Tratado imposto pelos vencedores de Napoleão que esteve presente a este contrato e em consequência do qual ele perdia o seu trono, coroa e funções e se retirava para a ilha Elba entre a Córsega francesa e costa da Toscano italiana

Expediram-se ordens com a maior diligencia para se ajunctarem tropas em Lyons ; receberam-se boas noticias do Commandante de Grenoble ; e o comportamento da guarnição de Antibes deo motivo para conjecturar-se, que Bonaparte se enganara em sua esperança de se lhe reunirem as tropas do Rey. Se elle porem, tivesse formado algumas communicaçoens, era de esperar-se, que estas favorecem seos primeiros progressos : entretanto esperava-se que em todo caso um corpo, que fôra postado em Lyons, o fizesse parar. Monsieur partio na dia 6 para ir comandar aquelle corpo, e íòi seguido no dia seguinte pelo Duque de Orleans.

Fig. 07 – A ilha Elba entre a Córsega francesa e a costa italiana pertence ao Arquipélago da Toscana. No seu  exilio o Imperador estava ciente da continuação das divisões internas da França e que repicavam as causas que o levaram ao poder para encerrar, pelas armas, o ciclo revolucionário mais agudo  Porém  o militarismo  tinha os seus limites. O ministro do exterior da França - Charles Maurice de TALLEYRAND-PERIGORD -  havia exposto para Napoleão Bonaparte, em várias ocasiões, "com as baionetas pode-se fazer tudo, menos sentar-se sobre suas pontas"[1]

Todos os Marechaes e Generaes, empregados nos departamentos, receberam ordem para marcharem para seos respectivos commandos, e partiram immediatamente.
O Marechal Ney, que commandava em Besançon, e que pudera efficazmente ajudar as operaçoens de Monsieur, despedio-se do Rey, e a o beijar a maõ de S. M. disse com um tom de affecto e energia, que parecia proceder da franqueza de um soldado, que " se elle pudesse colher ás maõs, o inimigo do Rey e da França, havia de trazello prezo em uma gaiolla de ferro." O resultado, depois, mostrou a vil dissimulação que o inspirava; por este modo se patenteou o projecto de um traidor, que todo soldado na Europa ha de ouvir com horror.
Monsieur foi recebido em Lyons com enthusiasmo; tudo estava preparado para a resistencia mais vigorosa; porem, infelizmente naõ se podiam achar muniçoens.
Soube-se logo que a guarniçaõ de Grenoble linha aberto as portas ao inimigo, e que um regimento, que partira de Chambery, debaixo do commando de Mr. de La Bidoyere, tinha-se unido aos rebeldes ; apenas um pequeno numero de tropas havia ainda chegado a Lyons; porem Monsieur, a quem o Marechal Macdonald se havia ajunctado com muito ardor, naõ hesitou em determinar manter-se dentro das obras, que se haviam construído á pressa. Com tudo, ao aproximarem-se os primeiros dragoens, que precediam Bonaparte, manifestou-se uma grande indisposição em as tropas de Monsieur. Todas as exhortaçoens do Duque  de Tarentum foram em vaó ; e entaõ da mesma sorte que ao depois, as forças ajunctadas para oppor á torrente, so serviram para a fazer crescer e augmentar sua violência.
RYS Bellanger  Napoleão sai de Elba
Fig. 08 – No final do inverno de 1815 Napoleão evadiu-se da ilha Elba e teve um encontro  corajoso e destemido com seu antigo exército enviado para recapturá-lo e  o conduzir de volta ao seu confinamento e exílio  Para a surpresa e a confusão dos monarquistas e leais a Luís XVIII da França estes militares engrossavam de cidade em cidade o cortejo de Napoleão rumo a Paris

