Como o BRASIL se percebia em NOVEMBRO de 1813 e a
CRENÇA no ESTADO NACIONAL
Cândido PORTINARI (1903-1962) Chegada de Dom João VI
à Bahia no dia 22 de
janeiro de 1808 - - óleo 381 x 560 cm -1952- BBM
Fig. 01 – Esta
imagem - da chegada do Dom João VI à Bahia, idealiza o sentido desta retirada
da Europa. Contudo ela retrata o ideal do projeto acalentado pelo Príncipe
Regente.
Os anos de 1813 e de 2013 possuem algo em comum no
plano internacional. Ambos são alimentados por projetos nacionais específicos e
separados. Em ambos existem crenças e olhares lançados para além das fronteiras
do Estado. Em ambos buscam-se nestes olhares informações interesseiras. A sua obtenção
ocorre por meio de eventuais vazamentos provenientes de espionagens. Nestes
contextos a importante conhecer aquilo que o Brasil pensava de si mesmo diante
do concerto das nações antes de assumir a sua soberania. Importa também
conhecer este projeto do Estado Nacional brasileiro no presente, nas condições
e nas circunstâncias em que se encontra no ano de 2013.
De antemão é necessário esclarecer que o projeto do
Estado nacional brasileiro sempre careceu de pretensões de soberania a expensas
de outros, pois sabe quão pesado foi o jugo de três séculos de Regime colonial
europeu. Dispensou também a pretensão de Hipólito da Costa da formação de Commonwealth
lusitano diante de potencial sombra e fantasma da heteronomia externa.
Evidente que toda comparação é sempre odiosa. No
contraditório é altamente elogioso o conhecimento de suas próprias competências
face ás demais nações e ter projeto claro como e onde caberia o seu lugar no
concerto do cenário mundial.
CRUIKSHANK George -1792-1878 - “BONEY STARK MAD” Bonaparte louco de raiva ou mais navios,
colônias ou comércio” caricatura
02.01.180
Fig. 02 – A partir
das falsas notícias de Lord Strangford divulgadas no seu ofício de 29.11.1807,
a imagem da retirada de Lisboa de Dom João VI, ganhou versões
inglesas para agradar à imprensa popularesca e caricata britânica e a patuleia
dos seus leitores que só conheciam a única versão que lhe era oferecida e que
eles pagavam. É o lado inverso e tenebroso da imprensa que empregou todo o seu
repertório estético e simbólico para desconstruir a imagem daqueles que considera subalternos e
na sua heteronomia e construir em seu
lugar os que considera favoráveis aos seus interesses. Contudo está longe da
realidade e principalmente do ideal do
projeto acalentado pelo Príncipe Regente.
Uma leitura atenta e ponderada do texto que segue
permite perceber pontos de avaliação onde, como e porque há semelhanças,
progressos e descaminhos.
CORREIO
BRAZILIENSE VOL. XI. Nº 66. Novembro de 1813- pp.810-814
Miscellanea.
Reflexoens
sobre as novidades deste mez.
BRAZIL.
Relaçoens
da Corte do Rio de Janeiro com as Potências Europeas.
O defeito, que se chama cobardia, consiste em que.
quando os homens comparam as suas forças phisicas e moraes com as de outros
homens, avaliam as próprias, em menos do que devem ; e as alheas cm mais do que
convém: e resulta dahi o sentimento interno de fraqueza, o temor, que impede
fazerem-se os devidos esforços, para justa defeza dos indivíduos, e das
naçoens.
Mapa político
da EUROPA em 1810
Fig. 03 – Na sua
chegada à Bahia Dom João VI a retirada
da Europa gerou sentidos dúbios e contraditórios. Contudo este mapa da Europa
de 1810 mostra a monstruosidade e poder na
mão de Napoleão Bonaparte. Contudo Portugal já mostrava índices do ideal
do projeto acalentado pelo Príncipe
Regente. Em novembro de 1813 os exércitos aliados (ingleses, espanhóis e
portugueses) estavam se preparando as batalhas de NIVE que se travaram, em dezembro deste ano, já em território
francês.
