O
COCHICHO e o TERROR PÚBLICO.
“Na revolução digital estamos no início do Terror de
Robespierre. Segundo a comissão dos “Commons”, a divulgação não deve reconhecer
nenhum limite de custo, inconveniência, senso de proporção ou ter preocupação
com as consequências não intencionais”.
JENKINS, Simon For the
digital revolution, this is the Robespierre moment. Londres : Guardian.co.uk, Tuesday 10 July 2012 20.30
BST
Fig. 01 – O obsceno ou aquilo que se passa fora da cena, e constitui um componente típico
do “vaudeville” da cultura do século
XIX da França. Na ilustração de Honoré Daumier (1808-1879), os personagens
Scapin e Crispin sugerem - entre cochichos - cenas que não podem ser mostradas
ao público. Evidente que podem sugerir cenas nas quais a imaginação faz o seu
papel, distorcendo completamente a verdade dos fatos.
A Revolução Francesa é a
mãe de todas as revoluções da História Contemporânea. O dia 14 de julho de 1789
marca um ponto de inflexão incontornável na História politica e social da
Humanidade, sem de deixar de assinalar que proporcionou um cenário para evidenciar
a emergência das novas forças tecnológicas, econômicas e científicas desta
mesma humanidade. Para a maioria das nações americanas foi um palco para
confirmar as suas conquistas, como aconteceu com os norte-americanos, um
laboratório para vários lideres latino-americanos que atuaram nela e a
inspiração maior para as conquistas das soberanias da maioria delas.
A Revolução Francesa foi
o palco para vários contrários se oporem irreconciliáveis em polos violentos e
letais. Contraditoriamente também se conectarem e, estes opostos unidos,
salvarem a França e verem disseminadas as suas ideias em todo mundo. No âmbito
interno, carregado de perigosas energias de equilíbrio precário, os cochichos
longamente guardados, as intrigas e os mexericos excludentes e irrefreáveis.
Energias que explodiram publicamente em exposição aberta e universal agregando
grupos carregados de ódios recíprocos e avassaladores de todo equilíbrio. Estes grupos instáveis carregaram o cenário da
Revolução Francesa de segredos, de intrigas e de mexericos ao estilo de
matilhas de lobos cada vez menores e mais fechados sobre si mesmos, porém
letais para os grupos de fora. Matilha
em caça mortal e onde cada uma almejava manter o seu particular, o seu poder e
a sua posse exclusiva das presas e que perseguiam com estratégias de caça
jamais imaginadas entre seres humanos.
Fig. 02 – Uma
matilha de lobos carregada de instintos
agressivos e dominadores fez, com que esta
característica da espécie, contribuísse para levá-la à beira da sua extinção.
Quanto mais herméticos e
coléricos, mais conseguiam gerar a oposição dos excluídos destes grupos
fechados e corporativos. Estes excluídos apelaram ao GRITO PÚBLICO e que
culminou no TERROR da Revolução Francesa sob a forte e a implacável liderança
do advogado Maximilien François Maria Isidore de Robespierre (1758-1794). Este
propugnava que a REPÚBLICA FRANCESA fosse colocada e mantida sob a égide “do tudo público, conhecido e contratado”.
O maior símbolo desta vontade era a guilhotina pública e escancarada em praça
publica. Onde o carrasco cortava, de uma forma igualitária, as cabeças da
nobreza ou da plebe e ao ritual da frase “EM NOME
do POVO FRANCÊS”.
Fig. 03 – Em “NOME
do POVO FRANCÊS” foi a última frase que quase 15 condenados ouviram ao
longo do Reino do Terror da Revolução. O instrumento de execução havia sido
recomendado pelo Dr Joseph-Ignace Guillotin (1738-1814) que soube um dos seus
homônimos ter subido a este cadafalso.
Porém o medico morreu em Paris de causas naturais as 75 anos
O que não se esperava é
que as nações aliadas e os grupos externos contrários da França conseguisse
unir estes grupos carregados de ódios recíprocos e avassaladores de todo
equilíbrio e os fizesse marchar em uníssono e a um só passo contra estes
aliados intrometidos. Mesmo o Correio Braziliense apesar de sua firme oposição
do seu editor à política francesa da sua época percebeu o equivoco dos aliados
contra Napoleão Bonaparte. Assim ele registrou honestamente em Londres no seu
jornal, na p.673 do nº 48, já em maio de 1812, o erro cometido quando publicou que:.
