COLONIALISMO
e
GUERRAS ESTÉTICAS.
ZÚÑIGA
Francisco 1912-1998 p. 119- Diálogo 1979 -Bronze 114 x 185 x 103 cm
Fig. 01 O diálogo só é possível e frutífero
entre os que se julgam e são iguais de fato e de direito. O europeu - mesmo que
queira manter-se em igualdade,- revela logo o seu multissecular sentimento e
agir de superioridade que brotam do seu inconsciente . Sentimento que redunda no seu agir por meio do ferro e do fogo, e intimidações do seu
interlocutor por humilhações, suor e lágrimas. Agir superior tanto para os ameríndios como para as demais culturas, como a africana e
asiática..
“Conservai, Cidadãos, estes nobres sentimentos, e os nossos inimigos
desappareceraõ á vista de vossas irritadas faces. Permanecei tranquillos ;
voltai para o seio de vossas familias, e confiai na justiça do Governo, e na
rectidaõ e zelo de vossos magistrados”. Buenos-Ayres,
4 de Julho, 1812
Correio Braziliense, nº 53, outubro
de 1812, p. 671.
A frase acima é uma dentre
as numerosas expressões do sentimento que animava o surgimento da soberania
política latino-americana, após o final do regime colonial legal. Contudo este sentimento era apenas um frágil
ideal, um botão a desabrochar e que poderia retornar ao chão do despotismo
ilustrado. As novas sementes necessitavam constituir um SER nacional aptas para
o seu desenvolvimento pleno. Estava longe a realidade dos frutos. Este novo ENTE necessitava não só de proteção
e segurança. Não se tratava de desabrochar em sua plenitude e frutificar.
Tratava-se, além disto, de uma linhagem nova com a sua reprodução soberana, sem
um tempo definido por deliberações e decisões alheias a este ENTE nacional.
Fig. 02 As sucessivas
gerações da cultura ameríndia transmite à próxima a continuidade do
sentimento de segurança e pertencimento ao coletivo Sentimento de segurança e pertencimento
decorrem de outra matriz do que a europeias.. Esta cultiva o romântico
sentimento que emerge das paixões e se manifesta em emoções. Emoções que se
transformam em presentinhos pontuais oportunistas e como descarga do complexo
de culpa. Presentinhos que decorrem, por sua vez, da indústria, do comércio e do
capitalismo.
O ENTE no SER. O ENTE
colonial buscava índices para manifestar-se, tornar sensível o seu modo de SER
e perceptível aos sentidos humanos. A
Arte é este modo do SER perceptível. Arte oferecida aos SENTIDOS HUMANOS que
depende, na sua produção, circulação e consumo. Evidente “o que não pode ser dito deve ser calado” no 7º aforismo da
Wittgenstein.
FIGURA
encontrada nas ESCAVAÇÔES da PIRÂMIDE e TUMULO do SENHOR de SIPÁN - O pintor –
Origem Geographic Magazine
Fig. 03 Os elevados índices civilizatórios da América
pré-europeia foram alcançados nos lugares geográficos mais inóspitos e de
difícil adaptação humana. Ao exemplo do vale do Rio Nilo, na África produziu
elevadas culturas e em âmbito tropical.
Estes desafios físicos geográficos desfavoráveis tencionaram e motivaram
o surgimento de artistas nestes locais. Eles trataram de gerar índices nos
quais materializavam uma identidade própria coerente, com suas culturas e
circunstâncias. As suas obras permaneceram e plasmaram ativamente índices
físicos destinados ao seu próprio tempo e para as gerações futuras. A primeira
campanha, a parte do europeu, foi não só de desqualificar estas obras como
proibi-las, queimá-las. Os europeus, para garantir a permanência, nestes mesmos
lugares, a sua conquista pelas armas, fogo e sangue, implantaram as primeiras universidades
na América.