Neste sentido imputamos á cobardia, a opinião
daquelles Politicos Portuguezes, que asseveram que Portugal naõ tem forças nem
meios de se defender, e sustentar a sua dignidade como naçaõ : e obram em
conseqüência desses principios. He portanto da nossa intenção mostrar aqui o
contrario ; e que se Portugal naõ goza entre as Potências da Europa uma
dignidade mui conspicua, naõ he por falta de meios, mais sim pela cobardia de
alguns de seus Políticos, que tem estado, e estaõ á frente dos Negócios
Publicos.
Durante esta contenda, em que a Europa se tem
empenhado contra a Revolução Franceza, succumbíram ao systema Francez todas as
Naçoens Europeas, excepto a Inglaterra. E a ultima, que foi conquistada pelos Francezes foi a Naçaõ Portugueza.
GRANADEIRIO PORTUGUES por Horácio VERNET 1811 b
Fig. 04 – A imagem
idealizada do soldado lusitano teve os dois lados. Evidente que a atmosfera
politica gerada pela Revolução Francesa e as primeiras conquista do povo unido
desta nação provocou partidários fervorosos a favor da França. Assim
formaram-se batalhões lusitanos que agiram e se destcaram especialmente na
Grande Armada napoleônica contra a Rússia. Evidente que o Correio Braziliense
silenciou completamente a ação destes batalhões combatendo no lado errado
para ele. Contudo pode ser lido nas invectivas contra os “covardes”
Dê-se o louvor a quem he devido, pelo que respeita a
Portugal e naõ hesitamos em dizer, que aquella resistencia continuada, e
prolongada portantos annos, foi sempre devida á firmeza de S. A. R, o Principe
Regente de Portugal: a elle individualmente; porque he bem sabido, que entre as
diversas opinioens dos Politicos da Corte de Lisboa, a maioridade foi de voto
que Portugal sc naõ podia defender. E asseveramos que a opinião individual de
S. A. R. foi sempre pelo contrario, e que em conseqüência de sua firmeza, a que
os do partido contrario chamavam obstinação a favor da Inglaterra, he devido o
sustentar-se Portugal livre do jugo Francez, até o ultimo periodo, em que todas
as demais Naçoens do Continente se achavam prostradas.
CRUIKSHANG Isaac 1756-1811 Os Amigos
do Povo - gravura 15.11.1792
Fig. 05 – Nunca a
humanidade fabricou uma arma que não tenha usado contra o seu semelhante. A
indústria bélica, com a linha de montagem passou a fabricar armas em série e em
volumes jamais vistos. As guerras industriais do século XIX preludiaram a I e
II Guerra Mundial onde este morticínio massivo e destruição de tudo e de todos.
Os mercadores da morte massiva já foram
previstos nesta imagem da época napoleônica.
Chegou por fim o momento, em que S. A. R. naõ pôde
mais resistir; nem aos esforços da França, nem á cobardia de seus Politicos e
entaõ tomou uma resolução, que foi o principio da libertação da Europa. Aqui
tornamos outra vez a attribuir todo o merecimento exclusivamente ao Principe
Regente; porque a sua retirada para o Brazil he obra meramente sua, sem que
fossem necessárias as intancias de seus Conselheiros, e muito
menos a influencia de nenhuma Naçaõ Estrangeira. Nao podemos porem aqui deixar
de alludir ao que My-Lord Strangford asseverou em seu officio á corte de
Londres na data de 29 de Novembro de 1807 (vide Corr. Braz. vol. I. p. 20) que
tendo tido conferências com S. A. em Lisboa aos de 27 Novembro, e representando
as razoens que havia para se adoptar aquella
medida, S. A. R. publicara aos 28 o decreto, em que aununciou a sua
retirada para o Brazil. O modo porque aquelle officio está concebido, fez persuadir ao mundo, que Lord Strangford
foi quem induzio S. A. R. a retirar-se
para o Brazil. Protestamos altamente contra este erro histórico; porque
sabemos, por authoridades incontestáveis,
c naõ hesitamos nomear Sir Sidney Smith, entre ellas, que quando Lord
Strangford entrou etn Lisboa na fragata Confiance, já S. A. R. tinha embarcado
a bordo de sua esquadra a Familia Real; por tanto, naõ podiam ter a menor parte
nesta resolução, as persuaçoens ou argumentos, que My Lord Strangford menciona
por extenso em seu oíficio.