No dia 10 soube-se, por um officio telegraphico, e conseguiníemente sem particularidades, que Bonaparte havia entrado em Lyons naquelle dia. A volta do Duque de Orleans, que chegou a Paris no dia 12, e a de Monsieur, foram brevemente seguidas por noticias, que levaram o temor ao maior ponto, que tam rápida continuação de desastres naõ podia deixar de produzir.
No meio tempo, a opinião, agitada pelo temor e desconfiança procurava descobrir em mais do que na fatal ascendência de um homem detestado, a causa de seos deploráveis progressos. Ninguém podia crer, que a mera seducçaõ de sua presença pudesse produzir similhante efeito nas tropas. O Marechal Duque de Dalmacia, Ministro da Guerra, fôra o ultimo em França, que sustentara por força de armas a já perdida causa de Napoleaõ. Alguns queriam inferir desta passada mostra de apego, uma prova de traição. Levantou-se a voz publica contra o Marechal, e elle mesmo veio, e entregou nas maõs do Rey a sua resignação e a sua espada. S. M. com aquella confiança que nunca o abandonou, mandou vir á suia presença o Duque de Feltre, a quem a estimação publica apontava para sua escolha, e entregou-lhe a pasta da Repartição da Guerra, de que estivera encarregado por Bonaparte ate o tempo da restauração. Esta determinação do Rey foi plenamente justificada pela fidelidade do Duque de Feltre.
Já a este tempo se naõ podia adoptar outra medida senaõ fazer recuar as tropas, porquanto, avançar contra o inimigo era o mesmo que fornecer-lhe auxiliares. Conveio- se em formar um corpo de exercito em frente de Paris ajunctando-se o maior numero, que se pudesse, de Guardas Nacionaes, e voluntários. Desde o dia 11, fôra o Duque de Berry nomeado General deste exercito. Logo que chegou o Marechal Macdonald foi encarregado do comando debaixo do Principe.
Comtudo as ordens repetidas para a organização dos voluntários e das columnas ambulantes das Guardas Nacionaes, naõ podiam chegar aos seos destinos, nem ser postas em execução sem passarem alguns dias, quando por outra parte, cada momento trazia com sigo perigos. Bonaparte marchava com uma rapidez, de que elle bem conhecia a vantagem ; e vários regimentos, que inevitavelmente se achavam juncto á linha de sua marcha, uniram-se a elle : até alguns tomaram em seo nome algumas terras de Borgonha; e dous delles avançaram ate Auxerre.
Naõ obstante havia ainda alguma esperança de fazer conter em seo dever as tropas da primeira divisão militar, e as que formavam a guarniçaõ de Paris. Um perigo eminente, que o comportamento do Commandante de La Fere havia desviado, e a prizaõ dos traidores D'Elon e Lallemands, offerecia alguma segurança, sobre o que se poderia esperar que acontecesse nos departamentos do Norte. O Duque de Regio, posto que fosse abandonado pelas Guardas, Antigas, pôde fazer conter em seo dever as outras tropas que commandava. Resolveo-se formar um exercito de reserva era Peronne, aonde as tropas, estando concentradas, haviam de estar menos expostas a ser seduzidas, e onde haviam de estar debaixo da observação do Duque de Treviso, a quem o commando deste exercito fôra dado. Pouco depoia partio para là o Duque de Orleans.
O Rey inteiramente convenoido da grandeza do perigo existente, e naõ menos sciente das muitas obrigaçoens, que lhe impunham as circumstancias, era que se achava, apparecêo no meio dos representantes da naçaõ, dos quaes desejou estar rodeado, assim que o perigo commeçâra a deixar-se ver. A sua falia ás duas Cameras, fez a maior impressão na capital, da qual os habitantes manifestaram um unanime sentimento de affeiçaõ ao seo Rey e á pátria.
- Charles - Barão  von STEUBEN Napoleão sai de Elba
Fig. 09 – Napoleão realizou a sua jornada da ilha do Elba em direção a Paris em Março de 1815. no caminho ia colhendo a lealdade doseu antigo exército do qual já se havia despedido Enquanto isso Luís XVIII ia em direção a novo exílio  acompanhado pelos monarquistas mais fieis.

