domingo, 27 de maio de 2012

NÃO foi no GRITO - 038



ENSINO a DISTÂNCIA em 2012 e o
CORREIO BRAZILIENSE de 1808 até 1822.

“Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
 Que outro valor mais alto se alevanta”.
Camões – Lusíadas -  Canto I -3


Fig. 01 – A cerimônia de formatura da 1ª turma do Curso Superior de Licenciatura em Música,  modalidade Ensino a Distância (EaD) promovido pelo CAEF do Departamento de Música do Instituto de Artes da UFRGS. Os estudantes estão assinando e recebe os seus diplomas definitivos no atoa da formatura o que foi possível devido aos recursos numéricos digitais.

 Este blog destina-se a investigar o sentido do bicentenário da soberania brasileira. Para esta investigação busca subsídios para evidenciar que esta construção da soberania foi lenta e difícil e “não foi no grito”. Para tanto acompanha e interroga o que Hipólito José da Costa (1774-1823) publicou mensalmente há 200 anos no jornal Correio Braziliense.

Este jornal, publicado em Londres, tinha o projeto de disponibilizar, a distância, uma cultura apropriada para que o brasileiro pudesse se preparar para as dificuldades de exercer a soberania de sua pátria. Soberania a ser implementada efetivamente, na longa duração, depois de três séculos de um aviltante regime colonial fechado e movido pela abjeta escravidão



Fig. 02 – A impressora que serviu aos revolucionários venezuelanos, em 1811, nos fornece uma ideia da aventura para imprimir um jornal naquela época. O jornal de Hipólito José da Costa era composto de tipos móveis, montados letra por letra, impresso página á página e cada número do jornal tinha meia centena de folhas impressas em ambos os lados.
Pode-se se argumentar que Correio Braziliense praticava educação e Ensino a Distância (EaD) valendo-se, como ferramenta, da imprensa dos primórdios da era industrial. A Revolução Francesa  nutria o sue ânimo em  numerosos jornais impressos que circulavam em Paris nesta época crucial da História da Humanidade como os atuais e-mails nutrem as redes sociais.  Ao fazer o salto para o ano de 2012, percebe-se que o cerne do projeto da educação e do ensino do jornal foi transposto para a era Numérica Digital. Mudaram suas ferramentas, as formas as técnicas, os meios de distribuição e circulação. Contudo o seu ânimo pedagógico continua e ainda possui toda a atualidade. Este ânimo potencializou-se e se vale dos meios numéricos digitais nos quais a humanidade está ingressando. O ingresso nesta nova etapa também é difícil, “não pode ser no grito”, na improvisação ou no amadorismo.


Fig. 03 – Uma das primeiras reuniões do CAEF, no gabinete da direção do Instituto de Artes da UFRGS, no dia 10 de maio de 2004, da 18h30min até 22h00, para tratar dos detalhes do Edital nº 01. Estiveram presentes [da direita do observador para sua esquerda] o Diretor do Instituto de Artes Prof. Círio Simon, a Profª Drª Helena Müller de Souza Nunes Coordenadora do CAEF, Prof João Rippol, Profª Drª Liane Henscke, Diretor da Faculdade de Educação Física Prof Ricardo Petersen, Profª Drª Liana Tarouco Coordenadora da Secretaria de Educação a Distância da UFRGS, Profª Maria Cristina Villanova Biazus,  Profª Luciana Dal Bem [encoberta pela imagem da] Profª Profª Umbelina Barretto e Profª Drª  Helenita [no 1º plano da imagem].[Foto : Liane Tarouco}

O jornal era publicado em Londres antes do uso da eletricidade, sem linotipos, imagens fotográficas, rotativas e, era remetido, clandestinamente ao Brasil em navios entregues aos humores dos ventos. Duzentos anos depois os meios e os recursos para Ensino à Distância evoluíram notavelmente. O tempo de circulação diminui drasticamente.
O que espanta é que ao encurtar o tempo também diminuem a quantidade e qualidade das ideias, a coragem e os esforços para mudanças coerentes com a atualidade. Espanta uma Educação e de um Ensino institucional que ainda patinam e se reproduzem exclusivamente em função de uma linha montagem obsoleta e de intermináveis séries da era industrial que perdeu seu sentido e ânimo. O estudante ainda é submetido ao treino para operações mecânicas obsoletas e que passa a reproduzir, vida afora, sem questionamentos e alimenta um ódio do tempo que  “perdeu” na sua formação. O resultado é uma pessoa humana que teme mudanças e que se aferra a repertórios cada vez mais pobres e gastos.

