Em JUNHO
de 1817 o GOVERNO foi enfraquecido pelos ABUSOS para enfrentar a REVOLUÇÃO em
PERNAMBUCO e manter MONTEVIDEU como o é, em 2017, para se MANTER em PÉ.
“O Governador se achou, pela série de abusos, que sempre trazem os governos
ao desprezo, sem ter nem forças físicas nem morais, com que fizesse obedecer á
sua autoridade.
” Correio Braziliense
junho 1817p.673.
Fig. 01 – O regime colonial jogou a pesada máquina
militar sobre a capitania de Pernambuco
fazendo sentir toda a dominação
monocrática lusitana. Maquina
militar desproporcional comparada ao poder civil. Este poder civil evidentemente excluía
liminarmente toda a população escrava
A Revolução de 1817 - que eclodiu e foi
abafada em 1817 no Recife - é mais um
forte e decisivo índice de que a conquista da soberania brasileira NÃO foi
realizada, em 1822, NO GRITO do IPIRANGA
e nem foi algo territorialmente pontual ou veio de um único sujeito num dado
momento. Este momento, se o houve, foi longamente preparado e a sua
sustentação, no TEMPO, foi paga por alto preço, por uma mobilização massiva e uma atenção continuada em relação às recaídas no COLONIALISMO
Fig. 02 – A treinada máquina militar não demorou em
reconduzir a capitania de Pernambuco ao regime colonial e esmagar os idealistas
em sacudir o jugo da a dominação monocrática
lusitana. Capitania militar que excluía liminarmente tanto a rala e
frágil população civil não alinhada com o sistema de exploração. Neste sistema
de exploração os escravos eram meras “PEÇAS PRODUTIVAS” no lugar das máquinas e
da indústria proibida no Brasil pelo Alvará se Dona Maria de 05 de janeiro de
1785
Numa colônia de longa tradição de dominação
militar e de altos investimentos em rosários de fortalezas e dispondo de uma
máquina administrativa nas mãos militares e sendo mantido e subsidiado por uma
elite econômica com respaldo de equipamentos e funcionalismo também de formação
e obediência militar. A DENOMINAÇÃO de “CAPITANIAS”[1]
denunciava a origem e o sentido desta máquina administrativa confiadas a
militares de carreira.
CORBINIANO LINS
- Mural das REVOLUÇÕES de 1817-1824- 1848 RECIFE 1967
Fig. 03– A obra mural do, ano de 1967, da autoria de
José CORBINIANO LINS evoca a memória é de um ciclo de movimentos heroicos de
afirmação do PODER ORIGINÀRIO BRASILEIRO. Esta obra evidentemente não é
fotográfica e nem personaliza indivíduos como acontece na obra “O GRITO do
IPIRANGA” do pintor Pedro AMÉRICO. No entanto o mural de CORBINIANO LINS exalta
o PODER ORIGINÀRIO que tornou possível a proclamação, a construção e a
manutenção da SOBERANIA BRASILEIRA, até os dias atuais.
CORREIO BRAZILIENSE –junho de 1817 VOL. XVIIL Nº. 109, pp.672-
680.
Reflexoens sobre as novidades deste mez.
REYNO
UNIDO DE PORTUGAL BRAZIL E ALGARVES.
Revolução
de Pernambuco.
A
anxiedade, que sentimos, ao momento em que publicamos o nosso N°. passado,
tendo acabado de receber as noticias vagas e indeterminadas, sobre o
levantamento de Pernambuco; se tem em grande parte diminuído; por termos podido
de algum modo aves riguar a extençaõ do mal; com os numerosos documentos, que
nos chegaram á maõ, depois da nossa ultima publicação. E sabemos que a
insurreição se limita a Pernambuco, Paraiba, e Rio Grande do Norte.
Fig. 04 – A bucólica paisagem nordestina da capitania
de Pernambuco escondia horrores sem fim.
