quinta-feira, 6 de agosto de 2015

124 – NÃO FOI NO GRITO.

MAIS um TIRANO a MENOS

Com as baionetas é possível fazer tudo, menos ficar sentado sobre as suas pontas
Charles Maurice de TALLEYRAND-PERIGORD  (1754-1838)
 para Napoleão Bonaparte
Fig. 01 – Após a derrota da batalha de Waterloo, no dia 18 de junho de 1815, chegaram ao final  os  100 dias de governo de  Napoleão Bonaparte O seu trono de Imperador permaneceu vazio após a sua 2ª abdicação  no dia 22 de junho de 1815  . Alem da animosidade externa internamente a França via-se dividida em relação a que fora derrotado pelas armas temendo-se pela vida. Os ingleses tinham tradição de respeito pela vida dos seus prisioneiros de guerra

Pode-se afirmar que a abdicação, a sua entrega ao ingleses, exílio o morte de Napoleão Bonaparte NÂO FORAM NO GRITO. De um lado os britânicos agiram com firmeza de propósitos e souberam comunicar o suficiente necessário de sua ação para a imprensa para não haver suspeitas posteriores. Napoleão foi recalcitrante, tentado impor a sua vontades mas sem resultados. Os dados tinham sido jogados e não havia com questionar os resultados.
O trono do Imperador estava vazio e o seu ocupante a caminho de uma isolada ilha no atlântico Sul
Depois de tantos tratados rompidos e tantas perfídias praticadas por Napoleão Bonaparte não restava aos aliados  alternativa. Trataram de neutralizar e silenciar este produto da Revolução Francesa. Revolução que apenas era índice  da emergência de EGO sem limites. EGO que se expressava pelo Romantismo. Romantismo que tinha os seus fundamentos materiais nas novas tecnologias e máquinas das fábricas. Maquinas que impunham a lógica da acumulação de matérias primas, máquinas, gente e capital. EGOS que comandavam esta acumulação e que assolava a Europa e todo o Planeta.
Fig. 02 – Napoleão Bonaparte soube cercar-se do que de mais refinado a arte e a moda do seu tempo sabiam lhe fornecer. Nesta atmosfera e cenário ele cultivou uma imagem pessoal coerente com o seu tempo que se abria para o romantismo e cultivo de um EGO sem limites. A sua ação politica partia deste referencial e polo único doEGO com que avaliava pessoas e acontecimentos.

EGOS que secretamente admiravam o monstro que tinha acumulado e sacrificado milhões de vidas, destruído sonhos e jogada a França a mercê de outras nações.
Esta mesma era industrial contém implícita a OBSOLESCÊNCIA. Por mais fulgurantes que tenham sido os feitos de Napoleão Bonaparte, no processo de acumulação de gente, de tecnologias e de capitais, os seus dias de OBSOLESCÊNCIA vieram com a mesma velocidade e intensidade. A toda AÇÂO corresponde outra contrária e com a mesma intensidade.
Fig. 03 – Nos duzentos após batalha de Waterloo no dia 18 de junho de 2015 um evento e um desfile com os uniformes, armas ritmos  de época. Nestes dois séculos a memória francesa oscilou entre o amor e ódio ao seu líder e herança desta época este regime ditatorial..

Numa visão dos eventos que trouxeram a corte lusitana para a América é possível perceber este jogo com a Física na qual toda AÇÂO corresponde outra contrária e com a mesma intensidade. Passado o tsunami das ações das tropas francesas era tempo de retomar a reconstrução do Reino no mesmo processo da reconstrução que sessenta anos antes o terremoto, o tsunami e os incêndios de Lisboa no dia de Todos os Santos de 1755[1] haviam provocado.
Faltava recapitular, evitar ações precipitadas e emocionais. Na recapitulação os fatos estavam a vista de todos amplamente divulgadas pelo jornalismo industrial em franca expansão. Entre as cautelas a permanência da corte lusitana na América ao longo de mais seis anos.
 O CORREIO BRAZILIENSE divulgou no seu Vol. XV. Nº. 87. AGOSTO de 1815 pp.229 até 233 os fatos da queda e prisão de quem havia subestimado as leis da Física, da Politica e da Civilização