Fig. 04 – A cerimônia de formatura do dia 25 de maio de 2012 no Salão de Atos da UFRGS
Contra este horizonte industrial obsoleto, coloca-se hoje a Educação Permanente e sem discriminação de idades, saúde, culturas locais. Educação que ajuda no constante processo de deliberar e de decidir em relação á rupturas epistêmicas e de escolhas significativas e coerentes com a sua vida. Coerência que a coloquem no pleno fluxo de uma civilização planetária. A Educação, e ENSINO a DISTÂNCIA, promovidas por instituições que apostam alto e que possuem uma larga tradição de desenvolver os hábitos de integridade intelectual.
Para tanto estas instituições colocam suportes coerentes para que a criatura humana tenha condições par enfrentar o seu eterno desafio de escolher entre o JÁ CONHECIDO e a SEGURANÇA, ou enveredar para o NOVO e o DESCONHECIDO. Se tivesse vencida a SEGURANÇA absoluta, a criatura humana ainda estaria refugiada na CAVERNA PRIMITIVA. De outra parte entregue à TEMERIDADE absoluta esta criatura já teria destruído o planeta Terra.
Evidente que a permanência na CAVERNA iria dispensar qualquer outra educação ou ensino a não ser a inculcação do hábito de repetir cotidianamente o comportamento dos seus ancestrais mais remotos. A TEMERIDADE também dispensa qualquer educação ou ensino. Em ambos basta seguir instintos opostos e leva-los aos extremos.

Fig. 04 – O estudante MARCIO ALEXANDRE MERINO dos ANJOS, do polo de Porto Velho/RO, é exemplo de como o EaD permite que pessoas  portadoras de necessidades especiais - mesmo momentâneas - não precisam interromper o seu estudo por isto, nem o ritmo de trabalho e por isto perder semestre ou desistirem do próprio curso.  Como um dos lucros extras do EaD - ao não serem exigidos esforços físicos rotineiro, permanentes e continuados da sua presença numa sala de aula convencional - é o aumento da produtividade intelectual e artística. A economia deste esforço, e de sofrimento humano, pode render dividendos pela intensificação do estudo, no ambiente doméstico e no ritmo que estas necessidades especiais permitem ao seu portador. As instituições gastam-se energias e economia, muitas vezes, na preparação da acessibilidade universal e que podem ser compensado pelo oferecimento com qualidade no horário conveniente no domicílio do estudante

Assim qualquer sistema educativo possui, e cultiva, elementos de PERMANÊNCIA das suas essências. No polo oposto busca a INOVAÇÃO. Pela INOVAÇÃO a humanidade conseguiu, a muitos custos, manter um equilíbrio e progredir lentamente entre ensaios, erros e acertos. Nos últimos três séculos esta humanidade esteve a mercê da infraestrutura da ERA INDUSTRIAL e da LINHA de MONTAGEM. Neste contexto a EDUCAÇÃO e o ENSINO seguiram, se condicionaram a PERMANECER na linha de montagem e no ensino coletivo nas séries institucionais colocadas em ordem linear e unívocas. Porém a ERA INDUSTRIAL põe a mostra, por toda parte e a partir de 1945, a sua entropia natural e seguindo obsolescência programada que é a sua lei central. Novamente a humanidade sente-se desafiada a deixar este paradigma obsoleto do ENSINO SERIAL unívoco e linear, para investir em algo que preserve todas as conquistas anteriores e ao mesmo tempo responda aos novos desafios culturais.


Fig. 05 – A família de o estudante FERNANDO ADIR GONÇALVES, do polo de Linhares/ES, é testemunha como pelo Ensino à Distância,  ao ocorrer no âmbito familiar, permite uma série de vantagens, tanto para quem se submete ao aprendizado, para a sua família como para a instituição. O EaD oferece à família – onde os seus integrantes são em numero de cada vez menor - espaços e comodidades e horários. Com esta permanência dos seus estudantes por mais tempo no ambiente doméstico. A instituição possui a contrapartida de dispor de mais tempo, energias e massa crítica para projetar o processo ensino aprendizagem. Até o presente o grande esforço e desgaste institucional eram os prédios e a sua preservação devido ao seu uso intensivo e contínuo. Pode dedicar-se, agora,  a criar contratos mais coerentes com os seus estudantes e cobrá-los com rigor e integridade intelectual no momento da avaliação.