O poder civil excluía
liminarmente toda a população escrava. Assim qualquer PODER ORIGINÀRIO
brasileiro era uma ficção e apenas
passava por algumas mentes iluminadas e nas horas em que mais pesava o jugo
monocrático colonial e monocrático
Este successo em Pernambuco, he de muito maior
importância em suas conseqüências, do que na sua actual extençaõ; e por isso
julgamos mui conveniente publicar juncto tudo quanto tem transpirado a este
respeito; porque assim daremos a nossos Leitores os meios de fazerem o seu
juizo sobre os acontecimentos, e sobre suas causas. Em duas cartas qae se
publicaram nas gazetas lnglezas, assignadas—" Um Braziliano estabelecido
em Londres"—se insiste muito em que naõ ha no Brazil causas de
descontentamento Nós deixamos copiada neste No a p. 646 uma destas cartas; e ao
diante faltaremos delia; mas aqui diremos, contra a opinião daquelle escriptor;
que lia em todo o Brazil muita causa para descontentamento; e que se o Governo
naõ attender a isso com um remédio radical, quer subjugue quer naõ a presente
insurrecçaõ em Pernambuco, continuará a ficar na bordado precipício. Isto saõ
verdades amargas, mas naõ he com lisonjas que se induzem os Governos a obrar
com acerto. A p 659 damos uma narrativa dos suecessos de Pernambuco, escripta
por um sugeito, que de Ia chegou; e naõ só pelo que elle ali escreve, mas por
suas declaraçoens verbaes, sabemos, que he decidido inimigo do Governo
Provisório, estabelecido pelos insurgentes, e a demais entretem principios
diametralmente opposlos aos da revolução. Naõ podemos pois, vistas estas consideraçoens,
deixar de dar credito ás asserçoens desta testemunha occular, quando descreve a
administração em Pernambuco tam cheia de abusos, que até os olhos menos
previdentes conheciam, que a machina do Governo estava caindo a pedaços por si
mesma. Em um ponto certamente naõ concordamos com aquelle escriptor, e vem a
ser, que elle attribue a desorganização, que observava em Pernambuco, á pessoa
do Governador, quando nós mui decididamente a imputamos ao systema.
Luís do REGO BARRETO 1777-1840
Fig. 05 – O general Luís do REGO BARRETO – o mais
odiado dos governantes de Pernambuco - teve o seu retrato graças à abertura estética
trazida pela Missão Artística Francesa ao Brasil.. O general e o nobre
REGO BARRETO conduziu uma administração dúbia e eclética que se compunha com a máquina militar e civis. Assim
conseguiu desagradar a uns e outros.
E a
prova disto a achamos, no que succede em todas as mais capitanias, e com todos
os mais Governadores, como se pode ver, pelas noticias, que temos de tempos a
tempos publicado era nosso Periódico, e, por exemplo, no que tem suecedido no
Marahaõ, sob o governo de muitos e diversos Governadores. Desejamos porém aqui
explicar-nos claramente, que esses abusos nunca podiam justificar uma rebelião;
mas dizemos, que saõ provocação mais que bastante. E, pela experiência que a
historia nos ensina, he claro ser da natureza humana, que, quando em uma naçaõ
faltam os meios constitucionaes de poderem os povos representar as suas queixas
ao Imperante, sempre appéliam, com direito ou sem elle, para os meios da força:
e por fim se vê o Governo obrigado a declarar guerra contra seus subditos, d'
onde se seguem todas as misérias e desgraças, concomitantes das guerras civis.
Fig. 06 – A extensa capitania de Pernambuco perdeu territórios imensos em consequência da
REVOLUÇÂO de 1817. A máquina militar destroçou o poder civil e eventuais
recursos para reerguer qualquer vestígio de PODER ORIGINÀRIO. Este PODER ORIGINÀRIO que excluía toda a população
escrava era, de fato, uma máquina de apropriação e exploração do TRABALHO e do
ESFORÇO ALHEIO como da empetecada liteira, carregada nos ombros escravos
Por
todas as noticias, que temos, parece, que estas foram as causas remotas da
insurreição de Pernambuco ; e a causa próxima foi um rumor, que se levantou,
sem o menor fundamento, de que havia entre os habitantes daquella cidade certa
rivalidade e ódio dos Portuguezes Europeos, com os Portuguezes Brazilianos O
Governador, em vez de acalmar tam mal fundada suspeita, e sem que tivesse
acontecido um só facto, pelo qual se mostrasse existência de tal rivalidade,
entre as duas classes de Portuguezes publicou a injudicionissima Ordem-do-dia,
que copiamos a p 600; na qual admitte a existência dessa rivalidade e ódio;
creou com isto o fundamento para sustos, que naõ existiam ; e vendo que se
ateava o incêndio, determinou no dia seguinte usar de meios de rigor, mandando
prender grande numero de pessoas, que lhe eram suspeitas. O exemplo e
experiência das prizoens arbitrarias, taes como a Septembrizada de Lisboa,
cujas victimas ainda hoje padecem, sem recurso, nem remédio, induzio
naturalmente os Pernambucanos á resistência aberta; e o Governador se achou,
pela série de abusos, que sempre trazem os governos ao desprezo, sem ter nem
forças phisicas nem moraes, com que fizesse obedecer á sua authoridade. Neste
indefezo estado se acolheo a uma fortaleza, aonde naõ tinha meios alguns de
resistir. Os insurgentes lhe intimaram que se rendesse, apresentando-lhe as
condiçoens em um ultimatum, que publicamos a p. 601; e que elle aceitou,
fazendo o assento, em conselho de guerra, com os poucos officiaes que o
seguiram, que deixamos copiado a p. 603.
