O BRASIL NASCEU e CONTINUA VELHO.
O Brasil nasceu tal qual
Macunaíma. Como velho, não queria trabalhar, pensar e até falar. Só queria
saber da chupeta. Até os dias atuais o Brasil continua dependente da chupeta e
é movido por eventos.
Fig.01 – O Brasil nasceu velho, cansado e
frustrado. A figura do Macunaíma interpretada pelo ator Grande Otelo no
filme, de 1969, sob a direção de João Pedro de Andrade.
De fato o homem chegou
ao atual território brasileiro já velho, cansado e frustrado. O atual
território do Brasil como um lugar de refúgio, de descanso e de cultivo de
hábitos obsoletos, ou proibidos, em outras terras. Continua a arrastar esta sua
sina de refúgio, descanso e hábitos arcaicos pelos seus caminhos e em qualquer
direção. Como refúgio território geológico brasileiro se assenta sobre um
escudo geológico que lhe confere um berço esplêndido para este objetivo. É um
lugar de descanso pois está isento de terremotos, de vulcões ou de extremos
climáticos da Natureza. Esta Natureza convida para perpetuar os hábitos
arcaicos e estágios humanos muito próximos dela.
Lasar SEGAL (1891-1957) - Mário de Andrade na rede- 1929 gravura
Fig.02 – O escritor Mario de Andrade - o autor do
texto de Macunaíma- reclinado na rede indígena numa gravura do russo brasileiro Lasar SEGAL sempre foi coerente com o tema do Brasil
velho, cansado e frustrado. A preguiça, como método de trabalho, levou-o a
perceber e a registrar a essência da alma brasileira, para a qual apontou três caminhos.
Ele resumiu para UNE (1942 p.45) “O
direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística
brasileira; e a estabilização de uma consciência nacional [..] A novidade
fundamental, imposta pelo movimento, foi a conjugação dessas três normas num
todo orgânico da consciência coletiva”.
Por todas estas razões o
Brasil político, social e cultural nasceu velho. Pela força dos hábitos
obsoletos qualquer mudança está fora e desconectada com o tempo brasileiro.
Esta craca arcaica se fecha sobre si mesma diante de qualquer novidade. O Brasil político, social e cultural é naturalmente
infenso a qualquer ruptura, abertura ou comércio com culturas às quais
renunciou ou foi expulso há muito tempo.
Fig.03 – Uma escultura indígena brasileira expressa
a veneração ao ancião da tribo. Se e um lado represente o Brasil que nasceu velho, cansado e frustrado,
do outro registra a conservação da tradição, do saber ancestral que mostrava o
caminho da nova geração diante do caos perpétuo que a Natureza impõe como
soberana. A proximidade e a força da Natureza impunham as figuras do velho pajé que exercia o seu saber ancestral diante dos medos individuais e coletivos do
mundo desconhecido e se contrapunha à coerção física do jovem cacique.
A cultura humana que se
estabeleceu e prosperou na ilha do Marajó quando os europeus chegaram não tinha mais o menor traço na memória das
culturas aborígenes da época do descobrimento lusitano. Os mesmos vestígios de
uma cultura que sumiu no tempo brasileiro pode ser lido nas inscrições da Pedra
do Ingá na atual Paraíba.
Enquanto isto no apertado e instável
território dos Andes e da América Central prosperam civilizações autóctones e
que deixaram invejável memória.
A lei do mais fácil é
pródiga num território solido e onde a Natureza e a entropia estão de guarda
contra qualquer força de mudança. Natureza na qual é desnecessário o
planejamento para o período hibernal e nem para o dia seguinte
Fig.04 – O movimento da Confederação dos Tamoios
era sustentado pelas lideranças indígenas diante do avanço dos europeus sobre
os seus territórios respectivos campos de caça. Os Tamoios - ou Tamuios -_ eram
os VELHOS da TERRA que tradicionalmente guerreavam entre si. Mas diante do
agressivo europeu - seu inimigo comum - se uniram sob o nome comum de TAMOIOS e ao lado dos
franceses. Porém os lusitanos foram os primeiros a entender a natureza deste movimento indígena. Na luta pela terra
dos seus antepassados o jovem cacique Arariboia sucedeu o seu velho pai Maracajá-guaçu.
