BRASIL em janeiro de 1815
e 2015
RECONSTRUINDO o REINO e
PREPARANDO o IMPÉRIO.
Fig. 01 - São naturais as hesitações do príncipe
Regente Dom João VI diante das dúvidas, das pressões políticas, econômicas e
sociais levando-o a beira de delicadas
escolhas pontuais e urgentes diante da nova era contratual, da era industrial e
emergência da burguesia. A Abertura
dos Portos do Brasil, a elevação do
Brasil ao Reino e evidente potencialidade América sobre a Metrópole e as
colônias africanas e asiáticas levavam o Brasil a pretender e ter condições
reais para aspirar ao estatuto de outras nações soberanas.
A fuga da corte lusitana ao Brasil em 1808 foi a ponta do iceberg de
um vasto problema submerso. Após a derrota de Napoleão e o tratado de Paris de
1814 começaram a emergir e aparecer os problemas submersos e que haviam sido
procrastinados. Problemas derivados do aniquilamento da administração e da
ordem econômica, cultural e social. Neste acumulado da destruição e da
postergação urgia a reconstrução.
Fig. 02 - A capital do Brasil colonial ganhava outro sentido com a presença da corte
e a consequente transformação em capital de uma rede de colônias africanas e
asiáticas. A Abertura dos Portos do Brasil exigia a ação e a integração dos serviços públicos. A
elevação do Brasil ao Reino Unido era um ato legal. Porém os hábitos, a
mentalidade e os gostos - gerados por três séculos de heteronomia - eram mais
gritantes, entravavam e atrapalhavam qualquer ação governamental mais do que as
miseráveis condições materiais nas quais o Brasil vivera até a chegada da
corte.
Uma vez que o Brasil havia sido sede da corte sentia-se com autoridade
distinta e distante de Portugal. A corte lusitana no Rio de Janeiro foi
essencial e preparou a soberania brasileira. Dom João VI em muitos aspectos foi
compelido a continuar a política do regime despótico e colonial de Portugal em relação ao Brasil. Porém na longa duração História Dom João VI será lembrado como um passageiro da agonia mas
que conseguiu salvar não só o trono como havia conduzido uma nova nação a beira
de proclamar a sua soberania.
Projeto embrionário, pois basta uma leitura rápida e superficial do
Correio Braziliense de janeiro de 1815 para verificar que tudo estava ainda para
feito no Brasil. Porém a semente soberania havia sido plantada. As demais
nações desenvolvidas - postos na sua frente - aceleravam a marcha em direção a
este ideal.
CORREIO BRAZILIENSE
DE JANEIRO, 1815.VOL. XIV. Nº. 80, pp.121- 127 e 135
Melhoramentos no Brazil.
As
gazetas lnglezas tem publicado, que, em consequência de planos propostos pelo
Conselheiro de Estado Antonio da Araújo,
se introduzio a planta do Chá, no Brazil, aonde prospera, e da esperanças de
ser do tal proveito, que se escuse o pagar annualmente aos Chinezes grandes
sommas por esta mercadoria.
Fig. 03 - O chá da Índia foi uma das especiarias que
Portugal distribuía na Europa até este comércio tornar-se monopólio dos
britânicos. Estes o transformaram em hábito nacional e o impuseram mundialmente.
A pretendida plantação do chá no Brasil, a sua industrialização e a transformação
em produto de exportação só se concretizaram timidamente um século depois de
anunciado pelo Correio Braziliense em janeiro de 1815. Obra clandestina dos imigrantes japoneses
jamais concorreu com a produção e exportação do café..
Sem nos
fazer cargo das observaçoens impertinentes, que alguns gazeteiros fizeram a
este respeito, sahissem essas observaçoens d'onde sahissem, devemos dizer, que
os Portuguezas saõ obrigados ao Ministro, por esta lembrança e cuidado.
Igualmente
mencionaram as gazetas lnglezas, o augmento da navegação do Brazil para a
Índia. Esta circumstancia nos dá grandíssimo prazer; desejaríamos ter
informaçoens authenticas a este respeito, para as publicarmos ao mundo, como
taes cousas merecem ser sabidas, a fim de que as outras Potências vaõ
conhecendo o que pode ser o Brazil; e lhe prestem o respeito que convém.
