Uma SEMENTE de
LIBERDADE.
“Os escritos iluminam tanto o
povo como o governo”.
CORREIO BRAZILIENSE – DEZEMBRO de 1813
O Correio Braziliense
lançava, em dezembro de 1813, mais uma semente de liberdade de imprensa a
partir de Londres. Estava se somando aos profissionais da comunicação pública e
livre semeavam novas ideias e projetos que deveriam investir com o objetivo de
demolirem o controle absoluto e total de
qualquer informação habitual ao longo dos 300 anos de regime colonial brasileiro.
Assim preparavam as condições da soberania da nação brasileira
Isaac CRUIKSHANK -
CITIZENS
Fig. 01
– O contrato escrito, conhecido e aprovado por todos constitui uma das
materializações de um pacto de uma nação vista
e percebida a partir da origem do seu próprio poder Um pacto desta natureza revela a
capacidades desta nação em estabelecer
as condicionantes nas quais quer viver e
se reproduzir. Apesar de a cultura inglesa desconfiar e até desqualificar
o processo a Constituição norte-americana, ela é uma de maior fortunas
desta nação e base de suas realizações coletivas.
Porém em
2013 rebrotam vigorosos tanto o hábito da servidão como os mecanismos do regime
colonial renovado por outros meios de controle. No ano de 2013 vieram a tona Verdades
inconvenientes e circularam nas redes mundiais de comunicações terríveis arrasadoras
revelações. Para os tempos atuais estas revelações, a sua circulação em rede mundial
- com e a reação simétrica das autoridades - são índices da renovação da
servidão e do regime colonial.
CRUIKDHANK George - 1792-1878 - sociedade de antiquários
1812 - detalhe
Fig. 02
– A cultura inútil o acúmulo e a difusão pública de qualquer informação levam à
alienação do tempo e lugar, senão ao ridículo, ao descrito e por fim são uma
das causas ocultas das revoluções e comoções sociais. É a
mesma alienação representada pelos vistosos
quadros ostentando lepidópteros com um alfinete nas costas. Alienação útil para
as castas ociosas e parasitas dos frutos do trabalho alheio.
Os profissionais
de comunicação sempre orientaram as suas ideias e os seus projetos pelo hábito da
autêntica integridade intelectual. Cultivam estas ideias e projetos apesar dos
vexames a que eventualmente são submetidas por falsas autoridades e por colegas
de profissão que não resistem aos cantos das sereias da servidão e do regime
colonial. Mudaram apenas as ferramentas da primitiva imprensa industrial, linear e cumulativa da primeira era
industrial. Permanecem inalterados os valores básicos de civilização. Permanece
a circulação do poder da palavra, da imagem e da sua recepção mesmo diante da
coação ou da ameaça velada.
CARTAZ POLONÊS-
ROMAN Ciesiewicz - Cartaz para teatro – Polônia – 1975
Fig. 03
– A GUERRA DAS IDÉIAS tem como objetivo
o assalto à massa cinzenta humana. A heteronomia
da inteligência humana é o objetivo de todos os atravessadores, mediadores e
tuteladores das massas humanas. Conseguem, em todos os tempos e lugares, esta heteronomia controlando os escritos,
calando as falas ou censurando imagens e sons. Este heteronomia também pode ser
obtida tanto pela privação das informações como pela sua falsificação ou ruído
provocado pelo seu acúmulo caótico.
A
cobiça e o risco de sua corrupção ou falsificação crescem na media do montante
do valor. Os assaltante e manipuladores destes valores cobiçam, falsificam e corrompem
o poder pela filtragem e pelas versões que dizem o contrário daquilo que
divulgam formalmente.
O CORREIO BRAZILIENSE, VOL. XI. Nº 67. dezembro de 1813 publicava no
seção “Miscellanea”, páginas 924 e 925 as suas “Reflexoens sobre as novidades deste mez no BRAZIL”
No Rio-de-Janeiro se imprime um Jornal, cujo titulo
he " O Patriota;" e com o do mez de Agosto vieram ter-nos á maõ
algumas traducçoens impressas no Brazil; entre outras a Henriada de Voltaire.
