sábado, 14 de julho de 2012

NÃO foi no GRITO - 043



O COCHICHO e o TERROR PÚBLICO.

“Na revolução digital estamos no início do Terror de Robespierre. Segundo a comissão dos “Commons”, a divulgação não deve reconhecer nenhum limite de custo, inconveniência, senso de proporção ou ter preocupação com as consequências não intencionais”.
JENKINS, Simon For the digital revolution, this is the Robespierre moment. Londres : Guardian.co.uk, Tuesday 10 July 2012 20.30 BST


Fig. 01 – O obsceno ou aquilo que se passa fora da cena, e constitui um componente típico do “vaudeville” da cultura do século XIX da França. Na ilustração de Honoré Daumier (1808-1879), os personagens Scapin e Crispin sugerem - entre cochichos - cenas que não podem ser mostradas ao público. Evidente que podem sugerir cenas nas quais a imaginação faz o seu papel, distorcendo completamente a verdade dos fatos.

A Revolução Francesa é a mãe de todas as revoluções da História Contemporânea. O dia 14 de julho de 1789 marca um ponto de inflexão incontornável na História politica e social da Humanidade, sem de deixar de assinalar que proporcionou um cenário para evidenciar a emergência das novas forças tecnológicas, econômicas e científicas desta mesma humanidade. Para a maioria das nações americanas foi um palco para confirmar as suas conquistas, como aconteceu com os norte-americanos, um laboratório para vários lideres latino-americanos que atuaram nela e a inspiração maior para as conquistas das soberanias da maioria delas.
A Revolução Francesa foi o palco para vários contrários se oporem irreconciliáveis em polos violentos e letais. Contraditoriamente também se conectarem e, estes opostos unidos, salvarem a França e verem disseminadas as suas ideias em todo mundo. No âmbito interno, carregado de perigosas energias de equilíbrio precário, os cochichos longamente guardados, as intrigas e os mexericos excludentes e irrefreáveis. Energias que explodiram publicamente em exposição aberta e universal agregando grupos carregados de ódios recíprocos e avassaladores de todo equilíbrio.  Estes grupos instáveis carregaram o cenário da Revolução Francesa de segredos, de intrigas e de mexericos ao estilo de matilhas de lobos cada vez menores e mais fechados sobre si mesmos, porém letais para os grupos de fora.  Matilha em caça mortal e onde cada uma almejava manter o seu particular, o seu poder e a sua posse exclusiva das presas e que perseguiam com estratégias de caça jamais imaginadas entre seres humanos.


Fig. 02 – Uma matilha de lobos carregada de instintos agressivos e dominadores fez,  com que esta característica da espécie, contribuísse para levá-la à beira da sua extinção.

Quanto mais herméticos e coléricos, mais conseguiam gerar a oposição dos excluídos destes grupos fechados e corporativos. Estes excluídos apelaram ao GRITO PÚBLICO e que culminou no TERROR da Revolução Francesa sob a forte e a implacável liderança do advogado Maximilien François Maria Isidore de Robespierre (1758-1794). Este propugnava que a REPÚBLICA FRANCESA fosse colocada e mantida sob a égide “do tudo público, conhecido e contratado”. O maior símbolo desta vontade era a guilhotina pública e escancarada em praça publica. Onde o carrasco cortava, de uma forma igualitária, as cabeças da nobreza ou da plebe e ao ritual da frase  “EM NOME do POVO FRANCÊS”.

Fig. 03 – Em “NOME do POVO FRANCÊS” foi a última frase que quase 15 condenados ouviram ao longo do Reino do Terror da Revolução. O instrumento de execução havia sido recomendado pelo Dr Joseph-Ignace Guillotin (1738-1814) que soube um dos seus homônimos ter subido a este  cadafalso. Porém o medico morreu em Paris de causas naturais as 75 anos