MISCELLANEA.
BONAPARTE.
CONVENCIDO Napoleaõ, depois da sua derrota em Waterloo, que naõ se podia manter no Throno tendo contra si as Potências Alliadas, o partido Francez Realista, e o partido Francez Republicano, abdicou o seu poder pela segunda vez.
Fig. 04 – Uma encenação em junho de 2015 da btalha de Waterloo na qual Napoleõa condecora um dos soldados. A forte interação que Napoleão Bonaparte mantinha com os mais baixos escalões do seu exército granjeou-lhe uma lealdade e uma dedicação que o soldado raso mantinha com o “seu” imperador. Esta mística explica não só os gigantescos expercitos que reunia como o seu retorno intempestivo da Ilha de Elba. Por mais elevada que fosse a graduação dos seus generais nenhum deles conseguiu criar esta mística pessoal.

Fouche, por outro nome Duque de Otranto, tinha concertado com Talleyrand entregar a pessoa de Bonaparte aos Alliados; porque com este acto se assegurava, o mais que podia presumir, da protecçaõ do mesmo Rey da França, e se vingava ao mesmo tempo da inimizade, quetivera a Buonaparte.
Desde que os Exércitos Alliados entraram em Paris, se espalharam muitos rumores contradictorios sobre o lugar em que Buonaparte se achava escondido: mas Fouché, que o seguia cora seus espias, sabia mui bem, que Nopoleaõ estava em Rochefort, aonde tinha duas fragatas Francezas promptas para o conduzirem aos Estados Unidos, pelo que foi o porto bloqueado por uma esquadra Ingleza, taõ estrictamente, que Buonaparte conheceo ser-lhe impossível escapar-se; assim escolhendo do mal o menos, entregou-se aos Inglezes; e escreveo ao Principe Regente da Gram Bretanha a seguinte earta, que damos no seu original Francez.
Fig. 05 – A chegada de Napoleão Bonaparte ao HMS BELLEROPHON foi um evento que a propaganda britânica soube explorar devidamente. Assim um verdadeiro exército de curiosos e de convidados enfeitou e movimentou a baia onde estava fundeado este glorioso vaso de guerra. Este tri mastro,  com 74 canhões, havia participado das batalhas navais do Nilo e de Trafalgar  contra a marinha francesa,

" Altesse Royale,—En butte aux factions qui divisent mon pays et á iinimitié des plus grandes puissances de 1'Europe, j'ai termine ma carriere politique, e je viens, comine Temistocles m'asséoir sur les foyers du peuple Britannique. Je me mets sous Ia proteclion de ses lois, que je reclame, de V. A. R., coranae le plus puissant, le plus constant, et le plus genereux de mes ennemis."

O Príncipe Regente naõ fez caso algum desta carta, que até nem podia ser entregue a S. A. R. vindo de um indi viduo particular, como Buonaparte se considerava a si mesmo, depois de sua abdicação ; pelo que o navio Belleropbon, capitão Maitland, a cujo bordo se achava Buonaparte, o conduzio a Plymouth; aonde se lhe prohibio toda a communicaçaõ com a terra, ou outras embarcaçoens.
Fig. 06 – Napoleão Bonaparte entrega a sua espada ao Capitão Frederick LEWIS MAITLAND comandante do HMS BELLEROPHON. O comando  e tripulação de vaso de guerra britânico passuo a tratar o antigo imperador como “general”  Napoleão Bonaparte sob protestos da minúscula corte que reivindicava o tratamento de “imperador”

Parece que o destino de Buonaparte estava ja determinado de concerto, entre os Soberanos Alliados; assim logo que estiveram promptos os vasos que o haviam conduzir a S". Hellena; foi recebello o navio Northumberland de 74 peças, commandado pelo Almirante Cockburn.
Sahiram de Plymouth os navios Northumberland c Bellerophon, aos 4 de Agosto, e aos 6 avistaram, juncto a Torbay, o navio Tonnant com o Almirante Lord Keith abordo, como chefe da esquadra do cannal.
Fig. 07 – Napoleão Bonaparte como “hóspede” do  HMS BELLEROPHON. Cheio de exigências e acompanhado por um minúscula corte que não podia fazer nada contra a muralha da opinião publica britânica. Certamente os perplexos marujos não podiam acreditar nos seus próprios olhos por terem em suas mãos alguém temido e poderoso