“porque nenhuma nacaô tem o direito
de entrar por meio de outra com forca
armada, para a obrigar a adoptar este ou aquelle systema de policia interna, que os povos naõ
desejem. Impolitica; porque o exemplo da
actual Revolucaõ da Franca prova amplamente, que a ingerencia das nacoens
estrangeiras, que desejaram derribar com
as armas os systemas revolucionarios dos Francezes, foi quem os unio entre si, para repellirem os
inimigos externos”
Pior do que isto: as ideias
revolucionárias francesas contagiaram e se espalharam no âmbito interno das
outras nações agressoras e pretendentes a moralizadoras. “a ingerencia das nacoens estrangeiras, que desejaram derribar com as armas os systemas
revolucionarios dos Francezes [..] foi quem trouxe aos outros estados as ideas
revolucionarias da França, que os aniquilaram a quasi todos”
Este contágio imediato
prova que as ideias não eram e não foram
gerados apenas no interior da França. Toda a Civilização Ocidental estava
esperando um pretexto para estar livre da velha ordem. O lampejo da derrubada
da Bastilha apenas acendeu o rastilho do barril de pólvora. Barril de pólvora dos
segredos recalcados, das intrigas e dos mexericos dos ansiosos em manter o
particular, o poder e a posse exclusiva no âmbito de grupos cada vez menores e
fechados sobre si mesmo.
Fig. 04 – Os legisladores redigem a Constituição norte-americana
elaborada pela Convenção Constitucional
de Filadélfia- Pensilvânia, entre 25 de maio e 17 de setembro do ano 1787,
vigente, nesta nação, até os dias atuais. Ela é uma das primeiras constituições nacionais e implanta um
novo regime governamental, na passagem do Ancien Regime e coerente
com a Era Industrial que estava no horizonte da História.
Contudo estamos cada vez
mais distantes da cultura oral e do momento da explosão da revolução Francesa.
Primeiro foi a imprensa que levou três séculos para colocar os cochichos em
pública na Revolução Francesa para desespero e perda de cabeças de nobres e
reis habituados aos seus segredinhos e códigos de falas que os mantinham no
poder. No século XXI a internet está colocando aa alcance de toda a população
os cochichos e os segredos de governos, empresários. Cochichos revelados aos
que estão sendo usados.Como escreveu Simon JENKINS em For the digital revolution, this is the Robespierre moment
“ainda não temos a gravação
obrigatória em câmeras de conversas de escritórioa e em casa, ao estilo de
“1984”. Mas estamos chegando perto”.
Fig. 05 – O julgamento público do Rei Luís XVI, no dia
14 de janeiro de 1793, diante da Convenção, o levou à sentença de sua morte. A
execução ocorreu no dia 21 do mesmo mês e ano. Era uma resposta da França da
tentativa de invasão do seu território e da ameaça de o seu Rei unir-se aos
agressores externos.
Na sua essência o
Correio Braziliense continuava este projeto de tornar publico e universalmente
conhecidas, pelo povo, as intrigas os
mexericos dos donos do poder colonial brasileiro. Manteve, em Londres, uma
plataforma na qual revelavas aos excluídos os segredos os segredos, as intrigas
e os mexericos de uma elite - que seguia os padrões do Ancien Regime - cujas
expressões maiores na França haviam sido guilhotinados por Robespierre
Fig. 06 – A celebração do ENTE Supremo, ao longo da
Revolução Francesa, manteve o povo unido por um ritual concebido pelo artista
Jacques Louis David e voltada à Deusa Razão. O mentor, desta celebração pagã, era
Maximilien François Maria Isidore de Robespierre, que desejava, assim, romper
com a longo história da influência clerical na França.
Diante da mudança para
era pós-industrial impõem-se novos contratos e pactos sociais coerentes e que
fazem sentido neste novo tempo e circunstâncias. Como foram necessárias novas
constituições nacionais e novos regimes governamentais, na passagem do Ancien
Regime para a Era Industrial, assim serão necessários este novos pactos quando
da passagem da Era Industrial para a Pós-Industrial. Certamente houve muitas
tentativas e com pesadas e dolorosas revoluções e das quais a Revolução
Francesa é a mais evidente.