O elogio ao concorrente é evidente neste texto como a
generosidade e a atualidade do Correio Braziliense para o seu tempo. Mesmo para
o nosso tempo ele antecipava Pierre Bourdieu para quem “o artista produz para o seu concorrente e juntos reforçam o campo de
sua atuação”. Juntos desafiam o
risco da corrupção e da falsificação da comunicação. Desafiam a cobiça do
poder, a sua manipulação e sua filtragem para usos escusos e obscenos. Este
projeto civilizatório do jornalismo e
dos seus profissionais perpassa todo os tempos e lugares.
O jornal Correio Braziliense registrava também, na sua
edição de dezembro de 1813, sensível mudança de mentalidade que se produzia no
clima cultural da corte lusitana instalada no Rio de Janeiro.
Fig. 04 –
A revista O PATRIOTA circulou no Rio de Janeiro entre 1813 e 1814. Apesar
da sua breve vida foi uma amostra do que
era possível - técnica o conceitualmente - com a presença da corte num pais de
analfabetos e rescendendo aos profundos hábitos coloniais e com a maioria da
população submetida à escravidão legal.
Ha dez annos, estando a Corte era Lisboa, que
ninguém se atreveria a dar a um Jornal o nome de Patriota; e a Henriada de
Voltaire entrava no numero dos livros que se naõ podiam ler sem correr o risco
de passar por atheo, pelo menos por Jacobino. E temos agora que em taõ curto
espaço ja se assenta, que o povo do Brazil pode lêr a Henriada de Voltaire • e
pode ter um jornal com o titulo de Patriota, termo que estava proscripto, como
um dos que tinham o cunho revolucionário.
Fig. 05
– A revolução Francesa foi precedida por uma imensa produção literária e que se
cristalizou na Enciclopédia Francesa, entre tantas outras obras. Entre estas estava Voltaire que, ao usar a razão e as letras, evidenciou a mitificação e ao mesmo tempo a
sua naturalização do poder real. Em Portugal este escritor filósofo havia se
valido do Terremoto de Lisboa em 01 de novembro de 1755 para mostrar a
alienação resultante desta mitificação e depois aceita-la como natural. Estas
ideias circularam por toda a Europa e são índices do que estava ocorrendo no
subsolo social, político, econômico e técnico desta época. A Revolução Francesa não decorreu certamente
de suas ideias e dos enciclopedistas, mas foi a erupção visível das forças represadas neste subsolo corrompido.
Por mais insignificante que pareça a circumstancia
de se deixar correr um jornal com o nome de Patriota, ou permittir-se uma
traducçaõ da Henriada; nos julgamos isto matéria de importância; porque he
seguro indicio, de que o terror inspirado pela revolução Franceza, que fazia
desattender a toda a proposiçaões de reformas, principia a ."-bater-se, é
ja se naõ olha para as ideas de melhoramento das instituiçoens publicas, como
tendentes á anarchia, em vez de servirem á firmeza do Governo.
Reformas tanto mais urgentes e maiores quanto maior o
valor e o tamanho da cobiça. Nesta cobiça
dividem a sociedade em castas. Escondem privilégios que na falta de
nexos multiplicam os riscos e tamanho da corrupção ou falsificação. O resultado
destas falsificações cultivadas ao longo do tempo, o contágio leva para a
metátese da corrupção e da cobiça do poder são as causas profundas dos
terremotos sociais, econômicos e políticos. As revoluções, as rupturas e
espasmos das guerras são apenas índices da profundas doenças sociais,
econômicas e políticas.
MACCARI, Cesare
(1840-1919) - Cesar denuncia Catalina -
pintura 1880
Fig. 06
– Quando Cesar denunciou Catalina a austera República Romana estava chegando ao
seu final. As aspirações pessoais do astuto
e cobiçoso Catalina expressavam um novo tempo. O Regime Republicano não dava
mais conta destas aspirações pessoais que tencionavam assaltar e usar, em
proveito próprio, o acúmulo do poder e da imensa máquina administrativa romana.
Este novo tempo exigia um Estado central
forte, imperial e totalitário para dar conta
destas fortes tensões e cobiças pessoais e daquelas da sua classe de apoiadores.
O mesmo quadro se desenha em 2013. Estados nacionais percebem que o seu PODER
ORIGINÁRIO é atropelado, desqualificado, posto a serviço e na heteronomia de
corporações, de partidos das mais diversas ideologias que exibem um pseudo
líder e culpado de tudo.