O general Bertrand foi a bordo do Tonnant, e ali jantou com Lord Keith, e Almirante Cockburn. Durante o jantar o Almirante Sir George Cockburn explicou ao general Bertrand, as instrucçoens, que tinha, para conduzir Buonaparte a Santa. Hellena; sendo um dos artigos, que havia de passar revista á bagagem antes de a receber a seu bordo, no navio Northumberland. Bertrand expressou em termos fortes a sua opinião, contra a medida de mandarem o Imperador (como elle ainda lhe chamava, naõ obstante as duas abdicaçoens) para Stª. Hellena, quando o seu desejo éra viver socegado na Inglaterra, debaixo da protecçaõ das leys Inglezas. Nem Lord Keith, nem Sir George Cockburn discutiram com elle este ponto; mas deixáramno fallar.
Depois de jantar Lord Keith, e Sir George Cockburn, accompanhados pelo general Bertrand, foram para bordo do Bellerophon; e acharam que Bonaparte estava ja desarmado, tendo-se-lhe tirado as pistolas e mais armas que tinha • no que houve bastante altercaçaõ com os officiaes Francezes: Destes, os que naõ haviam de acompanhar Bonaparte foram mandados para bordo da fragata EuroIas. Bonaparte despedio-se delles individualmente; e houve entre outros um official Polaco (o Coronel Pistowski) que o queria por força accompanhar, ainda, dizia elle, que fosse para o servir como creado inferior; havendo recebido 17 feridas em seu serviço. Savary c Lallemand foram separados de Buonaparte mas ficaram abordo do Bellerophon.
Fig. 08 –Coube ao Capitão Frederick LEWIS MAITLAND(1774-1839)[1], comandante do  HMS BELLEROPHON, conduzir Napoleão Bonaparte e sua corte até Plymouth e desta lugar até a solitária Ilha de santa Helena no Atlântico sul. Habituado o om a severa disciplina e hierarquia do pacto que sustentava a Grã Bretanha nos piores momentos era um entre os muitos que empenhara, nas melhores funções possíveis que o seu cargo  exigia em momentos de triunfo. Porém não era momento de celebração e eventos ruidosos aos quais o se “hospede” estava acostumado como imperador dos franceses. Os ingleses uniformizaram o tratamento de “general” para Napoleão apesar d0s protestos da minúscula corte a bordo.

Lord Keith informou a Bonaparte, que havia ordem de o mudar para o navio Northumberland, em que devia fazer á sua viagem para Sta. Hellena; Buonaparte, que recebeo Lord Keith de meias de seda, chapeo debaixo do braço, tope tricolor, crachá da legiaõ de honra, e mais ornatos de sua invenção; protestou vehementemente contra este acto do Governo Britannico; e disse que naõ podia conceber que houvesse alguma objecçaõ á sua residência na Inglaterra.
Captain_John_Cooke,_1763-1805 – pintura de Lemuel Francis  ABBOT
Fig. 09 – A memoria do Capitão John COOKE (c.1762-1805)[1]  estava bem viva como comandante do  HMS BELLEROPHON durante a Batalha de Trafalgar na qual ele pereceu como também o Comandante Nelson. Batalha na qua a Inglaterra pôs fim a supremacia nos mares pretendida por Napoleão Bonaparte. Dez anos depois o imperador que os ingleses tratavam com general, estava a mercê destes vitoriosos de 1805.

Os Officiaes Inglezes naõ lhe responderam. Sir George Cockburn perguntou-lhe a que horas queria que viesse no dia seguinte para o levar para seu bordo. Napoleaõ respondeo, que ás 10 horas. Sir George Cockburn perguntou-lhes se precisavam de mais alguma cousa antes sahir ao mar; e o Gen. Bertrand respondeo, que queria 20 baralhos de cartas de jogar, e um taboleiro de gumaõ: madame Bertrand disse, quequeria alguns trastes, que lhe eram necessários.
Buonaparte mostrou-se indignado, que o tractassem simplesmente de general, e observou bruscamente aos Inglezes, que elles lhe haviam mandado embaixadores, e reconhecido Primeiro Cônsul da França.
Almirante Thomas_Pasley pintura de Lemuel_Francis_Abbott_-_
Fig.10  – A memória da figura da almirante Thomas Passley (1734-1808)[1] era cultivada como comandante e com suas ações no bloqueio naval que a Inglaterra mantinha especialmente no Canal da Mancha ao longo dos diss do governo do imperador  Napoleão Bonaparte . Agora esta figura estava nas mãos embarcada e vigiada por uma frota inteira e vitoriosa