Porem a Guarda Nacional, composta em grande parte de cbefes de familia, naõ podia fornecer sufficiente numero de voluntários, que desse alguma esperança de resistência: e o Conde Dessoies que commandava a Guarda, explicou-se neste respeito por maneira, que excluía toda idea de se fazer mais do que, misturar os cidadãos com as tropas de linha, em modo tal, que se pudesse esperar conter estes era seo dever. Todo outro plano de defeza era impracticavel. Desta sorte estava o Governo reduzido a olhar como principal meio de resistência, tropas, cuja fidelidade, mais do que duvidosa, havia de ser confirmada somente por um pequeno numero de corajosos e fieis voluntários, e quem se havia de unir a cavallaria da Casa do Rey.
No dia 17, uma noticia desastrosa tornou ainda menos certa a conta que se fazia com estes preparos. O Marechal Ney, que se pensava que ia no perseguimento dos rebeldes, havia-se unido a elles, e havia publicado uma proclamaçaõ, calculada para promover ainda mais a revolta. Estas noticias espalharam o terror pelos departamentos mais próximos á capital. A cidade de Sens, que se esperava que demorasse o progresso de Napoleaõ, declarou-se incapaz de fazer resistência alguma. O inimigo estava a ponto de chegar a Fontainbleau, e as tropas em Paris, com quem se tinham esgotado todos os meios de excitar o seu patriotismo, permaneciam caladas, ou deixavam conhecer o desejo, que tinham, de abandonar suas bandeiras.
Fig. 10 – O Marechal Ney aderira ao governo de Luís XVIII da França comandava o exército em Besançon. Visitou o rei e lhe jurou fidelidade. Porém foi surpreendido pelos colegas de armas e se juntou a eles para receber e entronar o seu antigo Imperador. Mais do que isto dirigiu uma proclamação impressa a favor e exaltando Napoleão L Porém muito mais do que uma mensagem pessoal tinha o pesso das opiniões do exército e de uma expressiva população que não viam com bons olhos o que estava acontendo sob o regime recém-instalado de Luís XVIII, de retorno ao trono mas sem exercer as funções seu cargo entregues aos monarquistas.

Apenas haviam ellas commeçado a marchar para o logar de reunião, que lhes fora assignado, logo aquellas más disposiçoens degeneraram em manifesta sediçaõ. Na manhã do dia 19, soube-se que naõ havia, nas vizinhanças de Paris, um so regimento que naõ estivesse inficionado com esta contagiosa deslealdade, e o único partido, que ficava ao Rey, era retirar-se com as tropas de sua casa, o único corpo em que já entaõ podia fiar-se. S. M., que tinba enviado o Duque de Bourbon para os Departamentos Occidentaes, e transmittido ao Duque de Angouleme os poderes necessários para armar as Províncias do Sul, julgou acertado ir elle preferivelmente para os Departamentos do Norte, e fazer por preservar as fortalezas naquela parte, e fazer servir estas praças-fortes de ponto de apoio, para alguns ajunctamentos de fieis vassallos, que pudessem formar-se ali. O Rey sahio de Paris no dia 19, pela meia noite, e foi seguido uma hora depois pelas tropas de sua casa, conduzidas por Monsieur, e pelo Duque de Berry.
No dia 20, pelas cinco da manhaã, chegou o Rey a Abbeville, aonde se demorou o dia seguinte, á espera das tropas de sua casa ; porem o Marechal Macdonald, que foi ter com o Rey no dia 21, pelo meio dia, provou-lhe a necessidade que havia de ir para mais longe, e em consequência do que elle lhe disse, resolveo S. M. fechar-se em Lille, c mandou ordem ás tropas de sua casa para que marchassem para lá pela estrada de Amiens.
No dia 29 pela uma hora da tarde, entrou o Rey em Lille precedido pelo Duque de Tarentum, e foi ali recebido pelos habitantes com grandíssimas demonstraçoens de affecto e lealdade. O Duque de Orleans, e o Duque de Treviso, tinham chegado a Lille antes do Rey, este, porem, julgou acertado tornar a chamar a guarniçaõ. Esta ultima circumstancia, de que o Rey naõ fora sabedor, fez desconcertar o plano de resistência, que se havia adoptado. A naÕ se chamarem aquellas tropas para dentro, as guardas nacionaes, e as tropas da casa, ajudadas pelo patriotismo do povo de Lille, puderam ter assegurado para o Rey aquelle ultimo asylo no território Francez. Com uma guarniçaõ numerosa e indisposta, pareceo este projecto mui difficultoso de executar. Com tudo, S. M. persistio em fazer a experiência. Sua presença havia já levantado o enthusiasmo do povo ao seu mais alto grão.
Fig. 11 – A caricatura representa  Napoleão retirando e substituindo Luís XVIII da França no meio de jogo e de troca de cartas com os seus pares imperadores ao modelo do que estava acontecendo no Congresso em Viena. Luís XVIII  retornar ao trono, ao cargo e coroa depois dos 100 dias mas sem exerceu  as funções á maneira do seus antepassados