O que não se esperava é que as nações aliadas e os grupos externos contrários da França conseguisse unir estes grupos carregados de ódios recíprocos e avassaladores de todo equilíbrio e os fizesse marchar em uníssono e a um só passo contra estes aliados intrometidos. Mesmo o Correio Braziliense apesar de sua firme oposição do seu editor à política francesa da sua época percebeu o equivoco dos aliados contra Napoleão Bonaparte. Assim ele registrou honestamente em Londres no seu jornal, na p.673 do nº 48, já em maio de 1812, o erro cometido  quando publicou que:.
“porque nenhuma nacaô tem o direito de entrar por meio  de outra com forca armada, para a obrigar a adoptar este ou aquelle  systema de policia interna, que os povos naõ desejem. Impolitica;  porque o exemplo da actual Revolucaõ da Franca prova amplamente, que a ingerencia das nacoens estrangeiras, que desejaram  derribar com as armas os systemas revolucionarios dos Francezes,  foi quem os unio entre si, para repellirem os inimigos externos”
Pior do que isto: as ideias revolucionárias francesas contagiaram e se espalharam no âmbito interno das outras nações agressoras e pretendentes a moralizadoras. “a ingerencia das nacoens estrangeiras, que desejaram  derribar com as armas os systemas revolucionarios dos Francezes [..]   foi quem trouxe aos outros estados as ideas revolucionarias da França, que os aniquilaram a quasi todos”   
Este contágio imediato prova que as ideias  não eram e não foram gerados apenas no interior da França. Toda a Civilização Ocidental estava esperando um pretexto para estar livre da velha ordem. O lampejo da derrubada da Bastilha apenas acendeu o rastilho do barril de pólvora. Barril de pólvora dos segredos recalcados, das intrigas e dos mexericos dos ansiosos em manter o particular, o poder e a posse exclusiva no âmbito de grupos cada vez menores e fechados sobre si mesmo.

Fig. 04 – Os legisladores redigem a Constituição norte-americana elaborada pela Convenção Constitucional de Filadélfia- Pensilvânia, entre 25 de maio e 17 de setembro do ano 1787, vigente, nesta nação, até os dias atuais. Ela é uma das primeiras constituições nacionais e implanta um novo regime governamental, na passagem do Ancien Regime e coerente com a Era Industrial que estava no horizonte da História.

Contudo estamos cada vez mais distantes da cultura oral e do momento da explosão da revolução Francesa. Primeiro foi a imprensa que levou três séculos para colocar os cochichos em pública na Revolução Francesa para desespero e perda de cabeças de nobres e reis habituados aos seus segredinhos e códigos de falas que os mantinham no poder. No século XXI a internet está colocando aa alcance de toda a população os cochichos e os segredos de governos, empresários. Cochichos revelados aos que estão sendo usados.Como escreveu  Simon JENKINS em  For the digital revolution, this is the Robespierre moment

“ainda não temos a gravação obrigatória em câmeras de conversas de escritórioa e em casa, ao estilo de “1984”. Mas estamos chegando perto”.

Fig. 05 – O julgamento público do Rei Luís XVI, no dia 14 de janeiro de 1793, diante da Convenção, o levou à sentença de sua morte. A execução ocorreu no dia 21 do mesmo mês e ano. Era uma resposta da França da tentativa de invasão do seu território e da ameaça de o seu Rei unir-se aos agressores externos.


Na sua essência o Correio Braziliense continuava este projeto de tornar publico e universalmente conhecidas, pelo povo,  as intrigas os mexericos dos donos do poder colonial brasileiro. Manteve, em Londres, uma plataforma na qual revelavas aos excluídos os segredos os segredos, as intrigas e os mexericos de uma elite - que seguia os padrões do Ancien Regime - cujas expressões maiores na França haviam sido guilhotinados por Robespierre
Fig. 06 – A celebração do ENTE Supremo, ao longo da Revolução Francesa, manteve o povo unido por um ritual concebido pelo artista Jacques Louis David e voltada à Deusa Razão.  O mentor, desta celebração pagã, era Maximilien François Maria Isidore de Robespierre, que desejava, assim, romper com a longo história da influência clerical na França.

Diante da mudança para era pós-industrial impõem-se novos contratos e pactos sociais coerentes e que fazem sentido neste novo tempo e circunstâncias. Como foram necessárias novas constituições nacionais e novos regimes governamentais, na passagem do Ancien Regime para a Era Industrial, assim serão necessários este novos pactos quando da passagem da Era Industrial para a Pós-Industrial. Certamente houve muitas tentativas e com pesadas e dolorosas revoluções e das quais a Revolução Francesa é a mais evidente. 

