O BRASIL em JULHO de 1814 e a
sua busca da MAIORIDADE.
Fig. 01 – A paisagem urbana do Rio de Janeiro em 1808 com o isolado Palácio
de São Cristóvão.
Há necessidade de extremo
cuidado com quem ignora o passado, o desqualificam ou se considera mais
inteligente, poderoso e onipresente. É um índice de ignorância da natureza e do
significado do dia presente.
Fig. 02 – A figura do Príncipe Regente e depois rei Dom João VI necessita desta atenção redobrada. O que
necessita ser entendido não é só seu contexto e circunstâncias históricas. Mas
há necessidade de perceber que foi um personagem contemporâneo em muitos
aspectos. O principal é fato da cereênci entre o seu cargo e as funções que lhe
determinava não só a tradiçãomonárquica mas a icipinte legislação baseada no
contrato social De um lado nesta funcõesnuncaavançou para a posição de um Luís
XIV ao afirmar o “ESTADO SOU EU” No extremo
posto nunca chegou a posição humilhante
de um Luís XVI aceitando o título de “CIDADÃO
LUIS CAPETO”. Os 7 anos ao longo dos quais Dom João VI procrastinando o
seu retorno para Lisboa - depois da queda napoleônica - foram extremamente
importantes para o Brasil
Conforme o titulo do nosso blog não se
CONHECE NENHUM GRITO de Dom JOÂO VI.
Falam e gritam por ele as sementes das instituições que deixou plantado em solo
brasileiro.
Tropeça nesta ignorância
quem aceita como verdadeira razão única da mudança da corte lusitana ao Novo
Mundo foi um ato da alienação dos problemas provocados pelas campanhas
napoleônicas. Tropeça nesta mesma
ignorância quem mitifica esta migração real ao Brasil e a reduz apenas a
aspectos muito positivos.
As dúvidas que pairam sobre a passagem da condição do regime colonial
para alcançar as sua soberania.
Fig. 03 –
O mesmo Palácio de São Cristóvão não tão isolado paisagem urbana do Rio de
Janeiro em 1816
No aspecto positivo o
brasileiro passou sentir-se responsável como abrigo real do vasto território lusitano.
Em 1808 este império português era geograficamente muito maior do que o Império
napoleônico no seu apogeu. Numa perspectiva de história de longa duração era -
no mínimo - 4 vezes do tamanho do
Império Romano na sua expansão geográfico máxima.
Esta condição era visível
para quem consultasse qualquer atlas mundial. Este tamanho geográfico serviu
para atrair a atenção, o comércio e a administração dos territórios portugueses
da Europa, da África e da Ásia. Isso implicava ser centro da circulação do
poder metropolitano e com a consequente necessidade de assumir e construir
circunstância para esta mesma circulação. Isto significava mais e melhores
portos, estradas e urbanismo adequado para esta circulação do poder real.
Fig. 04 – O retrato do bispo Dom Antônio do Desterro do Rio de Janeiro da época
dos Vice-Reis do Brasil e O retrato do cidadão comum era proibido no
Brasil. As únicas exceções eram os reis, os bispos e eventualmente o provedor
mor das irmandades das Santas Casas. Assim o Brasil ficou privado da maioria
dos retratos dos personagens fundamentais do se PODER ORIGINÀRIO
Politicamente isto
significava um processo sem gritos, um planejamento objetivo e meios adequados
não só para a corte mas para toda máquina administrativa, burocrática e
política que pudesse dar suporte à governabilidade. Em outros termos o Brasil
estava aprendendo no seu próprio território a entrar na adolescência depois da
fase infantil e subordinada da sua heteronomia colonial absoluta.
BRAZIL. In Miscellanea. Reflexoens sobre as novidades deste mez.
Reformas
no Brasil. CORREIO BRAZILIENSE, DE JULHO,
1814. VOL. XIII. No. 74. pp. 94-96
Alguns
dos nossos Correspondentes no Brazil, se nos tem queixado do nosso silencio, a
respeito de alguns melhoramentos, que tem tido ugar naquelle paiz. No entanto o
gráo de utilidade desses melhoramentos; ou quem saõ as pessoas n quem esses
benefícios se devam attribuir, saõ pontos muito disputaveis.