Transferiu a sua aldeia e fundou a atual cidade de Niterói. Unido aos
portugueses lançava constantes ataques
contra os francesas e os tamoios confederados. Logo a sua vitória foi rapidamente esquecido pelos agressivos
europeus.
Os sucessivos fracassos
da Confederação dos Tamoios, as culturas francesas, holandesas foram engolidas
por esta entropia brasileira. Não estavam em consonância com tempo brasileiro.
Na política brasileira NENHUM GRITO possui um
eco social muito longo e cm escassos seguidores. Se este GRITO consegue reunir
multidões o consegue mais como curiosos. Estas multidões de curiosos se
dispersam e se dissolvem imediatamente no imenso território nacional. Não
carregam nenhum PROJETO ou PACTO coletivo a partir deste GRITO. A projeção
emocional do EINFÜLUNG faz retornar imediatamente este GRITO á sua sólida base
da Natureza. Este GRITO não expressa nenhum projeto com começo, meio e fim. Ela
não atrapalha e nem comove esta Natureza tendente á entropia perpétua e ao caos
primordial.
José TEÓFILO de JESUS (1750-1847) - América s-d
Fig.05 – O Brasil velho, cansado e frustrado visto
pelo olhar comandado pelo iluminismo europeu. Este o elevou ao mito do “BOM
SELVAGEM” e o sentou no centro da Natureza sobre uma caixa cartesiana e com um
cofre europeu na sua frente. Este “BOM SELVAGEM” reina do seu trono sobre
uma paisagem idílica povoada por um pacifica fauna e uma flora que lhe oferece
os mais variados frutos e alimentos.
Os incas, apesar do seu
vasto império, parecem que não alimentavam nenhum projeto em relação ao atual
território brasileiro e do qual certamente tinham informações. Na era
pré-colonial lusitana o império Inca
preferia apropriar-se de culturas, como do atual estado peruano de Chachapoya, cuja cultura já estava evoluída e
vinda das planícies amazônicas brasileiras.
Fig.06 – O interior do Brasil conservou-se velho,
cansado e frustrado na medida em que o europeu permanecia povoando as praias ao
modo de caranguejos marítimos. Enquanto isto o indígena ia recuando para os
sertões do interior. Neste interior continuava os seus hábitos de caçador, a sua
língua oral e o seu modo de ser ao nível da pré-história. Enquanto isto, no
litoral, se sucediam, ao longo de quatro séculos, os regimes coloniais,
imperiais e depois republicano.
As tribos indígenas, os
exploradores e os imigrantes vieram cansados e amadurecidos nas suas
respectivas culturas. Buscavam um lugar de descanso e uma forma de continuar a
cultivar as respectivas heranças ancestrais que tinham se tinham tornado
obsoletos em suas terras e nas suas culturas de origem. Nas suas migrações para
o Brasil não vieram para inovar, romper com o seu conhecimento, hábitos e nem
com um projeto e muito menos para impô-los aos demais habitantes desta terra.
Hans STADEN 1526-1579 - in
TOBINO 2007 p. 022
Fig.07 – O alemão Hans STADEN viveu a sua aventura
solitária entre as tribos conflagras e divididas entre si pela Confederação dos
Tamoios. Com o seu olhar
renascentista europeu fixou para a posteridade os hábitos, falas e recursos do
homem brasileiro surgindo repentina e inesperadamente dos quadros da
pré-história. Nesta aventura ele foi
contemporâneo do comandante espanhol Alvar Cabeza de Vaca
Os que tentaram isto se
deram muito mal e foram eliminados como um corpo estranho ao organismo
brasileiro. A maioria dos migrantes vinha politicamente derrotada das suas
terras de origem. Trataram de esqueceram ou agradeceram por se ver livre de uma
carga pesada de outras épocas. Nas suas terras de origem também não deixaram
ninguém para lamentar a sua partida ou esperando o seu retorno.