Fig. 04 - A moeda de 1815 comemorativa da proclamação
do Reino Unido. Esta elevação do
Brasil ao Reino Unido era não só uma procrastinação do retorno de Dom João VI
para Lisboa. Sinalizava a lenta e segura preparação política, econômica e
burocrática da soberania do Brasil. Portugal tinha poucos meios para retomar a
antiga hegemonia metropolitana divido que estava entre os antigos absolutistas
e os novos constitucionalistas.
Finanças
do Brazil.
Grande
parte dos melhoramentos de que he susceptível o Estado do Brazil, requerem
despezas consideráveis, e he preciso que o Governo tenha os fundos necessários
para ellas; alem dos gastos ordinários
da administração publica. Esta consideração nos leva a observar dous pontos
importantes; e saõ, um, a economia em diminuir empregos desnecessários; outro
em estabelecer os tributos com tal arte, que se facilite a sua cobrança, e se
ajude com elles, em vez de embaraçar, a industria nacional.
A
nobreza, a magistratura, a repartição da Fazenda, o exercito, a marinha de
guerra; absorvem as rendas do Estado; devem logo considerar-se miudamente,
quaes saõ as despesas nestes ramos, que se naõ podem dispensar; e quaes
aquellas, que saõ desnecessárias, inúteis, ou prejudiciaes.
Fig. 05 - A tradição do “BEIJA MÂO” mantinha a
nobreza lusitana alinhada com o trono. A
tradição portuguesa na qual a sua nobreza era mais um cargo pessoal conquistado
e pago do que uma herança familiar ao estilo espanhol. Cargo que exigia um exercício ativo, rituais e uma
constante demonstração de servilismo de súditos leais ao soberano monocrático. Aos
olhos do francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), era algo curioso, anacrônico e o retorno as
hábitos e práticas do seu “Ancien Régime”.
Nobreza.
Os nobres
Portuguezes estaõ no custume de gozar certas vantages, algumas das quaes saõ
mui racionaveis, e próprias da r-raduacaõ da nobreza, e portanto contra estas
nada temos a dizer; outras porém resultam da inconveniente influencia que tem
os nobres, pezam injustamente sobre o povo, e desfalcam consideravelmente as
finanças. Entre as primeiras vantagens contamos as honras, e privilégios da
nobreza, as quaes saõ necessárias nos Estados Monarchicos, aonde os differentes
gráos estimulam os sentimentos da honra, principio e baze das Monarchias, e
ministram ao Soberano um tesouro inesgotável de prêmios, até para feitos, a que
se nao pôde dar outra recompensa; depois disto os grandes empregos, em que a
dignidade da pessoa faz brilhar a authoridade do cargo, e ajuda a conciliar o
respeito do9 povos: estas e outras vantagens dos Nobres, pertencem-lhe
indubitavelmente. Porém quando se tracta de lhes dar pensoens, commendas, bens
da coroa, e empregos lucrativos, sem que o individuo nobre tenha feito serviços
relevantes ; sem que tenha passado pela serie de lugares subalternos, em que
estude a profissão a que se destina, até chegar aos mais elevados empregos; entaõ
dizemos, que tal systema he contrario á boa administração do Estado, e o
dinheiro, que em taes circumstancias se dá aos Nobres, he um verdadeiro
desfalque nas finaças, e produz uma oppressaõ relativa nos povos, ¿ Que quer
dizer, ver um rapaz com um carachá no peito, denotando, que elle disfruta uma
ou mais commendas, sem que tal rapaz alegue outros serviços, nem prove outro
merecimento mais do que ser filho de um Conde ou de um Marquez ? Se os nobres
querem perpetuar o lustre de snas familias, sejam econômicos, vinculem as suas
riquezas, tenham cuidado em naõ esperdiçar seus bens ; e assim teraõ os seus
filhos com que manter a própria dignidade, sem que da bolça dos povos se tire o
dinheiro, que se naõ pôde aplicar para os nobres, sem manifesta injustiça.
O
primeiro ramo de economia, portanto, que recommendamos, he a suppressaõ das
pensoens, commendas, bens da coroa, e empregos lucrativos inúteis, que se
conferem aos nobres; e esta bem entendida poupança traria ao Erário
considerável riqueza.
Alegoria às virtudes de D. João VI 1810- por
Domingos Antônio de Sequeira (1768-1837).