Na segunda feira, 7 de Agosto, Sir George Cockbura foi a bordo do Bellerophon, passou revista á bagagem de Bonaparte: consistia esta em dous serviços de meza de prata, vários artigos de ouro, toucador, livros, camas, &c. Buonaparte trouxe com sigo da França 40 creados, a maior parte dos quaes foi mandada para bordo do Eurotas.
Buonaparte embarcou entaô na Lincha, levando consigo as seguintes pessoas. General Bertrand, Madama Bertrand e seus filhos; Conde e condcssa Mouthòlon, e seu filho; Conde Lascasas; general Gorgand; nove creados. O cirurgião de Buonaparte naõ quiz acompanhallo; e offereceo-se para o fazer, o cirurgião do Bellerophon.
Quando Buonaparte chegou a bordo do Northuraberland, Bertrand entrou primeiro, seguio-se-lhe Buonaparte, a quem a tropa, que se tinha formado na coberta, fez as continencias como a um general.
Os navios se fizeram logo á vella para o seu destino. Buonaparte, porém, antes de submetter-se a sua sorte, entrou o seguinte :—
Protesto,
Protesto solemnemente perante Deus e os homens, contra a violação dos meus sagrados direitos, na disposição de minha pessoa e de minha liberdade, pela via da força. Eu vim livremente ter a bordo do Bellerophon, naõ sou prisioneiro, sou visitante da Inglaterra. Uma vez que entrei a bordo do Bellerophon, fiquei immediatamenfe com direito á hospitalidade (Jefus sur le foyer) ào povo Inglez. Se o seu Governo, dando ordens ao capilaõ do Bellerophon para me receber, a mim e ao meu séquito meramente intentou armar-me uma cilada, tem perdiditlo a sua honra, e manchado a sua bandeira. Se es(e neto for completado em sua execução, em vao se gloriarão os Inglezes de sua lealdade, de suas leys, e de liberdade. A fé Britannica será obscurecida na hospitalidade do Bellerophon.
Appéllo para a historia : ella dirá, que um inimigo, que por 20 annos fez guerra ao povo de Inglaterra, veio voluntariamente, em suas desgraças, procurar um azylo debaixo da protecçaõ de suas leys. Que prova mais forte podia elle dar de sua estimação e de sua confiança ?  Porém ¿ como conrespondeo a Inglaterra a tal confiança e magnanimidade ? Pretenderam offerecer uma maõ amigável a este inimigo, e quando elle se rendeo era boa fé, eles o sacrificaram.
NAPOLEAÕ.
A bordo do Bcllerophron, no mar. 4 d'Agosto, 1815.
Fig. 11 –Napoleão Bonaparte teve sua última vista da Europa a bordo HMS BELLEROPHON. Europa que teimara em submeter à sua vontade e arbítrio.  Os britânicos permitiram que este barco glorioso em tantas vitórias cruciais fosse cercado de curiosos de toda espécie e categorias sociais, econômicas e politicas. De outra parte Napoleão temia uma execução camuflada  como ele tinha liquidado desde os  dias do reino da guilhotina da Revolução Francesa. Porém os inglese deram uma amostra do respeito aos prisioneiros de guerra que sua civilização exigia..