Existem ideologias,
religiões e regimes políticos e administrativos que tentam esconjurar o mais possível
estas manifestações de Arte. Ou o contrário estabelecem uma ortodoxia e tudo o
que não é coerente com esta ortodoxia deve ser silenciado, desqualificado se
emergir, ou então combatido como perigosa heresia.
As “revoltas que vem do nada” para a percepção daqueles que estão no
poder sem estarem preparados para tanto. Para quem percebe a verdade do PODER
ORIGINÁRIO é contundente que estas revoltas possuem causas profundas. Estas revoltas poderiam serem
detectadas na sua origem. Quem exerce o poder central serem contornadas e
evitadas de uma forma criativa por meio da implementação e sustentação de
projetos civilizatórios compensadores do exercício de algum.
ZÚÑIGA
Francisco 1912-1998 p. 69- Nu reclinado - 1970 -Bronze 57 x 95.5 x 73 cm
Fig. 04 - O
escultor Francisco Zúñiga evoca, nesta escultura, a íntima relação entre a
figura feminina e a fertilidade da Terra. A fertilidade feminina foi representada
em figuras e estátuas. Ishtar suméria babilônica, Isis egípcia e a Astarté
fenícia precederam as representação da Vênus europeia. As indígenas amazônicas,
criavam, transportavam e davam de presente, as suas Muiraquitãs, aos seus
guerreiros amados muito antes do romantismo europeu transformar estas femininas
em emoção, em indústria cultural e em comércio monetrarizado. Numa leitura
iconológica seria possível escrever em relação à submissão colonial que esta
figura frustrada e prostrada rente ao chão
pode sugerir ao observador mais atento. .
Nos primórdios da sua
soberania nacional os governos dos povos
e das culturas latino-americanas, apenas
trocaram o Barroco da Contra Reforma pela estética Neoclássica que fizera a
grandeza da corte imperial napoleônica. Trocava-se o seis pela meia dúzia. Nas
Américas a heteronímia estética continuava e acompanhava as oscilações de
superfície das diversas tendências estéticas europeias. As Américas as recebiam as diversas
tendências estéticas europeias, se aculturavam
ao novo modo de sentir e se expressar, mas sempre defasadas e que
aportavam ao Novo Mundo já consumidas
pelo antigo colonizador europeu. Na sua origem as Artes europeias expressaram as
movimentações, as diversas crises e as rupturas da lógica capitalista.
Expressões sensíveis e exportadas em determinadas tendências estéticas
dominantes, que sucedem em períodos de vigência cada vez mais curtos e de
obsolescência cada vez mais intensa e rápida.
FIGURA
encontrada nas ESCAVAÇÔES da PIRÂMIDE e TUMULO do SENHOR de SIPÁN - O macaco
– Origem Geographic Magazine
Fig. 05 As atuais
culturas ameríndias possuem como prêmio concreto da sua resistência
possibilidade da sobrevivência a fase da cultura europeia nas sucessivas e
agudas crises e, no extremo, entrem em colapso definitivo. Este prêmio resulta
dos diálogos frutíferos que
mantiveram com a Natureza e na qual interferia o mínimo possível. Nesta
interferência não faz sentido a metáfora consumista de um ”Planeta de Macacos”,
após o final da própria espécie humana. Os ameríndios souberam e puderem deliberar e decidir
equilibradamente em íntima coerência entre todas as formas da vida e a sua mentalidade
conservacionista. Não perseguiam ou matava A obra de Arte acima não só
constituem em índice isolado desta resistência e coerência, mas ela e uma expressas
concreta e, material, entre as milhares de outras, que materializam este forte projeto de resistência, de permanência e
de reprodução, das diversas culturas ameríndias
Esta obsolescência
programada - intensa e dialética - mantém vivo o Capitalismo. A estética - comandada
pela obsolescência programada - defende estes
períodos curtos e dialéticos que derivam do conceito semiótico de um sistema
industrial em rápida migração para o pós-industrial. Todo sistema possui o ingresso de insumos. A etapa seguinte é
a elaboração destes insumos. O
processo se conclui pelo consumo e pela
sua obsolescência para ser
substituído posteriormente pelo recomeço do um novo processo. Certamente haverá
uma lógica e coerência com um SISTEMA de ARTES. Numerosas obras de arte,
artistas e observadores (consumidores)
enquadram-se, como uma luva, nesta lógica da indústria cultural. Eles podem ser inscritos e identificados como
elementos pertencentes a um sistema de artes da estética capitalista. No
entanto - nestas condições e circunstâncias, Arte estaria em mais uma ideologia da lógica
positivista. Lógica positivista da qual o pintor Pedro Américo já andava
desconfiado e argumentava contra, em 1867,
na sua tese de doutorado em Filosofia e com o tema “Sistemas das
Ciências”.