A ERA NUMÉRICA DIGITAL é um fato que cerca todas as instituições formais de educação e ensino. Contudo poucas destas instituições INOVAM e se mudam para esta NOVA infraestrutura. Na sua PERMANÊNCIA, no estágio anterior, tornarem-se simples usuárias da informática passiva, sem entender o seu potencial ativo para produzir e fazer circular o real poder do saber. O estudante, ao penetrar nestas instituições, ainda comandadas pelas séries unívocas de montagem e colocadas nas linhas coletivas, sente-se convidado a regredir e abdicar dos seus recursos da Era Numérica Digital. Neste regredir e abdicar ele sente-se mais SEGURO, pois isto lhe poupa esforço, não precisa mudara a todo instante e racionaliza a sua cultura, Aquieta-se e pacifica sua tendência natural de ir para muito além do “dejá-vue”. Porém quando retorna ao seu mundo prático, depois se entregar de corpo e alma a esta heteronomia institucional, percebe que recebeu uma singela cultura, treinamentos mecânicos obsoletos e conhecimentos inúteis para a sua realidade atual. Na medida que ele se afasta, no tempo, destas instituições obsoletas e estiver só consigo mesmo , no futuro,  percebe o logro em que esteve envolvido e condicionado.
Uma instituição superior, séria e comprometida, não subsiste e nem pode aventurar-se a prescindir de profissionais provenientes de longa e segura formação. Formação para atravessar as necessárias rupturas epistêmicas além de um seguro tirocínio em lidar com um estudante brasileiro mergulhado na escravidão e servidão voluntária. Profissionais da educação e de ensino, competentes para dispensar a necessária atenção continuada ao seu estudante. Atenção capaz de perceber as poucas oportunidades que o seu discípulo possui nas circunstâncias entrópicas brasileiras e com vontade de provocar mudanças para melhor nos seus desempenhos.
O registro desta entropia nacional foi expressa, logo após a Revolução de 1930, pelo primeiro ministro da Educação e Saúde Pública do Brasil.
“O Brasil dos dois países, o legal e o de fato: o país da mentira e o país da realidade,  queremos ter professores sem cuidar de formá-los, higienistas sem uma escola de higiene, operários qualificados e produtores capazes, sem formação técnica e educação profissional. Daí em quase todos os ramos de atividade a improvisação de curiosos em competentes.”  (CAMPOS, 1931, p.5   ).

Esta consciência de lidar com a contradição da PERMANÊNCIA e ao mesmo tempo buscar a MUDANÇA afligiu sempre os agentes públicos. Eles tomaram os mais variados caminhos para transformar esta CONTRADIÇÃO em COMPLEMENTARIDADE. Entre estes caminhos o Ministério de Educação e Cultura lançou, em novembro de 2003, o Edital SEIF-MEC nº 01/2003, com o objetivo de selecionar vinte Centros de Pesquisa e Desenvolvimento de Educação Infantil e Ensino Fundamental para o Brasil. Entre estes, três estariam voltados para o ensino das Artes e da Educação Física.  O projeto do Instituto de Artes da UFRGS foi selecionado para um deles. O Convênio SEB/MEC-UFRGS, foi firmado e recebeu nº 12/2004. Iniciando pela formação profissional dos agentes deste Convênio foi colocado em prática a capacitação continuada de professores da educação básica em todo o território nacional. O objetivo central desta capacitação deste programa é promover desenvolvendo materiais e métodos que atendam demandas em tecnologia educacional e gestão escolar Para tanto aconteceram cursos semi-presenciais e à distância, bem como parcerias entre sistemas públicos de ensino, universidades e empresas.


Fig. 06 – A alma e agente central desta primeira experiência certamente foi a Profª Drª Helena Müller de Souza Nunes, vista nesta imagem na cerimônia de colação de grau

O Instituto de Artes inovou na sua proposta de interagir pela EaD. Para tanto a Profª Drª Helena Müller de Souza Nunes  integrou os seus esforços com a Secretaria de Ensino à Distância da UFRGS. Mantendo o seu projeto e a sua autonomia propositiva por meio do Centro de Artes e Educação Física (CAEF). O CAEF implementou programas e na forma experimental. Destas experiências resultou a constatação de que este sistema além de um rigoroso planejamento, necessita,  na sua entrega e verificação de sua eficácia muito mais trabalhoso do que aquele desenvolvido na Educação Presencial. Como tal necessita de um rigor institucional e contratos cidadãos que possuem outra base institucional e física em polos distantes no território nacional. 