Uma multidão cheia de zelo acompanhava-o a cada passo, fazendo quanto era possivel porinteressar os soldados, e repetindo constantemente a agradável acclamaçaõ de Viva o Rey ! Porem as tropas, reservadas e frias, mantinham um sombrio silencio, terrível presagio de sua próxima rebelião. Em fim, o Marechal Morlier declarou ao Rey, que naõ podia responder pela guarniçaõ. Sendo perguntado a final, que expediente seria possível adoptar, também declarou, que naõ estava em seu poder fazer sahir as tropas da fortaleza.
No meio tempo chegou a Lille a declaração promulgada em Vienna no dia 13 de Março, em nome de todas as Potências Europeas junctas cm Congresso. O Rey fêlla distribuir e aíhxar immediatamente, desejando, mas em vaõ, fazer conhecer ás tropas as terríveis consequências, que haviam de seguir-se a sua traição, e os inevitáveis infortúnios, que ella traria á sua pátria.
No dia 23 soube S. M. que o Duque de Bassano, nomeado Ministro do Interior, mandara ordens ao Prefeito de Lille em nome de Buonaparte. No mesmo dia, o. Marechal Mortier expoz ao Ministro da Casa do Rey, que, em consequência da noticiado Duque de Berry estar para chegar com as tropas da Casa, e com dous regimentos Suissos, toda a guarniçaõ eslava para rebelar-se; que conjurava o Rey para que sahisse da praça, em ordem a evitar a maior das desgraças; que indo elle mesmo escoltar S. M. até as portas da cidade, ainda esperava, que as tropas contivessem o respeito, porem que se a partida se demorasse mais um momento, entaõ já naõ seria possivel.
O Rey julgou entaõ necessário mandar ir as tropas de sua casa para Dunkirk; porem a ordem desgraçadamente naõ lhes foi entregue. Quanto a elle, como naõ podia ir em direitura para aquella cidade, partio para Ostend.  S. M. sahio de Lille ás tres horas, acompanhado pelo Marechal Mortier, e seguido pelo Duque de Orleans. Quando chegaram ao fim da esplanada, o Duque de Treviso assentou, que devia voltar para traz, para prevenir a desordem, que era provável que se excitasse na guarniçaõ, durante sua ausência. O Duque de Orleans voltou também com elle para a fortaleza, e naõ a deixou senaõ algumas horas depois. O Marechal Macdonald naõ se separou do Rey até chegarem ás portas de Mening; e até o ultimo momento, elle e o Duque de Treviso, deram a S.M. consoladoras provas, de que a sanctidade dos juramentos, e a fé dos homens de honra naõ saõ desprezadas por todos os corajosos soldados, de que se gloria o exercito Francez. Um piquelte das Guardas Nacionaes de Lille, e um destacamento de Courasseiros Reaes e Caçadores, seguiram S. M. até as fronteiras. Alguns destes últimos, assim como vários officiaes naÕ queriam abandonallo, e acompanharam-o até a demarcação do Belgio. O Rey checou a Ostendc com tençaõ de proseguir para Dunkirk, quando aquella terra fosse occupada pelas tropas da casa.
Fig. 12 – -Charles Maurice de TALLEYRAND-PERIGORD, o ministro do exterior de Napoleão, foi percebido como alguém que fez jogo duplo ou triplo  dado vivas ao imperador  Napoleão, depois a Luís XVIII da França sem esquecer do seu papel entre os demais potentados europeus de sua época. O arista deste retrato captou a frieza do seu olhar frontal a alma de alguém capaz de se mover entre as mais diversas contradições e tempestades de toda ordem