FIGURA
encontrada nas ESCAVAÇÔES da PIRÂMIDE e TUMULO do SENHOR de SIPÁN – Moldes – Origem Geographic Magazine
Fig. 06 - A questão do múltiplo e a sua fabricação em
série não serranas às culturas mais elevadas da
América pré-europeia; Assim a fabricação de peças cerâmicas em moldes
permitiam a disseminação de uma cultura anterior aos incas no Peru atual.
Em todos os períodos na
História humana houve sistemas de arte, mais ou menos elaborados, longos e com
volumes diferenciados entre si. Assim o Maneirismo, o Helenismo ou a Arte
Egípcia geraram sistemas nos quais os paradigmas de período anteriores
colonizaram e se reproduziram. Constitui
o raso fazer pelo fazer, a reprodução da técnica e na qual não existe algo novo
ou original. Assim o estudante ainda não faz Arte. Na heteronímia do seu mestre
ainda não atingiu um grau de autonomia pelo qual pode deliberar e decidir em
relação à sua obra. Assim são recorrentes a micro colonização do indivíduo ou a
macro colonização de regiões até continentes.
ZÚÑIGA
Francisco 1912-1998 p..103- Amantes - 1976-77 -Mármore vermelho mexinao 36 x
67x 33 cm
Fig. 07 - O escultor
Francisco Zúñiga evoca o amor
humano por meio da transfiguração da pedra. As camadas geológicas do mármore
vermelho mexicano são usadas como metáforas do entrelaçamento humano comandado
pelo amor carnal e emocional. Em toda manifestação da autêntica obra de Arte, o
seu expectador nunca poder iludido ou seduzido apenas pelo tema. Se o tema
predomina o artista cai na pura comunicação, entropia e consumo imediata\o sem
deixar rastro em que r3ecebe a obra. O dialogo
entre forma e conteúdo Na obra Amantes de Zúñiga o canon
de beleza americana este matéria da qual o escultor lança mão No obra Os
diálogos só é possível e frutífero entre os transcende a imagem, a iconologia e
iconografia de.
A Europa, com o seu
projeto de farisaica civilização, é responsável direta pelos maiores massacres
de vidas humanas praticadas com a ajuda da mais refinada Ciência e Tecnologia
O continente europeu
construiu uma identidade estética de numerosas fontes. Mesmo com as suas
contradições e conflitos internos, esta estética foi ferramenta europeia de
conquista física e estética dos continentes da América, da África e da Ásia. O
pensamento, a sensibilidade e o fazer original destes continentes foi
desqualificado, recalcado e esquecido a favor do pensamento, da sensibilidade e
do modo de fazer do europeu. Nas regiões conquistadas floresceu o legalismo, o
populismo e o formalismo imposto pelo colonizador. Floresceram o kitsch e que
descambou para o puro artesanato, o produto para o mercado e um pastiche de
folclore útil para uma indústria cultural inventado, mantido e reproduzido pelo
conquistador europeu. Quem lucra, com esta “criação”,
com a circulação e com o consumo, o colonizador capitalista. A atual cultura
chinesa copiou este processo e, visando o lucro, produz “cultura típica” para as mais variadas e contraditórias “culturas nacionais”.