Caetano PINTO de MIRANDA MONTENEGRO (1748-1827) https://pt.wikipedia.org/wiki/Caetano_Pinto_de_Miranda_Montenegro
+ https://www.ebiografia.com/caetano_pinto_de_miranda_montenegro/
+ http://desciclopedia.org/wiki/Caetano_Pinto_de_Miranda_Montenegro
Fig. 07 – A administração da capitania de Pernambuco
foi personalizada por Caetano PINTO de MIRANDA MONTENEGRO. Interessado em manter o
seu cargo pouco fazia para cumprir as funções. Confiante na estrutura
monocrática real do estado colonial a sua administração de Pernambuco (1814-1817)
esteve distante do seu tempo, do seu lugar e da sociedade nordestina, como
registra o texto do Correio Braziliense de junho de 1817..
Ficou
assim Pernambuco em perfeito estado de anarchia; e por fortuna os insurgentes
nomearam um Governo Provizorio, que sendo obedecido sem resistência, evitou os
maiores males, que se deviam temer de tal estado das cousas. O acto por que tal
Governo se nomeou, vai copiado a p. 603; e o modo por que está lavrado mostra,
que foi obra do momento. Uma vez, que as revoluçoens começam pelo povo, a
tendência he sempre para a forma de Governo Republicano; por mais imprópria que
esta seja; por isso que as apparencias de democracia saõ as que mais lisongêam
os indivíduos das classes mais numerosas. Assim os insurgentes, em vez de
seguirem o conselho de um de seus mesmos membros, que propunha mandar uma
Deputaçaõ ao Soberano, resolveram logo declarar-se em Estado independente;
publicaram o manifesto (á p. 604.) aonde em vez de argumentos só usaram de
invectivas directas contra a pessoa do mesmo Soberano: decretaram (pelo
documento a p. 610.) o tractamento geral de-Vós— ; como prova de seu espirito
republicano; e começaram a tomar as muitas medidas, que se vem dos papeis que
publicamos de p. 607, em diante; pelas quaes se dispuzéram a manter com a força
a sua independência.
ANTÔNIO GONÇALVES da CRUZ -O CABUGÀ http://www.revista.ufpe.br/revistaclio/index.php/revista/article/viewFile/587/436
http://www.unicap.br/coloquiodehistoria/wp-content/uploads/2013/11/5Col-p.191-200.pdf
+ http://www.onordeste.com/portal/cruz-cabuga-antonio-goncalves-da-cruz/ + https://www.ebiografia.com/antonio_goncalves_de_cruz_cabuga/
Fig. 08 – O retrato individual era inteiramente
proibido no regime colonial lusitano brasileiro. A imagem personalizada e individual
era privilégio de reis e de bispos e as imagens da terra estavam proibidas como
propriedades secretas da coroa lusitana. Assim
imagem de ANTÔNIO GONÇALVES
da CRUZ - O CABUGÀ foi recomposto a partir de narrativas comparações e ambientações nas
quais viveu este personagem. Ambientações tiveram de recorrer aos pintores
holandeses que não tinham este tabu do retrato e da paisagem
Nomearam,
em conseqüência, um Agente Diplomático, que partio logo a tractar com o Governo
dos Estados Unidos. Este Agente, cujo nome he Antonio Gonçalvez da Cruz[1],
chegou a Boston em um navio, com bandeira do Governo insurgente; e logo saíram
dali vasos de negociantes especuladores, que levaram a Pernambuco mantimentos e
muniçoens de guerra.
Fig. 09 – A resistência de Recife - e da capitania de Pernambuco - não esmoreceu
com derrota de 1817 imposta pela pesada
máquina militar do regime colonial e pelo peso da dominação monocrática lusitana. Esta dominação continuou
transvestida pelo regime imperial. As mesmas figuras e elites continuavam o
processo de dominação. A população
escrava, o povo e aqueles que aspiravam juntar-se aos povos maias adiantados e
evoluídos econômica, técnica e socialmente
tiveram de retornar nos anos 1824 e 1848
a palco da revolta. Na imagem o cais deserto de Recife enquanto por ele
passam ao largo os primeiros vapores europeus e norte-americanos.
