segunda-feira, 21 de maio de 2012

NÃO foi no GRITO - 037


De MAIO de 1812 até MAIO de-2012:
MUDARAM as MOSCAS.


In TOBINO -2007- p 012b
Fig. 01 – O abismo entre a origem e destino do imigrante  foi evidenciado por Pedro WEINGARTNER (1853-1929) no quadro “ TEMPORA MUTANTUR” - TOBINO -2007- p 012b 1898 - óleo - 110.3 X 144 cm do acervo da MARGS

“Os tres pontos a que alludimos, saõ 1°. o arranjamento das finanças; 2°. a policia interna a respeito dos Indios naturaes do paiz, escravos, e emigrados da Europa; e 3°. as relacoens externas, principalmente com as colonias Hespanholas da America”.
BRAZIL.Mudança de Ministerio.In: Reflexões sobre as novidades deste mez de MAIO de 1812 in Correio Braziliense Voi. VIII. No. 48. 4 s  612 Miscellanea p. 671


      Seguindo o 2º ponto, a que o Correio Braziliense se refere, em maio de 1812, tentaremos no deter um pouco e prestar atenção com as preocupação com três segmentos humanos que constituem a Nação Brasileira. De fato se considerarmos os ameríndios, os afro-brasileiros e os imigrantes e seus descentes, teríamos uma esmagadora maioria da população nacional. População responsável pelo maior volume de trabalho, de produção e de preservação das riquezas nacionais. No entanto, se observarmos e estudarmos, em maio de 2012, as condições econômicas, educação formal institucional e saneamento básico de cada segmento destes, o nosso ufanismo, a crença no homem cordial e na ORDEM conduzindo ao PROGRESSO, teria poucos créditos ao seu favor. No máximo podemos concordar que foram propaganda e marketing para manter no seu devido lugar cada segmento destes

Fig. 02 – Os cativos saindo das suas savanas  para a sua comercialização e exploração brutal do seu trabalho para benefício exclusivo do seu dominador e para a construção de uma identidade nacional na qual a escravidão era legalmente reconhecida e regulamentada nos termos coloniais e nas o africano não tinha mínima voz e vez.

O ameríndio perdeu, entre 1812 e 2012, os seus parcos recursos naturais e dos quais seria teoricamente o melhor guardião. Ninguém lhe conferiu este cargo e estas competências, muito menos alguém cogita ou leva esta hipótese para o mundo prático. O machado, e depois a moto-serra, devastaram estas florestas para o gado ou para uma agricultura predatória. O índio vive cada vez mais exprimido em migalhas de toldos, reservas indígenas e em condições piores de que nas reduções como já assinalava em maio de 1812 o redator do Correio Braziliense. O governo central conferiu-se ao afro-brasileiro a abolição da escravidão legal. Abolição que foi mais uma forma jurídica de se ver livre dele e dos compromissos que devia pelos quatro séculos no que lhe foram subtraídos o seu bem estar social, político e das suas naturais necessidade básicas. 

Fig. 03 – Na contagem dos ameríndios  -  registrada nesta imagem de Johan Baptist SPIX 1781-1826 e de Carl Friederich Philipp von  MARTIUS 1794 - 1868 - evidencia-se e aprofunda-se o abismo entre os nativos e os europeus, mesmo que estes não portassem armas de fogo.

As favelas, ao redor das cidades brasileiras, estão a clamar em altos brados e a céu aberto,  contra a propaganda enganosa e o  marketing de algo imoral, sem fundamento a sua cultura, vontade e direito do ex-escravo. O imigrante foi uma solução aparente No entanto até hoje não se fez a contabilidade daqueles que foram induzidos para ocupar o lugar dos escravos e logrados sem contrato e que pereceram física, moral e economicamente nestas condições. E se comparamos uma população uma cidade ou de um município, constituídos eminentemente por estes imigrante,  e se compararmos esta realidade com a realidade da região, a cidade e a cultura de sua origem, iremos constatar consternados, que os do Novo Mundo perderam ou  desaprenderam quase tudo que os  do Velho Mundo possuem e usufruem atualmente. As experiências dos filhos de japoneses voltando a Terra do Sol Nascente sabem deste abismo.

Fig. 04 – Os imigrantes  aguardam o seu destino na ILHA das FLORES. Se deum lado existe a perspectiva da libertação do trabalho escravo, de outra parte o hábito do dominador e da apropriação da “mais valia” deste trabalho alheio persiste até maio de 2012 e sob outras denominações. 

MAIO 1812
Correio Braziliense Voi. VIII. No. 48. 4 s  612 Miscellanea p. 671 até 674.
 BRAZIL. Reflexões sobre as novidades deste mez.

