A
CRISE GREGA de 2012.
ATENAS
Manifestante nu diante do Parlamento - SPIGEL .09.10.2012
Fig. 01 A GRÉCIA ouHLLAS terra de
temerários na qual os europeus deram-se conta das suas profundas contrações e
fonte eterna de mergulhos na alma e cultura humana. Numa interpretação irônica
desta imagem podia ser interpretada como a de um atleta das Olimpíadas Clássicas
gregas. O problema que este atleta chegou em outro tempo: ou atrasado de 2.500
anos... ou então adiantado. Mas num contexto capitalismo seria mais um
despojado de toda sorte.
A crise grega de 2012
necessita ser examinada à luz da expansão da era pós-industrial mundial. O
gigantesco bloco europeu necessita gerar mercados de consumo daquilo que eles
produzem. A Grécia, certamente antes de perder a sua soberania pela qual lutou
em 1821, não conseguiu acompanhar a corrida das demais economias e perdeu esta
maratona e ficou a mercê de um novo projeto colonial europeu. A inclusão grega
deu-se num bloco que não correspondia a este primeiro projeto nacional helênica.
Depois de se rebelar, em 1821, contra o
domínio otomano ao longo de cinco séculos, tornou-se um desafio permanente para
a cultura europeia que a apoio com vistas da expansão da sua indústria nascente
e do respectivo mercado. A soberania nacional grega ganhou um imaginário que
gerou sentido europeu na medida em que o Iluminismo ia desvelando as raízes
greco-romanas. Esteticamente ganhou corpo no eclético Neoclássico racional e
apropriado à lógica unívoca, linear e fixa da produção massiva das máquinas da
primeira era industrial.
MONSIAU Nicolas-André -1754-1837 - Alexandre Magno e Diógenes
Fig. 02 – O
filósofo Diógenes expressou a sua soberania e liberdade mesmo diante do
macedônio Alexandre Magno, Certamente
este - dono do vasto império - não podia dar o Sol ao filósofo. Que se limitasse
a não tirá-lo de que estava se aquecendo na luz e calor do Astro Rei na entrada
de sua barrica.
O nacionalismo grego
contemporâneo foi uma operação eclética, complexa e contraditória sob o olhar interno.
Eric Hobsbawm apanhou bem esta construção do Estado Grego e a descreveu (1991,
pp.91-92):
“Os
gregos reais, que pegaram em armas para lutar pelo que seria a formação de um
Estado-nação independente, não falavam o antigo grego mais do que os italianos
falavam latim. Eles falavam e escreviam o demótico. Péricles, Esquilo,
Eurípides e as glórias da antiga Esparta e Atenas significavam muito pouco para
eles, ou mesmo nada, e na medida nem que se ouviram deles falar não os
consideravam importantes. Paradoxalmente, eles punham mais sentido em Roma do
que na Grécia (romaiosyne), ou seja, viam-se a si mesmos como herdeiros do
Império romano cristianizado ( isto é bizantino). Eles lutariam como cristão
contra os muçulmanos pagãos e como romanos contra os cães turcos”.
Em outubro de 2012 a
Grécia se apresenta ao mundo com estas mesmas contradições internas existentes
na origem do Estado contemporâneo. Assim a propaganda e o marketing político
arrastaram as aparências do mito da heroica HÉLADE clássica e imortal para
praças e ruas, mas que possui muita dificuldade de sustentar nas atuais
circunstâncias. Dificuldade que nasce da contradição com aquilo que interessa
de fato. Interessa ao poder da gigantesca União Europeia não deixar de novo mergulhar
lentamente esta terra nas imprevisíveis ideologias islâmicas, como já aconteceu
no passado. Várias nações vizinhas se
subtraem e fogem do controle europeu devido às imprevisíveis ideologias
islâmicas para a lógica pós-industrial
Fig. 03 – Uma reconstrução
idealizada da Acrópole de Atenas por Leo von KLENZE (1784-1864) ao longo da
tendência Neoclássica. Esta tendência ganhou mundo. Os projetistas da capital
norte-americana como a Missão Artística Francesa no Brasil tomaram este ideal e
o transformaram em projeto de identidade após as conquistas das soberanias
destas duas nações americanas.
A longa luta da
soberania na qual os ingleses e as potencias industriais se envolveram e foi
registrada por Hipólito José da Costa com a
narrativa publicada no Correio Braziliense em 1821
“Embaixador lnglez
declarou, que a sua Corte naõ podia permitir, que os Corsários Barbarescos
entrassem no mar Ionico, cujos portos lhes seriam vedados, pelas terríveis
consequências que podem resultar ao commercio, de se soltarem ao mar aquellas
naçoens de piratas.
A insurreição das
provincias Gregas continua a extender-se em vez de diminuir, e abrange a
Pharsalia, Larissa e Salonica.