Fig. 06 - Uma nítida imagem do poder monocrático e
centralizado e personalizado no ocupante do trono. As
virtudes cívicas personalizadas nos seus soberanos e colocadas no olimpo e
acima dos seus semelhantes. As figuras retiradas de um arsenal de
representações míticas celestiais são separadas radicalmente do mundo dos mortais
e colocados sem conexão além do olhar de figuras no plano terreno. Etnicamente
estes personagens são arianos e os seus corpos brancos moldados nos cânones
gregos.
Magistratura.
A
necessidade de magistrados instruidos, e de legistas formados por uma serie de
estudos regulares, he taõ bem conhecida, que naÕ julgamos necessário
demorar-nos ema provar. E com tudo o seu excessivo numero he objecto de uma
queixa geral em Portugal. A dependência do Ministério, em que os magistrados
infelizmente se acham, ja para suas promoçoens, ja porque podem ser tirados dos
lugares a arbitrio do Governo, he um mal, que impede a administração imparcial
da justiça; porém ha outra dependência ainda mais fatal, que resulta da
pequenhez dos ordenados; pois a pobreza lie motivo de naõ se poder combater a
poderosa tentação das peitas, ou da influencia dos ricos e poderosos. O numero
actual dos magistrados faz impossível que se lhe augmentem os ordenados. Logo,
o que neste ramo se devia fazer, éra adoptar differente forma na administração
da justiça, segundo a qual se reduzissem a poucos os magistrados letrados, e se
lhes augmentassera os ordenados, ao ponto de os fazer perfeitamente
independentes.
Jean-Baptiste Debret (1768-1848), Rideau de scène
du Théâtre de la Cour à l’occasion du couronnement de D. Pedro I er.
Fig. 07 - Esta imagem de Debret é índice de uma
verdadeira ruptura semiótica na tradição governamental portuguesa. Ao examinar
a figura anterior (06) salta aos olhos a cultura lusitana na qual seus
soberanos personalizam as virtudes. No contraditório desta tradição o francês afasta
qualquer personalização. Debret e
investe e cerca este poder com figuras de cidadãos concretos de todas as raças,
etnias com suas vestes, hábitos e costumes. A Missão Artística Francesa
havia vivido a Grande Revolução na qual os TRÊS PODERES IDEAIS. Separavam-se
entre si e buscavam agentes que ocupavam cargos por tempo determinado.
Estes personagens
correspondem etnicamente aos habitantes brasileiros e os seus trajes e objetos
são um registro dos usos, costumes e economia local .
A medida
de diminuir o numero dos magistrados, e aumentar os ordenados dos que restam,
he aqui recommendada, como objecto de economia nas finanças; mas naõ será fora
de propósito observar, que dahi resultam outras importantes vantagens ao
Estado. Quanto menor for o numero dos magistrados letrados, maior será a
concurrencia a esses lugares, e mais seraõ elles respeitados. A Inglaterra naõ
tem scnaõ doze juizes; e. por
isso naõ ha lugar algum, sem exceptuar os Pares tio Reyno, que seja mais
respeitável do que o de Juiz.
Para a
administração da justiça nas differentes villas, lugares, e districtos,
bastamos juizes territoriaes, e as Câmaras; com tanto que as Curieiçoens sejam
bem feitas, e no verdadeiro espirito das leys do Portugal. Os Corregedores
deveriam ir ouvir as appellaçoens aos differentes lugares de sua Commarca, e
naõ virem os appellantes á terra de sua residência; e somente as appellaçoens
dos Corregedores, ou Ouvidores, se deveriam passar para as cidades aonde
existem as rellaçoens.
Todos os
Jurisconsultos Portuguezes sabem as epochas em que se infroduziiam os Juizes de
Fora, as Corrciçoens, &c. e os que meditarem nos factos alcançarão
facilmente as causas, porque se fez decahir a magistratura territorial, e se
augmentou o numero dos ministros letrados, ao ponto de fazer com que a
Magisfatura seja um verdadeiro incommodo para a naçaõ.
Quanto
aos Tribunaes, parece-nos, que a maior parte deles merece a sorte que teve a
Juncta dos Tres Estados; c os poucos, que devem restar, naõ precisam nem
d'ametade dos membros de que se compõem. O Tribunal da Fazenda, em Inglaterra,
tem tres Juizes, e um Presidente; e assim mesmo estes juizes vaõ em seu turno
fazer a Correiçaõ das Provincias; e as causas nunca saõ demoradas; e naõ nos
diraõ, que no Brazil ha mais causas da Fazenda, nem mais complicação das
Finanças do que ha em Inglaterra.
