sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

086 - NAO FOI no GRITO

Uma SEMENTE de LIBERDADE.


Os escritos iluminam tanto o povo como o governo”.
CORREIO BRAZILIENSE – DEZEMBRO de 1813

O Correio Braziliense lançava, em dezembro de 1813, mais uma semente de liberdade de imprensa a partir de Londres. Estava se somando aos profissionais da comunicação pública e livre semeavam novas ideias e projetos que deveriam investir com o objetivo de demolirem  o controle absoluto e total de qualquer informação habitual ao longo dos 300 anos de regime colonial brasileiro. Assim preparavam as condições da soberania da nação brasileira
Isaac CRUIKSHANK - CITIZENS

Fig. 01 – O contrato escrito, conhecido e aprovado por todos constitui uma das materializações de um pacto de uma nação vista  e percebida a partir da origem do seu próprio  poder Um pacto desta natureza revela a capacidades  desta nação em estabelecer as condicionantes nas  quais quer viver e se reproduzir. Apesar de a cultura inglesa desconfiar e até desqualificar o  processo a Constituição  norte-americana, ela é uma de maior fortunas desta nação e base de suas realizações coletivas.
 
Porém em 2013 rebrotam vigorosos tanto o hábito da servidão como os mecanismos do regime colonial renovado por outros meios de controle. No ano de 2013 vieram a tona Verdades inconvenientes e circularam nas redes mundiais de comunicações terríveis arrasadoras revelações. Para os tempos atuais estas revelações, a sua circulação em rede mundial - com e a reação simétrica das autoridades - são índices da renovação da servidão e do regime colonial.

CRUIKDHANK George - 1792-1878 - sociedade de antiquários 1812 - detalhe
Fig. 02 – A cultura inútil o acúmulo e a difusão pública de qualquer informação levam à alienação do tempo e lugar, senão ao ridículo, ao descrito e por fim são uma das causas ocultas das revoluções e comoções sociais. É a mesma alienação representada pelos vistosos quadros ostentando lepidópteros com um alfinete nas costas. Alienação útil para as castas ociosas e parasitas dos frutos do trabalho alheio.
Os profissionais de comunicação sempre orientaram as suas ideias e os seus projetos pelo hábito da autêntica integridade intelectual. Cultivam estas ideias e projetos apesar dos vexames a que eventualmente são submetidas por falsas autoridades e por colegas de profissão que não resistem aos cantos das sereias da servidão e do regime colonial. Mudaram apenas as ferramentas da primitiva imprensa industrial,  linear e cumulativa da primeira era industrial. Permanecem inalterados os valores básicos de civilização. Permanece a circulação do poder da palavra, da imagem e da sua recepção mesmo diante da coação ou da ameaça velada.

CARTAZ POLONÊS-  ROMAN Ciesiewicz - Cartaz para teatro – Polônia – 1975
Fig. 03 – A  GUERRA DAS IDÉIAS tem como objetivo o  assalto à massa cinzenta humana. A heteronomia da inteligência humana é o objetivo de todos os atravessadores, mediadores e tuteladores das massas humanas. Conseguem, em todos os tempos e lugares,  esta heteronomia controlando os escritos, calando as falas ou censurando imagens e sons. Este heteronomia também pode ser obtida tanto pela privação das informações como pela sua falsificação ou ruído provocado pelo seu acúmulo caótico.
A cobiça e o risco de sua corrupção ou falsificação crescem na media do montante do valor. Os assaltante e manipuladores destes valores cobiçam, falsificam e corrompem o poder pela filtragem e pelas versões que dizem o contrário daquilo que divulgam formalmente.

O CORREIO BRAZILIENSE, VOL. XI. Nº 67. dezembro de 1813 publicava no seção  Miscellanea”, páginas 924 e 925 as suas “Reflexoens sobre as novidades deste mez no BRAZIL”
No Rio-de-Janeiro se imprime um Jornal, cujo titulo he " O Patriota;" e com o do mez de Agosto vieram ter-nos á maõ algumas traducçoens impressas no Brazil; entre outras a Henriada de Voltaire.
O elogio ao concorrente é evidente neste texto como a generosidade e a atualidade do Correio Braziliense para o seu tempo. Mesmo para o nosso tempo ele antecipava Pierre Bourdieu para quem “o artista produz para o seu concorrente e juntos reforçam o campo de sua atuação”.  Juntos desafiam o risco da corrupção e da falsificação da comunicação. Desafiam a cobiça do poder, a sua manipulação e sua filtragem para usos escusos e obscenos. Este projeto civilizatório  do jornalismo e dos seus profissionais perpassa todo os tempos e lugares.

