A DEMOCRACIA
ENXOVALHADA.
“Fundarão,
os Caraqueños a sua transformação politica
no despotismo, na intriga, e na corrupção.
Mináraõ as bazes da sociedade, confundirão a moral: formarão o depravado desígnio de extender a
rebelliaõ por toda a America; e por
pouco naõ acabarão com todos os indivíduos
do districto”.
Correio Braziliense, vol. IX. nº 55 dezembro de 1812,Miscellanea,
p. 957
BOTICELLI.Sandro
1445-1510 A calunia contra Apeles
Fig. 01 – Uma das
corrupções - que espreita o regime democrático - é a calúnia solta. desbragada e
sem provas. Porém a fachada democrática - ostentada silenciosamente para praticar tudo o que é contra a
cidadania - é muito mais condenável e pior do que o ataque da calúnia frontal e acintosa.
O regime democrático
sofre pesados reveses e não corre perigos menores, tanto em dezembro de 1812,
como em dezembro de 2012. Em 1812 o Poder Originário estava saindo do pesado
jugo colonial e insuflado pelos ideais das Revoluções Norte Americana (1776) e
Francesa(1789). Em 2012 os cidadãos latino-americanos estão saindo, quais
zumbis, dos túmulos das suas respectivas ditaduras, reanimados e insuflados por
um consumismo que eles tomam como liberdade e democracia.
Fig. 02 – A
exibição da descabida e deslocada da valentia infantil diante da força do
Estado possui uma causa bem mais profunda e não visível nesta imagem que
esconde mais do que mostra.No entanto esta criança - fora da escola e sem abrigo
físico e moral - é índice e enxovalha a democracia devido a algo profundamente
errado e intolerável.
Uma construção humana
corre dois perigos extremos. De um lado é quando considerada natural e assim deixa-se
levar para a alienação devida à Natureza entrópica e inexorável. No lado oposto
uma obra humana considerada de origem divina e extraterrestre, aliena esta
criação da sua origem e leva para a sua idolatria.
Mesmo que a fachada da
democracia seja preservada, o que se passa no interior contradiz qualquer
propaganda ou marketing. Propaganda e marketing que Platão já descreveu (1983
308) ”A democracia abriga um bazar de
sistemas políticos” quando alguém se propõe a escolher um regime para
a sua cidade.
Certamente o filosofa
tenha as sua razões. Pois ele estava tentando fundamentar a sua tirania
iluminada e segura.
Fig. 03 – A
sinistra mentira “O Trabalho Liberta”
é originária de uma peça de refinada engenharia do marketing e propaganda
eficaz que pode se resumir em “menti e menti: que alguma coisa irá
permanecer como verdade” Esta
peça de marketing e propaganda conseguiu iludir um dos povos com maior cultura
e escolaridade. Porém o resultado foi a morte silenciosa de milhões de honestas
e indefesas vítimas que trabalharam até a sua morte sob este regime..
O ódio contra a
democracia possui numerosas razões.
Uma entre tantas ocorre quando ela estraga
e perde o sentido que a criação humana lhe conferiu.
Assim a democracia
torna-se o pior, por melhor que possa parecer e ser apresentada pela sua
propaganda e marketing.
O resultado final desta corrupção da Democracia é um
regime pior do que a barbárie e a tirania, mas da qual seja possível
identificar os seus mentres e agentes.
PARREIRAS
Antônio - 1860-1937 - Prisão de Tiradentes - 1914 óleo 180x
282 cm - Museu Júlio de Castilhos POA-R
Fig. 04 – A
imagem da “Prisão de Tiradentes”
mostra o resultado da delação de colegas da Conjuração mineira que preferiram a
segurança e lucro do Regime Colonial Brasileiro aos ideais da Democracia que
foram sustentados até o último momento e consequências pelo mártir mineiro
Uma Democracia
corrompida é um atentado aos contratos e às leis de uma civilização construída
pelos esforços humanos. A aparente liberdade desta Democracia corrompida, é um
ambiente propício para a instalação das leis primárias apontadas pelo darwinismo
nas quais o mais forte, o esperto e o ladino possui livre curso. As feras da
barbárie saltam, surpreendem as sua vítimas diante de qualquer vacilo, falta de
conservação ou naturalização da democracia.