Ao
mesmo tempo expediram os Insurgentes outro Agente (cujo nome he Felix Jozé
Tavares de Lima) para Buenos-Ayres; a fim de tractar também com o Governo
Insurgente do Paraguay. No entanto que os Insurgentes mostravam a grande
actividade, que se vê dos numerosos decretos, que expediram, e que sempre se
observa em taes circumstancias; o Governador da Bahia publicou as tres
proclamaçoens, que copiamos a p. 618; e na verdade, se os Insurgentes de
Pernambuco mostraram falta de conhecimentos políticos, querendo ali estabelecer
de repente uma republica, o Governador da Bahia excedeo-os na in consideração
de snas proclamaçoens; pois ha muito tempo que naõ lemos tres documentos
públicos tam miseráveis. Basta reflectir, que aquelle Governador assevera, por
sua palavra de honra, que o Insurgente Martins he desprezado por todas as
naçoens da Europa e da America, o que naõ pôde deixar de provocar a rizo; pois
aquelle Governador assevera por sua palavra de honra, que um homem, que naõ éra
conhecido das naçoens, éra por ellas desprezado! A outra parte destas
proclamaçoens, em que o Conde dos Arcos declara, que naõ attenderá a negociação
alguma, sem assegurar a morte dos cabeças da insurreição, tem a nossa mais
decidida desapprovaçaõ; porque tal declaração só tende a induzir os Pernambucanos
á mais obstinada resistência; mui bem disse o Poeta. Una salus victis nullam
esperare salutem. A demais, ja no nosso Nº. passado expressamos a nossa
opinião, que o melhor methodo de curar taes males, he evitar o sangue; este he,
como disse um contemporâneo nosso, o mantimento e a nutrição das revoluçoens.
Além destas proclamaçoens, o Governador da Bahia fez outra cousa, muito mais
acertada, que foi armar em guerra dous navios mercantes, o Mercúrio e o
Carrasco, e mandállos bloquear Pernambuco ; porém diz o rumor (posto que a
verdade ainda se naõ saiba) que os taes navios naÕ levaram bastantes
mantimentos, e achando também levantadas as capitanias da Paraiba, e Rio-Grande
do Norte, voltaram outra vez para a Bahia, a refazer-se de mantimentos. O conde
dos Arcos mandou também marchar tropas por terra; que vám debaixo do commando
do Brigadeiro Joaquim de Mello, e se ajunctaraõ juncto ao Rio-de-S. Francisco;
porque Sergipe d' El Rey, que he a provincia limitrophe, mostrava disposiçoens
de se unir aos Insurgentes : e do Rio-deJaneiro sairam duas fragatas, para
também bloquearem Pernambuco; mas naõ trouxeram nem mantimentos, nem tropa : os
mantimentos haviam de ir tomállos á Bahia; e as tropas teriam de vir ao depois
em navios, que se estavam preparando.
Os
Governadores de Portugal também se dispuzèrano a mandar alguma força naval,
para bloquear Pernambuco, mas naõ sabemos se cora offeito partio; o certo he
que de Lisboa se mandou intimar ás Potências Estrangeiras, que Pernambuco ia a
por-se em estado de bloqueio: o que consta pelos documentos a p. 636.
Lady Maria DUNDA GRAHAM by Sir THOMAS LAWRENCE https://alchetron.com/Thomas-Lawrence-1104208-W
Lady Maria DUNDA GRAHAM by Sir THOMAS LAWRENCE https://alchetron.com/Thomas-Lawrence-1104208-W
Fig. 10 – A inglesa Lady Maria DUNDA GRAHAM esteve em
Recife na época da Revolução de
Pernambuco. Na sua passagem pelo Rio de Janeiro registrou a natureza tropical
exuberante. Porém nos seus desenhos está ausente a população e poder civil evidentemente toda a população
escrava.
Guerra
do Rio-da-Prata.
Enquanto eclodia em
Recife a Revolução de 1817 o governo do Rio de Janeiro estava as voltas com a
ocupação militar da banda Oriental do Rio da Prata a partir de Montevidéu..