Fig. 07 – Os
inimigos surpreendem e prendem Robespierre
que teve um julgamento sumário e a execução, na guilhotina, dois dias depois,
aos 36 anos de idade.
Ainda que até hoje não
haja consenso e um juízo definitivo em relação a ela, constitui um índice da
resistência a qualquer mudança de uma elite que num passado próximo ou remoto
conquistou privilégios e que agora deseja manter como conquista definitiva.
Contra esta elite salta ao palco da
História o povo de onde se origina o poder daqueles que o querem apenas e
exclusivamente para as próprias mãos e destino próprios e de sua casta.
Certamente o instrumento cirúrgico - sugerido pelo Dr. Joseph-Ignace Gillotin -
decapitou multidões de nobres incluindo o Rei Luís XVI e Maria Antonieta foi
uma lição de crueldade e barbárie, porém proporcional à cegueira e insensibilidade
e falta de coerência com as novas circunstâncias.
Fig. 08 – Robespierre e os seus amigos são
guilhotinados, em praça pública, no dia 28 de julho de 1794, dois dias após a sua prisão e aos 36 anos de
idade.
As circunstâncias - que
o século XXI está enfrentando - são de
ordem ainda mais profunda. Um controle eficiente, uma perturbação severa na
geração e distribuição de energia e consequente bloqueio de comunicações poderão
levar para catástrofes humanitárias inimagináveis. Qualquer grupo, corporação
ou bloco continental - que se julgue mais forte, competente e ou mais digno do que os outros -
pode organizar controles, bloqueios e perturbações severas numa civilização em
rede. De outra parte, é possível sugerir, nesta rede, um terror fictício, ao
estilo do “vaudeville”, e que pode
levar à histeria planetária global contra inimigos imaginados e ameaças vazias.
A falta de coerência, insensibilidade e cegueira - para as novas circunstâncias
- poderá levar para coisas piores do que os camuflados campos de concentração
nazistas. A Revolução Francesa e os fornos crematórios nazista poderão parecer
brinquedos diante de povos inteiros e até continentes conduzidos e mantidos em
permanente fome avassaladora e carências de necessidades básicas. Fome e
necessidades básicas perpetuadas em nome de elites que se dizem prevenidas,
eficientes e fortes para manter o seu padrão de vida herdada da era Industrial.
Dois fatos reais do
século XXI mostram a proximidade do Big-Brother ou as ameaças do romance “1984”. Um é o atentado de 11 de setembro de 2001, praticado por meios os mais sofisticados da
tecnologia. Outro é a execução de Bin Laden, no dia 02 de maio de 2011, num
lugar e num pais remoto, contudo assistido diretamente, e em tempo real, pelo presidente dos Estados Unidos na Casa
Branca.
Fig. 09 – O
senador brasileiro Demostenes Torres enfrenta
isolado o Senado Federal em Brasília em 11 de julho de 2012
A estratégia básica
destes grupos, corporações ou blocos continentais certamente será o sigilo à
toda prova, o cochicho o mais confidencial possível, a intriga a mais perversa
possível e o mexerico o mais degradante e obsceno. As consequências - desta
estratégia do segredo - explodirão, a céu aberto, ao exemplo da lâmina brilhante
da guilhotina, da Revolução Francesa, operando industrialmente em praça ampla e
aberta e manejada, em nome do povo que se julga desacatado, oprimido e traído
pelos demais da espécie humana. Calcula-se que 15 mil vítimas
passaram pela guilhotina entre 1792 e 1799.
Esta estratégia deverá ser exercida com
surpresa, determinação e com a remessa, para o futuro, de qualquer julgamento
moral dos atos praticados em nome destes grupos, corporações ou blocos
continentais. O exemplo, entre outros, vem do Paraguai, que em 2012, no prazo
de 48 horas, conseguiu liquidar - com a
aparência da mais plena legalidade - o mandado do seu presidente e o seu
governo.
CORREIO do POVO - 12.07.2012
Fig. 10 – O ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo
caminha solitário pelas ruas de Assunção - Paraguai
Nenhum EU singular será
capaz de fazer frente a este tsunami. Assim como milhares de nobres não
passaram de folhas caídas e varridas pelo vendaval. Eles também subiram os
degraus da guilhotina e perderam a cabeça. Esta cabeça que havia julgado que os
seus escudos e a heráldica conquistada pelos seus antepassados poderia fazer
frente a derrubada do Ancien Regime e que poderiam fazer face sozinhos ao
terremoto e às mudanças de 1789.