WELLLINGTON
em filme - Torres de Vedras cena
Fig. 05 – A
resistência portuguesa sob o comando do Duque Wellington e do Conde de Troncoso
(Berensford), apesar da vitória em Buçaco, teve de arrasar as modestas
propriedades e realizar uma penosa retirada para que os destroçados exércitos
franceses não tivessem onde se abastecer. Este evento trágico foi filmado entre
2008 até 2010 numa obra denominada “As linhas de Wellington”. O filme possui um
suporte emocional e econômico quando Portugal enfrenta as consequências da sua
adesão à União Europeia e a crise de sua nova heteronímia.
Insiste-se na tese de
que toda civilização é uma construção humana e como tal artificial e se é
redundante. Assim um regime democrático é uma construção humana artificial.
Esta construção humana surpreendeu o cientista do comportamento norte-americano Skinner, quando sentencia (1980, p. 207)
que “a Democracia é o povo planejando as contingências nas quais irá viver”. Certamente
na espécie humana é uma das distinções das outras espécies vivas nas quais
predomina o pré condicionamento inexorável, previsível e determinante dos
comportamentos dos indivíduos. Com certeza também este planejamento humano
representa um gasto extra de energias, de esforços e é índice da
artificialidade deste processo, dos riscos de possíveis erros e do eterno
recomeçar.
Evidente que a
qualquer regra sempre exibe exceções. Um regime democrático, para as pessoas
inteiramente entregues à Natureza, propicia ocasião para exibir só
exterioridades, marketing e propaganda incoerente e até ridícula. Estes seguem
a sentença do poeta Fernando Pessoa que afirma que ”a Natureza não pois possui nada por dentro.. por isto ela é Natureza”[1].
Natureza entregue às vigorosas forças da entropia universal e que transforma
tudo em “coisas” e em objetos
[1] PESSOA
Fernando - Li Hoje - http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/fernando-pessoa/li-hoje.php
Fonte da imagem
em ATHEARN Robert - 1963 - p.1052
Fig. 06 – A juventude
e a riqueza americana aos pés do poder europeu em 1900. Poder europeu, que
procurava por todos os meios do marketing e da propaganda manter-se como o
príncipe dos sonhos das ricas moças americanas casadouras. Não importava o
ridículo, a incoerência e as aparências grotescas da cena contanto qu pudesse
ter a sua disposição a fortuna e poder da jovem e rica nação norte-americana. Este ridículo e
incoerência resultou no enxovalhamento sangrento da I Guerra Mundial que porém
não foi suficiente para desafazer este apelo grotesco.
Os latinos já
sentenciavam “A corrupção dos ótimos é
péssima”, [Corruptio optimi est péssima] e só se reproduzem como corrupção. Por
mais que alguns se esforcem, se apresentem com
o democráticos jamais atingirão o
nível desta virtude enquanto operarem sobre o terreno da corrupção.
Ao
contrário: provocarão não só a rejeição e o descrédito de si mesmos, que
respingará sobre a própria virtude da Democracia enxovalhando-a.
Enxovalhado, este
regime será odiado e até combatido, não devido à sua natureza intrínseca, mas
pela corrupção dos seus agentes.
Este ódio e vigoroso combate se justificam na
medida em que “a arte está em quem a
produz, não no que produz” ensinava Aristóteles. Evidente que a Democracia
jamais estraga. Quem a estraga são aqueles que se dizem os seus agentes.
Fonte da imagem
em ATHEARN Robert - 1963 - p.1008
Fig. 07 – O Tio Sam (USA) chamando o líder filipino
Emílio Aguinaldo ,para a sua tenda onde se encontram já capturados Cuba, Poro
Rico e o Havaí. Os Estados Unidos, após 36 após de sua independência estavam em
guerra com a Inglaterra. Não aderiu. ao Commonwealth liderado pelos ingleses. Porém
imitava, ou concorria, com o colonialismo britânico. Necessitava e buscava
ativamente territórios para reserva de mercado de sua nascente e pujante
indústria e mercado dos seus produtos agrícolas de exportação. Assim a sua
democracia era um fato de consumo interno da sua propaganda e marketing. Para
os de fora das sua fronteiras era usado
o “Big Stick” ou o cinto
Contudo para alguém
usufruir o direito a um regime democrático ele necessita correr riscos,
realizar escolhas e cultivar a vontade, que segundo Marilene Chaui ( in Lefort1983
: intr.) atinge toda civilização humana, pois “a democracia possui a capacidade de questionar as suas instituições”. Este
questionamento é realizado e na gratuidade sem garantias de um
contrato especifico, conforme Maturana-Varela (1996: 208) “abrir-se para história sem possuir garantias previas”. Assim a
Democracia, apesar de não ser um regime natural, põe as suas forças coerentes
com as forças vitais gratuitas e de curso imprevisível.