Após as  notícias oficiais e publicadas na imprensa inglesa o editor do CORREIO BRAZILIENSE abriu outro espaço para uma análise e comentários atinentes a queda, as razões e as necessárias precauções com EGOS que não conhecem suas competências e muito menos os seus limites.
Em agosto de 2015 é possível verificar que pouco adiantou estas precauções, razões e tropeços deste tirano. A atmosfera estava carregada de EGOS e capazes de transformar a indústria bélica em massacres crescentes. Estes EGOS foram sementeiras de grandes, pequenos e micro tiranos que se espelhavam m Napoleão Bonaparte.
Fig. 12 – A viagem sem volta de Napoleão Bonaparte contemplado pela tripulação  do HMS BELLEROPHON num interpretação do ano de 1880 do pintor William Quille ORCHADSON (1832-1910)[1] (óleo sobre tela 165,1  x 248,9 cm). A permanência da memória desta catástrofe de um dos seus inimigos mais implacáveis e determinados alimentou grandes segmentos da identidade britânica e acendeu outras formas de combater a tirania que se espalhou mundo afora, sob novas formas, após as condições de Era Industrial que a Grã Bretanha manejava para seus interesses. .

CORREIO BRAZILIENSE Vol. XV. Nº. 87. AGOSTO de 1815 pp.251 até 254

Buonaparte.
A p. 229 damos uma narração algum tanto circumstanciada do que se passou com este homem, desde que abdicou pela segunda vez a coroa de França, até que partio para o seu destino na ilha de Santa Hellena. O character audaz, e imprudente de Buonaparte, mostra-se bem nos dous documentos últimos, quo sahiram de sua maõ: um he a carta, que ele dirigio ao Principe Regente de Inglaterra, pedindo-lhe um azylo neste paiz ; outro he o protesto, contra a sua deportação e prizaõ em Sancta Hellena.
Fig. 13 – O destino do HMS BELLEROPHON era uma pequena e solitária Ilha de Santa Helena no Atlântico Sul. A aproximação desta ilha foi severamente bloqueada após o desembarque  de  Napoleão Bonaparte. Este bloqueio durou até 1821,  ano da morte deste prisioneiro especial.. A  ilha de santa helena é uma das emergências de uma cadeia de montanhas submersas que existe entre a África e a América.

Buonaparte, havendo feito obstinada guerra aos Inglezes e procurado por todos os modos a ruína de seu commercio, e a destruição de seu character e reputação, assentou agora, que duas palavras suas em uma carta ao Principe Regente obteriam de S. A. R. um acolhimento mui respeitoso ! Este passo foi efeito da vaidade, arrogância, e presumpçaÕ, que saÕ os traços mais principaes deste inimigo da humanidade; porém vendo que este plano lhe falhou, mudou o tom, queixando-se da falta de generosidade do Principe Regente ; e tendo a audácia de dizer ; que tinha preparado a S. A. R., e á naçaõ Ingleza, uma oceasiaõ de apresentar ao mundo um rasgo de magnanimidade, mas que se perdeo o momento; e que se o deixassem viver como particular em Inglaterra, daria a sua palavra de honra de se naÕ embaraçar mais em negócios públicos.
Fig. 14 – A  casa, destinada Napoleão Bonaparte, na pequena e solitária Ilha de Santa Helena no Atlântico Sul , localizava-se no centro desta numa estradinha tortuosa que leva para a localidade de LONGWOOD. Assim qualquer aproximação deste prisioneiro deveria atravessar montanhas e vales e impossível de não percebida pelos ingleses.

Buonaparte sabia mui bem, que a Inglaterra éra o único paiz da Europa, aonde sua vida seria protegida pelas leys; porque em outra qualquer parte, o Soberano o poderia mandar esquartejar sem dar satisfacçoens a ninguém, nem mesmo embaraçar-nse com justificar o acto ; e naÕ haveria quem lhe tomasse contas. Aqui na Inglaterra naÕ ha quem tenha tal direito; e qualquer pessoa, que matasse Bonaparte, fosse com ordem do Soberano ou naÕ fosse, havia ser enforcada.
Mas, quando Buonaparte appella para a generosidade de S. A. R., e da naçaõ Ingleza; quando deseja viver em Inglaterra, naÕ se lembra que a sua presença deve ser o horror das pessoas para que appella; naÕ por ter feito guerra aos Inglezes,naÕ por ter procurado destruir-lhe o seu commercio, naÕ pellos ter calumniado; naÕ em fim por nenhuma de suas hostilidades como inimigo—a generosidade pede o esquecimento desses actos, quando o offensor rendido deixa de ser inimigo armado. Os motivos, que fazem Bonaparte indigno da generosidade Ingleza, e que a sua consciência lhe faria ver, se a sua vaidade o naÕ cegasse, saõ motivos de outra ordem mais importante e de mais permanentes efeitos. Como insultador de tantos soberanos da Europa, a quem tractou com indesculpavel desacato, Bonaparte devia ser obnoxio ao Principe Regente da Inglaterra. Como destruidor da liberdade, em França, e em todos os mais paizes aonde ella podia existir, Bonaparte devia ser objecto de execração a uma naçaõ livre, como he a Ingleza; estes crimes naÕ podem esquecer-se; por nenhuma das partes.
Fig. 15 – Um dos raros acessos para desembarque na Ilha de Santa Helena era a minúscula praia da JAMESTOWN com um reduzido números de prédios exprimidos entre paredes de pedra  A partir deste povoado era necessário  atravessar montanhas e vales para chegar até a casa de Napoleão Bonaparte,.