Fig. 06 – Os
diversos governos disseminados no vasto e variado território colonial
brasileiro poderiam seguir o que aconteceu com as diversas regiões da
colônia espanhola. Sem a presença física da corte no Rio de Janeiro pode
conjeturar na sua fragmentação ou então cair nas mãos de potências mais agressivas
nas suas tendências colonialistas da era industrial.
Asseverando,
por estas razoens, que o merecimento da resolução de S. A. R. a elle somente
compete; veremos agora os resultados desta resolução em beneficio de Europa.
Naõ
pôde haver duvida, que a intenção de Napoleaõ éra apossar-se da Pessoa de S. A. R. e de toda a Familia
Real de Portugal, como fizera em
Hespanha - pois declarou em Paris, que a Casa de Bragança tinha cessado de
reynar em Portugal.
Daqui
se devia seguir a posse dos thesouros da America, e portanto os meios de
subjugar sem remissão toda a Europa, dirigindo-se a realizar o projecto da
Monarchia universal.
Fig. 07 – A imagem
de um exército napoleônico derrotado e frustração de não fazer o mesmo que
haviam feito com o rei da Espanha. O Príncipe Regente Dom João VI no seu silencioso embarque para a
América frustrara esta glória para as águias gaulesas e no maior sacrifício e contrariedade pessoal
demonstrava que havia entre as nações outros caminhos e mundos do que a
hegemonia planetária de um Estado totalitário comandado por um indivíduo por
mais singular que fosse.
S.
A. R. porém, segurando a sua Augusta Pessoa, frustrou este plano de Napoleaõ, e
conservou em sua familia um ponto de reunião para o patriotismo dos
Portuguezes, e dos Hespanhoes, como tem provado os resultados. O merecimento
individual do Principe Regente se realça ainda mais; pelas importantes
conseqüências que se seguiram á Europa ; porque, em conseqüência de ficar
segura a Familia Real Portugueza, se seguio o levantamento de Portugal contra os Francezes; isto animou os
Hespanhoes a seguir o mesmo:o exemplo da Peninsula foi citado pelo Imperador de
Russia, em suas proclamaçoens, a Prússia se unio á Russia, a Suécia, a
Áustria,e finalmente a Alemanha obrou da mesma sorte ; e o grande resultado tem
sido a libertação da Europa.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Congresso_de_Viena
Fig. 08 – Em 1815
o Império Napoleônico e da França já era uma lembrança do passado e um pesadelo
para aqueles que haviam apostado tudo nesta miragem. Dom João VI costurara,nNo
seu tempo de Brasil, o ideal do projeto que acalentara da unidade na sua
colônia americana agora no status de Reino Unido. Cada dia da sua
procrastinação do retorno para Lisboa e Europa certamente ganhava um sentido de
aviso e de consciência desta sua vitória
silenciosa contra a covardia da burocracia de sua corte.
Na concepção do redator do Correio Braziliense a lúcida
retirada de Dom João VI marca de inflexão efetiva e inicia um longo ciclo de
resistências inicialmente passivas, mas que garantiram meios e a moral pública
para reverter o quadro e depois confirmado pelas armas. Senão vejamos:
Mas
para que um facto desta magnitude naõ fique unicamente fundamentado na nossa
assersaõ; convém que transcrevamos aqui uma passagem da falia de Lord Liverpool na
Casa dos Pares, quando, se tractou de responder a falia que S. A. R. - Principe Regente da Gran Bretanha
fez ao parlamento aos 4 deste mez.