Em
primeiro lugar, a mera residência de S. A. R. no Rio-de-Janeiro tem só de persi
sido causa do augmento de população da quella cidade, e do conseqüente trafico,
negocio, e mais indústria, que lhe deve ser proporcional, com o auxilio da
fertilidade do terreno. Até aqui naõ attribuimos merecimento a nenhum Ministro.
RIO de JANEIRO Pia da
Sacristia da Igr. do Carmo - Atribuída ao Mestre Valentim
Fig. 05 – O luxo proibido nas casas era redobrado nos recintos das igrejas e nos
seus anexos. O projeto da PROPAGANDA da FÉ derramava índices visuais, sonoros,
táteis, olfativos e táteis nos ambientes sacros. Contraste vivamente com a austera e despojada
arquitetura doméstica colonial que só se podia manifestar em Lisboa. O sistema colonial induzia, com esta
proibição e uma exceção, o retorno para
a metrópole de qualquer capital gerado no Brasil
Mas
nem por isso estamos dispostos a negar o devido louvor, que os Ministros
merecem por certas medidas favoráveis, tanto á naçaõ em geral, como á Corte do
Rio de-Janeiro em particular; e, se resta ainda muito a fazer, he justo que se
louve o Governo pelo que já tem feito. Entre as medidas, que nos annunciam como
dignas de louvor he o plano, que tem executado o Intendente geral da Policia do
Rio de-Janeiro, de mandar buscar gente ás ilhas dos Açores, pagando- lhes a
passagem, &c.; a fim de com esta nova população occurrer a muitas obras
úteis; taes como a estrada do Caminho-novo, Lagoa da sentinella, Calumbi até
Mataporcos, a do Mangue até a Real quinta da Boa Vista; as duas pontes Nova, c
de S. Christavaõ, &c.
João
Francisco MUZZI (17-?-1802) Mestre Valentim entrega projeto a Dom Luis
Vascocellos em 1789
Fig. 06 – O Mestre Valentim apresenta ao Vice-Rei do Brasil o projeto da
restauração da santa Casa depois do Rio de Janeiro. Atribui-se a este mestre mulato uma série de
melhorias e obras públicas da capital do vice-reinado e, de 1808 até 1821, da própria metrópole
lusitana. O Mestre Valentim era proveniente de guildas ao modo medieval. Teve
uma fase de formação em Lisboa onde se inteirou das técnicas e tendências
estéticas posteriores ao terremoto de Lisboa
de 1755.
A paisagem urbana, do Rio de
Janeiro estava se reciclando, desde 1763, quando da transferência do Vice
reinado do Brasil para as praias banhadas pelas águas da baía da Guanabara. O ciclo do ouro
fácil havia se esgotado, Estava começando o ciclo agrícola distinto da cana e
da pecuária extensiva. O café estava despontando como novo agente
transformador.
Leandro JOAQUIM – (1738-1798) Vista da lagoa e
arcos do Rio de Janeiro dos Vice Reis -
Fig. 07 – A construção do aqueduto da Lapa destina-se a abastecer com água
potável as diferentes fontes e chafarizes espalhados pela área urbana do Rio de
Janeiro. Evidente que diante dos olhos dos cortesões de Lisboa era uma obra
menor e sem atrativos. Da mesma forma foram tratados os mestres e oficiais que
trabalham, na época, no Rio de Janeiro.
Com abertura dos portos e a capital lusitana no Rio de Janeiro afluíu uma massa
profissionais qualificados nos maores e melhores centro europeus. Para assumir
o seu lugar tratam naturalmente de desqualificar aqueles da terra.
Nos
achamos dignos de louvor estes esforços do Intendente, menos pelo que elles em
si mesmo importam, como por se ter ajudado para isso da população das ilhas;
medida que temos por tantas vezes recommendado, e que merece a maior attençaõ;
porque terras sem gente saõ desertos. Quereríamos talvez antes, que esta
população para o Brazil viesse de paizes estrangeiros; maz ja que tem de se despovoar
uma parte da monarchia para povoar outra, antes se desertem as ilhas dos Açores
do que o Brazil.