¿ De quem pois esperava Bonaparte protecçaÕ na Inglaterra ?
De um pequeno numero de indivíduos, que, atordoados com o esplendor das victorias Francezas, naõ viam nunca os crimes daquelle chefe de salteadores, nem as conseqüências funestas dessas mesmas victorias. Mas o numero de taes indivíduos he taÕ pequeno na Inglaterra, que delles nenhuma protecçaÕ podia obter Bonaparte.
Ultimamente, ponderaremos os fundamentos porque Buonaparte esperava o favor de viver em Inglaterra, cousa que ninguém lhe prometteo, e que só a sua vaidade lhe fez crer, que bastava explicar o seu desejo, para que lho cumprissem.
Fig. 16 – A casa de Napoleão Bonaparte numa fotografia antiga. Localizava-se no centro da Ilha de Santa Helena numa estradinha tortuosa que leva para a localidade de LONGWOOD.  . Foi nesta casa que Napoleão faleceu  no dia 05 de maio de 1821.

Buonaparte achou-se em Rochefort, cercado por terra pelas tropas, que se destinavam a apanhallo, e entregallo ou a Luiz XVIII., ou aos Alliados; na cidade éra acompanhado pelos espioens de Fouche, sem cujo conhecimento naÕ podia dar um passo; por mar estava bloqueado por uma esquadra Ingleza.
Nestes termos sendo inevitável o ficar prisioneiro ou de uns ou de outros, escolheo lançar-se no meio dos Inglezes, aonde considerou a sua vida segura. Escreveo portanto, ao PríncipeRegente, e sem esperar resposta; porque o perigo o apertava, passou-se a bordo da esquadra Ingleza; alegando que appellava para a magnanimidade de seus inimigos, com a mesma hypocrita arenga, com que os bulroens e estafadores representam a alegam a generosidade de sentimentos da pessoa a quem. querem enganar, quando vaõ pedir dinheiro emprestado, &c.
Fig. 17 – Após a espalhafatosa transladação dos restos mortais de Napoleão Bonaparte para Paris e seu desfile em 15 de dezembro de 1840  sob o Arco do Triunfo[1], a sua casa em Santa Helena passou ser objeto de turismo e de desfiles de caravanas de curiosos.. A França possui um papel especial nesta conservação da memória material e imaterial de um dos personagens e  pontos culminantes de sua história.