A Meza da
Consciência, o Conselho de Guerra, o Conselho Ultramarino em Lisboa, saõ
tribunaes que se podiam perfeitamente escusar; porque um só indivíduo em cada
uma daquelas repartiçoens he quanto basta; Ü assim acontecia antes da sua
instituição.
Fig. 08 - A onerosa atividade dos estaleiros navais
havia fornecido, para o reino de Portugal,
as condições das ousadas navegações e a formação de profissionais nesta
complexa empresa. A mitificação desta imagem enquanto o governo
pretendia naturalizar sem esforço
financeiro, político e profissional remeteram estes êxitos do passado. Outros
povos e nações aproveitaram este conhecimento e investissem massivamente na sua
própria indústria naval. Assim aniquilavam toda a logística lusitana, deixando
a “ver
navios estranhos” passarem por Lisboa.
Repartição
da Fazenda.
Refere-se
uma anecdota sobre o tributo do papel sellado em Lisboa, que illustrará o que
vamos a dizer nesta matéria. Quando D. Rodrigo fez novos arranjamentos para a
cobrança deste imposto, creou um lugar, de guarda das aparas do papel, a quem
deo de ordenado duzentos mil reis annuaes; no fim do anno vendèram-se as
aparas, e produziram noventa e seis mil e tantos reis.
Queremos
dizer com isto, que naõ basta impor um tributo, para se obter o seu rendimento,
he preciso que a natureza do imposto o faça de taõ fácil cobrança, que naõ
absorvam os cobradores a maior parte do rendimento. A excisa Ingleza custa na
cobrança um e meio por cento; óra comparem isto com o que custa a cobrança dos
direitos no Brazil ?
Fig. 09 - As rotas marítimas entre Portugal,
África, Brasil e Oriente passaram por um
processo de fretamento e de terceirização no qual o governa retinha as alfândegas e controle
militar. Esta terceirizações e navios fretados pelo governo não só aumentava a presença de naus de outras nações como o efetivo controle e apreensão de barcos portugueses quando o
seu governo não pagava ou ficava inadimplente. Como se isto não bastasse estas
nações exigiam a posse e o controle econômico de terras especialmente ao redor
do rio Minho e da cidade do Porto em consequência do tratado de 1703 de Methuen
entre outros.
A
formação da pauta dos direitos da alfândega, he matéria de grande importância,
e naõ pequena diíficuldade; ésta pauta deve ser formada segundos os princios
seguintes : —
1º.
Devem-se estabelecer os direitos de importação taõ baixos, que naõ induzam o
negociante a passar as fazendas por contrabando.
2º. Devem
estabelecer-se os direitos maiores nos gêneros de grande volume, nos quaes ha
maior difficuldade de esconder e passar por alto.
3º .
Deve-se estabelecer no gênero estrangeiro, que ha ou pôde haver no paiz, um
direito tal, que seja equivalente á sua melhoria comparado com o preço do
gênero do paiz.
4°. Deve
estabelecer-se uma regra geral de diminuição dos direitos, todas as vezes que o
gênero for importado em navios nacionaes.
5º. Deve
estabelecer-se o castigo do contrabando em multas pecuniárias proporcionadas ao
importe das fazendas, e por-se este negocio em via de processo de justiça
inalterável, aonde nao possa haver dispensas, nem favor de protecçaõ,
applícando-se uma parte da muleta, maior que o valor da fazenda, ao
denunciante, e apprehendor das fazendas.
Fig. 10 - Moeda de 80 reis cunhada no Brasil, em
1813, circulava em todo Reino Unido de Portugal, África, Brasil e Oriente. A emissão e a cunhagem de
moedas no Brasil não era novidade, pois elas foram praticadas pelos holandeses
em Recife. Ao longo do período colonial lusitano isto aconteceu na Bahia, no
Rio de Janeiro e em Minas Gerais. O
fluxo monetário aumentou com a elevação do Brasil ao Reino Unido e facilitava as
tradicionais triangulações marítimas lusitanas e cambistas internacionais.
