sábado, 1 de dezembro de 2012

NÃO FOI no GRITO – 062.






A DEMOCRACIA ENXOVALHADA.
Fundarão, os Caraqueños a sua transformação politica no despotismo, na intriga, e na corrupção. Mináraõ as bazes da sociedade, confundirão a moral: formarão o depravado desígnio de extender a rebelliaõ por toda a America; e por pouco naõ acabarão com todos os indivíduos do districto”.
         Correio Braziliense, vol. IX. nº 55 dezembro de 1812,Miscellanea, p. 957
BOTICELLI.Sandro 1445-1510 A calunia contra Apeles
Fig. 01 – Uma das corrupções - que espreita o regime democrático - é a calúnia solta. desbragada e sem provas. Porém a fachada democrática - ostentada  silenciosamente  para praticar tudo o que é contra a cidadania -  é muito mais condenável e pior do que o ataque da calúnia frontal e acintosa.
O regime democrático sofre pesados reveses e não corre perigos menores, tanto em dezembro de 1812, como em dezembro de 2012. Em 1812 o Poder Originário estava saindo do pesado jugo colonial e insuflado pelos ideais das Revoluções Norte Americana (1776) e Francesa(1789). Em 2012 os cidadãos latino-americanos estão saindo, quais zumbis, dos túmulos das suas respectivas ditaduras, reanimados e insuflados por um consumismo que eles tomam como liberdade e democracia.
Fig. 02 – A exibição da descabida e deslocada da valentia infantil diante da força do Estado possui uma causa bem mais profunda e não visível nesta imagem que esconde mais do que mostra.No entanto  esta criança - fora da escola e sem abrigo físico e moral - é índice e enxovalha a democracia devido a algo profundamente errado e intolerável.
Uma construção humana corre dois perigos extremos. De um lado é quando considerada natural e assim deixa-se levar para a alienação devida à Natureza entrópica e inexorável. No lado oposto uma obra humana considerada de origem divina e extraterrestre, aliena esta criação da sua origem e leva para a sua idolatria.
Mesmo que a fachada da democracia seja preservada, o que se passa no interior contradiz qualquer propaganda ou marketing. Propaganda e marketing que Platão já descreveu (1983 308) A democracia abriga um bazar de sistemas políticos” quando alguém se propõe a escolher um regime para a  sua cidade.
Certamente o filosofa tenha as sua razões. Pois ele estava tentando fundamentar a sua tirania iluminada e segura.

Fig. 03 – A sinistra mentira “O Trabalho Liberta” é originária de uma peça de refinada engenharia do marketing e propaganda eficaz que pode se resumir em “menti e menti: que alguma coisa irá permanecer como verdade”  Esta peça de marketing e propaganda conseguiu iludir um dos povos com maior cultura e escolaridade. Porém o resultado foi a morte silenciosa de milhões de honestas e indefesas vítimas que trabalharam até a sua morte sob este regime..
O ódio contra a democracia possui numerosas razões.
 Uma entre tantas ocorre quando ela estraga e perde o sentido que a criação humana lhe conferiu.
 Assim a democracia torna-se o pior, por melhor que possa parecer e ser apresentada pela sua propaganda e marketing.
 O resultado final desta corrupção da Democracia é um regime pior do que a barbárie e a tirania, mas da qual seja possível identificar os seus mentres e agentes.
PARREIRAS Antônio - 1860-1937  - Prisão de Tiradentes - 1914 óleo 180x 282 cm - Museu Júlio de Castilhos POA-R
Fig. 04 – A imagem da “Prisão de Tiradentes” mostra o resultado da delação de colegas da Conjuração mineira que preferiram a segurança e lucro do Regime Colonial Brasileiro aos ideais da Democracia que foram sustentados até o último momento e consequências pelo mártir mineiro
Uma Democracia corrompida é um atentado aos contratos e às leis de uma civilização construída pelos esforços humanos. A aparente liberdade desta Democracia corrompida, é um ambiente propício para a instalação das leis primárias apontadas pelo darwinismo nas quais o mais forte, o esperto e o ladino possui livre curso. As feras da barbárie saltam, surpreendem as sua vítimas diante de qualquer vacilo, falta de conservação ou naturalização da democracia.
WELLLINGTON em filme - Torres de Vedras cena
Fig. 05 – A resistência portuguesa sob o comando do Duque Wellington e do Conde de Troncoso (Berensford), apesar da vitória em Buçaco, teve de arrasar as modestas propriedades e realizar uma penosa retirada para que os destroçados exércitos franceses não tivessem onde se abastecer. Este evento trágico foi filmado entre 2008 até 2010 numa obra denominada “As linhas de Wellington”. O filme possui um suporte emocional e econômico quando Portugal enfrenta as consequências da sua adesão à União Europeia e a crise de sua nova heteronímia.
 
