segunda-feira, 7 de julho de 2014

NÃO FOI no GRITO - 096


 
O BRASIL em JULHO de 1814 e a sua busca da MAIORIDADE.


Fig. 01 – A paisagem urbana do Rio de Janeiro em 1808 com o isolado Palácio de São Cristóvão.

Há necessidade de extremo cuidado com quem ignora o passado, o desqualificam ou se considera mais inteligente, poderoso e onipresente. É um índice de ignorância da natureza e do significado do dia presente.


Fig. 02 – A figura do Príncipe Regente e depois rei Dom João VI  necessita desta atenção redobrada. O que necessita ser entendido não é só seu contexto e circunstâncias históricas. Mas há necessidade de perceber que foi um personagem contemporâneo em muitos aspectos. O principal é fato da cereênci entre o seu cargo e as funções que lhe determinava não só a tradiçãomonárquica mas a icipinte legislação baseada no contrato social De um lado nesta funcõesnuncaavançou para a posição de um Luís XIV ao afirmar o “ESTADO SOU EU” No extremo  posto  nunca chegou a posição humilhante de um Luís XVI aceitando o título de “CIDADÃO  LUIS CAPETO”. Os 7 anos ao longo dos quais Dom João VI procrastinando o seu retorno para Lisboa - depois da queda napoleônica - foram extremamente importantes para o Brasil
Conforme o titulo do nosso blog não se CONHECE NENHUM GRITO de Dom JOÂO  VI. Falam e gritam por ele as sementes das instituições que deixou plantado em solo brasileiro.


Tropeça nesta ignorância quem aceita como verdadeira razão única da mudança da corte lusitana ao Novo Mundo foi um ato da alienação dos problemas provocados pelas campanhas napoleônicas.  Tropeça nesta mesma ignorância quem mitifica esta migração real ao Brasil e a reduz apenas a aspectos muito positivos.
As dúvidas que pairam sobre a passagem da condição do regime colonial para alcançar as sua soberania.

 Fig. 03 – O mesmo Palácio de São Cristóvão não tão isolado paisagem urbana do Rio de Janeiro em 1816
No aspecto positivo o brasileiro passou sentir-se responsável como abrigo real do vasto território lusitano. Em 1808 este império português era geograficamente muito maior do que o Império napoleônico no seu apogeu. Numa perspectiva de história de longa duração era - no mínimo -  4 vezes do tamanho do Império Romano na sua expansão geográfico máxima.

Esta condição era visível para quem consultasse qualquer atlas mundial. Este tamanho geográfico serviu para atrair a atenção, o comércio e a administração dos territórios portugueses da Europa, da África e da Ásia. Isso implicava ser centro da circulação do poder metropolitano e com a consequente necessidade de assumir e construir circunstância para esta mesma circulação. Isto significava mais e melhores portos, estradas e urbanismo adequado para esta circulação do poder real.

Fig. 04 – O retrato do bispo Dom Antônio do Desterro do Rio de Janeiro da época dos Vice-Reis do Brasil e O retrato do cidadão comum era proibido no Brasil. As únicas exceções eram os reis, os bispos e eventualmente o provedor mor das irmandades das Santas Casas. Assim o Brasil ficou privado da maioria dos retratos dos personagens fundamentais do se PODER ORIGINÀRIO  

Politicamente isto significava um processo sem gritos, um planejamento objetivo e meios adequados não só para a corte mas para toda máquina administrativa, burocrática e política que pudesse dar suporte à governabilidade. Em outros termos o Brasil estava aprendendo no seu próprio território a entrar na adolescência depois da fase infantil e subordinada da sua heteronomia colonial absoluta.


BRAZIL. In Miscellanea. Reflexoens sobre as novidades deste mez.

Reformas no Brasil. CORREIO BRAZILIENSE, DE JULHO, 1814.  VOL. XIII. No. 74. pp. 94-96
Alguns dos nossos Correspondentes no Brazil, se nos tem queixado do nosso silencio, a respeito de alguns melhoramentos, que tem tido ugar naquelle paiz. No entanto o gráo de utilidade desses melhoramentos; ou quem saõ as pessoas n quem esses benefícios se devam attribuir, saõ pontos muito disputaveis.