Mais ridículo ainda seria o acreditar, no fundamento alegado por Buonaparte para obter a generosidade, que lhe fazia conta; e vem a ser a sua promessa debaixo de palavra d'honra, que naÕ se intrometeria mais em negócios públicos.
Promessa, debaixo de palavra d'honra de Bonaparte !
Vil déspota, ¿quando cumpristes tu com o que promettestes, se a tua vaidade, ambição, e avareza te guiavam para outra parte? ¿ Naõ jurastes servir a Republica Franceza? Sim; mas destruistes com a ponta da bayoneta os conselhos da naçaõ. ¿ NaÕ jurastes manter a Constituição, em que te declarastes Cônsul ? Sim, mas em breve fostes perjuro, para te declarares Imperador. ¿ NaÕ jurastes a fé matrimonial á mulher com quem casastes ? Sim, mas tu a repudiaste, sem outro motivo mais do que de te fazer conta cazar com outra.
¿Naõ fizeste paz com a Hollanda? Sim, mas tu lhe destruístes a sua Republica, para lhes nomeares teu imbecil irmaÕ para déspota. O mesmo fizestes com a Republica da Itália, com a Suissa, com as cidades livres d'Alemanha, com as cidades Hanseatiças
Seria bem longo enumerar todas as perfidias deste inimigo da humanidade—e falia de sua promessa de palavra d'honra !
Nenhum homem pôde jamais fazer tanto bem á Europa como Buonaparte—ninguém lhe fez nunca mais mal. Temos dicto; sobre este Individuo.
INGLATERRA.
A luta da Inglaterra contra Buonaparte, que tantas vezes ameaçou annihilar os Inglezes, ficou gloriosamente concluída om a humiliaçaõ deste inimigo implacável.
A exclusão dos navios estrangeiros, da ilha de St». Hellena, foi annunciada no seguinte documento
Londres: Secretaria dos Negócios Estrangeiros.
26 de Agosto, 1815.
Lord Bathurst, um dos Principaes Secretários de Estado de S. M., notificou hoje, por ordem de S. A. R. o Principe Regente, aos Ministros das Potências Amigas, residentes nesta Corte, que, em conseqüência dos acontecimentos, que tem succedido na Europa, se tem julgado conveniente, e determinado, em conjuncçaõ com os Soberanos Alliados, que a Ilha de Sancta Helena seja o lugar destinado para a futura residência do General Napoleaõ Buonaparte, sob taes regulamentos, quaes se julgassem necessários para a perfeita segurança de sua pessoa; e para este fim se tem resolvido, que todos os navios e vasos estrangeiros quaesquer, sejam excluídos de toda a communicaçaõ, com a quella ilha, e de se approximarem a ella, em quanto a dieta ilha continuar a ser o lugar de residência do dicto Napoleaõ Buonaparte.

Não houve manifestação e muito menos ação da parte do Regente Dom João VI diante desta renúncia, fim das hostilidades e prisão de Napoleão Bonaparte. De fato o seu governo estava livre de sobressaltos. O cenário era de reconstrução física, econômica e política. No aspecto político não há como esquecer as simpatias de muitos lusitanos pela Revolução Francesa e os seus porta-vozes
Assim é compreensível o  tempo de permanência da corte portuguesa no Rio de Janeiro após a renúncia de Napoleão Bonaparte. Havia necessidade de que estas energias - acumuladas ao longo dos  últimos anos - tomassem outro rumo e objetivo.
Fig. 18 – O local da sepultura de Napoleão Bonaparte de 1821 até 1840- Nesta data o seu corpo foi transladado para o Hotel des Invalides  em Paris[1] onde os seus restos mortais receberam a visita da rainha Vitória da Inglaterra entre tantas personagens que mesmo sendo os seus inimigos reconheciam o sei gênio militar.. A  França hasteia neste   local o seu pavilhão tricolor.

Este período de acomodação e reconstrução  coincide com tempo de vida do Corso na Ilha de Santa Helena. Napoleão morreu no dia 05 de maio de 1821 Dom João VI desembarcou em Lisboa no dia  04 de julho de 1821.
Napoleão Bonaparte aproveitou os seus seis últimos anos di vida na solitária ilha de Santa Helena para reescrever a sua auto-biografia e a partir do paradigma que ele mesmo tinha vivido
Da parte dos silenciosos e eficazes ingleses havia o contraste flagrante com o paradigma francês Enquanto Napoleão confiava as suas ações na concentração do poder na sua pessoa, no militarmos, na propaganda e no populismo, os britânicos buscavam transformar cada súdito em soldada sem centralismo ostensivo. Na sua cultura material transformaram o seu artesanato em produção industrial de escala, intimamente associado a comércio e com  capacidade de desvendar todos os segredos de um contrato ou de um tratado que lhes era favorável.


A RENDIÇÂO de NAPOLEÃO  VÌDEO




Navio BEELEROPHON


NAPOLEÂO a BORDO



ILHA de SANTA HELENA


TENTATIVA de RESGATE de NAPOLEÃO de SANTA HELENA VIA BRASILL
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