He verdade que se aununciam nas gazetas de Vienna
algumas victorias parciaes dos Turcos, contra vários corpos do Príncipe
Ypsilante, mas o character geral das vantagens dos insurgentes naõ soffre diminuição,
porque ate na Syria juncto ao Monte Líbano apparecem movimentos
revolucionários, e muitas das ilhas do Archipelago tem arvorado o estandarte da
revolta
VITÓRIA ou MORTE:
de volta com o escudo ou em cima dele.
Fig. 04 – Uma das bandeiras de uma facção da GRÉCIA que em 1821 estava buscando nova
soberania da HLLAS clássica enunciava
uma terra de temerários. Soberania que havia perdido para os romanos,
bizantinos e islâmicos. Agora a
reconquista desta soberania e liberdade
exigia um redobrados esforços. Os seus dominadores conheciam e se
aproveitavam de suas fraquezas e contornavam suas eventuais forças que seriam
capazes de arregimentar. A cultura de subordinação multissecular e hereditária
redobrava esta dificuldade. Os potenciais
candidatos à sublevação estavam habituados com a doce e cômoda heteronímia. Por
a necessidade da desafiadora temerária
frase “VITÒRIA ou MORTE: de volta com o
escudo ou em cima dele”. No entanto ninguém pode se dar ao luxo de dormir
em cima do escudo e dos louros da vitória
Os revoluconarios Gregos
tem também ja uma força naval, que se mostra superior á dos Turcos, e estes só
tem mostrado o seu enthusiasmo na horrivel matança dos Christaõs desarmados, em
suas cidades: nade Smyrna foram assasinadas mais de 12.000 pessoas, e ao Cônsul
Francez, e a alguns navios desta naçaõ, que estavam no porto, assim como á
cooperação de uma fragata Ingleza, deveram as vidas os que se puderam escapar.
As mulheres e filhas
dos Christaõs em Smyrna foram expostas aos mais brutaes ataques dos
desenfreados Turcos, as que escaparam depois de violadas em publico, com horror
da humanidade, foram vendidas por escravas.”
Correio Braziliense, nº 158, julho
de 1821, p. 88
Fig. 05 – A ordem
Dórica inspira a austeridade do prédio da “Neue Wache” [ Nova Vigilância] em Berlim. Esta ordem representa o lado da
lógica objetiva da origem da HLLAS . Várias ferozes
ditaduras adotaram esta ordem nas suas obras publicas. Era a forma concreta
para mostrar a sua ideologia unívoca, linear e fixa. Ao mesmo tempo reforçavam
a lógica da linha de montagem inflexível da 1ª Era Industrial.
Esta terra sempre foi, de
fato, um território de fricções entre continentes, culturas e civilizações. As
hordas dos bárbaros dórios europeus, provenientes das mais diversas origens,
divisões internas unificaram-se e se identificar no confronto com os jônios.
Fig. 06 – Uma
grande parte dos despojos doa Parthenon foram “salvas” pelo Lord Elgin que as
levou para Londres e onde se construiu um prédio par o Museu Britânico
inspirado na Ordem Jônica. Reclamadas pela sua origem, mas onde não teriam as
verbas, a segurança, a pesquisa e a
divulgação, como possuem na capital inglesa De outro lado seguem o mesmo
destino das nações e das culturas dominantes que sempre levaram para as suas
capitais o que lhes interessava em lugares que não tinham este aparato estatal.
Estes jônios eram portadores
de um legado intenso proveniente dos contatos, do comércio físico e imaterial
com as culturas que se estabeleceram no Próximo Oriente. Este confronto dórico
jônico materializou-se e se expressou - esta dupla origem - nas manifestações
que ganharam mundo em duas tendências estéticas e as quais agregaram a eclética ordem coríntia surgida no período no
qual a cultura helênica estava se submetendo ao gládio romano.
Fig. 07 - O poeta George Gordon Lord BYRON (1788-1824) foi alguém que se entusiasmou, entrou de
alma e corpo na guerra e perdeu a vida na GRÉCIA
. O sacrifício físico deste nobre e
poeta inglês - na campanha da libertação grega - foi mais um pretexto para
incendiar a mente dos europeus pela sua HLLAS como a terra de
temerários e fixa-la como ideal de origem e motivação maior das soberanias que
se diziam guardiãs da política, cultura e estética do 5º século grego.
A Grécia imaginada, pelos
leitores de Winkelmann, em vez de se revelar a filha da razão e da beleza,
revelou uma realidade cuja verdade era inegável caos e contradições emocionais.
O Romantismo aproveitou este legado imaterial e tentou imaginar as origens
idílicas de cada nova nação que desejava ostentar uma base simbólica para
construir a sua unidade numa identidade imaginada. No Brasil imaginaram-se os
primitivos ameríndios, na senda do mito aberto por Jean Jacques Rousseau.
A Grécia, já na
soberania dos otomanos, foi atacada e dominada, mesmo no século XX, pelos
europeus, os seus aparentes aliados. A invasão repelida dos exércitos fascistas
da Itália foi consumada pelas tropas nazistas, que ali permaneceram entre 1941
e 1944.