Em primeiro lugar, a mera residência de S. A. R. no Rio-de-Janeiro tem só de persi sido causa do augmento de população da quella cidade, e do conseqüente trafico, negocio, e mais indústria, que lhe deve ser proporcional, com o auxilio da fertilidade do terreno. Até aqui naõ attribuimos merecimento a nenhum Ministro.

RIO de JANEIRO  Pia da Sacristia da Igr. do Carmo - Atribuída ao Mestre Valentim
Fig. 05 – O luxo proibido nas casas era redobrado nos recintos das igrejas e nos seus anexos. O projeto da PROPAGANDA da FÉ derramava índices visuais, sonoros, táteis, olfativos e táteis nos ambientes sacros.  Contraste vivamente com a austera e despojada arquitetura doméstica colonial que só se podia manifestar em Lisboa.  O sistema colonial induzia, com esta proibição e uma exceção,  o retorno para a metrópole de qualquer capital gerado no Brasil

Mas nem por isso estamos dispostos a negar o devido louvor, que os Ministros merecem por certas medidas favoráveis, tanto á naçaõ em geral, como á Corte do Rio de-Janeiro em particular; e, se resta ainda muito a fazer, he justo que se louve o Governo pelo que já tem feito. Entre as medidas, que nos annunciam como dignas de louvor he o plano, que tem executado o Intendente geral da Policia do Rio de-Janeiro, de mandar buscar gente ás ilhas dos Açores, pagando- lhes a passagem, &c.; a fim de com esta nova população occurrer a muitas obras úteis; taes como a estrada do Caminho-novo, Lagoa da sentinella, Calumbi até Mataporcos, a do Mangue até a Real quinta da Boa Vista; as duas pontes Nova, c de S. Christavaõ, &c.


João Francisco MUZZI (17-?-1802) Mestre Valentim entrega projeto a Dom Luis Vascocellos em 1789
Fig. 06 – O Mestre Valentim apresenta ao Vice-Rei do Brasil o projeto da restauração da santa Casa depois do Rio de Janeiro.  Atribui-se a este mestre mulato uma série de melhorias e obras públicas da capital do vice-reinado e,  de 1808 até 1821, da própria metrópole lusitana. O Mestre Valentim era proveniente de guildas ao modo medieval. Teve uma fase de formação em Lisboa onde se inteirou das técnicas e tendências estéticas posteriores ao  terremoto de Lisboa de 1755.

A paisagem urbana, do Rio de Janeiro estava se reciclando, desde 1763, quando da transferência do Vice reinado do Brasil para as praias banhadas pelas  águas da baía da Guanabara. O ciclo do ouro fácil havia se esgotado, Estava começando o ciclo agrícola distinto da cana e da pecuária extensiva. O café estava despontando como novo agente transformador.

Leandro JOAQUIM – (1738-1798) Vista da lagoa e arcos do Rio de Janeiro dos Vice Reis  -
Fig. 07 – A construção do aqueduto da Lapa destina-se a abastecer com água potável as diferentes fontes e chafarizes espalhados pela área urbana do Rio de Janeiro. Evidente que diante dos olhos dos cortesões de Lisboa era uma obra menor e sem atrativos. Da mesma forma foram tratados os mestres e oficiais que trabalham, na época,  no Rio de Janeiro. Com abertura dos portos e a capital lusitana no Rio de Janeiro afluíu uma massa profissionais qualificados nos maores e melhores centro europeus. Para assumir o seu lugar tratam naturalmente de desqualificar aqueles da terra.

Nos achamos dignos de louvor estes esforços do Intendente, menos pelo que elles em si mesmo importam, como por se ter ajudado para isso da população das ilhas; medida que temos por tantas vezes recommendado, e que merece a maior attençaõ; porque terras sem gente saõ desertos. Quereríamos talvez antes, que esta população para o Brazil viesse de paizes estrangeiros; maz ja que tem de se despovoar uma parte da monarchia para povoar outra, antes se desertem as ilhas dos Açores do que o Brazil.