Mudança de Ministro.
A morte do Conde de Linhares, que tinha a primeira influencia nos negocios publicos do Brazil, deve trazer consigo novo arranjamento de Ministros, e talvez novas maximas de systema de Governo.
Tres pontos importantes da conducta politica daquelle ministro merecêram sempre a nossa constante reprovaçaõ, e esperamos que seu successor, ou successores, attendam aos clamores da razaõ; ou do contrario incorreraõ nas mesmas censuras, e finalizaraõ a ruína daquelles bellos paizes, cuja sorte naõ pode ser indifferente a quem nelles vio pela primeira vez a luz.
Os tres pontos a que alludimos, saõ 1°. o arranjamento das finanças; 2°. a policia interna a respeito dos Indios naturaes do paiz, escravos, e emigrados da Europa; e 3°. as relacoens externas, principalmente com as colonias Hespanholas da America.

Fig. 05 – A cena flagrada, em  1983, pelo fotógrafo Luis MORIER evidencia o abismo e o tratamento idêntico aquelas da fig. 02   

As finanças saõ da repartiçaõ do Ministro do thesouro; mas a lnfluencia do Conde de Linhares, neste rampo, éra taõ vizivel, que naõ hesitamos em imputar-lhe a culpa de muitos desmanchos sobre este artígo. Tal he por exemplo a medida de mandar directamente pelo Governo, a Londres, os diamantes, páo Brazil, marfim, &c; para ser vendido pelo Embaixador Portuguez em Inglaterra; fazendo de um homem diplomatico um agente de commercio; e consentindo especulaçoens desta natureza por conta da fazenda Real, em um paiz taô distante; e por um methodo taõ falto de precauçoens, que serå impossivel ao Erario tomar conhecimento cabal da natureza destas transaçoens; da exactidaõ das contas, nem da deligencia ou negligencia dos empregados.
Ao Conde de Linhares imputamos tambem a ereccaõ de dispendiosos e inuteis abarracamentos, e outros edeficios no Brazil, com cujas despezas o Erario naõ pôde.
Ao systema do Conde attribuimos tambem as despezas, que devem occorrer com a guerra de Montevideo, e outras medidas similhantes, que tendem a exhaurir os recursos do Erario, sem que nem o Conde, nem nenhum dos Ministros seus Collegas, se empregasse a fazer um bom arranjamento para a cobrança e melhoramento das rendas publicas.

Fig. 06 – A luta pelo poder e domínio foi registrada nesta imagem do ataque a uma aldeia da obra de  HANS STADEN que esteve no Brasil em 1549 e 1552,

O segundo ponto de policia do Conde de Linhares, que sempre reprovamos, diz respeito á populaçaõ. Os Indios naturaes do paiz, que podiam ser, era seu genero, membros uteis da sociedade, foram quasi inteiramente largados por maõ, desde que se extinguio a sociedade dos Jezuitas, a quem os lndios devem o gráo de civilizacaõ, em que se acham. O Conde de Linhares, em vez de procurar utilizar os Indios, pelos mesmos meios doces e suaves dos Jezuitas, começou por declarar a guerra aos Botecudos, chamando-lhes antropophagos, ou papoens como se diz ás criancas, para lhes metter mêdo; e com estas e outras patranhas armou divisoens de um exercito imaginariø da conquista dos papoens Botecudos; projecto taô ridiculo, quanto he pernicioso á tranquilidade do Brazil; quando ao mesmo tempo se sabe que alguns missionarios, de virtude e prudencia, faziam mais em um anno do que as suas pretensas sette divisoens militares em sette annos; como se prova pelo exemplo dos Jezuitas no Brazil; e pelos dos Quaqueros no Estado de Pensilvania na America Septentrional.


Fig. 07 – O trabalho escravo no CAFEZAL foi substituído pela mão de obra dos IMIGRANTES sem o menor contrato e sem qualquer benefício social ou garantia de saúde e onde se misturavam crianças e velhos, homens e mulheres e sem o menor preparo para lavouras desconhecidas na agricultura de sua origem.

Depois da descripçaõ espantosa da ma indole destes Botecudos, que, na declaraçaô de guerra que se lhes fez, saô representados como nutrindo-se de carne humana; apparece agora uma carta de um padre vigario, em data de 6 de Julho do anno passado, e publicada no  Rio-de-Janeiro, em que se diz que um Botecudo apanhado na divisaõ do Cueté, fez abismar a todos os habitantes da freguezia, que o viram e observâram, pelo seu conhecimento e viveza, docilidade, genio, e a facilidade com que se se entregou å amizade, e paz com que he tractado. Ora a isto se reduz a ferocidade dos papoens de gentel
Sobre este ramo pois da populacaõ do Brazil; diremos em summa, que he necessario suavlzar a sorte dos Indios aldeados, tirando-Ihes os commandantes militares, e attrahir o que chamam gentio, não por meio de uma guerra infructifera, fundada na quimera de que elles comem gente, mas por meio da persuasaô, do commercio, e de algumas dadivas.