Jean-Baptiste_Debret_-_Revista_das_tropas_destinadas_a_Montevidéu_na_Praia_Grande
Fig. 11 – As manobras da pesada máquina militar do regime colonial no
preparo para invadir o URUGUAI e TOMAR MONTEVIDÉU. Gastos que pesavam sobre a
capitania de Pernambuco e que, assim,
sentia todo o peso da dominação
monocrática lusitana. Nos primórdios
da ERA INDUSTRIAL nem Portugal e muito menos o Brasil tinham fábricas de armas
e equipamentos para municiar esta maquina militar desproporcional ao poder
civil da Nação. Isto ensejava aos produtores de armas, munições e equipamentos
militares exercer um poder de dominação que derivou para um desbragado
colonialismo praticado aos países industrializados até os meados do século XX
O
commentario á Nota das Potências Alliadas, que publicamos a p. 646; debaixo do
nome de " Carta de um Braziliano estabelecido em Londres," foi
dirigido ao Edictor da Gazeta Ingleza, chamada Times, e inserido naquelle
jornal, d' onde o trasladamos.
Outra
carta, debaixo da mesma assignatura, se havia ja publicado no mesmo jornal;
sobre a revolução de Pernambuco; mas porque naõ continha factos e somente
raciocínios, econjecturas, naõ julgamos necessário inserilla na nossa
collecçaõ. E comtudo tendo-se ella feito publica, em Portuguez, tomaremos a
liberdade de notar uma passagem, que nella se acha, entre as provas, que se
pretendem dar, de que no Brazil naõ existiam causas algumas de
descontentamento, que conduzissem á insurreição, ou rebelião, que arrebentou em
Pernambuco.
Diz,
ali, o Braziliano estabelecido em Londres, que tam longe está de que a Corte do
Rio-de-Janeiro tractasse com menos affeiçaõ os Brazilianos, que, pelo
contrario, ha muito tempo se observava no Governo certa predilecçaõ ao Brazil,
em preferencia de Portugal. Se aquelle escriptor soubera, quando tal declarou,
que os Governadores de Portugal estavam preparando, para dar ao Mundo, uma
prova da existência de desafíèiçaõ, naquelle paiz; patenteando a suppressaõ de
uma conjuração contra o Governo; talvez se naõ arriscaria a declarar, que se
observava na Corte predilecçaõ de preferencia ao Brazil, em menos cabo de
Portugal; porem o que está escripto ja naõ pôde recolher-se.
Mas passando á carta, que publicamos a p. 646; e que, de forma quasi
official, explica os passos, que se deram, a respeito da invasão de Monte
Video, muito sentimos achar ali a declaração de que aquella conquista fôra
feita de accordo com a Corte de Madrid, até o ponto em que o Governo Hespanhol
se arredou de seus ajustes; e que o fim daquella guerra éra oppôr-se aos
progressos da revolucçaõ da America Hespanhola. Sentimos achar similhante
declaração, em um papel demiofficíal; primeiramente pelo que nos diz respeito.
Nos tinhamos olhado sempre aquella invasão, meramente pela face de uma medida
de expediente, para cubrir as fronteiras do Brazil, contra as incursoens do
chefe Artigas; e sempre suppozemos que a Corte do Rio-de-Janeiro obrava neste
sentido. Agora porém temos a mortificaçaõ de nos vêr contradictos ; e de
sabermos, por modo tam authentico, que nos tínhamos redondamente enganado. Sentimos,
porém, ainda mais, o achar esta declaração; pelas conseqüências, que ella deve
ter, quando a Carta do Braziliano chegar a Buenos-Ayres e a Caracas; porque
rompendo ella o véo do mysterio, com que até agora se cubriam aquellas
operaçoens, he necessário esperar, que os Governos revolucionários de
Buenos-Ayres, de Caracas, e das mais colônias Hespanholas, que se tem declarado
independentes, olhem para a Corte do Rio de-Janeiro, como para um inimigo de
sua existência política, e naõ ja como um disputante sobre questoens de mais ou
de menos território
Gravura de Gilberto Bellini - ENTRADA do GENERAL LEBOR em
MONTEVIDEU
Fig. 12 – O
general LECOR e as tropas brasileiras entraram em Montevideo no dia 20
de janeiro de 1817. Sob o pretexto do protetorado as tropas brasileiras ficaram
encurraladas nas muralhas da cidade sem terem acesso ao interior e muito menos
estabelecer um efetivo PODER ORIGINÀRIO desta PROVÌNCIA CISPLATINA. Apesar
disto o PODER ORIGINÀRIO URUGUAIO se organizou, conseguiu lideres confiáveis e
conseguiu a sua efetiva soberania e reconhecimento internacional inclusive do
Brasil.