O jornal Correio Braziliense registrava também, na sua edição de dezembro de 1813, sensível mudança de mentalidade que se produzia no clima cultural da corte lusitana instalada no Rio de Janeiro.


Fig. 04 – A revista O PATRIOTA circulou no Rio de Janeiro entre 1813 e 1814. Apesar da  sua breve vida foi uma amostra do que era possível - técnica o conceitualmente -  com a presença da corte num pais de analfabetos e rescendendo aos profundos hábitos coloniais e com a maioria da população submetida à escravidão  legal. 

Ha dez annos, estando a Corte era Lisboa, que ninguém se atreveria a dar a um Jornal o nome de Patriota; e a Henriada de Voltaire entrava no numero dos livros que se naõ podiam ler sem correr o risco de passar por atheo, pelo menos por Jacobino. E temos agora que em taõ curto espaço ja se assenta, que o povo do Brazil pode lêr a Henriada de Voltaire • e pode ter um jornal com o titulo de Patriota, termo que estava proscripto, como um dos que tinham o cunho revolucionário.


Fig. 05 – A revolução Francesa foi precedida por uma imensa produção literária e que se cristalizou na Enciclopédia Francesa, entre tantas outras obras. Entre  estas estava Voltaire que,  ao usar a razão e as letras,  evidenciou a mitificação e ao mesmo tempo a sua naturalização do poder real. Em Portugal este escritor filósofo havia se valido do Terremoto de Lisboa em 01 de novembro de 1755 para mostrar a alienação resultante desta mitificação e depois aceita-la como natural. Estas ideias circularam por toda a Europa e são índices do que estava ocorrendo no subsolo social, político, econômico e técnico desta época.  A Revolução Francesa não decorreu certamente de suas ideias e dos enciclopedistas, mas foi a erupção visível das forças  represadas neste subsolo corrompido.

Por mais insignificante que pareça a circumstancia de se deixar correr um jornal com o nome de Patriota, ou permittir-se uma traducçaõ da Henriada; nos julgamos isto matéria de importância; porque he seguro indicio, de que o terror inspirado pela revolução Franceza, que fazia desattender a toda a proposiçaões de reformas, principia a ."-bater-se, é ja se naõ olha para as ideas de melhoramento das instituiçoens publicas, como tendentes á anarchia, em vez de servirem á firmeza do Governo.
Reformas tanto mais urgentes e maiores quanto maior o valor e o tamanho da cobiça. Nesta cobiça  dividem a sociedade em castas. Escondem privilégios que na falta de nexos multiplicam os riscos e tamanho da corrupção ou falsificação. O resultado destas falsificações cultivadas ao longo do tempo, o contágio leva para a metátese da corrupção e da cobiça do poder são as causas profundas dos terremotos sociais, econômicos e políticos. As revoluções, as rupturas e espasmos das guerras são apenas índices da profundas doenças sociais, econômicas e políticas.

MACCARI, Cesare (1840-1919) - Cesar denuncia Catalina  - pintura 1880

Fig. 06 – Quando Cesar denunciou Catalina a austera República Romana estava chegando ao seu final. As aspirações pessoais do astuto e cobiçoso Catalina expressavam um novo tempo. O Regime Republicano não dava mais conta destas aspirações pessoais que tencionavam assaltar e usar, em proveito próprio, o acúmulo do poder e da imensa máquina administrativa romana.  Este novo tempo exigia um Estado central forte, imperial e totalitário para dar conta  destas fortes tensões e cobiças pessoais e daquelas da sua classe de apoiadores. O mesmo quadro se desenha em 2013. Estados nacionais percebem que o seu PODER ORIGINÁRIO é atropelado, desqualificado, posto a serviço e na heteronomia de corporações, de partidos das mais diversas ideologias que exibem um pseudo líder e culpado de tudo.