Fig. 07 – O Prof. Dr. ALFREDO NICOLAIEWSKY, presidindo, na qualidade de Diretor do Instituto de Artes da UFRGS,  a FORMATURA do CURSO SUPERIOR LICENCIATURA MÚSICA por meio da EDUCAÇÃO a DISTÂNCIA  no dia 25 de maio de 2012. Este dirigente da UFRGS é um dos agentes mais ativos, atentos a todos os detalhes e capaz de generosas delegações de sua autoridade como esta para a Profª Drª Helena de Souza Nunes Coelho que superou todas as expectativas diante do mundo de dificuldades do pioneirismo deste projeto.
Esta experiência está nas suas origens, o seu esforço ainda está voltado para a sua reprodução por tempo indeterminado e para além da vontade de eventuais dirigentes. Contudo é coerente e segue o projeto original do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, cujos fundadores escreveram e expressarem este projeto no Livro de Atas nº I da CC-ILBA-RS
“O que constitui a pessoa jurídica em associação do tipo da nossa, não é propriamente o conjunto dos sócios; é antes o seu patrimônio, o qual no caso ocorrente, será formado pelas doações e liberalidades das pessoas que verdadeiramente se interessem pelo desenvolvimento das artes entre nós”.    (em 01.05.1908. f. 3v).
Um agente diretivo de uma instituição - no papel de uma autoridade - NÂO é o do FAZER. O seu papel é o AGIR por meio de deliberações e de decisões, não em relação ao PODER do qual se julga investido, mas em relação ao PODER que ORIGINA a sua AUTORIDADE. Na contramão, a autoridade que limita a sua ação ao FAZER, acaba, em geral acaba “FAZENDO BESTEIRAS”  das quais outros deverão suportar as consequências. O mais grave é entravar a CIRCULAÇÃO o SEU PODER de ORIGEM. O papel da autoridade autêntica encontra-se, sobre tudo, na delegação e na cobrança de contratos legais celebrados com profissionais qualificados. Nesta capacidade de AGIR conseguem reconduzir o poder institucional para a correta e coerente circulação.
 No caso da administração do projeto, conduzido pela  Profª Drª Helena de Souza Nunes Coelho, teve êxito e fortuna na formação dos seus 185 estudantes ao integrá-los, de corpo e alma,  rede de circulação do poder. Os meios numéricos digitais foram os veículos para fazer circular o poder do saber. Circularam em tempo real, entre uma determinada sede e os seus polos, sob a autoridade do EaD no seu agir, no seu deliberar e o no seus decidir.
O estudante sempre foi - e continua sendo - a origem e o fim desta circulação no sistema formado para o EaD. Especialmente quando este estudante já possui o dobro da idade e experiência do seu tutor. No âmbito dos meios numéricos digitais a novíssima geração está ensinando para a antiga geração. Uma das raras ocorrências deste fenômeno numa civilização. No entanto, no processo ensino-aprendizagem, a figura central é ESTUDANTE ao qual o mestre inteligente delega o poder para que este discípulo atinja os seus objetivos e seja feliz nas suas escolhas. O pediatra Olímpio Olinto de Oliveira (1866-1956), fundador do Instituto de Artes da UFRGS, insistia que o estudante está acima - e é a razão de ser -  de todos os conselhos de uma universidade. Num pais, onde predomina ainda o hábito da escravidão voluntária, os tutores possuem uma imensa e crítica tarefa para conduzir estes estudantes para a sua autonomia e para as imensas potencialidades. Isto não acontece por acaso, não se improvisa e muito menos é possível determinar por cima e por fora orientado por um idealismo legal. Nesta escolha equivocada o resultado será um acúmulo de heteronomia e dos comportamentos de um rebanho.


Fig. 08 – Os momentos finais da cerimônia de formatura presencial de 185 estudantes da 1ª turma do Curso Superior de Licenciatura em Música, modalidade EaD, promovido pelo CAEF do Departamento de Música do Instituto de Artes da UFRGS. Dois estudantes estão se dirigindo, em nome dos seus colegas, aos presentes.
Mas acima, de todos estes cuidados e distinções, paira a soma das experiências vividas pelos 185 estudantes que acabaram de concluir o primeiro curso superior de Licenciatura em Música no Brasil na modalidade de EaD. Com certeza, com estes tempo de preparação, implementações e realização deste curso, em tão alto nível, a Universidade Brasileira possui riquíssimo material empírico e testemunhas atentos para avaliar e projetar ao mundo teórico e ali tratado ao nível demais saberes superiores. Para avaliar e projetar ao mundo teórico este curso não serão necessários os dois séculos que nos separam da criação, impressão e distribuição do Correio Braziliense e do qual possuímos os textos impressos e cujo processo nos escapam agora.  Afinal o Brasil foi um dos pioneiros em colocar as ARTES na competência de uma determinada UNIVERSIDADE.

FONTES
CAMPOS, Francisco,. «Reforma do Ensino Secundário: exposição de motivos do decreto. Nº 19.890 de 19.4.1931» in Boletim do Ministério da Educação e Saúde Pública Rio de Janeiro : MESP, nºs 1 e 2 Jan.Jun. 1931

CENTRO de ARTES e EDUCAÇÃO FÌSICA
http://www.caef.ufrgs.br/

CORREIO BRAZILIENSE – coleção completa digital em

INSTITUTO de ARTES da UFRGS

PODER ORIGINÁRIO

Fotos Círio SIMON
Este material possui  uso restrito ao apoio do processo continuado de ensino-aprendizagem
Não há pretensão de lucro ou de apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus eventuais usuários. ...

1º  blog :

Nenhum comentário:

Postar um comentário