A
conrespondencia, entre o Director Supremo de Buenos Ayres, e o Commandante das
Tropas Portuguezas em Monte Video, mostra que, se naõ havia ja uma declaração
aberta de guerra, éra porque os de Buenos-Ayres ainda criam, que as
hostilidades da parte dos Portuguezes eram meramente locaes; mas quando Ia
chegar dedaraçaõ do Braziliano, asseverando que tal foi a substancia da Nota
appresentada, por ordem do Gabinete do Rio-de-Janeiro, ás Potências Alliadas,
he impossível que em Buenos-Ayres se naõ tomem medidas de natureza bem
differente da neutralidade, que até agora se tinha querido conservar: e se
nisto se unirem os Insurgentes de Caracas, e de outras partes, que tem mandado
corsários ao mar; naÕ sabemos como o Governo do Brazil esteja preparado para
encontrar as difficuftades, que devem resultar daquella declaração.
O Braziliano estabelecido em Londres tem razaõ, quando se queixa de que
a Corte do Rio-de-Janeiro naõ publicasse a tempo os seus manifestos, explicando
ao mundo os motivos da sua invasão ao território de Monte Video; porque com
isso teria evitado o pedirem-lhe as outras Potências essas declaraçoens; eser
obrigada a fazéllas em tempo tam desvantajosocomo o presente. Mas quando
aquelle escriptor tracta de bagatella a insurreição de Pernambuco, e quando
suppoem que, a pezar do íêlo das demais Potências, a Corte do Rio-de-Janeiro
pôde insistir em conservar a posse do território de Monte Video, pedimos
licença para differirmos inteiramente de sua opinião. Pelo jornal de
acontecimentos na Bahia, publicado nas gazetas Francezas, e que nôs deixamos
aicma copiado a p. 665; se vê qne o Governador da Bahia se naõ acha ali seguro;
e se com as prizoens, que tem feito, puder aterrar os descontentes, nem por
isso se poderá dizer que tem socegado os espíritos. He neste sentido, qua a
revolução de Pernambuco nunca se pôde considerar bagatella, ainda havendo
forças para a subjugar; visto que, neste ponto de vista, aquella revolução he
somente o symptoma de fermentação, que existe, a qual nunca se pode julgar
extincta, por que se tenham decapitado uma dúzia das pessoas mais conspicuas
nos seus tumultos. Porém, se naõ houveram mil outras razoens, para que a Corte
do Rio de-Janeiro naõ entrasse no projecto de se combinar com a Hespanha, para
extinguir uma revolução, que he ja inextinguivel; bastaya o comportamento do
imbecil Governo de Hespanha, a respeito da Corte do Rio-de-Janeiro, conforme o
decreve o Braziliano, para que nunca se intentasse entrar em ajustes alguns com
os Hespanhoes, para subjugar suas colônias. Quem diria, que o Governo de
Hespanha, depois de ter feito empenhar o Gabinete do Rio-de-Janeiro, em uma
expedição contra suas colônias, havia naõ somente recusar a cooperação de suas
tropas, como tinha ajuslado, mas até queixar-se ás Potências Estrangeiras de
haver seu Alliado começado a cumprir com o que promettéra? Parece, ao ver isto,
que governa em Hespanha o mesmo Godoy, que declarou a guerra a Portugal, pelo
motivo d' este o ter auxiliado no Roussilloa, contra os Francezes seus
inimigos. E com tudo tal he a politica fatal, em que o nosso Braziliano
confessa haver.se envolvido a Corte do Rio-de-Janeiro
Lady Maria DUNDA GRAHAM by Sir THOMAS LAWRENCE https://alchetron.com/Thomas-Lawrence-1104208-W
Fig. 13 – Outra vista d Rio de Janeiro da inglesa Lady
Maria DUNDA GRAHAM e realizada da época da Revolução de Pernambuco e da tomada
de Montevidéu pelas tropas luso-brasileiras. A presença desta britânica em
território brasileiro e o seu trânsito livre pelas suas seriam impossíveis sem
os tratados da abertura dos portos. Na prática os ingleses estavam se
apropriando das regalias ibéricas e que estavam perdendo no seu conflito coma
as suas TREZE COLÔNIAS rebeladas e com
as quais estavam em guerra declarada e efetiva.