Fig.08 – O sistema central lusitano construiu
fortes ao redor de todo o litoral do Brasil. Fortes cuja construção e
manutenção ultrapassavam os lucros que auferia com esta colônia hermeticamente
fechada. Esta política continuava os hábitos feudais dos castelos e
forçavam o servilismo em relação à metrópole. No interior do Brasil colônia provocava
a dependência estrita com a capital colonial de Salvador e depois como Rio de
Janeiro. O habito centralista e monocrático se aninhou, arejou e se revigorou
com a mudança para Brasília. Os municípios brasileiros continuam a funcionar
como meros feudos medievais sob o controle e patrulhamento centrais de Brasília.
A fortuna do sistema central
lusitano - no atual território brasileiro - deve-se à sua compreensão deste
TEMPO e LUGAR brasileiro. Portugal transpôs para o seu território americano o
sistema feudal arcaico. Em vez de castelos, pontuou suas praias de fortes e de
fortalezas militares. O seu distante poder político o entregou aos caciques e
aos coronéis e o que modelavam ao feitio dos nativos. Estes dividem o poder
regional e local por meio da figura e do instrumento político do município. Nestas
condições é uma constate a tomada do poder central brasileiro, pelas reiteradas aventuras militaristas.
FREI AGOSTINHO da PIEDADE (-?-
1661) - São Pedro Arrependido
Fig.09 – A imagem do São Pedro arrependido e em
lágrimas é uma perfeita representação do Brasil nasceu velho, cansado e
frustrado. A matéria prima do barro nacional é coerente com as condições e
circunstâncias brasileiras da época e do lugar.
Aboliu a escravidão na
metrópole enquanto que a conservou contraditoriamente intacta na sua colônia.
Agia coerente com a vigência desta cultura arcaica brasileira. Repassou este sistema
servil para o império brasileiro. Esta
coroa dos Bragança CONTINOU a ser reivindicada - até os dias atuais - por esta
dinastia e com não poucos prosélitos. Não surtiu efeito algum dar os títulos
nobiliárquicos aos cães brasileiros.
O evento da Confederação
dos Tamoios ou o “velhos da Terra”[1]
mostrou ao lusitano a a força dos hábitos, costumes da terra e especialmente o
direito de ser diferente e coerente com a terra dos antepassados. Este
movimento conseguiu apressar o final da escravidão indígena no Brasil. A
compreensão, ainda que duvidosa, valeu o apoio de Araratibóia ao projeto
lusitano em confronto com o projeto da Antártica francesa.
[1] Confederação dos “TAMOIOS” ou os “VELHOS da TERRA”.
http://naofoinogrito.blogspot.com.br/2011/07/nao-foi-no-grito-006.html
Frans POST -1612-1680 - Igarassu igreja - Óleo sobre madeira
33.4x 41.4 cm - MNBA
Fig.10 – O Brasil sonhado pelos holandeses, nas
suas ambições coloniais revelou-se para eles velho, cansado e os frustrou no
fim. Porém, como vinham com um projeto, se retiraram do Brasil com muita
inteligência e proveito. Com o dinheiro das indenizações compraram a ilha de
Manhatan sobre a qual se assentou a cidade mais dinâmica ao longo do século XX..
Um século depois o apoio
do índio Antônio Felipe Camarão (1580-1648), do negro Henrique Dias (...-1680)
e do branco André Vidal de Negreiros (1606-1648) garantiram aos lusitanos a contraposição
às mudanças que o projeto holandês implicava.