No meio tempo aquella infeliz* tropa, a que se havia arande numero de voluntários de todas as ajunetado uniidades e condiçoens, seguia o mesmo caminho que o Rey levara para Lille. Monsieur, e o Duque de Berry, sempre á frente, e sempre tendo quinhão nas fadigas deste esforçado bando escolhido, teve occasiaõ de admirar a heróica firmeza das tropas que o compunham. Moços, que pela primeira vez carregavam seus braços com uma arma, homens idosos fazendo marchas forçadas a pé, por estradas, que grossas e continuas chuvas haviam tornado quasi impassaveis, tinham.se associado com estas fieis tropas, e nunca desanimaram com as privaçoens que soffêram, nem com a incerteza inda mais penosa de uma marcha, que dependia toda de avisos, que, pela rebelião das guarniçoens vizinhas, pudera vir a ser mui desastrada.
A columna, na falta de ordens, que o Rey naÕ tinha podido transmittir-lhe. e sendo informada de que o Rey tinha sahido de Lille, proseguio em direitura para a fronteira ; porem naõ podendo desfilar com promptidaõ suficiente para accompanhar em um corpo, o Marechal Marmont, que commandava debaixo das ordens do Principe, com zelo e actividade dignos de melhor ventura, tendo dado em um atoleiro donde os cavallos custaram muito a tirar, uma parte desta gente infeliz foi obrigada a ficar a traz; e Monsieur, temendo que a sua fidelidade lhes fizesse encontrar perigos inúteis, deo-lhes autoridade para se retirarem. Porem sendo pouco depois surprendidos, em Bethune, por ordens de Paris, naõ tiveram tempo todos para se dispersar, e Monsieur só pôde esperar ajunctar alguns á roda de si, uns após outros, e aquelles que elle puder ajunctar sobre as fronteiras, aonde fica para esse fim.
Foi no dia 25, pelas oito da tarde, que o Rey soube da chegada de Monsieur a Ypres, e que a noticia da sorte que tiveram as tropas de sua casa, veio augmentar o pezo das afllicçoens que tinha a supportar.
No meio destes desastres S. M. recebeo luzidas provas de fidelidade ; porem estas, em certo modo, servem ainda de agravar a sua pena. Teve de deixar um povo bom e amável preza de todos os excessos de uma soldadesca mal encaminhada—ba entre elles creados valentes e zelosos, que naõ pode ajunctar a roda de si—chefes da maior distinção patentearam rasgos de inabalada constância, e aos quaes naÕ pode offerecer outra recompensa mais do que a estima e louvor, que a França c a posteridade lhes tributarão algum dia.
Entre as lembranças mui profundamente gravadas no coração do Rey para que já mais possam ser apagadas, entre os honrados sentimentos, de que recebeo mais sensíveis provas, põem em primeira ordem, as que provêm do comportamento do Marechal Mortier.
Fig. 13 – A restauração dos BOURBONS na França com Luís XVIII da França representa a reação monarquista. Luís XVIII foi representado, em 1819,  como o salvador da França e o “DESEJADO” .  Evidente não se diz ou escreve QUEM o “DESEJAVA”.  .O retorno dos derrotados pela Revolução Francesa e pelo regime napoleônico  Luís XVIII, ao retornar ao trono depois dos 100 dias exerceu seu cargo sem as funções