O
escriptor daquella carta insiste em que o exercito Portuguez poderá continuar
na posse de Monte-Video; naõ obstante a confrariedade das Potências
estrangeiras; naõ obstante a resistência de Buenos-Ayres; e naõ obstante a
revolução de Pernambuco. Quando as ultimas noticias saíram do Rio-de-Janeiro,
naõ havia afi no Gabinete senaõ um Ministro de Estado; e permitta-nos o nosso
Braziliano, que lhe digamos, que as difficuldades apontadas, saõ bastantes para
dar que fazer a qualquer gabinete completo, e cheio de homens de actividade e
saber. As cartas do Rio-de-Janeiro, de 9 de Abril, diziam, que tinham dali
saido duas fragatas para o bloqueio de Pernambuco, e se estavam aprontando
tropas, que sairiam depois, para se unirem com as da Bahia, e procederem contra
Pernambuco. Porém aquellas fragatas em vez de irem a Pernambuco, fôram ter á
Bahia para metter mantimentos; porque os naõ tinham: ¿ Quem tem a culpa disto ?
O Ministro da Marinha: ¿e quem he o Ministro da Marinha? Naõ o ha! Os habitantes do Rio de-Janeiro
tinham mostrado grande lealdade de sentimentos, para com seu Soberano, quando
se soube a noticia da revolução em Pernambuco; e houveram particulares, que
fizeram oífertas, uns de suas pessoas, outros e seus bens. Mas se os homens
honrados estaõ promptos a desapprovar a rebelião, e decididos a prestar o seu
auxilio para a derribar; por isso mesmo que saõ honrados naõ podem approvar nem
os abuzos do Governo, que servem de provocação ás rebelioens, nem os erros de
politica, tal como a ingerência nas colônias Hespanholas, que compromettem o
Gabinete, e naõ podem senaõ servir de estorvo á prosperidade da naçaõ. A carta
do Braziliano insiste, em que a guerra do Rio-daPrata naõ éra impopular no
Brazil: nós assim o julgamos sempre, e como a suppunhamos útil, também de nossa
parte cuidámos em ajudar, no que em nós cabia, as mesmas ideas; porém o
Braziliano pôde estar certo de que a sua declaração ha de mudar estes
sentimentos no Brazil, assim como fez mudar a nossa opinião; porque muito
custará aos Brazilianos o convencerem-se, de que se devem sugeitar aos
inevitáveis incommodos, que a guerra traz com sigo, para o fim de ajudar a metter
outra vez as colônias Hespanholas, debaixo da dominação de S, M, Catholica, de
quem se naõ pôde es erar outro pago por taes serviços, senaõ o que se vê das
queixas que elle fez ás Potências Alliadas, nesta occasiaõ, e a guerra que
declarou contra Portugal, para favorecer a França, seu commum inimigo.
- Maria Teodora da COSTA e Dionísio José MARTINS na Revolução de 1817
http://blogs.diariodepernambuco.com.br/historiape/index.php/2016/07/11/domingos-jose-martins-o-noivo-da-revolucao/
Fig. 14 – O
capixaba Dionísio José MARTINS era representante
do comercio na junta governamental
criado pela REVOLUÇÃO de PERNAMBUCO de1817. Apaixonado por Maria Teodora
da Costa este amor teve de superar a barreira criada entre os nativos e a
hegemonia lusitana. Este namoro repetiu em Recife o eterno drama de Romeu e
Julieta. Maria Teodora era filha de um dos mais ricos comerciantes lusos de
Recife e traficante de escravos. O pai se opôs tenazmente à aproximação do
nativo da terra e para ele de segunda categoria.
A
rememoração dos gestos e concepções fundantes da soberania apoiada apenas no
episódio isolado e personalizado do GRITO do IPIRANGA de 07 de setembro de 1822
encobre, obscurece e desqualifica o imenso esforço, os trabalhos e os
sacrifícios do PODER ORIGINÁRIO BRASILEIRO. Episódios anteriores como a
Revolução que eclodiu em 1817 no recife
ou bem posteriores como a Revolução Farroupilha de 1835-45 jamais quiseram
dividir a Nação Brasileira. Apenas estavam tentando se livrar do jugo
estrangeiro e colocar os fundamentos coerentes com o PODER ORIGINÀRIO da NAÇÂO
BRASILEIRO e do seu governo minimamente preocupado com o BEM COLETIVO.