A verdade é que tanto o
projeto da França Antártica como o Brasil holandês eram muito mais avançados do que o projeto
lusitano. Porém este teve o mérito de entender, respeitar e se conduzir face ao
brasileiro velho, cansado e frustrado e de se associar ao mosaico dos usos e
costumes das três etnias.
Fig.11 – O projeto do jesuíta nasceu e rapidamente
se cercou de uma membrana política reforçada e arquitetado e conduzido por uma ideologia mística medieval. Projeto impulsionado pela propaganda e
marketing de fundo religioso se escoou na medida em que dependia de eventos, da
participação emocional que contrariavam profundamente o Brasil nasceu velho,
cansado e frustrado. A descrição das ruinas de São Borja realizado, em 1834, por Arsène Isabelle dão a medida da base
material deste projeto.
.
Logo que o regime imperial entrou em colapso,
os grêmios republicanos, antes subversivos, foram povoados por antigos senhores
monárquicos. As lideranças e os cargos centrais - destes grêmios republicanos -
passaram a serem cortejados e disputados por descendentes dos senhores
imperiais.
Manuel ARAÚJO Porto-alegre (1806-1879) Barão de Santo Ângelo - Painel 1851 - aquarela 29 x 26 cm
Fig.12 – O dinâmico Barão de Santo Ângelo
compreendeu os obstáculos que Brasil - que nasceu velho, cansado e frustrado -
colocava diante da menor novidade ou mudanças. A figura do ancião é o
índice da velha cultura hegemônica europeia que se avassalou e teve abrigo
seguro neste Brasil de ânimo arcaico.
De outra parte o Brasil
é, entre os duzentos estados soberanos mundiais, aquele que possui uma
antiguidade considerável. Especialmente aqueles que se se formaram depois dele
(1822) como a atual Alemanha e Itália (1870). Contudo muitas destas culturas
exageram nesta sua percepção. Gostariam de ver o território brasileiro transformado num vasto museu indígena e
ecológico ao céu aberto.
GRUPO de BRUMMER: 1800 deles estão no Brasil a partir de 1851- In TOBINO - 2007 p.117
Fig.13 – Os soldados germânicos que vieram reforças
as hostes imperiais brasileiras. Encontraram um Brasil velho, cansado e
frustrado e ao qual se incorporaram física e psicologicamente. As suas
figuras barbudas - à semelhança do Imperador Dom Pedro II - são índices desta sintonia até no seu visual.
Entre eles Carlos von Kozeritz (1830-1890) filho da nobreza germânica, incorporou
a cultura brasileira de cuja língua tornou-se mestre e defensor ardoroso da
monarquia.
Para uma compreensão
pontual dos evidentes índices da decrepitude brasileira é licito recorrer ao
complexo de Édipo. Ao longo da diacronia evolutiva da presença humana no
território brasileiro ele não se livrou da sincronia com outas culturas. Para
se afirmar - entre estes demais - teve de matar o se pai (ou país de origem) e
fazer de tudo para possuir a sua mãe (terra) o mais estreitamente possível. O
brasileiro paga o mais alto preço possível para não alterar esta situação,
mudar os seus hábitos e contar com a
segurança adquirida.
Fig.14 – A tradicional e respeitada figura do PRETO
VELHO é inteiramente coerente com o Brasil que nasceu velho, cansado e
frustrado. A força moral desta figura consegue unir os clãs que eram
inimigos figadais na África e aqui estavam sob o mesmo regime escravagista.
No Brasil dos dias
atuais os hábitos linguísticos são comandados por uma mídia eletrônica
compulsiva. Esta facilidade repete a dependência dos hábitos e dos gostos pelo
bacalhau da corte lisboeta e das leis e linguagem coimbrã. Nesta facilidade
arcaica não há necessidade de pensar, de mudar hábitos. Diante desta facilidade herdada é
perfeitamente justificado e válido o contorno deliberado de qualquer ruptura
epistêmica e estética.