“Portugal
(disse Lord Liverpool) naçaõ pouco poderosa, e talvez, naquelle momento
particular, a menos militar da Europa, se fez formidável, e resistio com bom
successo ás mais bem disciplinadas
tropas tropas de França. Pequeno
como he aquelle paiz em comparaçaõ de outras naçoens da Europa, com tudo o
estabelicimento dos exercitos de Portugal foi da maior conseqüência, como
fundamento dos bons successos dos
exércitos Alliados na Peninsula, e por que deo,
além do geral sentimento Nacional; um tom militar, debaixo de cuja
influencia as tropas Portuguezas se tem elevado, a serem iguaes ás lnglezas."
Daqui pois fica evidente, que Portugal naõ
somente pode defender-se mas deo o exemplo ás outras Naçoens, e no modo de
pensar de My Lord Liverpool, foi Portugal quem começou a dar a esta guerra novo
character, tornando-a guerra nacional, em vez de guerra dos Governos que até eu
taõ éra. Nem contra isto está que Portugal
tem o auxilio de seus Alliados: as maiores Potências precisão, e se valem
de seus Alliados; e o que queremos dizer he, que Portugal possue mais recursos
para sua defensa e sustentação, do que nenhuma Potência da Europa de igual
território ou população.
Poucas nações possuem potenciais riquezas inexploradas
como possuía Portugal. Riquezas que motivaram o ataque e fúria napoleônica.
Riquezas que fazem do Brasil de novembro de 2013 alvo de espionagem, de
avaliação e de cobiças de interesses de além fronteiras.
Quanto ao numerário, nenhuma naçaõ possue minas de
ouro mais ricas do que as do Brazil. Pelo que respeita a construcçaõ de vasos
para uma marinha de guerra, o Brazil offerece abundância de madeiras. As minas
de ferro naõ se tinham lavrado até aqui; porem agora he indubitavel, que podem
ser mui productivas pelas experiências que se tem feito. A naçaõ Portugueza,
possue os melhores marinheiros, que se pòdein desejar; e o§ soldados Portugueses leraos
elogios naõ suspeito» de todos os militares que os tem visto combater,
Isto posto he claro, que nenhuma naçaõ da Europa
possue nem mais nem tantos recursos, á proporção de sua grandeza e
necessidades. Mas como essa grandeza he limitada, e de pouca extensão,
relativamente as outras Potências da Europa, argumentado daqui, que Portugal
naõ he de pezo algum nos negócios da Europa. Isto he um paralogismo, inventado
para cubrir a cobardia, de que nos queixamos no principio deste artigo.
Sem entrarmos em factos de tempos remotos, em que
Portugal effectivamente atroou o Mundo
com o estrondo de seu nome; e limitando-nos unicamente ao tempo presente;
deixamos ja exposto acima, como a mera decisaõ do Principe Regente, no que dizia respeito á
sua pessoa, teve influencia considerável em derrotar os planos dos Francezes: e
depois vimos a confissão de Politicos Estrangeiros, quanto ao exemplo que as
tropas Portuguezas tem dado de coragem e
firmeza. Isto posto, he inegável, que Portugal tem recursos, e que pôde ter
influencia nos grandes negócios da Europa; com tanto que os que estaõ à testa
do Governo saibam ou queiram fazer uso de seus meios. Vejamos agora até que
ponto essa influencia, ou esses recursos, que a produzem, podem chegar.
O nosso termo de comparação he a Suécia, aquelle
reyno contem 2:826,000 habitantes, e Portugal 3:559.000. A Suécia tem em armas
43.000 homens. Portugal, com algum esforço, pôde apresentar em campo 60.000
homens ; alem de milicias, &c. As minas do Brazil e os productos do
Commercio Portuguez, saõ superiores aos da Suécia, em proporção muito maior que
a da população, ou do exercito das duas naçoens; e quando se faz entrar ao
calculo o valor das colônias Portuguezas, principalmente o Brazil, a
importância de Suécia, comparada com Portugal, he notavelmente pequena. Agora,
o Governo Sueco commanda o seu exercita, posto que receba subsídios da
Inglaterra para seu pagamento: offereceo-se-lhe uma ilha no golpho México, para
induzir este reyno a ligar-se contra a França, fizéram-se-lhe promessas a
respeito da uniaõ de Norwega á Suécia. O Principe da Coroa de Suécia recebe
diariamente as mais assignaladas provas de respeito dos Soberanos Alliados, e
como general do exercito Sueco, que conserva debaixo de suas ordens, cada dia
une novos louros ás armas Suecas; depois de ter faltado ao Governo Francez no
tom mais decisiva, e da mais firme dignidade.
ttp://pt.wikipedia.org/wiki/Congresso_de_Viena
Fig. 09 – O
Congresso de Viena (02.05.1814 até 09.06.1815) retalhou o Império Napoleônico e
redesenhando o mapa mundial sob os interesses dos vitoriosos nos campos de batalhas.