Fig. 08 – O Senhor posando, para o fotógrafo, entre os seus escravos descalços  e vistos como troféus a serem exibidos como mercadoria e patrimônio pessoal a quem o Estado permitia o exercício de vida e de morte para manter este abismo social e econômico

0 outro ramo da populaçaõ do Brazil, saõ os escravos d'Africa. N'isto somente diremos, que he necessario naõ sôó diminuir; mas extinguir de todo a sua importaçaõ. A importantissima delicadeza deste assumpto naõ nos permitte dizer mais.


Fig. 09 – A captura, a manutenção e a exploração da escravidão desenrolava-se num dantesco aparato de violência e coação  que aumentava dia a dia na medida em que esta espiral de instrumentos de dominação descia ao níveis mais baixos de humanidade.

O terceiro ramo da populacaõ saõ os emigrados da Europa. Esta seria a mais abundante fonte, se della se quizessem aproveitar; não ja mandando tirar os artistas de Portugal; porque isso he roubar å maõ direita, para enriquecer a esquerda; mas sim convidando os homens habilidosos de toda a Europa, por meio de regulamentos que os protêjam ; e de uma liberdade bem pensada na tolerancia.

A politica do Brazil a respeito do exterior, e principalmente a respeito da America Hespanhola, tem sido taô mal intendida, que se o novo Ministerio do Brazil nao seguir outra vereda parece-nos indubitável que tem de soffrer males consideraveis. Os politicos do Brazil, que fôram de opiniaõ que se devia  fazer guerra a Monteyideo, que mandáram tomar posse militar de Maldonado, e da Colonia do Sacramento ; alegáram com a necessidade de reprimír, com a força militar, os principios revolucionarios,que se iam desenvolvendo nas colonias Hespanholas. N6s somos de opiniaõ que uma tal ingerência he injusta, e impolitica. Injusta; porque nenhuma naçaõ tem o direito de entrar por meio de outra com forca armada, para a obrigar a adoptar este ou aquelle systema de policia interna, que os povos mais desejem. Impolitica; porque o exemplo da actual revolucaõ da Franca prova amplamente, que a ingerencia das naçoens estrangeiras, que desejaram derribar com as armas os systemas revolucionarios dos Francezes, foi quem os unio entre si, para repellirem os inimigos externos; e foi quem trouxe aos outros estados as ideas revolucionarias da França, que os anniquiláram a quasi todos



Fig. 10 – A exploração do Pau Brasil foi a primeira riqueza saqueada e que inclusive deu o nome ao país. Esta imagem - que registra as viagens de Hans Staden ao Brasil - mostra os conflitos e as devastações do meio natural e que se praticava nas mais violentas formas de saques em territórios onde a lei dominante era aquela das armas e da argúcia do saqueador. Esta mentalidade infiltrou-se em todos os recantos da cultura brasileira e continua a fazer estragos,  inclusive pelas armas e pelos instrumento numérico digitais  ativos nos saques eletrônicos vigentes em maio de 2012.

Esta liçaõ recente mostra claramente a conducta, que se deve seguir no Brazil, na conjuntura em que se acha a respeito das colonias da Hespanha ; que vem a ser, naõ oppor a força á torrente da opiniaõ e fazer taõ uteis regulamentos de governo interno a favor dos povos, que o grito seductor da liberdade, em seus vizinhos, naõ tenha de produzir effeito.
A p. 898, vol. vii. N°. 42, demos os regulamentos sobre a liberdade da imprensa, em Venezuela ; e neste N_. p. 586, damos agora os regulamentos, que se adoptaram para o mesmo fim em Buenos- Ayres. E naõ podemos deixar de chamar a attençaõ do Governo do Brazil; para a legislaçaõ que se vai adoptando nestas duas extremidades de seu paiz. A obra da revoluçaõ da America Hespanhola vai progredindo, tanto ao norte como ao sul, debaixo dos mesmos principios; e convem ao Governo do Brazil, naõ fechar os olhos ao que ali se passa.


In Correio do Povo de 18.03.2012
Fig. 11 – Os parcos recursos, que ficaram nas mãos dos ameríndios e para os seus propósitos, se  evidenciam na arte da escultura dos  ATUAIS INDÍGENAS GUARANIS do RIO GRANDE do SUL

Suppor o Governo do Brasil, que he possivel fechar de tal modo as entradas, que os Brazilianos nao saibam o que se passa entre seas vízinhos, he presumir um impossivel: tanto mais quanto o exercito que se oppoz a Buenos Ayres fôrma o ponto de contacto, e canal de communicaçaõ, que se desejava evitar. 0 unico meio logo que há de prevenir o golpe, he imitar no Brazil todos quantos regulamentos os Hespanhoes adoptarem, que sêjam a favor dos povos, em tanto quanto elles forem applicaveis á differente forma de Governo, e diversa situaçaõ dos dous paizes. Nos esperamos pois que ésta seja a linha de conducta, que adopte o novo Ministerio do Brazil j e remedeie por este modo os males do anterior Ministro.