No plano político e
moral este fechamento sobre si mesmo o Brasil abre livre curso ao pensamento
colonial. Este pensamento se rende e cai na heteronomia de qualquer cultura que
tenha este projeto a ser continuado no Brasil. Esta heteronomia não se afasta
do projeto escravagista. Todo o governante brasileiro continua “culpado de tudo”. O subordinado, o servo
ou escravo voluntário, com este expediente, se isenta de qualquer sanção moral
dos seus atos que sempre são praticados em “nome
de outros”.
Rodolpho AMOEDO – (1857-1941) - Ultimo Tamoio 1883
óleo 180.3 x 261.3 cm MNBA - RJ
Fig.15 – A experiência de unir os “VELHOS da TERRA” ou a Confederação
do Tamoios sob a inspiração francesa contra os lusitanos demonstrou como o Brasil era velho, cansado e
frustrado. As lutas ancestrais continuaram de uma forma silenciosa e custou
a vida de vários líderes.
Neste contexto, qualquer
um que tenha um projeto de mudança a ser implementado no Brasil, precisa estar
atento, conhecer e incorporar as forças entrópicas que condicionam a cultura, a
política e a Natureza brasileira. Esta sintonia fina e contemporânea irá evitar
o gasto inútil de energias e muitas mortes na grande praia brasileira.
Vitor MEIRELES de LIMA (1832-1903) Moema 1866 óleo 129 x 190 cm - MASP
Fig.16 – A fuga do velho Brasil natural custou a existência física e
mental de muito gente idealista. O amor cultivado silenciosamente pela
jovem enamorada Moema pelo europeu, custou-lhe um preço silencioso, mas fatal.
Porém os maiores afogamentos aconteceram com jovens inteligências brasileiras.
Inteligências seduzidas pelas profundezas e abismos das contradições europeias.
Jovens inteligências brasileiras que não
compreendiam, não queriam aceitar as origens, os fundamentos e as forças avassaladoras,
não foram capazes de nadar contra a correnteza e realizar as competentes
rupturas epistêmicas e estéticas necessárias para perceber os seus próprios
limites. O drama se repetiu na metade do
secuculo XX com a jovem Diacui
Na atualidade o Brasil
continua velho. Ele continua a contar o
seu tempo pelo hemisfério norte. O Brasil recorda os seus antepassados em plena
primavera, quando esta data é lembrada após o outono e na entrada do inverno e
do frio no hemisfério norte. A ressurreição é comemorada no outono quando a sua
origem é da primavera do hemisfério norte. Com estas inversões é necessário
continuar a concordar com o holandês Barléus que abaixo do equador não existe
pecado e liberação da moral para patamares dignos da a pré-história
Fig.17 – Os “jovens” talentos da Semana de Arte
Moderna de1922 desencavaram Brasil velho, cansado e frustrado. No ato que
queriam celebrar o Centenário da proclamação da soberania do Brasil,
ridicularizavam a geração anterior a eles. Silenciaram o GRITO da
Independência, o Museu e Monumento do Ipiranga. Porém se defrontaram com o velho legado
colonial (Aleijadinho) e a mentalidade indígena (Antropofagia e Macunaíma). Encontraram
as forças para ir em direção da formação de uma consciência coletiva nacional na
velhice brasileira, no seu cansaço e nas suas frustrações e dúvidas.
O Brasil continua
dependente da chupeta até os dias atuais e é movido por eventos. Preso a um
ciclo fatal de eventos o brasileiro oscila entre os altos do carnaval e os
baixos e frustrações da paixão, segundo a poetisa Cecília Meireles.
No Brasil o evento, a
festa e o jogo precedem, acompanha e conclui o ritmo do trabalho. Trabalho que
não rende e nem acumula, pois é um labor
distraído e sem projeto. O seu projeto não vai além daquele imposto pela Natureza e é
dependente do aqui e do agora. Eventos, festas e jogos acionados e comandos por
prêmios pífios, editais marcados e inconsequentes. Redundam em algo transitório
e que escoa como o lixo que produzem e sem deixar identidade ou algo a
recordar. O resultado é que o brasileiro
é surpreendido sem o menor preparo, planejamento ou recursos. Diante do menor
contratempo de intempéries previsíveis este brasileiro se confessa impotente
para enfrentar.