Fig. 07 – Os inimigos surpreendem e prendem Robespierre que teve um julgamento sumário e a execução, na guilhotina, dois dias depois, aos 36 anos de idade.

Ainda que até hoje não haja consenso e um juízo definitivo em relação a ela, constitui um índice da resistência a qualquer mudança de uma elite que num passado próximo ou remoto conquistou privilégios e que agora deseja manter como conquista definitiva. Contra esta elite  salta ao palco da História o povo de onde se origina o poder daqueles que o querem apenas e exclusivamente para as próprias mãos e destino próprios e de sua casta. Certamente o instrumento cirúrgico - sugerido pelo Dr. Joseph-Ignace Gillotin - decapitou multidões de nobres incluindo o Rei Luís XVI e Maria Antonieta foi uma lição de crueldade e barbárie, porém proporcional à cegueira e insensibilidade e falta de coerência com as novas circunstâncias. 

Fig. 08 – Robespierre e os seus amigos são guilhotinados, em praça pública, no dia 28 de julho de 1794,  dois dias após a sua prisão e aos 36 anos de idade.

As circunstâncias - que o século XXI está enfrentando -  são de ordem ainda mais profunda. Um controle eficiente, uma perturbação severa na geração e distribuição de energia e consequente bloqueio de comunicações poderão levar para catástrofes humanitárias inimagináveis. Qualquer grupo, corporação ou bloco continental - que se julgue mais forte,  competente e ou mais digno do que os outros - pode organizar controles, bloqueios e perturbações severas numa civilização em rede. De outra parte, é possível sugerir, nesta rede, um terror fictício, ao estilo do “vaudeville”, e que pode levar à histeria planetária global contra inimigos imaginados e ameaças vazias. A falta de coerência, insensibilidade e cegueira - para as novas circunstâncias - poderá levar para coisas piores do que os camuflados campos de concentração nazistas. A Revolução Francesa e os fornos crematórios nazista poderão parecer brinquedos diante de povos inteiros e até continentes conduzidos e mantidos em permanente fome avassaladora e carências de necessidades básicas. Fome e necessidades básicas perpetuadas em nome de elites que se dizem prevenidas, eficientes e fortes para manter o seu padrão de vida herdada da era Industrial.
Dois fatos reais do século XXI mostram a proximidade do Big-Brother ou as ameaças do romance  “1984”. Um é o atentado  de 11 de setembro de 2001,  praticado por meios os mais sofisticados da tecnologia. Outro é a execução de Bin Laden, no dia 02 de maio de 2011, num lugar e num pais remoto, contudo assistido diretamente, e em tempo real,  pelo presidente dos Estados Unidos na Casa Branca.

Fig. 09 – O senador brasileiro Demostenes Torres enfrenta isolado o Senado Federal em Brasília em 11 de julho de 2012

A estratégia básica destes grupos, corporações ou blocos continentais certamente será o sigilo à toda prova, o cochicho o mais confidencial possível, a intriga a mais perversa possível e o mexerico o mais degradante e obsceno. As consequências - desta estratégia do segredo - explodirão, a céu aberto, ao exemplo da lâmina brilhante da guilhotina, da Revolução Francesa, operando industrialmente em praça ampla e aberta e manejada, em nome do povo que se julga desacatado, oprimido e traído pelos demais da espécie humana. Calcula-se que 15 mil vítimas passaram pela guilhotina entre 1792 e 1799.
 Esta estratégia deverá ser exercida com surpresa, determinação e com a remessa, para o futuro, de qualquer julgamento moral dos atos praticados em nome destes grupos, corporações ou blocos continentais. O exemplo, entre outros, vem do Paraguai, que em 2012, no prazo de 48 horas,  conseguiu liquidar - com a aparência da mais plena legalidade - o mandado do seu presidente e o seu governo.

CORREIO do POVO - 12.07.2012
Fig. 10 – O ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo caminha solitário pelas ruas de Assunção - Paraguai

Nenhum EU singular será capaz de fazer frente a este tsunami. Assim como milhares de nobres não passaram de folhas caídas e varridas pelo vendaval. Eles também subiram os degraus da guilhotina e perderam a cabeça. Esta cabeça que havia julgado que os seus escudos e a heráldica conquistada pelos seus antepassados poderia fazer frente a derrubada do Ancien Regime e que poderiam fazer face sozinhos ao terremoto e às mudanças de 1789.