Fig. 08 – O chafariz das Saracuras do Rio de Janeiro anterior a 1808. O governo colonial seguia a política romana de prover a cidade d eágua pública.  As saracuras, anunciando com estardalhaço a aguada, aludiam à propaganda governamental deste serviço colocado na paisagem urbana

Taõ bem se tem extinguido pântanos nas vizinhanças do Rio-de- Janeiro, calçado as ruas, melhorado a ílluminaçaõ da cidade, prohibido a edificação de casas térreas, &c.

A estas medidas locaes, que sem duvida fazem honra ao magistrado ou ministro a cujo cargo isto pertence, accrescem outras de beneficio geral. Taes saõ a creaçaõ de muitas villa», e divisoens das igrejas ou freguezias. Sobre este ultimo artigo convém dizer, que para a edificação dos templos tem S. A. R. generosamente empregado grande parte dos rendimentos dos dízimos, que lhe pertencem privativamente a elle, como Gram Mestre da Ordem de Christo.

Fig. 09 – Antônio de Araújo e Azevedo (1758-1817) - o 1º Conde da Barca - foi o mediador, em 1816, entre a Missão Artística Francesa do Brasil e a sua integração na corte lusitana hospedada no Rio de Janeiro. Esta mediação tocava numa recente ferida e que esta longe de cicatrizar.  Muitos lusitanos haviam apoiado o agora descaído regime napoleônico. Os artistas em questão eram aqueles mais próximos de Napoleão Bonaparte. Joachim Lebreton (1760-1819) - que chefiava esta Missão - havia sido o Secretário Perpétuo do Institut de France

Também nos consta, que na Commarca de Porto seguro, se tem feito algumas obras úteis, debaixo da Intendencia: abrio-se a navegação do rio Belmonte, que facilita a communicaçaõ desta capitania com as do centro ; fazendo-se uma estrada de 55 legoas, para diminuir algumas difficuldades restantes da navegação, postou-se uma linha de 12 destacamentos cm torno da comarca, que naõ só serve ao presente de guarda contra as correrias dos índios; mas dá esperanças para o futuro de que estes destacamentos se tornem em outras tantas provoaçoens. S. A. R. por via do Intendente geral da Policia mandou subministrar colonos, para fundar uma povoaçaõ em Mugiquicaba, lugar de bom anchoradouro na costa do mar; 4 léguas ao Norte de Porto Seguro; e se intenta por-lhe o nome de Villa Cabral; para honrar o nome do descubridor do Brazil, que aqui aportou,a primeira vez que os Portuguezes pizáram a terra do Brazil; e para perpetuar assim a memória daquelle importante acontecimento.

Nicolas d'ESCRAGNOLLE TAUNAY -  (1768-1830)  Rio de Janeiro
Fig. 10 – Uma visão da paisagem urbana do Rio de Janeiro por  um membro da Missão Artística Francesa  Além da paisagem mostra praças, jardins e ruas são o território do gado. Ao mesmo tempo evidencia os responsáveis pela cultura e conhecimento científico nas mãos de um reduzido número de monges.

O nosso Leytor verá, pela miudeza com que nos demoramos nesta matéria, que naõ temos menos prazer em enumerar o que achamos de bom, como em notar o que nos parece que he máo.

E com tudo devemos outra vez expressamente declarar aos nossos leytores, que naõ he a bondade deste ou daquelle magistrado, nem a maldade daquelle ou deste governador, o que julgamos necessário remediar: sempre que se admitta um bom systema de administração geral; as cousas levarão o caminho que devem, e os màos actos dos indivíduos seraõ unicamente excepçaõ de regra.

Thomas ENDER – (1793-1875) - Vista do Rio de Janeiro 1817-1818
Fig. 11 – Ao longo da permanência de Dom João VI no Rio de Janeiro os austríacos  marcaram presença, em 1817,  um ano após os franceses virem em 1816. Entre os artista que acompanharam Dona Leopoldina estava o jovem e talentoso Thomas Ender. Ele registrou uma vista da Igrejinha do Outeiro da Glória ainda se confrontando com vizinhança da fauna, da flora e habitantes da floresta virgem tropical. 