Fig. 15 – Um selo 1917 e que circulou no CENTENÀRIO de REVOLUÇÂO DE RECIFE está no
contexto do REGIME REPUBLICANO que esta Revolução apregoava e que o Brasil adotou
em 1889. Certamente a reescrita permanente das narrativas fundantes de uma
nação é uma das tarefas imprescindíveis para atingir um consenso, uma
identidade e que redunda num PACTO e um CONTRATO NACIONAL no qual todos se
reconhecem.
A
reescrita das narrativas se impõe na medida em que a ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL
avança com os seus novos meios materiais,
a sua lógica e a teleologia que lhe imanente. A História NÃO existe.
Existem as narrativas que expressam e buscam conferir forma aos fatos, aos
pensamentos e aos agentes que estão mergulhados na torrente do TEMPO, do seu
LUGAR e da sua SOCIEDADE.
Fig. 16– O evento passageiro da Revolução de Pernambuco de 1817 deitou
raízes e passou a integrar o imaginário do seu PODER ORIGINÁRIO. O preço,
pago pelo poder civil, foi alto e
desproporcional ao saque da sua economia pelo poder central colonial lusitano e
depois pelo imperial brasileiro. Certamente a liberdade conquistada com estes
árduos sacrifícios, teve e tem um sabor de vitória, de conhecimento de si mesmo
e de identidade própria e original.
“É tal a força da solidariedade das épocas que os laços da
inteligibilidade entre elas se tecem verdadeiramente nos dois sentidos. A
incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez
não seja mais útil esforçar-nos por compreender o passado se nada sabemos do
presente” .
É
NESTE PRESENTE que a ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL avança com os seus novos meios
materiais, a sua lógica e a teleologia
que lhe é imanente. As narrativas orais, escritas ou visuais se abastecem dos
signos de comunicação com esta teleologia, lógica e meios que rememoram os
agentes, os pensamentos e fatos conferindo-lhes formas legíveis e façam sentido NESTE PRESENTE.
[1] BLOCH, Marc (1886-1944) .
Introdução à História.[3ª ed] Conclusão de Lucian FEBVRE - .Lisboa :Europa-
América 1976 179 p.
Antônio PARREIRAS (1860-1937) “JOSE
PEREGRINO de CARVALHO JURA FIDELIDADE à REVOLUÇAO” Tela 1918 209 x 400
cm – Palácio da Redenção – JOÂO PESSOA PB
José PEREGRINO de CARVALHO jura
ao seu pai que não abandonará a
Revolução
Fig. 17 – A herança desta conquista da Revolução de
Pernambuco de 1817 passou de pai para filho. Pai e filho trataram de reproduzir e
consolidar conhecimento de si mesmos na busca de potencial vitória, e,
assim, estabelecer as novas bases
de identidade própria e original, A
escolha de um novo sistema estava feito. Faltava trabalhar com o firme objetivo
de implementar este paradigma e os seus corolários. O jovem JOSE PEREGRINO de
CARVALHO, foi preso e morto, aos 19 anos
de idade, e sua cabeça e mão exposta na Paraíba. No centenário da Revolução o
seu feito mereceu o reconhecimento e sua
imagem figura, deste esta data, no
Palácio da Redenção em João Pessoa
A REVOLUÇÂO de 2017 na PARAIBA
.
FONTES
NUMÉRICAS DIGITAIS
“CAPITANIAS” esta denominação durou até 28.02.1821,
portanto CAPITANIA de PERNAMBUCO.
CORREIO BRAZILIENSE JUNHO de 1817
REVOLUÇÂO 1817 PERNAMBUCO
A
embaixada nos ESTADOS UNIDOS de ANTÔNIO
GONÇALVES da CRUZ -O O “CABUGÀ”
Manuel de CARVALHO PAES de ANDRADE
Padre JOÂO RIBEIRO PESSOA de MELLO MONTENEGRO
(1756-1817) e a REVOLUÇÂO dos PADRES
Gervasio PIRES FERREIRA (1758-1838)
Lady Maria
DUNDA GRAHAM by Sir THOMAS LAWRENCE
General Luis do REGO BARRETO
Caetano PINTO
de MIRANDA MONTENEGRO (1748-1827)
REVOLUÇÂO de
1817
PERNAMBUCO e os
seus heróis
REVOLUÇÂO de
PERNAMBUCO 1817 - DATA SHOW
EXPOSIÇÂO
BIBLIOTECA NACIONAL
DOCUMENTOS
SOCIEDADE 1817
RECIFE
1817: NÃO 2017
EVENTOS
2017
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