A
simplificação da administração das alfândegas deve concorrer, naõ somente para
o bom despacho e brevidade na execução, mas também para poupar muitos ordenados
que saõ escusados.
A mesma
simplicidade deve haver no Erário do Rio-de-Janeiro; e nas ramificaçoens deste
Erário nas diferentes capitães das provincias, aonde uma Juncta da Fazenda
composta de tres Membros he
bastante, havendo os escriptarios correspondentes, os quaes mandarão cada trez
mezes para o Erário do Rio-de-Janeiro uma conta corrente da receita e despeza,
segundo formulas impressas; aonde se dividam em secçoens os diferentes artigos
de receita e despeza. Estas contas parciaes, se formarão em uma conta geral,
segundo as mesmas formulas impressas, todos os annos; de maneira, que no Erário
se possa fazer uma idea clara dos rendimentos da naçaõ em cada um dos impostos
; e assim se poderá facilmente ver quanto he preciso augmentar os tributos,
para que cheguem para ás despezas ; e igualmente quaes saõ aquelles tributos
que podem sofrer augmento.
Fig. 11 - A introdução da imprensa régia no Brasil
tinha por objetivo maior a imprensa oficial e a coordenação dos serviços
públicos por meio de um instrumento único, idêntico e confiável. O número e o fluxo dos documentos oficiais aumentava com a elevação do Brasil ao Reino
Unido. Aumentava os documentos impressos
destinados para Portugal, África, Oriente e as longínquas províncias do Brasil.
As notícias populares continuavam a ser manuscritas ao estilo dos
“pão-por-deus” ou dos “pasquins” do passado.
Com este
arranjamento das formulas impressas, haverá um só Erário, unidade de trabalhos,
identidade nas contas, diminuição dos empregados, e clareza nas repartiçoens.
Quando o
Erário estiver arranjado com esta clareza, todas as vezes que se der ordem para
qualquer pagamento em uma das capitanias, ja se saberá d'onde deve sahir o
dinheiro para esse pagamento, que ou deve ser augmentando um tributo ali; ou
sacando letras sobre o Erário do Rio-de-Janeiro, as quaes sendo promptamente
pagas passarão como moeda corrente. O modo mais fácil de executar este plano he,
que as letras sejam sacadas sobre o banco, e como o Erário pelo seu
arranjamento deve saber as letras, que se espera que sejam apresentadas, ter
promptos no banco os fundos necessários para o seu pagamento.
Este
breve esboço dará a conhecer, quanto se pôde poupar em ordenados, havendo as
formulas das contas todas impressas, e fazendo-se os pagamentos por meio do
Banco.
Fortaleza de São José do AMAPÁ https://www.youtube.com/watch?v=gDoMrkXzklc
Fig. 12 - O denso e continuado
rosário de fortes e de fortalezas que cercavam a colônia brasileira deixou
vestígios em todas as fronteiras marítimas ou terrestres. No ato da Abertura
dos Portos do Brasil estes fortes ganhavam um novo sentido. Com a elevação
do Brasil ao Reino Unido deixavam a prioridade e desestímulo para eventuais
piratas avulsos e apátridas. Com a presença de naus de outras nações estas
fortalezas assumiam o papel de baluartes que protegiam o fluxo das triangulações marítimas entre Portugal, Brasil
e Oriente aumentava.
Exercito.
Ha certos
ramos da arte militar, que exigem um estabelecimento constante em tempo de paz,
a fim de que se naõ esteja de todo desprovido em tempo de guerra. Tal he o
corpo de engenheiros, os artilherios, as fundiçoens, os arsenaes, &c. Mas para conservar estas artes, bastam as
guarniçoens das fortalezas, das cidades, e villas marítimas; e as milicias, em um
bom pé, com alguma infanteria de linha, constituíram fundo de exercito sufficiente, para se poder
augmentar segundo as necessidades
occurrentes o exigirem.
A
despeza, por tanto, do exercito, em tempo de paz, deve reduzir-se a mui pouca
cousa, sem que se abandone inteiramente a terrível, mas necessária arte de
fazer a guerra. Sabe-se muito bem os presentes, que se fazem para obter
patentes de officiaes de milicias, &c. Haja pois a prudência, de obviar que
se dem taes presentes, e em lugar delles dèm-se os regimentos, e companhias, a
pessoas que possam e queiram incorrer nas despezas de certos estabelicimentos relativos
á conservação destes úteis corpos de tropas.