Insiste-se na tese de que toda civilização é uma construção humana e como tal artificial e se é redundante. Assim um regime democrático é uma construção humana artificial. Esta construção humana surpreendeu o cientista do comportamento norte-americano Skinner, quando sentencia (1980, p. 207) que “a Democracia é o povo planejando as contingências nas quais irá viver”. Certamente na espécie humana é uma das distinções das outras espécies vivas nas quais predomina o pré condicionamento inexorável, previsível e determinante dos comportamentos dos indivíduos. Com certeza também este planejamento humano representa um gasto extra de energias, de esforços e é índice da artificialidade deste processo, dos riscos de possíveis erros e do eterno recomeçar.
                      Evidente que a qualquer regra sempre exibe exceções. Um regime democrático, para as pessoas inteiramente entregues à Natureza, propicia ocasião para exibir só exterioridades, marketing e propaganda incoerente e até ridícula. Estes seguem a sentença do poeta Fernando Pessoa que afirma que a Natureza não pois possui nada por dentro.. por isto ela é Natureza[1]. Natureza entregue às vigorosas forças da entropia universal e que transforma tudo em “coisas” e em objetos



Fonte da imagem em ATHEARN Robert -  1963 - p.1052
Fig. 06 – A juventude e a riqueza americana aos pés do poder europeu em 1900. Poder europeu, que procurava por todos os meios do marketing e da propaganda manter-se como o príncipe dos sonhos das ricas moças americanas casadouras. Não importava o ridículo, a incoerência e as aparências grotescas da cena contanto qu pudesse ter a sua disposição a fortuna e poder da jovem e rica  nação norte-americana. Este ridículo e incoerência resultou no enxovalhamento sangrento da I Guerra Mundial que porém não foi suficiente para desafazer este apelo grotesco.  
Os latinos já sentenciavam “A corrupção dos ótimos é péssima”, [Corruptio optimi est péssima] e só se reproduzem como corrupção. Por mais que alguns se esforcem, se apresentem com
o democráticos jamais atingirão o nível desta virtude enquanto operarem sobre o terreno da corrupção.
 Ao contrário: provocarão não só a rejeição e o descrédito de si mesmos, que respingará sobre a própria virtude da Democracia enxovalhando-a.
 Enxovalhado, este regime será odiado e até combatido, não devido à sua natureza intrínseca, mas pela corrupção dos seus agentes.
Este ódio e vigoroso combate se justificam na medida em que “a arte está em quem a produz, não no que produz” ensinava Aristóteles. Evidente que a Democracia jamais estraga. Quem a estraga são aqueles que se dizem os seus agentes.

Fonte da imagem em ATHEARN Robert -  1963 - p.1008
Fig. 07 –  O Tio Sam (USA) chamando o líder filipino Emílio Aguinaldo ,para a sua tenda onde se encontram já capturados Cuba, Poro Rico e o Havaí. Os Estados Unidos, após 36 após de sua independência estavam em guerra com a Inglaterra. Não aderiu. ao Commonwealth liderado pelos ingleses. Porém imitava, ou concorria, com o colonialismo britânico. Necessitava e buscava ativamente territórios para reserva de mercado de sua nascente e pujante indústria e mercado dos seus produtos agrícolas de exportação. Assim a sua democracia era um fato de consumo interno da sua propaganda e marketing. Para os de fora  das sua fronteiras era usado o “Big Stick” ou o cinto
 
Contudo para alguém usufruir o direito a um regime democrático ele necessita correr riscos, realizar escolhas e cultivar a vontade, que segundo Marilene Chaui ( in Lefort1983 : intr.) atinge toda civilização humana, pois “a democracia possui a capacidade de questionar as suas instituições”. Este questionamento é realizado e na gratuidade sem garantias de um contrato especifico, conforme Maturana-Varela (1996: 208) “abrir-se para história sem possuir garantias previas”. Assim a Democracia, apesar de não ser um regime natural, põe as suas forças coerentes com as forças vitais gratuitas e de curso imprevisível.