Porém o mais grave é
que, estas populações não europeias, depois de assistirem a desqualificação, o
aniquilamento e o esquecimento das suas culturas de origem, assimilaram mal a
cultura do dominador. Passaram a produzir, na heteronímia, de forma unívoca,
linear e fixa. Reproduziram uma cultura. Reproduziram esta cultura de uma forma
estéril, sem coerência e sentido para a arte mundial
Fig. 08 – A frase
o Brasil descoberto “a alegria antes de
ser descoberto” do manifesto Pau Brasil de 1924 que expressava a verdade que
já havia O Manifesto Antropofágico ampliava para
o humor como forma crítica e traço distintivo do caráter brasileiro: "A alegria é a prova dos nove" A
música e a dança resistiram e tornaram-se elementos subliminares da circulação
da identidade como também aconteceu com as culturas africanas. Os sons e ritmos
gerados no Novo Mundo tornaram-se os produtos de exportação que Oswald de
Andrade queria para a poesia..
Antes do chinês o
industrial, o comerciante e o capitalista britânico, havia redesenhado, para o
Brasil, a baiana, o gaúcho e o carnaval
carioca como intuito de vender tecidos. Para tanto o teórico inglês William John
Thoms (1803-1885) apresentou, na Academia de Ciência de Londres, no dia 22 de
agosto de 1846 a sua tese, o conceito e o nome “FOLKLORE”.
Cláudio
Afonso MARTINS COSTA (1932-2005) -Maternidade Bronze 7.7 x 5 x 7.5 cm b
Fig. 09 O escultor
Cláudio
Afonso MARTINS COSTA (1932-2005) realizou
o caminho inverso do dominador. Cláudio foi aprender com indígena
sul-rio-grandense o seu mundo imaterial e material. Impregnado deste universo
repensou a cultura europeia, no
Instituto de Artes da UFRGS onde foi respeitado e admirado por uma geração de
mestres de uma época anterior a 1964. Passou a ser mestre e a peregrinar por
instituições, ao modo do indígena, deixando lições que cada estudante e em cada
escola. A modelo, da obra acima, pode ser conferida com as indígenas sentadas
nas calçadas de Porto Alegre. Acarinham, cuidam e ensinam, aos seus filhos,
lições imemoriais na sua língua de origem, permanecendo sentadas na via
pública, A maior lição que Cláudio assimilou lentamento com a cultura
ameríndia, foi a continuidade do sentimento de segurança e pertencimento que
uma geração transmite à próxima. Sentimento de segurança e pertencimento sem
sentimentalismo e presentinhos pontuais oportunistas e como descarga do
complexo de culpa,
O conceito do ARQUÉTIPO,
criado pela cultura europeia, pode ser muito rico e produtivo no estudo e
distinções da origem de culturas não europeias. Contudo este mesmo conceito
pode ser corrompido nas mãos desta cultura. O ótimo corrupto é péssimo, já
sentenciavam os latinos. A indústria cultural capitalista criou e estimulou
manifestações, obras e artistas lançando mão de uma moda, mal assimilada, da Arte
africana e polinésia. A cultura europeia entregou-se ao trabalho e produziu
formas de uma tendência pseudo primitiva, sem a sua alma, experiência e vida,
das culturas não europeias. Tendência que
, no fundo, não passa de mais um tentáculo subliminar pelo qual enreda outra cultura potencialmente
concorrente e a envenenam pela raiz. Trata-se - no campo cultural - de
processos semelhantes dos transgênicos, herbicidas e fungicidas na cultura de
vegetais.