Fig. 13 - Cada porto
do reino colonial lusitano era, de fato, uma fortaleza guarnecida. As naus eram
castelos flutuantes, a continuação e a afirmação do projeto colonial europeu na
Africa, àsia e América. Com o
advento das comunicações e dos recursos
da era industrial este projeto perdeu a sua logística. As nações que acumulavam riquezas, materiais e
gente qualificada passaram a contornar e aruinaram esses quistos arcaicos.
Marinha
de Guerra.
A extensa
costa do Brazil requer indispensavelmente uma marinha de guerra; ja para
protecçaõ dos portos em tempo mesmo de paz, ja para vigiar os contrabandos, ja
para comboyar os navios de commercio, e ja finalmente para ter um fundo de
officiaes para o caso de alguma guerra.
Porem nao
consiste a conservação dessa marinha, cm ter um Estado-maior excessivo, e uma
lista de Almirantes, Vice-almirantes, Capitaens de Mar-guerra, &c. &c.
absolutamente desproporcionada aos vasos de guerra que tem o Governo. Este
gasto supérfluo deve diminuir-se, e nelle pôde recahir grande economia. Temos
repetidas vezes dicto, que o Brazil deve ser uma Potência Marítima, e portanto
he necessário que possua uma grande esquadra; mas isto naõ he dizer, que deve
ter um grande numero de officiaes de marinha sem emprego.
Fig. 14 - A Abertura dos Portos do Brasil, em 1808,
exigia o apoio direto e atento de um corpo de militar especifico para cuidar diuturnamente
do patrulhamento, defesa e eventual ataque. Este ataque aconteceu já em
1809 quando os Fuzileiros Navais brasileiros foram incumbidos de tomar Caiena e
empossar um governo lusitano de ocupação da Guiana Francesa. Desestimulavam, com este ataque e tomada
exitosa, qualquer pretensão napoleônica
na América onde se refugiara a corte lusitana..
Em tempo
de paz a marinha de guerra naõ pôde ter outro emprego senão nos paquetes, nas
guarda-costas, e n'uma esquadra contra os piratas do Mediterrâneo. Para este
serviço naõ se precisão officiaes de alta graduação; e os de menor graduação
até Primeiros Tenentes, devem ter permissão de ir commandar navios mercantes de
certa grandeza, e contando-se. lhe no entanto a sua antiguidade
Alegoria do
regresso de D. João VI do Brasil – 1816 por Máximo Paulino dos Reis (1781-1866),
Fig. 15 - A
imagem de 1816 cujo sentido foi frustrado pela permanência de Dom João VI no Brasil. Frustração portuguesa que
acirrava os ânimos incapazes de se unir num pacto nacional único e linear. A elevação
do Brasil ao Reino Unido igualava o Brasil a Portugal que se percebia cada vez
mais impotente e o forçava a recorrer ao mundo simbólico arcaico de Dom João VI
metido em armadura medieval como da imagem acima.
Exercito
Portuguez. [ p. 135]
Depois de
termos publicado os regulamentos das tropas para o tempo de paz, nos chegaram
de Lisboa algumas notas a esse respeito, que achamos mui sensatas.
He
necessário convir em que os soldos saõ arbitrados demasiadamente baixos. Os
officiaes naõ podem viver com taõ módicos estipendios: literalmente haõ de
morrer de fome; e os seus serviços saõ taõ conspicuos, e taõ frescos na memória
de todos os Portuguezes, que se naõ pode olhar para este arranjamento sem
grande pezar.
Se as
rendas da naçaõ naõ chegam para sustentar grande exercito em tempo de paz,
mantenham-se menos tropas; mas, em nome da gratidaõ, desse a esses que se
conservarem bastante para viver, e sufficiente para suportar a dignidade, que
compete á sua graduação.
As
milicias custam pouco, e podem servir de muito: aqui tem o melhor excercito de
reserva; e persuadam-se os que governam, que pagar mal a quem serve, he a peior
economia que se pode escogitar: quem naõ pode ter dous creados tenha um; mas
pague.lhe quanto basta, para que elle sirva gostoso.