Depois da chegada de S. M. a Ostend, soube do Duque de Orleans, que chegara ao Marechal uma ordem para o prender e a todos os Principes. Um official do estadomaior, portador de um officio do Marechal Davoust, contendo a mesma ordem, chegou depois a Lille. O Rey havia entaõ sahido da praça, e o Duque de Treviso, arranjou as coizas por maneira, que nada transpirou sobre aquelle objecto, até a partida do Duque de Orleans.
Esta suecincta relação das coizas principaes, que occurrêram no curto e desastrado periodo, cuja pintura acaba de ser traçada, pode dar uma idea das repentinas e inumeráveis difficuldades, de que o Rey se vio rodeado. Nunca acontecimento mudou a face de uma grande monarchia mais inesperada e rapidamente: porem nunca se vio também maior opposiçaõ entre o espirito dos soldados, e dos cidadãos, paralysar mais completamente o patriotismo enfraquecer a authoridade, e revestir de um terror maciço o homem, que apparecendo quasi só no território Francez teve, dentro de dous dias, á sua disposição, uma forca numerosa armada contra o povo sem defeza.
Para concluirmos; a rebelião simultânea e geral do exercito naõ foi, como se tem pertendido, fundada em algum motivo capaz de o unir, por tempo mui considerável, á sorte do homem, que ha reassumido sobre elle tam fatal ascendência. O compacto tácito, que elle tem feito com o exercito, bem depressa será quebrado, pelos revezes que o esperam. Naõ he Buonaparte proscripto, rejeitado e a ponto de ser esmagado pela indignação da Europa, quem esta crédula soldadesca deseja seguir. Voltam os olhos para o destruidor do mundo, que vem prompto a entregar-lhes os despojos. Porem dissipada a illusaõ, cedo verá Buonaparte a sua força adventicia. O Rey esperava por aquelle periodo de reflexão, que se segue á embriaguez de um grande erro—espera por elle com uma impaciência, correspondente ao feliz resultado, que ele anticipa.

Estes textos e narrativas não pararam em se sofisticar com o correr do tempo. Uma prova desta falácia mental e física é mostrada pelo  poder de sedução sobre massas acostumadas  tantos no meio do o Ancien Regime como na atualidade. Na atualidade apenas  aumentar em número. Multiplicara-se ao aproveitaram o acumulado das experiências do marketing político. Em abril de 2015 textos e narrativas estão presentes na edições e veiculações dos meios de comunicação eletrônica e nas redes sociais acrescidas de imagens sedutoras ou horrendas .  
Fig. 14 – Luís XVIII da França ostentou uma elaborada e emblemática heráldica ao gosto dos sonhos românticos em voga neste tempo. Porém esta mitificação romântica associada ao cultivo do EGO singular e onipotente não correspondia a lógica industrial e as novas formas sociais, políticas e econômicas de uma Europa em convulsões e espasmos delirantes das novas máquinas e da sua produção e circulação de valores e poder. Em contrapartida essa heráldica possui a dar marketing e era usada em produtos industriais. No consumo o povo  era seduzido a sentir-se como rei.