Uma das mais conhecidas ações lusitana neste Congresso de Viena foi devolver as
suas Guianas para a França.
Portugal, pela cobardia dos Politicos, que suppunham
aquellereyno incapaz de defensa, achou-se sem exercito, quando delle
necessitava ; levanta-se o povo ; e desembarca ali um exercito Inglez, sem ter
feito nenhum accordo prévio com o Embaixador do Príncipe Regente de Portugal em
Londres. Officiaes Inglezes saõ empregados em disciplinar os exércitos
Portuguezes, e em os comandar ; as tropas do reyno obram como auxiliares dos
que tinham vindo em seu auxilio., e naõ podem obter um tropheo, uma bandeira,
que pendurem em seus templos. A situação de Portugal requeria isto, dirão; naõ
disputamos este ponto ; porque he incidental á questão; o que queremos dizer he
que Portugal podendo apresentar em campo um exercito maior que o da Suécia,
tendo mais recursos do que ella; deveria pelo menos fazer uma igual figura no
mundoe poderia, se os sous politicos soubessem fazer uso dos meios que tem,
entrar na liga da Europa, fazendo com os demais alliados tractados taõ vantajosos
como a Suécia, ou ao meuos figurar dper si no que lhe coubesse. O Brazil
deveria dar o ouro, e Portugal a gente ; mas S. A. R. acha-se só era seu
Conselho, e todas as vezes que falta o dinheiro, os seus financeiros naõ sabem
cogitar outro meio, senaõ pedir emprestado à Inglaterra. O Soberano naõ pode,
nem he da sua obrigação olhar para as miudezas das finanças, a seus ministro»
compete isto; e elles naõ fazem mais que occultar ao publico os seu» meios e
modos de receita e despeza. Naõ he assim, que uma naçaõ que tem a possibilidade
de figurar, pode nunca chegar a ser poderosa.
Nestes pontos de avaliação só se deslocou no tempo e
lugar para novembro de 2013 no Brasil dito soberano. Os pontos fornecidos pelo
nº 66, de novembro de 1813, do CORREIO BRAZILIENSE, no seu volume XI nas pp.810-814, investem contra o problema da burocracia oportunista e
mesquinha, senão covarde, da época. Porém, em novembro de 2013, continua
presente e ativo o problema da
burocracia oportunista e mesquinha. Covardia que se aproveita do ritmo e do som
do baixo contínuo da escravidão e da heteronomia colonial assumida e prazerosa
que naturaliza, corrompe e aniquila os projetos de um Estado nacional soberano.
Continua o discurso por cima e por fora
do “DEVE SER PARA os OUTROS” por mais
coerentes e evidentes que sejam as propostas de partidos brasileiros, de grupos
ou de indivíduos que contradizem, neste discurso, este projeto. A propaganda e marketing - valendo-se das
sedutoras melodias do canto das sereias colonialismo de 3ª geração - conseguem
seduzir qualquer Ulisses que desvia, anestesiado, a rota de seu barco em
direção aos funestos escolhos a semelhança do navio de cruzeiro Costa Concórdia.
Em novembro de 2013 a CRENÇA imoderada no ESTADO
NACIONAL - vitima do neocolonialismo e sustentado pela rede da escravidão
numérica digital - apenas trocou a máscara do BRASIL de
novembro de 1813. Os aparentes progressos materiais exibem semelhanças nos descaminhos de 1813 e aqueles de
2013. Assim a máquina governamental
concorria e se espelhava, em novembro de 1813 na novidade das máquinas das
linhas de montagem das fábricas do início da era industrial. Este fenômeno da
máquina governamental não parou de se expandir e se naturalizou ao longo de
sucessivas gerações, de forma paralela com a expansão e o triunfo da era
industrial. Estas operações e processos tornam-se virtuais e conceituais.