AQUEDUTO
das ÁGUAS LIVRES - Alcântara -
Portugal - Gravura aquarela
inglesa 23 x 32.5 cm
Fig. 16 - A manutenção dos equipamento públicos foi
uma tarefa que passou pata 2º plano diante da emergência da Guerra e a ausência
da corte refugiada no Brasil. Se a elevação do Brasil ao Reino Unido
aumentava o fluxo das tradicionais triangulações marítimas entre Portugal,
Brasil e Oriente aumentava com a
presença de naus de outras nações.
Impossível
recompor as circunstâncias e condições do governo de Portugal anterior a 1808. Dom
João VI partiu, de Lisboa, como Príncipe
Regente de um regime monocrático e retornou como rei de um regime
constitucional que ele havia jurado no Brasil. Brasil que acordava para a sua
soberania depois da ocasião de se surpreender com as suas competências após
três séculos da sua heteronomia colonial.
Impossível
também mitificar o posterior Regime Imperial Brasileiro e no qual alguns
percebem uma nação pujante, rica e próspera. Estes idealistas, ao mitificar o
período imperial brasileiro, esquecem
que a escravidão foi legal no Brasil até as vésperas do Regime
Republicano. Escravidão que comprometeu qualquer sanção moral desta força de
trabalho, acumulação e circulação do poder monocrático agrilhoado aos pés do
trono. Este sistema é impossível perpetuar. Mais cedo ou mais tarde entra em
contradição e colapso
Estes
mistificadores deixam-se contaminar pelo espírito “FIM de SÈCULO”. Espírito
temerário de eventos triunfantes que tiveram de serem pago com suor, lágrimas e
sangue na demolidora contradição e no
sangrento colapso provocado pela I
Guerra Mundial.
Evidente
que é possível compreender as dúvidas e as naturais hesitações daqueles que
estavam envolvidos num período tão difícil, delicado e as escolhas pontuais e
rápidas diante da nova era industrial. Os interesseiros só emperram, aniquilam
e desqualificam qualquer pacto nacional por meio das suas intrigas. Combatem o
regime republicano esquecendo o regime vigente, nesta época, nos Estados Unidos
e onde suas ideologias imperiais seriam vistas como medievais.
Em
janeiro de 2015 persiste falta de um pacto político, econômico e social
brasileiro. As saudades subliminares e
práticas dos piores regimes e da mais abjeta escravidão despontam, em pleno
século XXI. As piores pragas dos seus
aproveitadores renascem incrustrados neste frágil e corrompido inconsciente
coletivo nacional. Pragas que tomam corpo, em janeiro de 2015, na emergência
das mais escabrosas revelações ao redor da pilhagem econômica, política e
social praticada em cargos da mais alta relevância estatal. Pilhagem política praticada
no sistema eleitoral a mercê de “quem dá mais”, na economia e empresas. Pilhagem econômica altamente lucrativa para
os mediadores, atravessadores e tuteladores de empreiteiras e em nome do ícone
da Petrobras. Pilhagens que esvaneceram todas as esperanças sociais erguidas
pelos marqueteiros dos “lucros do pré-sal” como o ouro de Serra Pelada se
esvaneceu sem deixar rastros além do suor, lágrimas e sangue do PODER
ORIGINÁRIO BRASILEIRO.
FONTES NUMÉRICAS
DIGITAIS
A ALEMANHA e NAPOLEÃO BONAPARTE
ASTRONOMIA e FUGA de DOM JOÃO VI
CHÀ em REGISTRO no VALE do RIBEIRA- SP - BRASIL
Dom JOÃO VI CONTRAIA o
ALTO CLERO LUSITANO e INDICA o Pe
MAURÍCIO
FINANÇAS do BRASIL com DOM JOÃO VI
FUZILEIRO NAVAIS
ICONOGRAFIA – DOM JOÃO VI
Palácio da Ajuda
MITIFICAÇÃO do REGIME IMPERIAL
NUMISMÀTICA
do BRASIL
REINO UNIDO PORTUGAL ALGARVES BRASIL
IMAGEM da
REGÊNCIA e REINO de Dom JOÂO VI e Dom PEDRO I
Este material possui uso restrito ao apoio do processo
continuado de ensino-aprendizagem
Não há pretensão de lucro ou de apoio financeiro
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Este material é editado e divulgado em língua
nacional brasileira e respeita a formação histórica deste idioma.
Referências para Círio SIMON
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