Fonte da imagem
em ATHEARN Robert - 1963 - p.1034 &
Fig. 08 – A tomada do poder por Pancho Villa (centro) com
Emiliano Zapata ( a sua esquerda) a multidão subiu ao palácio presidencial e se
fez lei no México Porem este populismo foi mais uma corrupção e um
aproveitamento pontual de um regime democrático mal assimilado e muito pior
praticado. Além de não durar não se institucionalizou com o objetivo de se
reproduzir. As multidões sobem ao palco da História mais como vítimas da
propaganda e marketing e depois traídas e são usadas, de forma solerte por
aproveitadores. Estes usam a ocasião pra enxovalhar a Democracia levando-a ao
patíbulo da barbárie. Uma vez no controle do poder central instalam as leis
primárias apontadas pelo darwinismo nas quais o mais forte, o esperto e o
ladino possui livre curso.
O regime democrático é
pretexto aos improvisadores, aos temerários e até aos delinquentes sentirem-se
livres para agir.
Porém o regime democrático, pela sua natureza construída e
artificial, não só exige a sua preservação constante, mas a permanente educação
e atualização constante para novos tempos e lugares onde deseja se reproduzir.
Numa
guerra física ou simbólica a primeira vítima sempre é a Verdade. A vítima, neste
caso, é a própria Democracia
-
VINIEGRA Salvador 1862-1916 – Juramento da Constituição de Cádiz - óleo de 1912
Fig. 09 – A
passagem do regime antigo e teocrático para uma monarquia contemporânea e
constitucional teve uma leve epifania nas
cortes reunidas em Cádiz e que se materializou na Constituição – “A Bepa”-
jurada em 1812. Com a derrota de Napoleão ela foi abandonada e as
antigas forças voltaram ao poder na Espanha.
Contrato construído a
partir do hábito da integridade intelectual. Hábito capaz de gerar um
conhecimento dos tempos culturais especifico do lugar onde deseja implantar tal
regime. Isto sem esquecer as condições nas quais se projeta reproduzir este
regime por tempo indeterminado.
Uma
das diversas camadas de vetores necessários para a Democracia nascer,
permanecer e se reproduzir – Gráfico
Círio Simon1986
Fig. 10– A
complexa estrutura necessária ao nascimento, permanência e a reprodução da
Democracia é uma das causas do ódio à esta virtude civilizada. A semelhança da
fábula as “UVAS ESTÂO VERDEAS” ela é desprezada e ate odiado por aqueles que
não atingem esta complexa estrutura. O “homo faber”, na concepção de Arendt, não
se conforma, se irrita profundamente e passa a odiar a Democracia. Este homem
máquina não compreende a complexidade, não respeita o necessário tempo de amadurecimento.
Este homem moldado na linha de montagem, não possui alcance par perceber o imenso
número de vetores da qual a Democracia depende para continuar viva e se
reproduzir de forma continuada. Prefere mandá-la para o lixo da História como
algo inútil, obsoleto, senão prejudicial, portanto odioso.
A Democracia depende - como
na Arte - da obra democrática e, no lado oposto, de quem e como esta obra é
recebida. Diante disto Wright Mills pode
afirmar (1975, pp.410/1) que:
“Duas coisas são necessárias a uma
democracia: públicos articulados e informados líderes políticos que, se não á
homens de pensamento, sejam pelo menos razoavelmente responsáveis perante o
público informado que exista. Somente quando públicos e lideres são
responsáveis e de responsabilidade, podem as questões humanas ser submetidas a
uma ordem democrática, e somente quando o conhecimento tem importância pública
é possível essa ordem. Somente quando o pensamento tem uma base autônoma,
independente do poder, mas poderosamente ligada a ele, pode exercer sua força
no condicionamento dos assuntos humanos”.
Fig. 11 – As
circunstâncias de a humanidade ser constituída por mais de sete bilhões de
indivíduos vivos, impõe um regime muito superior ao cacique da tribo ou um coronel
truculento ou de um rei sonolento descolado e sendo manipulado por áulicos
aproveitadores e amorais. Por este ângulo nenhum regime de governo pode ser
exercido por leis primárias apontadas pelo darwinismo nas quais o mais forte, o
esperto e o ladino possui livre curso. O máximo que estes líderes improvisados, mesmo se dizendo democráticos, podem
realizar é levar esta multidão ao matadouro, como qualquer rebanho. Nas
numerosas vezes que isto já ocorreu, as vestes da autêntica Democracia não só
foram enxovalhadas, mas manchadas e cobertas de sangue inocente.