Rarisssmas vezes as grandes mudanças nacionaes saõ o
resultado de conspiraçoens; procedem ellas sempre de causas profundas, e
extensas, na estructura e estado da Sociedade; donde resulta a necessária
combinaçaõ de indivíduos, que parecem ser os authores, quando na realidade naõ
saõ senaõ os instrumentos da revolução, que sahe á luz em virtude das
circumstancias.
Nestes termos quanto mais se expuzerem os males do
Estado, mais facilmente se lhe providenciará o remédio, e mais directamente se
deslroem os causas originaes das grandes commoçoens publicas.
O Correio Braziliense diagnosticava as causas das
revoluções e as registrava na sua edição de dezembro de 1813. As revoluções, a
desordem pública e o vandalismo resultam
dos abalos da confiança do PODER ORIGINÁRIO em relação aos seus contratos
realizados com os agentes do poder
público. O papel dos jornais e dos jornalistas é registrarem e dar letra de forma
a estes abalos. Assim a notícia do terremoto, que devastou Lisboa, no
dia 01 de novembro de 1755, correu mundo. O poema impresso de Voltaire, sobre
este episódio, foi um registro escrito não só do abalo geológico mas do abalo
da confiança do PODER ORIGINÁRIO em relação aos seus contratos realizados com
os agentes do poder público.
O Correio Braziliense passa a fazer distinções léxicas.
Nestas distinções, de um lado, desmistifica termos. Do outro tempo retira o seu
autêntico sentido político dos seus escombros da natural entropia do tempo e da
perversão humana intencional.
Por uma perversão insensata, durante a revolução
Franceza, se attribuio á palavra Patriota, o mesmo sentido de Revolucioui»|a,ou
monarchomaco.e com este phantasma se punham os povos em opposiçaõ com os
governos, fazendo os Godoyannos entaõ os seus interesses nas águas envoltas.
ESCRITOR e os seus SONHOS - Le Monde 27.05.2012
Fig. 07
– A imaginação, a criatividade e coerência de um escritor não se mede pelo que
ele escreve e publica. A fortuna da sua criação resulta da
circulação das suas ideias materializadas na forma impressa ou digital e de um público que lhe é fiel
A palavra Patriota significa, o bom cidadão, o
amante de sua pátria; e por conseqüência
o defensor do Governo, e das instituiçoens do paiz. Vemos pois cora muito
prazer, neste annuncio do Rio-de-Janeiro,
que esta honrada denominação, começa a surgir do opprobio em que se
achava.
O exemplo da Henriada, te pôde extender a muitos
outros livros, que saõ prohibidos, pelo temor de que produzam opinioens
erradas, no povo.
Os valores maiores de uma nação são constituídos por
meio do exercício livre arbítrio da
vontade dos seus cidadãos, pelo direito da expressão de opiniões e um firme e sólido
contrato escrito, pactuado e
constantemente examinado e renovado com o PODER ORIGINÁRIO. Os ocupantes dos cargos
públicos por mais despreparados, falsos e corrompidos que sejam, o PODER
ORIGINÁRIO necessita possuir condições para reverter esta situação. A vigência
plena dos valores maiores de uma nação necessita prevalecer sobre os que se
apropriam, falsificam e corrompem as suas funções legais. Devido aos evidentes
danos esta situação melhor que nunca se concretize. Para tanto a vigilância e o
registro escrito pelo jornalista das
suas observações objetivas, pode iluminar e permitir o corte do caminho
destes despreparados, corruptos e falsos candidatos. Porém como os
despreparados, os corruptos e os falsos candidatos são resistentes como as
ervas daninhas, rebrotam em outro lugar e tempo.
1968 cartazes bp - Biblioteca Nacional da França
Fig. 08 – Se é possível conhecer o cidadão pela
amostra do que lê, é possível conhecer uma cidade ou civilização pelas suas bibliotecas e como são tratadas. As bibliotecas são criações artificiais e
resultam de projetos e de investimentos continuados de profissionais, de tempo e de dinheiro. Elas representam a essência da corrupção se
A nossa opinião he, que a revolução Franceza
produzio os escriptos que em muitos paizes da Europa, principalmente em
Portugal, tem sido prohidos; como te fossem causadores da revolução; nós
dizemos que esta foi que.m produzia taes escriptos, e naõ os escriptos a
revolução. Nenhuns escriptos se publicaram em Portugal, que fossem o '
precursores ou motores da revolução de 1649: muitos appareceram depois: as
causas daquella revolução fôram as oppressoens e máo governo dos Felipes, que
occasionáram a combinação de circumstancias, que serviram de estimulo aos
conjurados, e apoz elles a todo o povo de Portugal. Os escriptos iluminam tanto
o povo como o governo. Se expõem abusos, que na realidade existem; o governo
naõ tem mais que remediallos para alcançar a approvaçaõne a confiança da naçaõ.