Fig. 08 – O chafariz das Saracuras do Rio de Janeiro anterior a 1808. O
governo colonial seguia a política romana de prover a cidade d eágua pública. As saracuras, anunciando com estardalhaço a
aguada, aludiam à propaganda governamental deste serviço colocado na paisagem
urbana
Taõ bem se tem extinguido pântanos
nas vizinhanças do Rio-de- Janeiro, calçado as ruas, melhorado a ílluminaçaõ da
cidade, prohibido a edificação de casas térreas, &c.
A
estas medidas locaes, que sem duvida fazem honra ao magistrado ou ministro a
cujo cargo isto pertence, accrescem outras de beneficio geral. Taes saõ a
creaçaõ de muitas villa», e divisoens das igrejas ou freguezias. Sobre este
ultimo artigo convém dizer, que para a edificação dos templos tem S. A. R.
generosamente empregado grande parte dos rendimentos dos dízimos, que lhe
pertencem privativamente a elle, como Gram Mestre da Ordem de Christo.
Fig. 09 – Antônio de Araújo e Azevedo (1758-1817) - o 1º Conde da Barca - foi o
mediador, em 1816, entre a Missão Artística Francesa do Brasil e a sua
integração na corte lusitana hospedada no Rio de Janeiro. Esta mediação
tocava numa recente ferida e que esta longe de cicatrizar. Muitos lusitanos haviam apoiado o agora descaído
regime napoleônico. Os artistas em questão eram aqueles mais próximos de
Napoleão Bonaparte. Joachim Lebreton (1760-1819) - que chefiava esta Missão -
havia sido o Secretário Perpétuo do Institut de France
Também
nos consta, que na Commarca de Porto seguro, se tem feito algumas obras úteis,
debaixo da Intendencia: abrio-se a navegação do rio Belmonte, que facilita a
communicaçaõ desta capitania com as do centro ; fazendo-se uma estrada de 55
legoas, para diminuir algumas difficuldades restantes da navegação, postou-se
uma linha de 12 destacamentos cm torno da comarca, que naõ só serve ao presente
de guarda contra as correrias dos índios; mas dá esperanças para o futuro de
que estes destacamentos se tornem em outras tantas provoaçoens. S. A. R. por
via do Intendente geral da Policia mandou subministrar colonos, para fundar uma
povoaçaõ em Mugiquicaba, lugar de bom anchoradouro na costa do mar; 4 léguas ao
Norte de Porto Seguro; e se intenta por-lhe o nome de Villa Cabral; para honrar
o nome do descubridor do Brazil, que aqui aportou,a primeira vez que os Portuguezes
pizáram a terra do Brazil; e para perpetuar assim a memória daquelle importante
acontecimento.
Nicolas d'ESCRAGNOLLE TAUNAY -
(1768-1830) Rio de Janeiro
Fig. 10 – Uma visão da paisagem urbana do Rio de Janeiro por um membro da Missão Artística Francesa Além da paisagem mostra praças, jardins e
ruas são o território do gado. Ao
mesmo tempo evidencia os responsáveis pela cultura e conhecimento científico
nas mãos de um reduzido número de monges.
O
nosso Leytor verá, pela miudeza com que nos demoramos nesta matéria, que naõ
temos menos prazer em enumerar o que achamos de bom, como em notar o que nos
parece que he máo.
E
com tudo devemos outra vez expressamente declarar aos nossos leytores, que naõ
he a bondade deste ou daquelle magistrado, nem a maldade daquelle ou deste
governador, o que julgamos necessário remediar: sempre que se admitta um bom
systema de administração geral; as cousas levarão o caminho que devem, e os
màos actos dos indivíduos seraõ unicamente excepçaõ de regra.
Thomas ENDER – (1793-1875) - Vista do Rio de Janeiro 1817-1818
Fig. 11 – Ao longo da permanência de Dom João VI no Rio de Janeiro os austríacos
marcaram presença, em 1817, um ano após os franceses virem em 1816. Entre
os artista que acompanharam Dona Leopoldina estava o jovem e talentoso Thomas
Ender. Ele registrou uma vista da Igrejinha do Outeiro da Glória ainda se
confrontando com vizinhança da fauna, da flora e habitantes da floresta virgem
tropical.