Fig. 12 – Este abrigo de infância, registrado pelo fotógrafo Luis MORIER,  mostra as condições de uma infância sem amparo direto dos seus pais e que certamente terá uma noção distorcida do que é uma identidade nacional coerente. Segue ao padrão de tantas culturas extirpadas pela raiz e que insistiam na socialização indiscriminada e sem que o indivíduo pudesse realizar um contrato social autônomo na plenitude de uma formação familiar e individual. Este tipo de contrato não tem vez numa cultura que insiste em se antecipar, deliberar e decidir nos seus próprios projetos e transforma a sua nação num rebanho sob as ordens do mais forte e perspicaz em se manter como dominador.  

O fosso entre o PODER ORIGINÁRIO e o PODER POLITICO parece se aprofundar cada vez mais entre 1812 e 2012. Basta observar atentamente e estudar, no mês maio de 2012, as condições econômicas, educação formal institucional e saneamento básico de cada segmento destes. Ainda que no mundo de maio de 1812, a Ciência e Tecnologia fossem menores que na atualidade, no entanto o PODER ORIGINÁRIO e o PODER POLITICO valem-se do domínio desta mesma Tecnologia para criar-se dois mundos distintos e com vida própria. O PODER POLITICO criou e segue os seus  próprios rituais, realiza para si mesmo propaganda e marketing para se convencer que pode prescindir o seu próprio PODER do qual se ORIGINA. Este por sua vez perdeu toda esperança e descolou-se daquele que constituiu num segundo de uma urna eletrônica a qual comparece e que freqüenta por uma simples coação legal.




Fig. 13 – Um flagrante de violência e de dominação oficial captado pelo fotógrafo  Luis MORIER, no dia 29.12.1997, expõe o domínio direto e pela força do aparato do Estado que deveria garantir a prática dos mais elementares princípios de cidadania aos seus agentes e ao mesmo tempo constituir-se em expressão

 

As comunicações entre o PODER ORIGINÁRIO e o PODER POLITICO são sincopadas num único sentido, no longo período de quatro anos e sem esperanças de interações continuadas. Esta clivagem continuada separou as duas partes e simplesmente se descolaram. Inteligentemente o PODER ORIGINÁRIO constitui o PODER POLÍTICO como alguém que ele pode culpar de tudo, fugir da sanção moral de qualquer um dos seus atos determinados e continuar como dócil prisioneiro de uma escravidão voluntária multi-secular.

Nestas condições de clivagem interna, não há mínimo sentido em falar para fora da nação ou pretender um assento permanente na ONU. Mesmo deve ser dito em relação aos vizinhos mais próximos como o Mercosul.

- Como na ausência de uma autêntica delegação e da falta de  um contrato interno continuado e renovado, alguém pode falar em nome da nação brasileira?.



Fig. 14 – Os propósitos e as buscas da 1ª República Brasileira tropeçaram imediatamente numa série de contradições e que resultaram em trágicas experiências de 1893 e depois em 1897 onde os Gaúchos acorreram CANUDOS para praticar as mesmas degolas praticadas quatro anos antes nas coxilhas dos Pampas.  em Foto Flávio Barros

 

Somente buscando, por todos os meios disponíveis, impor unilateralmente este contrato e no paradigma do dominador. Internamente, os altos índices de aprovação popular e as sucessivas reeleições, tiveram a sua credibilidade minada pelo regime nazista com seus altos índices de aprovação de um povo dos mais instruídos. Governos dos esdrúxulos, ou mesmo criminosos podem ser  alavancados  e mantido no poder pelo mesmo marketing e propaganda usado pelo regime nazista e do qual ele é apenas uma amostra.

Por todas estas razões chega-a a conclusão que, nas relações entre PODER ORIGINÁRIO e o PODER POLÍTICO,  MUDARAM apenas as MOSCAS entre MAIO de 1812 e MAIO de 2012.

 

ALGUMAS FONTES

CORREIO BRAZILIENSE - Maio de 1812 - Vol VIII, No. 48, 4 s  612

http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/060000-048#page/1/mode/1up

 

Dia de refletir sobre escravidão

CORREIO do POVO -ANO 117 Nº 214 - PORTO ALEGRE, TERÇA-FEIRA, 1 DE MAIO DE 2012 Geral

LUIZ MORIER – foto da escravidão

FOTOS de FLÁVIO BARROS



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