CORREIO do POVO - 11.07.2012
Fig. 11 – O
senador brasileiro Demostenes Torres
dirige-se para fazer o discurso isolado o Senado Federal em Brasília em 11 de
julho de 2012.
Uma civilização sempre
será uma criação humana, por mais vantagens que seja capaz de disseminar entre
os seus integrantes. Como criação ela também pode ser portadora do mal estar,
da finitude e dos condicionamentos deste ser humano. Sempre deixará de fora grupos
humanos. Sempre provocará contradições. Sempre terá, no mínimo, dois polos
opostos e contrários. Estes contrários opõem-se, mas se conectam e em polos
oposto e violentos muitas vezes. Estes exercerão, sem que ninguém o possa
impedir, o cochicho, as intrigas e mexericos excludentes contra a exposição
pública, aberta e universalizante. Os segredos, intrigas e mexericos dos
contrários querem manter o particular, o poder e a posse que se mantém
exclusivo do grupo e cada vez menor e mais fechado sobre si mesmo.
Quadro distorcido de Holbein
Fig. 12 – O observador humano sempre será alguém com o
olhar orientado que percebe questões como um testemunho condiciona, pelos
seus interesses, pela sua inteligência e cultura de que é portador, aquilo que
observa no mundo empírico.
Na era pós-industrial
dos recursos numéricos digitais não será diferente. Cabe uma educação humana
específica para esta nova circunstância. Urge o tempo para que a educação seja
para esta hora, e não para outra do passado ou futuro. Educação que não poderá
contornar os componentes políticos e nem excluir, segregar ou direcionar um ou
outro grupo para destinos distintos e irreversíveis.
O que é certo é que a
passagem da História Moderna para a Contemporânea foi um processo em que nações
soberanas isoladas estavam jogando o seu destino e fortuna como Estados
Soberanos singulares. A passagem para a era Pós-Industrial é um processo no
qual o destino da população mundial inteira do planeta estão em jogo. Nesta
joga as informações confiáveis e em tempo real carregam todas as forças e
energias humanas. A “Hora de Robespierre” é aquela que
mantém estas forças públicas e em circulação, não só para o povo francês, mas
para a população do Planeta todo.
A Revolução Francesa -
como a mãe de todas as revoluções da História Contemporânea - possui ainda
muitos segredos, cochichos e lições a serem exposto à luz do dia, apreendidos e
colocados em prática devida e oportunamente.
Fig. 13 – Entre o
cochicho e o espaço público existe um enorme espaço empírico Tanto o Estado - como
o cidadão singular – encontram um imenso universo para criações tanto individuais
como as coletivas, neste espaço empírico. Contudo, este imenso espaço empírico
pode tornar-se estéril devido a ideologias, a mediações que são ali aplicadas e
forçadas e dirigidas por questões únicas fixas, definitivas e únicas. Mesmo as
melhores e eficientes técnicas de comunicação humana e as tecnológicas mais
revolucionárias podem cegar as inteligências, congelar as vontades e passar por
cima dos mais elementares direitos humanos.
Os COCHICHOS do “1984” - o DEDO do BIG BROTHER ou as SOMBRAS de
OPORTUNISTAS ?
CIRIO SIMON SIMON
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FONTES
JENKINS, Simon
For
the digital revolution, this is the Robespierre moment. Londres :
Guardian.co.uk, Tuesday 10 July 2012 20.30
BST
Jornais da época de Revolução Francesa
Imagens da Revolução Francesa
REBESPIERRE
Le
Défenseur de la Constituition.
MORTE
de BIN LADEN
CACO COELHO Dignidade e teatro Crônicas da Cena
CORREIO
do POVO - ANO 117 Nº 288 - PORTO ALEGRE, SÁBADO, 14 DE JULHO DE 2012 Arte
& Agenda
http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=117&Numero=288&Caderno=5&Noticia=443560
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2012 - NEGÒCIO PARTICULARES regulam-se no ÂMBITO
PARTICULAR
2012
- COMISSÂO FRANCESA de MORALIZAÇÃO E RENOVAÇÂO da VIDA POLÌTICA
BRASIL
2005 - Jomard Muniz de BRITTO – Recife –
Jardim de Cerâmicas de Brennand
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