ZÚÑIGA
Francisco 1912-1998 p.121- Mãe acocorada-Bronze 83 x 87.5 x 75 cm
Fig. 10 - A escultura de
Francisco Zúñiga evoca o cânon
de beleza americana no qual as formas físicas da crianças e das mulheres férteis ganha destaque, sentido e
coerência interna e externa. O artista
Zúñiga recorre às formas escultóricas que permitem manter diálogos frutíferos com uma realidade
transfigurada sem sugerir idealizações românticas e nem recorrer a deformações
de um expressionismo panfletário para puro espanto do seu observador
A autêntica Arte foi entendida
sempre como o SER projetando o seu ENTE ou a fonte. Com tal qualquer desconexão
ruptura ou falsificação, nesta projeção do SER,
esconde, maquia ou perverte aquilo que é o autêntico ENTE. O colonizador
se coloca como mediador nesta relação entre o ENTE e o SER. Para o colonizador
não interessa o ENTE. Interessa o ser que ele pode moldar, manipular e somar
com o idêntico, o fixo e o único. O Colonizador com o intuito de fugir das
sansões morais do seu agir e fazer, põe em pratica o que CONSALVI publicou (El Nacional), em 07 de outubro de 2012,
para a Venezuela: “penso que as pessoas não gostam da História, pois ela nos interroga e
nos desnuda”
Contornando, falseando e
maquiando a História, é necessário construir, ostentar e reproduzir um TIPO
imaginado ou, um factoide. Nesta construção destes factoides é possível
inventar SERES HUMANOS diferentes entre si mesmos e com estereótipos unívocos e
lineares. Mas iguais naquelas nações nas quais interessa a dominação. O
dominador pode insuflar guerras, distúrbios e conflitos entre nações que ele
domina por cima e por fora. Pode, inclusive, servir de árbitro nestas guerras,
distúrbios e conflitos.
As obras de Arte são a
materialização deste processo de interrogar e desnudar, conduzido pela História
e base para um novo deliberar e com direito de decidir.
ZÚÑIGA
Francisco 1912-1998 p.131 Mulher com véu - Bronze 114 x 185 x 103 cm
Fig. 11 As forças
telúricas das rochas e falésias do Novo Mundo escondem formas que o escultor
Francisco Zúñiga transfira em
figuras humanas que dialogam com um meio hostil. Estas tensões de formas
monumentais buscam um cânon de beleza americana que Zúñiga
transforma em diálogos possíveis
e frutíferos para toda a
humanidade e civilizações que buscam a sua identidade e natureza. Esta
coerência e unidade intrínseca desta escultura, do mestre mexicano, suscita na mente do observador a sentença de
Leonardo da Vinci de que “A Pintura é coisa mental”.
Para um pequeno vestígio
do que era a América profunda antes das sucessivas levas de colonizadores
europeus na América é possível ler nos relatos do espanhol Nuñéz Cabeça de Vaca
e do alemão Hans Staden. Não era nenhum Paraiso como o iluminista Jean Jacques
Rousseau (1712-1778) queria acreditar, sem nunca ter respirado os ares do Novo
Mundo. De outro lado eram culturas multisseculares, que continuarão a existir e
a se reproduzir, caso a cultura europeia entrar em colapso.
Esta reprodução será
possível, pois, no meio destes combates estéticos, continua correndo límpido
uma série interminável e silenciosa de expressões autênticas da Arte que possui
não só como tema, mas as formas e as energias próprias do Novo Mundo. Não são
primitivos, nem loucos e muito menos objeto da “fama dos 15 minutos”. Estas expressões emergem da força silenciosa
do Poder Originário. Elas possuem a força de plasmar as formas e os temas que
de fato vivem e nas quais acreditam por toda a vida. Sobre eles não cola nenhum
etiqueta, nem levam um alfinete nas costas como lepidópteros raros e, no seu
silêncio, não se deixam classificar.
ZÚÑIGA
Francisco 1912-1998 p. 127 - GRUPO FRENTE
AO MAR- 1984-Bronze 191 x 176 x 118.5 cm
Fig. 12 - Os diálogos só é possível e frutífero entre os que de fato e de direito são iguais.