Fonte da imagem em ATHEARN Robert -  1963 - p.1034  &
Fig. 08 –  A tomada do poder por Pancho Villa (centro) com Emiliano Zapata ( a sua esquerda) a multidão subiu ao palácio presidencial e se fez lei no México Porem este populismo foi mais uma corrupção e um aproveitamento pontual de um regime democrático mal assimilado e muito pior praticado. Além de não durar não se institucionalizou com o objetivo de se reproduzir. As multidões sobem ao palco da História mais como vítimas da propaganda e marketing e depois traídas e são usadas, de forma solerte por aproveitadores. Estes usam a ocasião pra enxovalhar a Democracia levando-a ao patíbulo da barbárie. Uma vez no controle do poder central instalam as leis primárias apontadas pelo darwinismo nas quais o mais forte, o esperto e o ladino possui livre curso.
O regime democrático é pretexto aos improvisadores, aos temerários e até aos delinquentes sentirem-se livres para agir.
Porém o regime democrático, pela sua natureza construída e artificial, não só exige a sua preservação constante, mas a permanente educação e atualização constante para novos tempos e lugares onde deseja se reproduzir.
 Numa guerra física ou simbólica a primeira vítima sempre é a Verdade. A vítima, neste caso, é a própria Democracia
- VINIEGRA Salvador 1862-1916 – Juramento da Constituição de Cádiz - óleo de 1912
Fig. 09 – A passagem do regime antigo e teocrático para uma monarquia contemporânea e constitucional teve uma leve epifania nas cortes reunidas em Cádiz e que se materializou na Constituição – “A Bepa”-  jurada em 1812. Com a derrota de Napoleão ela foi abandonada e as antigas forças voltaram ao poder na Espanha.

Contrato construído a partir do hábito da integridade intelectual. Hábito capaz de gerar um conhecimento dos tempos culturais especifico do lugar onde deseja implantar tal regime. Isto sem esquecer as condições nas quais se projeta reproduzir este regime por tempo indeterminado.
Uma das diversas camadas de vetores necessários para a Democracia nascer, permanecer e se reproduzir – Gráfico  Círio Simon1986
Fig. 10– A complexa estrutura necessária ao nascimento, permanência e a reprodução da Democracia é uma das causas do ódio à esta virtude civilizada. A semelhança da fábula as “UVAS ESTÂO VERDEAS” ela é desprezada e ate odiado por aqueles que não atingem esta complexa estrutura.  O “homo faber”, na concepção de Arendt, não se conforma, se irrita profundamente e passa a odiar a Democracia. Este homem máquina não compreende a complexidade, não respeita o necessário tempo de amadurecimento. Este homem moldado na linha de montagem, não possui alcance par perceber o imenso número de vetores da qual a Democracia depende para continuar viva e se reproduzir de forma continuada. Prefere mandá-la para o lixo da História como algo inútil, obsoleto, senão prejudicial, portanto odioso.

A Democracia depende - como na Arte - da obra democrática e, no lado oposto, de quem e como esta obra é recebida. Diante disto  Wright Mills pode afirmar (1975, pp.410/1) que:
“Duas coisas são necessárias a uma democracia: públicos articulados e informados líderes políticos que, se não á homens de pensamento, sejam pelo menos razoavelmente responsáveis perante o público informado que exista. Somente quando públicos e lideres são responsáveis e de responsabilidade, podem as questões humanas ser submetidas a uma ordem democrática, e somente quando o conhecimento tem importância pública é possível essa ordem. Somente quando o pensamento tem uma base autônoma, independente do poder, mas poderosamente ligada a ele, pode exercer sua força no condicionamento dos assuntos humanos”.

Fig. 11 – As circunstâncias de a humanidade ser constituída por mais de sete bilhões de indivíduos vivos, impõe um regime muito superior ao cacique da tribo ou um coronel truculento ou de um rei sonolento descolado e sendo manipulado por áulicos aproveitadores e amorais. Por este ângulo nenhum regime de governo pode ser exercido por leis primárias apontadas pelo darwinismo nas quais o mais forte, o esperto e o ladino possui livre curso. O máximo que estes líderes improvisados, mesmo se dizendo democráticos, podem realizar é levar esta multidão ao matadouro, como qualquer rebanho. Nas numerosas vezes que isto já ocorreu, as vestes da autêntica Democracia não só foram enxovalhadas, mas manchadas e cobertas de sangue inocente.