PELICHEK, Francis ou Frantisek (1896 – 1937) Gaúcho chimarreando
-1929.-óleo s/ tela 66,0 x 54,0 cm
Fig.18 – O pintor tcheco Francis Pelichek percebeu
e retratou o Brasil velho, cansado e frustrado. A figura do homem
sul-rio-grandense é aquele que guarda as tradições ancestrais. Este brasileiro
velho, cansado e frustrado contrapõe silenciosamente ao tipo do gaúcho
aguerrido, jovem e temerário que rompe os horizontes de sua terra natal. O
velho gaúcho que guarda as tradições ancestrais não se conecta e um caso
singular quando justaposto ao nordestino, ao mineiro ou ao amazônico ou
pantaneiro.
O Brasil ainda possui como marco de sua unidade o seu mapa físico. Isto
constitui índice de sua identidade depende da Natureza primitiva. De fato no
interior de suas fronteiras geográficas arma-se um quebra cabeças de memórias
coletivas. Memórias coletivas pontuais que vão buscar acontecimentos de um
passado distante. Este velho passado sustenta o presente muito mais do que
qualquer pacto político. Porém esta memória depende muito mais da tradição
oral. Tradição oral mergulhada e afogada nos mitos gerados pela indústria
cultural. Indústria cultural que reedita, distorce e fabrica uma outra
realidade. Outra realidade que envergonha, frustra e aliena quem é portador da
tradição oral original. No seu analfabetismo funcional não consegue mais
distinguir o original do factoide da indústria cultural.
Por sua vez a indústria cultural brasileira não consegue, na sua gritante
fragilidade, falta de fundamento e tradição, fazer frente à indústria cultural
de outros centros hegemônicos. Centros hegemônicos com profundos vínculos com
instituições de pesquisa, de divulgação continuada e cultivo de hábitos de
integridade intelectual. Graças a estas características conseguem realizar
rupturas estéticas e epistêmicas continuadas e consequentes com o tempo atual.
Nestas condições editam modas, estilos e formas novas de pensar e de sentir.
Em conclusão pode-se
afirmar que o brasileiro nasce velho. Ou então é compelido a aprender
rapidamente a pensar, agir e se conduzir em hábitos arcaicos e anacrônicos para
as demais culturas.
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GAMA, José Basílio ( (1741-1795) Uraguai – Lisboa : Régia
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ISABELLE, Arsène (1807-1888) Viagem ao Rio da Prata e a ao Rio
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MATTOS, Luiz Alves de - Primórdios de Educação no Brasil: o
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STADEN Hans (c.1525- c.1579) .Warhaftige Historia und beschreibungeiner
Landschafft der Wilden Nacketen Grimmigen Menschfresser Leuten in der Neuwelt
Ammerica. Marpurg: Andres Koben, 1557.
VIEIRA, Pe Antônio (1608-1697) Sermões do Pe Vieira
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ARARIBOIA
CHACHAPOYAS PERU
KUÉLAP
http://pt.wikipedia.org/wiki/Chachapoyas
CAMINHOS dos CHASQUES INCAS
http://www.nytimes.com/2014/06/19/arts/design/protection-sought-for-vast-and-ancient-incan-road.html?ref=design&_r=0
Confederação dos “TAMOIOS” ou os “VELHOS da TERRA”.
FINAL da DITADURA MILITAR 1964-1979
KOSERITZ, Carlos von
MACUNAIMA
MOEMA
Restauro da obra de MOEMA de Vitor
Meireles
PEDRA do INGÁ
PRETO VELHO
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Círio SIMON