Caso contrário, há necessidade de
permanecer surdo, mudo e inativo diante do domínio, do poder e da exploração
predatória do europeu. Foi desta forma que o ameríndio conseguiu livrar-se da
escravidão legal colonial. Porém esta conquista ele teve de ser paga com
ostracismo político, cultural, econômico e técnico. Portando esta liberdade ele
foi obrigado a peregrinar na sua própria terra e se abrigando nos piores
lugares destas veredas desconhecidas e temidas pelos europeus.
O artista “esquece”, de sua parte, tudo aquilo que
é tributário da cultura inútil. Surpreende o seu observador com uma verdade na
mensagem estética comum ao criador e a quem recebe. Toda escolha constitui,
sempre, uma perda. Para as Artes nas Américas significa a administração das
perdas de histórias, culturas e estéticas que outras culturas desejam impor com
mais força ou manhas subliminares. Em termos filosóficos, este “esquecer, escolher e administrar perdas”
seria uma comprovação da competência do artista em praticar e administrara “rupturas epistêmicas” a favor de sua
própria obra A obra que resulta destas escolhas e administração de perdas do
que não é da sua natureza, torna-se universal e apaga qualquer fronteira
artificial. Contudo esta obra carrega no mínimo de sua forma física,
contraditoriamente, o máximo de sua origem e dos limites de sua origem. Na sua
universalização constitui-se num documento de seu tempo e lugar de origem.
FIGURA
encontrada nas ESCAVAÇÔES da PIRÂMIDE e TUMULO do SENHOR de SIPÁN – O xamã –
Origem Geographic Magazine
Fig. 13 Os segredos
guardados e acariciados pelo xamã da cultura mochica revela uma cultura
complexa e elaborada em lugares adversos nos quais as forças físicas de
sobrevivência dialogam com as forças psíquicas. Mesmo para a cultura
pós-industrial cuja Ciência e tecnologia não conseguiu desvelar as suas potencialidades destas mesmas forças
psíquicas e físicas cuja profundidade, extensão e limites continuam latentes no
século XXI,.
Conservar, animar e reproduzir a soberania política
latino-americana, após o regime colonial legal, exigia muito mais do que “nobres sentimentos e confiança na justiça do
Governo” como apregoava o Correio Braziliense de outubro de 1812. Contudo
era a semente. Ela necessitava ser colocada neste mundo material, ser
alimentada e reproduzida por meio de expressões de soberania. Expressões
coerentes física e mentalmente com a vida no Novo Mundo. Os cincos séculos de
resistência das culturas ameríndias certamente possuem muito a ensinar em
relação à vida e mentalidade que milhares de anos e de gerações receberam
daqueles que ocuparam, humanizaram e reproduziram nesta parte do Mundo. A transmissão e a continuidade do sentimento de
pertencimento ao coletivo decorriam de outra matriz do que a europeias. Esta
cultiva o romântico sentimento que emerge das paixões e se manifesta em
emoções. Emoções que se transformam em presentinhos pontuais oportunistas e
como descarga do complexo de culpa. Presentinhos que decorrem, por sua vez, da
indústria, do comércio e do capitalismo.
ZÚÑIGA
Francisco 1912-1998 p,111 - Três
mulheres caminhando 1981-Bronze 194 x 132 x 256 cm
Fig. 14 -. Nesta
obra Francisco Zúñiga manteve os meios formais coerentes com a sua
própria vida e experimentos que ele realizou, no seu quotidiano, no Novo Mundo.