Não faltaram projetos e
iniciativas por meio das quais Brasil
estava aprendendo a lidar consigo mesmo. Apesar de a Universidade para todo o
Brasil vingar só em 1931, em muitas academias e áreas de conhecimento é
possível rastrear as suas raízes no período da permanência da corte no Brasil.
Não é só o Jardim Botânico, a Missão Artística Francesa. As Ciências da Saúde,
as Jurídicas e da Educação Formal Institucional se movimentaram para consolidar
o seu campo de forças e ir contra o marasmo e a entropia colonial.
Thomas ENDER – (1793-1875) - Vista do Rio de Janeiro 1817-1818
Fig. 12 – Thomas Ender registrou, em 1817, a imagem da praia quase intacta e virgem próxima ao Rio de Janeiro da época da permanência de Dom João VI Porem são visíveis também as pedreiras sub
urbanas aas quais provinham as pedras
das novas obras da capital
As
boas qualidades, que em mais de um respeito tem mostrado o Principe Regente,
nos daõ esperanças de ver lançar os fundamentos á felicidade e independencia
nacional, admittindo, e promovendo o estudo daquellas artes e sciencias, que distinguem
o homem civilizado do homem selvagem, e que tem a primeira influencia, em grangear o respeito á naçaõ.— O
estabelicimento de uma Universidade no Brazil;
a introducçaõ geral das escolas de ler e escrever; a ampla circulação de
jornaes e periódicos, nacionais e estrangeiros—saõ as medidas para que olhamos
como baze da desenvoluçaõ do character nacional; donde devem proceder os esforços
de patriotismo, que são sempre desconhecidos em um povo ignorante, e sujeito ao
despotismo.
Fig. 03 – O Jardim Botânico do Rio de Janeiro não só manteve um projeto da
permanência de Dom João VI no Brasil,
como se consolidou e continua a se renovar Ao fundo da alameda um projeto
da fachada preservada da Missão Artística Francesa que iniciou o seu projeto civilizatóri
compensador em 1816. Este projeto preparou e conferiu corpo estético e visual ao subsequente regime Imperial Brasileiro como
marcou com as Artes e os Ofícios os primórdios da era industrial no Brasil
Na conclusão é necessário
reforçar a tese de que a obra de Dom João VI no Brasil “NÃO
FOI NO GRITO”. Faltou o grito, a propaganda e o marketing para esta obra
silenciosa e oportuna para o tempo e lugar. Este silêncio oportunizou ocasião e
publico para que gerações barulhentas as desqualificassem como rudimentares. Se
os projetos e obras da permanência de Dom João VI eram rudimentares, mais
rudimentar era a cultura da população que encontrou no BRASIL e as instituições
vigentes distorcidas por três séculos de regime colonial.
As
sementes trabalharam silenciosas neste espaço adverso de um Brasil
devastado ao longo de 300 anos pelo cobiça colonial inescrupulosa.
Numa visão - guiada pela longa duração -
pode-se atribuir ao da permanência de Dom João VI no BRASIL as novas sementes
destinadas para as instituições da maioridade brasileiras. Plantava
instituições inexistes ou substituía as estéreis ou tão rudemente podadas pelo
regime colonial e escravocrata. Novas sementes de instituições que não
concorrem entre si. Instituições que se desenvolvem sob contratos mais próximos
do seu próprio PODER ORIGINÁRIO.
FONTES NUMÈRICAS
DIGITAIS
CORREIO BRAZILIENSE JULHO de
1814
DEBRET, Jean- Baptiste
1768-1848)
ENDER
Thomas - Thomas
HISTÓRIA do CAFÉ no BRASIL
HISTÓRIA do JARDIM BOTÂNICO do
RIO DE JANEIRO
IMPERIAL ACADEMIA de BELAS
ARTES do Rio de Janeiro
LUIS EDMUNDO – RIO de JANEIRO
no TEMPO do VICE_REIS
MISSÂO ARTÍSTICA FRANCESA
RIO de JANEIRO e BRASIL por
JEAN-BAPTISTE DEBRET
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Círio SIMON
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