Os líderes democráticos
participam das condições dos artistas. Estes possuem um projeto consciente, uma
obra inovadora e coerente com o seu projeto. Aproximam-se do público para
receber a sanção de sua aprovação, deliberação e decisão de interagir
contratualmente neste projeto. Como na arte temos corrupções, engodos e enxovalhamentos
quando as obras são falsas, meras cópias que corrompem artista obra e seu
público.
-
FARIA Leopoldino de (1836-1911) Resposta de Tiradentes c.1900 óleo 45.2 x 60 cm
- Museu Histórico Nacional
Fig. 12 – O
mártir da Inconfidência Mineiro inocentou todos os seus colegas da Conjuração e
entregues pela delação do movimento libertário. José Joaquin da Silva Xavier
(12.11.1745 – 21.04.1792) “O Tiradentes” assumiu sozinho o sacrifício de sua vida sustentando
até as últimas consequências os seus ideais da Democracia e da República. Ele
foi um das inumeráveis vítimas do Regime
Colonial Brasileiro e que ganhou uma notoriedade na ocasião da efetiva instalação do regime
republicano o dia do seu supliciou coincide aproximadamente com a paixão de
Cristo e de quem também herdou a imagem tradicional.
Para contornar estas corrupções,
engodos e enxovalhamentos da Democracia, vale a pena avaliar todas as complexas
condições e vetores para se candidatar a aprendiz de feiticeiro. Mary Parker Follet
(1869-1933) fornece um índice simples do autêntico democrata e se julgar com comprovada competência neste regime, conforme
anotou Carvalho (1979, p.60) que “o meu
teste como cidadão democrático é quão
plenamente o todo é expresso em mim ou através de mim” . Porém quem corrompe este teste, blefa ou o
escamoteia, transforma a Democracia autêntica em marketing de fachada e em
propaganda da pior espécie. Esta corrupção da Democracia autêntica só pode
deflagrar o ódio contra esta virtude, enxovalhá-la
e torná-la irreconhecível.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS
ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition
de l’homme moderne. Londres :
Calmann-Lévy, 1983
ATHEARN Robert (1914-1983) A
World Power: The American Heritage new Illustrated History of the
United States . vol 12 New York: del Publishing . co 1963 pp. 993- 1078
CARVALHO, Maria Lúcia. Escola e democracia: subsídio para um
modelo de administração
segundo as ideias de Mary P. Follet.
São Paulo : EPU, 1979. 102p.
LEFORT, Claude. A invenção democrática: Os limites da
dominação totalitária. Paris. Libr. Fayard, 1981 SãoPaulo : Brasiliense, 1983.
247 p.
LISBOA, João
Francisco (* 1812–† 1863). Jornal de Timon : eleições na
Antiguidade, eleições na Idade Média, eleições na Roma Católica, Inglaterra, Estados
Unidos, França, Turquia, partidos e eleições no Maranhão /João Francisco Lisboa
1852. Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. 326 p. (Edições do
Senado Federal ; v. 28) I. Título. II. Série. CDD 324.9
O Jornal de Timon está disponível integralmente no portal do
Domínio Público brasileiros em:
MATURANA R., Humberto
(1928-) La realidad: ¿objetiva o
construida?. Barcelona : Antropos, 1996. 159 p
MATURANA R., Humberto
(1928-) e VARELA. Francisco (1946-). El árbol del conocimiento: las bases biológicas del
conocimiento humano. Madrid : Unigraf. 1996, 219p.
SKINNER, Burrhus
Frederico (1904 –1990). Contingências do reforço: uma análise
teórica. São Paulo :
Abril Cultural, 1980, pp.167-394.
WRIGHT MILLS C. A elite do poder. 3ª ed. Rio de
Janeiro : ZAHAR, 1975. 421p.
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS.
BOTICELLI, Sandro
(1445-1510)
A
calunia contra Apeles
CORREIO
BRAZILIENSE
PRÁTICA
DEMOCRÁTICA na ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL
TRÊS CLASSES da
ROMA ANTIGA
SENADO ROMANO
MUSEU JÚLIO da
CASTILHOS
POA-RS
MUSEU de JUIZ de
FORA
TIRADENTES
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