Se os abusos naõ existem, como em taes escriptos se pôde dizer o que naõ he
verdade, facilmente se responde a elles, e o povo em geral naõ acreditará o que
he falso, quando se lhe apresenta em comparação com o que he verdadeiro.
Em 21 de abril de 1960 o temerário paraibano Assis
Chateaubriand retomou do título de Correio Braziliense na nova capital. Ele foi
enfático
- Sou um homem da imprensa de papel e estou convencido de que a ideia que
forma opinião tem que estar impressa em letra de forma. O rádio poder ser mais
abrangente, e certamente é mais subversivo que o jornal, mas o que mexe com o
tutano do freguês é o jorna. Nem a revista, mas o jornal diário ( Morais,
1994, p. 366.
Índice que a semente o
Correio Braziliense se multiplicou inclusive na forma impressa e objetiva. As
pulsões elétricas da internet, da TV, do rádio encontram na letra escrita o
território para aterrissar esse
reabastecer para novos voos. Os
profissionais da comunicação pública e livre continuam a semear novas ideias e
projetos. No Brasil possui pela frente
minar e derrubar as muralhas numéricas digitais do neo-colonialismo e do hábito
renovado da escravidão e servidão
voluntária aso poderosos de
plantão. O controle da informação mudou
de técnicas e se sofisticou. Se a ameaça do Big Brother não aparece ao olhos do
grande publico não quer dizer que ele
não metamorfoseou
Fig. 09 – A utopia do mundo perfeito é um
paradigma perseguido por todas as civilizações humanas. Na sua
concretização permitiu muitas vezes que
monstros, como os mais fortes e espertos se apropriassem e se instalassem no
centro do controle desta utopia, transformando-a num inferno na terra. Inferno
povoado com clones condicionados por um poder unívoco, fixo e linear ao modelo
de insetos. Uma das tarefas do
jornalista é denunciar, desvendar intenções deslocadas e malignas. Denunciar de tal forma que iluminem e cortem
o caminho dos atravessadores, dos mediadores e das auto tuteladas autoridades.
A semente de liberdade de imprensa encontra
ainda muitas ervas daninhas e lagartas na sua disseminação para produzir os
frutos dos valores maiores de uma nação. Ervas daninhas que buscam abafar,
atacar e se alimentar de sua ruína
O
Correio Braziliense lançava, em dezembro de 1813, mais uma semente da liberdade
a partir de Londres. Somava-se aos profissionais da comunicação pública e livre.
Profissionais competentes para semear novas ideias e projetos que deveriam
investir com o objetivo de demolirem o controle absoluto e total de qualquer
informação habitual ao longo dos 300 anos de regime colonial brasileiro. Preparavam
as condições da soberania da nação brasileira que viriam formal e juridicamente
em 1822.
Sem
esta longa, segura e continuada preparação este mesmo Estado
nacional brasileiro poderia simplesmente atropelar, desqualificar o seu próprio
PODER ORIGINÁRIO. Ou pior este mesmo Estado nacional brasileiro
ser posto a serviço e na heteronomia de corporações, de partidos ou de
indivíduos astutos e cobiçosos do poder. Nada melhor do que constatar que o
Correio Brasiliense estava cumprindo, em dezembro de 1813, o seu projeto de
iluminar tanto o povo como o governo por
meio dos seus escritos.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
MORAIS,
Fernando (1940- ) Chato : o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. São
Paulo: Companhia das Letras, 1994, 732 p.
FONTES NUMÉRICAS
DIGITAIS
CORREIO
BRAZILIENSE - DEZEMBRO de 1813
CORREIO
BRAZILIENSE – Brasilia 2013
O
PATRIOTA – agosto de 1813
"O Patriota, Jornal Litterário, Político,
Mercantil, &c" (1813-1814)
VOLTAIRE
- ou
François Marie AROUET (1694-1778)
VOLTAIRE
– Henriade
Poema
VOLTAIRE sobre o Desastre d Lisboa com terremoto de 02.11. 1755
Uma JOVEM
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