Neste quotidiano do IR do VIR de Zúñiga
ele busca, encontra e evoca e dialoga
num cânon
de uma beleza americana. Do
outro lado Atlântico, a União Europeia pregou, ao ser instalada, como uma das
primeiras conquistas foi a liberdade de IR do VIR sem constrangimentos, discriminações na sua
própria terra e continente. Este mesmo direito que ela controlava estreitamente
nas suas colônias e que, no século XXI, continua a impor sérias restrições aos
oriundos das Américas. Naturalmente eles
excetuam os poucos que podem contribuir como portadores de bens materiais ou
imateriais gerados no Novo Mundo. O
restante é “bugre” ou “traficante” que necessita ser vigiado e punido por
alimentar os vícios dos próprios europeus. Necessidade de vigiar e punir
justificável na lógica europeia e com raízes em “guerras estéticas” subliminares entre colonizador e “colonizado que não deu certo”. Contra
estes preconceitos levanta-se a obra do artista mexicano Zúñiga.
As atuais culturas
ameríndias possuem como prêmio concreto da sua resistência possibilidade da
sobrevivência a esta fase da cultura europeia, mesmo que tenham sucessivas e
agudas crises e, no extremo, entrem em colapso definitivo. Assim não faz
sentido, num horizonte mais longínquo, a metáfora consumista de um ”Planeta dos Macacos”, após o final da
própria espécie humana. Evidente que a resistência, permanência e reprodução
não dependem de uma etnia especifica. A resistência, permanência e reprodução
dependem daqueles que souberam e puderem deliberar e decidir equilibradamente
em íntima coerência entre a vida e mentalidade. As Artes não só constituem em
índices desta resistência e coerência, mas são expressões concretas, materiais
e fortes deste projeto de resistência, de permanência e de reprodução. Isto
explica a primeira campanha, e a guerra da
parte do europeu para desqualificar estas obras de arte dos ameríndios além de
proibi-las e queimá-las. As primeiras universidades na América foram
implantadas e mantidas nos mesmos lugares onde a cultura, a estética e Arte
ameríndia teve os seus respectivos apogeus. Universidades que garantiram a
hegemonia da cultura europeia no plano imaterial. Para a fortuna, triunfo e reprodução da
estética e do regime colonial oficial ibérica, a estética ameríndia, foi
silenciada, queimada e esquecida pelas forças materiais das armas, do fogo, das
lágrimas e do sangue derramado dos criadores da estética ameríndia.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
NUÑEZ Cabeça de
Vaca, Alvar (c.1490 – c.1558). Naufrágios
e comentários Trad. Jurandir Soares dos Santos- Porto Alegre : L&PM, 1999, 319 p.
PRAMPOLINI, Ida
Rodríguez - La obra de Francisco Zúñiga canon
de Belleza Americana. México : Sinc S.A. de C./Albedrio 2002 143 p ISBN
970-9027-07-7
STADEN
Hans 1525-1579. Duas viagens ao Brasil – Belo Horizonte : Itatiaia, 1988, 216
p. il
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hans_Staden
- biografia
WITTGENSTEIN, Ludwig (1889-1951). Tractatus lógico-philosophicus. São Paulo : EDUSP
1993.
281p.
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
DITADURA na
VENEZUELA
CONSALVI,
Simón Alberto (Venezuela - El Nacional em 07.10.2012)
EUROPA e a 3ª
Revolução Industrial
MUIRAQUITÃS
OSWALD de ANDRADE
e o MANIFESTO
PAU BRASIL -1924
OSWALD de ANDRADE e o MANIFESTO ANTOPOFÁGICO
1928
ROUSSEAU, Jean Jacques
TAMBOR MAIA
TATU BOLA destruído
em Porto Alegre
em 05 de outubro de 2012 + imagens
TATU BOLA
destruído em Brasília
em 08 de outubro de 2012 + comentários
THOMS, William John - Folklore
Este material
possui uso restrito ao apoio do processo continuado de ensino-aprendizagem
Não há pretensão
de lucro ou de apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus eventuais usuários
Este blog é
editado e divulgado em língua nacional brasileira e respeita a sua formação
histórica. ...
e-mail ciriosimon@cpovo.net
1º blog :
SUMÁRIO do 1º ANO de postagens
do blog NÃO FOI no GRITO
Nenhum comentário:
Postar um comentário