Dom João VI se viu na contingência de jurar um contrato constitucional enquanto estava refugiado no Brasil. Preservou o seu cargo, sua coroa e o seu trono. Porém suas funções mudaram radicalmente na medida em que determinadas e estabelecidas pelo contrato público da constituição. Em geral grandes e profundas mudanças são pouco sentidas.
De outra parte Napoleão - como todos aqueles que confiaram o seu destino as baionetas   teve do ouvir de seu próprio ministro Talleyrand que
“diz ao Imperador que; "Com as baionetas pode-se fazer tudo, menos sentar-se sobre elas" referindo-se que nenhum regime sustenta-se só pela força, acrescenta que o poder é menos uma questão de punhos e mais uma questão de nádegas[1].
Passada a euforia sanguinário do regime militar comandado por Napoleão, o envelhecido e desgastado Luís XVIII voltou ao trono francês no qual permaneceu até a sua morte. Porém deste tempo de indefinições brotaram as sementes que preparam as Revoluções de Paris dos anos de 1830 e de 1848.
FRANÇA constituição de 22.08. 1795 Deveres do Homem e do Cidadão
Fig. 15 – A França sacudida pela sua Grande Revolução, o apelo tempestuosos dia de Napoleão Bonaparte e pelo encurralado Luís XVIII legou ao mundo as tábuas de um contrato e de pacto de Nação. Na essência a era industrial se atravessou no seu caminho e vinha questionar a criatura humana e seus hábitos de misturar o seu EGO com o Estado, as fábricas e as instituições. Este EU sentiu na carne, na sua  vontade e na sua inteligência esta ruptura. Na Arte protestou, gemeu e produziu obras que contestam esta dura verdade. O Romantismo expressou esta mudança e materializou esta perda irredutível na Literatura, na Música, na Pintura e na Arquitetura. A criatura humana voltou a senhar como dono de castelos, construindo catedrais

A distância do Brasil centro da tormenta favoreceu uma passagem temperada pelo tempo e um povo que esteve pouco envolvido com as intrigas de cortesões.
O Brasil  recolheu, em 1816, os artistas náufragos do Regime Napoleônico enquanto o imperador estava cumprindo a sua pena numa ilha solitária do Atlântico Sul. Dom Pedro I irá o título de Imperador e não o de Rei como seu pai. Os prédios públicos imperiais brasileiros irão adotar a severa tendência da tipologia neoclássica da Missão Artística Francesa.
Claude_Nicolas_Ledoux_saline_royale_dArc-et-Senans
Fig. 16 –  A França estava envolvida profundamente na lógica da Era Industrial a partir das teses do Iluminismo e da lições da Enciclopédias Francesa.  As narrativas históricas buscam colocar para o primeiro plano os barulhentos episódios políticos e militares deixando de lado os silenciosos movimentes econômicos, técnicos e científicos que subjazem as gritos e aos tumultos revolucionários de superfície.   O arquiteto LEDOUX colocou no papel e na prática a criação (1775-1779)  de prédios industriais e residenciais da  salina real em Arc-et-Senans Doubsno meio da campanha francesa. Neste ambiente  o operário tinha seu quintal onde poderia fazer a transição entre a era agrícola e industrial. Podia sentir-se, ao mesmo tempo, no ambiente urbano e a mesmo tempo manter os se hábitos rurais. Com o seu trabalho dignificado, com a sua voz respeitada podia dispensar politicamente o trono e a coroa de um EGO real ou imperial.
Neste sentido a Missão Artística Francesa era formada por mais técnicos e artesões do que artistas de atelier e de salão. Se estes artesões e técnicos pouco puderam realizar deve-se ao atraso industrial brasileiro. Indústria que fora inteiramente banida do Brasil pelo infeliz alvará da Rainha Dona Maria I de 1785[1]. O lusitano  como inglês criavam outra forma de dependência colonial. Geravam um mercado cativo perpétuo e com dívidas perpétuas. Ao mesmo tempo  esvaziavam qualquer possibilidade a que o Brasil tivesse alguma voz e vez no cenário mundial dominado pelas economias hegemônicas.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS.
Abril de 1815
CORREIO BRAZILIENSE de abril de 1815

LEDOUX, Claude Nicolas (1736-1806):

Arquiteto francês visionário da 1ª era industrial

LUÍS XVI da França ou Luís Capeto

LUÍS XVII da França

LUÍS XVIII da França

NAPOLEÃO sai de ELBA

O TELÉGRAFO ÒTICO de CLAUDE CHAPPE

Os 100 dias de Napoleão

PROCLAMAÇÂO de NEY - Março de 1815

REAÇÂO à AÇÂO do IMPERIALISMO em abril de 2015

TALLEYRAND-PERIGOR  Charles Maurice de (1754-1838)



[1] Alvará de Dona Maria  I de 1785 que proíbe a indústria no Brasil:

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Referências para Círio SIMON







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