Contudo o Brasil continua usuário e vitima da informática de outros centros
tecnológicos que investiram pesado nesta área. Ao se tratar do domínio efetivo
do espaço externo o Brasil é apenas usuário e um zero a esquerda da vírgula nas
mesas das negociações espaciais. Apesar da sua fantástica biodiversidade
natural está longe de ser líder na cultura da biotecnologia e domínio efetivo da
área aberta pelo domínio do código genético.
Ao percorrer as páginas do
Correio Braziliense de novembro de 1813 existe uma semelhança atroz:
“se Portugal
naõ goza entre as Potências da Europa uma dignidade mui conspicua, naõ he por
falta de meios, mais sim pela cobardia de alguns de seus Políticos, que tem
estado, e estaõ á frente dos Negócios Publicos”.
Parece que a forte ex-colônia lusitana, e refugio de
Dom João VI, herdou este traço funesto.
Importa ocupar cargos públicos. As funções são escamoteadas, esquecidas
e corrompidas pelos ocupantes transitórios destes cargos. Cargos criados,
mantidos e reproduzidos com tantos sacrifícios, mas frustrados pela ignorância,
pela covardia senão pela própria corrupção ativa e passiva. Este traço foi
estudado e registrado no regime imperial por João Francisco LISBOA (1812-1863)
no “Jornal de Timon” a partir das suas próprias observações empíricas da politica
praticada na província do Maranhão. Regina ABREU, na obra ”A Fabricação do Imortal”, observou a
mesma prática multissecular projetada no cenário da capital federal e o seu
deslocamento para a origem do regime republicano.
Fig. 10 – A Missão
Artística Francesa - que havia construído a imagem, o mito e a glória de
Napoleão Bonaparte – empregou todo o seu repertório estético e simbólico para
construir - nos trópicas a partir de 1816 - a glória, o ritual de consagração
pública do Príncipe Regente na sua
passagem para o efetivo poder do trono real de Dom João VI (1767-1826) e da
casa dos Bragança. Para tanto se valeu de todo o arsenal da mitologia
greco-romano sem esquecer os rituais dos chefes gauleses colocados de pé sobre
os escudos para comemorar as suas vitórias.
Os tuteladores do governo, os seus atravessadores e
mediadores usam cenário perfeito a crença imoderada e incoerente no ESTADO
NACIONAL. Modelam a opinião pública por meio deste cenário desta crença. Estetizam e tornam palatáveis os atos
governamentais por mais hediondos, indigestos e caros quesejam. Na essência há
pouca diferença do cenário de Debret (fig. 10) comparado com a essência daquilo
que as mídias eletrônicas jogam - por cima do público brasileiro desavisado -
no âmbito dos atos governamentais praticados em novembro de 2013.
O brasileiro continua a se perceber como motorista
do patrão governamental. E pior, sentindo-se feliz e honrado com esta função e
para qual não possui contrato e nem, ao
menos, o cargo formal.
FONTES
BIBLIOGRAFICAS
ABREU Regina A
Fabricação do Imortal: memória, História estratégias de consagração no
Brasil Rio de Janeiro: Rocco Lapa 1996 225 p.
LISBOA, João
Francisco (1812-1863) Jornal de Timon: eleições na Antiguidade, eleições
na Idade Média, eleições na Roma Católica, Inglaterra, Estado Unidos, França,
Turquia e eleições no Maranhã Bras´lia; Senado Federal 2004 326 p
FONTES NUMERICAS
DIGITAIS.
CONGRESSO de VIENA 1814-1815
COSTA
CONCORDIA
CORREIO
BRAZILIENSE – novembro 1813
CRISE
da ESPERANÇA no ESTADO NACIONAL em 2013
Dom
JOÃO VI
Dom João VI se transfere ao Brasil
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