Rarisssmas vezes as grandes mudanças nacionaes saõ o resultado de conspiraçoens; procedem ellas sempre de causas profundas, e extensas, na estructura e estado da Sociedade; donde resulta a necessária combinaçaõ de indivíduos, que parecem ser os authores, quando na realidade naõ saõ senaõ os instrumentos da revolução, que sahe á luz em virtude das circumstancias.

Nestes termos quanto mais se expuzerem os males do Estado, mais facilmente se lhe providenciará o remédio, e mais directamente se deslroem os causas originaes das grandes commoçoens publicas.
O Correio Braziliense diagnosticava as causas das revoluções e as registrava na sua edição de dezembro de 1813. As revoluções, a desordem pública e  o vandalismo resultam dos abalos da confiança do PODER ORIGINÁRIO em relação aos seus contratos realizados com os agentes  do poder público. O papel dos jornais e dos jornalistas é registrarem e dar letra  de forma  a estes abalos. Assim a notícia do terremoto, que devastou Lisboa, no dia 01 de novembro de 1755, correu mundo. O poema impresso de Voltaire, sobre este episódio, foi um registro escrito não só do abalo geológico mas do abalo da confiança do PODER ORIGINÁRIO em relação aos seus contratos realizados com os agentes  do poder público.

O Correio Braziliense passa a fazer distinções léxicas. Nestas distinções, de um lado, desmistifica termos. Do outro tempo retira o seu autêntico sentido político dos seus escombros da natural entropia do tempo e da perversão humana intencional.
Por uma perversão insensata, durante a revolução Franceza, se attribuio á palavra Patriota, o mesmo sentido de Revolucioui»|a,ou monarchomaco.e com este phantasma se punham os povos em opposiçaõ com os governos, fazendo os Godoyannos entaõ os seus interesses nas águas envoltas.


ESCRITOR e os seus SONHOS - Le Monde 27.05.2012

Fig. 07 – A imaginação, a criatividade e coerência de um escritor não se mede pelo que ele escreve e publica. A fortuna da sua  criação resulta da circulação das suas ideias materializadas na forma impressa ou digital e  de um público que lhe é fiel

A palavra Patriota significa, o bom cidadão, o amante de sua  pátria; e por conseqüência o defensor do Governo, e das instituiçoens do paiz. Vemos pois cora muito prazer, neste annuncio do Rio-de-Janeiro,  que esta honrada denominação, começa a surgir do opprobio em que se achava.

O exemplo da Henriada, te pôde extender a muitos outros livros, que saõ prohibidos, pelo temor de que produzam opinioens erradas, no povo.
Os valores maiores de uma nação são constituídos por meio do  exercício livre arbítrio da vontade dos seus cidadãos, pelo direito da expressão de opiniões e um firme e sólido contrato escrito,  pactuado e constantemente examinado e renovado com o PODER ORIGINÁRIO. Os ocupantes dos cargos públicos por mais despreparados, falsos e corrompidos que sejam, o PODER ORIGINÁRIO necessita possuir condições para reverter esta situação. A vigência plena dos valores maiores de uma nação necessita prevalecer sobre os que se apropriam, falsificam e corrompem as suas funções legais. Devido aos evidentes danos esta situação melhor que nunca se concretize. Para tanto a vigilância e o registro escrito pelo jornalista das  suas observações objetivas, pode iluminar e permitir o corte do caminho destes despreparados, corruptos e falsos candidatos. Porém como os despreparados, os corruptos e os falsos candidatos são resistentes como as ervas daninhas, rebrotam em outro lugar e tempo.


1968 cartazes bp - Biblioteca Nacional da França
Fig. 08 – Se é possível conhecer o cidadão pela amostra do que lê, é possível conhecer uma cidade ou civilização pelas  suas bibliotecas e como são tratadas. As bibliotecas são criações artificiais e resultam de projetos e de investimentos continuados de profissionais,  de tempo e de dinheiro. Elas representam a essência da corrupção se  