Não faltaram projetos e iniciativas por meio das quais  Brasil estava aprendendo a lidar consigo mesmo. Apesar de a Universidade para todo o Brasil vingar só em 1931, em muitas academias e áreas de conhecimento é possível rastrear as suas raízes no período da permanência da corte no Brasil. Não é só o Jardim Botânico, a Missão Artística Francesa. As Ciências da Saúde, as Jurídicas e da Educação Formal Institucional se movimentaram para consolidar o seu campo de forças e ir contra o marasmo e a entropia colonial.

Thomas ENDER – (1793-1875) - Vista do Rio de Janeiro 1817-1818
Fig. 12 – Thomas Ender registrou, em 1817, a imagem  da praia quase intacta e virgem  próxima ao Rio de Janeiro  da época da permanência de Dom João VI  Porem são visíveis também as pedreiras sub urbanas  aas quais provinham as pedras das novas obras da capital

As boas qualidades, que em mais de um respeito tem mostrado o Principe Regente, nos daõ esperanças de ver lançar os fundamentos á felicidade e independencia nacional, admittindo, e promovendo o estudo daquellas artes e sciencias, que distinguem o homem civilizado do homem selvagem, e que tem a primeira influencia,  em grangear o respeito á naçaõ.— O estabelicimento de uma Universidade no Brazil;  a introducçaõ geral das escolas de ler e escrever; a ampla circulação de jornaes e periódicos, nacionais e estrangeiros—saõ as medidas para que olhamos como baze da desenvoluçaõ do character nacional; donde devem proceder os esforços de patriotismo, que são sempre desconhecidos em um povo ignorante, e sujeito ao despotismo.


Fig. 03 – O Jardim Botânico do Rio de Janeiro não só manteve um projeto da permanência de Dom João VI  no Brasil, como se consolidou e continua a se renovar Ao fundo da alameda um projeto da fachada preservada da Missão Artística Francesa  que iniciou o seu projeto civilizatóri compensador em 1816. Este projeto preparou e conferiu corpo estético e visual  ao subsequente regime Imperial Brasileiro como marcou com as Artes e os Ofícios os primórdios da era industrial no Brasil  
Na conclusão é necessário reforçar a tese de que a obra de Dom João VI no Brasil  NÃO FOI NO GRITO”. Faltou o grito, a propaganda e o marketing para esta obra silenciosa e oportuna para o tempo e lugar. Este silêncio oportunizou ocasião e publico para que gerações barulhentas as desqualificassem como rudimentares. Se os projetos e obras da permanência de Dom João VI eram rudimentares, mais rudimentar era a cultura da população que encontrou no BRASIL e as instituições vigentes distorcidas por três séculos de regime colonial.

 As  sementes trabalharam silenciosas neste espaço adverso de um Brasil devastado ao longo de 300 anos pelo cobiça colonial inescrupulosa.

 Numa visão - guiada pela longa duração - pode-se atribuir ao da permanência de Dom João VI no BRASIL as novas sementes destinadas para as instituições da maioridade brasileiras. Plantava instituições inexistes ou substituía as estéreis ou tão rudemente podadas pelo regime colonial e escravocrata. Novas sementes de instituições que não concorrem entre si. Instituições que se desenvolvem sob contratos mais próximos do seu próprio PODER ORIGINÁRIO.

FONTES NUMÈRICAS DIGITAIS



CORREIO BRAZILIENSE JULHO de 1814




 DEBRET, Jean- Baptiste 1768-1848)




ENDER Thomas - Thomas




HISTÓRIA do CAFÉ no BRASIL




HISTÓRIA do JARDIM BOTÂNICO do RIO DE JANEIRO




IMPERIAL ACADEMIA de BELAS ARTES do Rio de Janeiro




LUIS EDMUNDO – RIO de JANEIRO no TEMPO do VICE_REIS




MISSÂO ARTÍSTICA FRANCESA




RIO de JANEIRO e BRASIL por JEAN-BAPTISTE DEBRET




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