RØRBYE Martinus 1803-1848 Atenas, povo e roupas gregas 1839
óleo
Fig. 08 – Uma
visão concreta da GRÉCIA logo após a
conquista da sua soberania devida ao pintor dinamarquês Martinus RØRBYE
(1803-1848). Em 1839 estava muito longe da HLLAS imaginada como terra
de temerários. Na imagem são visíveis vestígios de arcos góticos, cúpulas
bizantinas e duvidosas ruinas que se atribuíam imprecisamente à Grécia
clássica. Os seus habitantes usam os trajes otomanos e as mulheres, refugiadas
em cima de altos muros, se cobrem
conforme o costume islâmico. Muitos deles deviam estar felizes que alguém se
interessasse pelo Parthenon arruinado definitivamente, em 1687, por uma granada
veneziana. Muitos menos realizaram qualquer esforço para impedir a sua
transferência para Atenas. No final do século XX a cantora e atriz Melina
Mércuri (1920-1994) tentou, como ministra da cultura da Grécia, reaver este
patrimônio nacional.
Se a Grécia imaginada
está longe e paira acima e distante da verdade do dia a dia, ela constitui um
índice vivo e concreto das tensões necessárias a qualquer cultura que deseja
fazer germinar, cultivar e manter a sua civilização. O útero da caverna de
Platão certamente é uma metáfora das tensões entre o que é imaginado e daquilo
que é vivido em contato direto de uma realidade que contradiz e confere peso às
sombras.
Ferdinand Victor Eugene DELACROIX (1798-1863) -
Massacre de Squio 1824 –
Fig. 09 – Uma das
obras mestra do Romantismo europeu mostra o que se tornou natural e rotina nos
genocídios da História Contemporânea. Os otomanos massacraram, um século
depois, os armênios. A culta e civilizada Europa exibiu os campos de
concentração nazista. Depois se descobriu que eles não eram exclusividade
europeia. Os campos de concentração e extermínio humano disseminaram-se em
todas as culturas e latitudes e reproduziram industrialmente o final dos
rebanhos de gado. Estava-se longe de carregar os heróis mortos em cima do
escudo com que defendiam a sua terra. As culturas islâmicas conservaram este
hábito de carregar os seus caídos em por cima da cabeça da multidão.
A crise grega, de 2012, necessita ser examinada à luz da expansão das
tensões geradas pela era pós-industrial europeia. O projeto colonial do Velho
Continente decorrente da necessidade de gerar mercados de consumo daquilo que
produzem os seus robôs no comando das suas máquinas. Mercado mesmo que seja a
custo dos seus próprios estados mais fracos e desvalidos. O exame, e a
avaliação criteriosa deste projeto, são necessários e urgentes quando a cultura
e a Arte estão num sistema capitalista. A cultura e a Arte percebem a redução a
uma porcentagem mínima as verbas estatais a elas destinadas contraditoriamente
para este sistema. Este é primeiro passo e um convite irrecusável para assaltos
de novas hordas de bárbaros. Hordas que já estão instalados no interior dos
perímetros urbanos. Hordas formadas por pessoas abonadas e posses financeiras,
com o mínimo escrúpulo pelo bem coletivo, cultura ou Arte. Hordas que só
esperam a primeira fraqueza, vigilância proveniente de projetos nacionais ecléticos,
contraditórios e sem verbas para nascer, se desenvolver e se reproduzir.
A Grécia será eterna na
medida em que ela souber examinar, avaliar e elaborar as tensões provenientes
das numerosas contradições de que ela é portadora. Contradições que ela
necessita transformar em complementos. Complementos elaborados para a Verdade,
a Beleza e o Direito em todas as culturas que se espelham nesta civilização
latente no projeto grego. Complementos
das contradições elaboradas que ajudem e motivem no trabalho objetivo e despretensioso
do triunfo do império da Verdade, da Beleza e do Direito em todas as latitudes
e tempos.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS
HOBSBAWN, Eric J. ( 1917-2012). Nações e nacionalismo desde 1780 : progarama, mito e
realidade Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1991, 230 p.
WINCKELMANN, Johannes Joachim (1717-1768). Historia del Arte en la antigüedad. Con un
estudio crítico por J.W.Goethe.
Introducción y traducción del alemán por
Manuel Tamayo Benito. Madrid : Aguilar, 1955.
1285p.
FONTES NUMÉRICO
DIGITAIS.
A bandeira grega para os armadores europeus Evolução
Poder dos armadores gregos
PERIGOS
CORREIO BAZILIENSE – Londres – Nº 158 julho de
1821
CORREIO BAZILIENSE – Londres – Nº 163 – dezembro
de 1821
GUERRA da
INDEPENDÊNCIA da GRÉCIA
Lord ELGIN - Thomas Bruce (1766-1841) Lord dos
“Mármores”
Lord BYRON -
George Gordon (1788-1824)
Ocupação nazista
da Grécia
PATHENON - vicissitudes
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