A nossa opinião he, que a revolução Franceza produzio os escriptos que em muitos paizes da Europa, principalmente em Portugal, tem sido prohidos; como te fossem causadores da revolução; nós dizemos que esta foi que.m produzia taes escriptos, e naõ os escriptos a revolução. Nenhuns escriptos se publicaram em Portugal, que fossem o ' precursores ou motores da revolução de 1649: muitos appareceram depois: as causas daquella revolução fôram as oppressoens e máo governo dos Felipes, que occasionáram a combinação de circumstancias, que serviram de estimulo aos conjurados, e apoz elles a todo o povo de Portugal. Os escriptos iluminam tanto o povo como o governo. Se expõem abusos, que na realidade existem; o governo naõ tem mais que remediallos para alcançar a approvaçaõne a confiança da naçaõ. Se os abusos naõ existem, como em taes escriptos se pôde dizer o que naõ he verdade, facilmente se responde a elles, e o povo em geral naõ acreditará o que he falso, quando se lhe apresenta em comparação com o que he verdadeiro.
Em 21 de abril de 1960 o temerário paraibano Assis Chateaubriand retomou do título de Correio Braziliense na nova capital. Ele foi enfático
- Sou um homem da imprensa de papel e estou convencido de que a ideia que forma opinião tem que estar impressa em letra de forma. O rádio poder ser mais abrangente, e certamente é mais subversivo que o jornal, mas o que mexe com o tutano do freguês é o jorna. Nem a revista, mas o jornal diário ( Morais, 1994, p. 366.
Índice que a semente o Correio Braziliense se multiplicou inclusive na forma impressa e objetiva. As pulsões elétricas da internet, da TV, do rádio encontram na letra escrita o território  para aterrissar esse reabastecer para novos voos.  Os profissionais da comunicação pública e livre continuam a semear novas ideias e projetos.  No Brasil possui pela frente minar e derrubar as muralhas numéricas digitais do neo-colonialismo e do hábito renovado da escravidão e servidão  voluntária aso  poderosos de plantão. O  controle da informação mudou de técnicas e se sofisticou. Se a ameaça do Big Brother não aparece ao olhos do grande publico não quer dizer que ele  não metamorfoseou
Fig. 09 – A utopia do mundo perfeito é um paradigma perseguido por todas as civilizações humanas. Na sua concretização  permitiu muitas vezes que monstros, como os mais fortes e espertos se apropriassem e se instalassem no centro do controle desta utopia, transformando-a num inferno na terra. Inferno povoado com clones condicionados por um poder unívoco, fixo e linear ao modelo de insetos.  Uma das tarefas do jornalista é denunciar, desvendar intenções deslocadas e malignas.  Denunciar de tal forma que iluminem e cortem o caminho dos atravessadores, dos mediadores e das auto tuteladas autoridades.  


 A semente de liberdade de imprensa encontra ainda muitas ervas daninhas e lagartas na sua disseminação para produzir os frutos dos valores maiores de uma nação. Ervas daninhas que buscam abafar, atacar e  se alimentar de sua ruína

O Correio Braziliense lançava, em dezembro de 1813, mais uma semente da liberdade a partir de Londres. Somava-se aos profissionais da comunicação pública e livre. Profissionais competentes para semear novas ideias e projetos que deveriam investir com o objetivo de demolirem o controle absoluto e total de qualquer informação habitual ao longo dos 300 anos de regime colonial brasileiro. Preparavam as condições da soberania da nação brasileira que viriam formal e juridicamente em 1822.

Sem esta longa, segura e continuada preparação este mesmo Estado nacional brasileiro poderia simplesmente atropelar, desqualificar o seu próprio PODER ORIGINÁRIO. Ou pior este  mesmo Estado nacional brasileiro ser posto a serviço e na heteronomia de corporações, de partidos ou de indivíduos astutos e cobiçosos do poder. Nada melhor do que constatar que o Correio Brasiliense estava cumprindo, em dezembro de 1813, o seu projeto de iluminar tanto o  povo como o governo por meio dos seus escritos.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

MORAIS, Fernando (1940- ) Chato : o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, 732 p.



FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS

CORREIO BRAZILIENSE - DEZEMBRO de 1813




CORREIO BRAZILIENSE – Brasilia  2013




O PATRIOTA – agosto de 1813


"O Patriota, Jornal Litterário, Político, Mercantil, &c" (1813-1814)





VOLTAIRE -  ou  François Marie AROUET (1694-1778)




VOLTAIRE – Henriade


Poema VOLTAIRE sobre o Desastre d Lisboa com terremoto de 02.11. 1755




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