CORREIO do POVO - 11.07.2012
Fig. 11 – O senador brasileiro Demostenes Torres dirige-se para fazer o discurso isolado o Senado Federal em Brasília em 11 de julho de 2012.

Uma civilização sempre será uma criação humana, por mais vantagens que seja capaz de disseminar entre os seus integrantes. Como criação ela também pode ser portadora do mal estar, da finitude e dos condicionamentos deste ser humano. Sempre deixará de fora grupos humanos. Sempre provocará contradições. Sempre terá, no mínimo, dois polos opostos e contrários. Estes contrários opõem-se, mas se conectam e em polos oposto e violentos muitas vezes. Estes exercerão, sem que ninguém o possa impedir, o cochicho, as intrigas e mexericos excludentes contra a exposição pública, aberta e universalizante. Os segredos, intrigas e mexericos dos contrários querem manter o particular, o poder e a posse que se mantém exclusivo do grupo e cada vez menor e mais fechado sobre si mesmo.

Quadro distorcido de Holbein
Fig. 12 – O observador humano sempre será alguém com o olhar orientado que percebe questões como um testemunho condiciona, pelos seus interesses, pela sua inteligência e cultura de que é portador, aquilo que observa no mundo empírico.

Na era pós-industrial dos recursos numéricos digitais não será diferente. Cabe uma educação humana específica para esta nova circunstância. Urge o tempo para que a educação seja para esta hora, e não para outra do passado ou futuro. Educação que não poderá contornar os componentes políticos e nem excluir, segregar ou direcionar um ou outro grupo para destinos distintos e irreversíveis.
O que é certo é que a passagem da História Moderna para a Contemporânea foi um processo em que nações soberanas isoladas estavam jogando o seu destino e fortuna como Estados Soberanos singulares. A passagem para a era Pós-Industrial é um processo no qual o destino da população mundial inteira do planeta estão em jogo. Nesta joga as informações confiáveis e em tempo real carregam todas as forças e energias humanas. A “Hora de Robespierre” é aquela que mantém estas forças públicas e em circulação, não só para o povo francês, mas para a população do Planeta todo.
A Revolução Francesa - como a mãe de todas as revoluções da História Contemporânea - possui ainda muitos segredos, cochichos e lições a serem exposto à luz do dia, apreendidos e colocados em prática devida e oportunamente.

Fig. 13 – Entre o cochicho e o  espaço público existe um enorme espaço empírico Tanto o Estado - como o cidadão singular – encontram um imenso universo para criações tanto individuais como as coletivas, neste espaço empírico. Contudo, este imenso espaço empírico pode tornar-se estéril devido a ideologias, a mediações que são ali aplicadas e forçadas e dirigidas por questões únicas fixas, definitivas e únicas. Mesmo as melhores e eficientes técnicas de comunicação humana e as tecnológicas mais revolucionárias podem cegar as inteligências, congelar as vontades e passar por cima dos mais elementares direitos humanos.

Os COCHICHOS do “1984” -  o DEDO do BIG BROTHER ou as SOMBRAS de OPORTUNISTAS ?

CIRIO SIMON SIMON
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FONTES
JENKINS, Simon For the digital revolution, this is the Robespierre moment. Londres : Guardian.co.uk, Tuesday 10 July 2012 20.30 BST

Jornais da época de Revolução Francesa
Imagens da Revolução Francesa
REBESPIERRE

Le Défenseur de la Constituition.

MORTE de BIN LADEN

CACO COELHO Dignidade e teatro Crônicas da Cena
CORREIO do POVO - ANO 117 Nº 288 - PORTO ALEGRE, SÁBADO, 14 DE JULHO DE 2012 Arte & Agenda
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2012 - NEGÒCIO PARTICULARES regulam-se no ÂMBITO PARTICULAR
2012 - COMISSÂO FRANCESA de MORALIZAÇÃO E RENOVAÇÂO da VIDA POLÌTICA

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