Os líderes democráticos participam das condições dos artistas. Estes possuem um projeto consciente, uma obra inovadora e coerente com o seu projeto. Aproximam-se do público para receber a sanção de sua aprovação, deliberação e decisão de interagir contratualmente neste projeto. Como na arte temos corrupções, engodos e enxovalhamentos quando as obras são falsas, meras cópias que corrompem artista obra e seu público.
- FARIA Leopoldino de (1836-1911) Resposta de Tiradentes c.1900 óleo 45.2 x 60 cm - Museu Histórico Nacional

Fig. 12 – O mártir da Inconfidência Mineiro inocentou todos os seus colegas da Conjuração e entregues pela delação do movimento libertário. José Joaquin da Silva Xavier (12.11.1745 – 21.04.1792) “O Tiradentes”  assumiu sozinho o sacrifício de sua vida sustentando até as últimas consequências os seus ideais da Democracia e da República. Ele foi um das inumeráveis vítimas do  Regime Colonial Brasileiro e que ganhou uma notoriedade  na ocasião da efetiva instalação do regime republicano o dia do seu supliciou coincide aproximadamente com a paixão de Cristo e de quem também herdou a imagem tradicional.

Para contornar estas corrupções, engodos e enxovalhamentos da Democracia, vale a pena avaliar todas as complexas condições e vetores para se candidatar a aprendiz de feiticeiro. Mary Parker Follet (1869-1933) fornece um índice simples do autêntico democrata e se julgar com  comprovada competência neste regime, conforme anotou Carvalho (1979, p.60) que “o meu teste como cidadão democrático  é quão plenamente o todo é expresso em mim ou através de mim” .  Porém quem corrompe este teste, blefa ou o escamoteia, transforma a Democracia autêntica em marketing de fachada e em propaganda da pior espécie. Esta corrupção da Democracia autêntica só pode deflagrar o ódio contra esta virtude,  enxovalhá-la e torná-la irreconhecível.

 
FONTES BIBLIOGRÁFICAS

ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition de l’homme moderne. Londres  :  Calmann-Lévy, 1983

ATHEARN Robert (1914-1983) A World Power: The American Heritage new Illustrated History of the United States . vol 12 New York: del Publishing . co 1963 pp. 993- 1078

CARVALHO, Maria Lúcia. Escola e democracia: subsídio para um modelo de             administração segundo as ideias de Mary P. Follet.   São Paulo : EPU, 1979.  102p.

LEFORT, Claude. A invenção democrática: Os limites da dominação totalitária. Paris. Libr. Fayard, 1981 SãoPaulo : Brasiliense, 1983. 247 p.

LISBOA, João Francisco (* 1812–1863). Jornal de Timon : eleições na Antiguidade, eleições na Idade Média, eleições na Roma Católica, Inglaterra, Estados Unidos, França, Turquia, partidos e eleições no Maranhão /João Francisco Lisboa 1852. Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2004. 326 p. (Edições do Senado Federal ; v. 28) I. Título. II. Série. CDD 324.9
O Jornal de Timon está disponível integralmente no portal do Domínio Público brasileiros em:

MATURANA R., Humberto (1928-) La realidad: ¿objetiva o construida?. Barcelona : Antropos, 1996. 159 p

MATURANA R., Humberto (1928-) e VARELA. Francisco (1946-). El árbol del     conocimiento: las bases biológicas del conocimiento humano. Madrid : Unigraf. 1996, 219p.

SKINNER, Burrhus Frederico  (1904 –1990). Contingências do reforço: uma análise teórica. São  Paulo  :  Abril Cultural, 1980, pp.167-394.

WRIGHT MILLS C. A elite do poder. 3ª ed.  Rio  de Janeiro : ZAHAR, 1975. 421p.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS.

BOTICELLI, Sandro (1445-1510)
A calunia contra Apeles

CORREIO BRAZILIENSE

PRÁTICA DEMOCRÁTICA na ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL

TRÊS CLASSES da ROMA ANTIGA

SENADO ROMANO

MUSEU JÚLIO da CASTILHOS POA-RS

MUSEU de JUIZ de FORA

TIRADENTES julgado e condenado

Este material possui uso restrito ao apoio do processo continuado de ensino-aprendizagem
Não há pretensão de lucro ou de apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus eventuais usuários
Este blog é editado e divulgado em língua nacional brasileira e respeita a sua formação histórica. ...
  blog :
  blog
  blog  
 
SUMÁRIO do 1º ANO de postagens do blog NÃO FOI no GRITO
Site
Vídeo:


Nenhum comentário:

Postar um comentário