De JUNHO de 1812 até
JUNHO de-2012:
O ESTADO ASSUME a
FALHA do PÁTRIO PODER e TENTA MEDIAR.
Fig. 01 – As crianças na rua estão entregues a
LEI do BANDO e dos impulsos coletivos primários do estagio do coletador. Se o
seu projeto for mudar - e se, neste caminho, tiverem esta fortuna - serão
obrigadas a passar todos os estágios de uma civilização e partir deste seu modo
primitivo e natural de viver no BANDO. Certamente as drogas serão apenas mais
um dos complicadores para este êxito. .
Em junho de 2012 as
CRIANÇAS CONTINUAM a APARECER e a VAGAR pelas RUAS como em junho de 1812. O
Estado continua a tentar mediar e a sanar a falha ou a simples ausência do
pátrio poder. O tenta de forma improvisada e pontual, por leis e instituições precárias.
Talvez a novidade seja que este pátrio poder é cada vez mais exercido pela mãe.
Esta, cada vez mais exigida fora de casa para a sua sobrevivência e da prole
que assume, possui limites. Assim a sua prole é confiada à rua enquanto ela
provê uma parca alimentação e algum abrigo.
Fig. 02 – As crianças dormindo nas ruas e ao
sabor da barbárie e dos maus tratos, aos quais se jogam os restos dos alimentos
que caem ou sobram da mesa dos ricos
A “infância” é uma categoria
social que só emergiu para uma visibilidade pública e separada, com a era industrial e
o Estado contemporâneo gerente de problemas. As portarias do governo lusitano
que o Correio Braziliense estampou em junho de 1812 é uma das tentativas que o
Estado português contemporâneo gerente de problemas, encontrou para mostrar ao
seu público a sua mediação. Conhece-se a portaria mas não há registro dos seus
efeitos posteriores. Temos todas as razões para duvidara de sua eficácia, pois
o problema persiste em junho de 2012.
CORREIO BRAZILIENSE
- JUNHO de 1812, nº 049, p.687.
POLÍTICA.Documentos Officiaes relativos a
Portugal.
PORTARIAS.
Do
Governo em Lisboa sobre os Menores desamparados.
SENDO
de muita consideração o actual estado de muitos Menores de ambos os sexos, que
vagaõ pelas Comarcas do Reino sem abrigo ou destino ; e sendo necessário prover
de prompto e efficaz auxilio, que salve estas victimas da desgraça em que se
achao. Manda o Principe Regente Nosso Senhor, que os Corregedores das Comarcas
do Reino de acordo com os Vigários Geraes, ou da Vara das Terras, vaõ
entregando aquelles Parochos mais zelosos do serviço de Deos, e do mesmo
Senhor, todos estes prófugos e desamparados, para que estes os distribuaõ pelos
Lavradores mais abonados, e cheios de patriotismo; ficando os sobreditos
Corregedores obrigados a vigiar sobre os referidos desamparados, para os
castigarem, quando os Lavradores se queixarem de qualquer insulto ou falta, que
commetterem no seu serviço; e igualmente ficarão os parochos no cuidado destes
desgraçados, dando conta aos seus Vigários Geraes. E da uniaõ destas duas
autoridades espera o mesmo Senhor que resulte o amparo de tantas victimas
desgraçadas.
Palácio do Governo, em
8 de Maio, de 1812.
Com cinco Rubricas dos Senhores Governadores do Reino
Fig. 03 – As crianças nas ruas voltam às
condições dos animais e sem condições de deliberar e decidir sobre um futuro
distinto daquele dos seus amigos irracionais..
Com toda a certeza o
Estado possui o seu papel de protagonista, pois a pobreza não pode salvar a
própria pobreza. No máximo expressa-se numa sociedade de “lumpen”. As favelas brotaram em todos os Estados soberanos da
América[1]
inclusive os ricos EEUU. Uma sociedade de “lumpen”
resulta de um entendimento equivocado dos Estados que se entregaram o seu poder
à lideranças de corporações públicas, ou privadas, que sufocam todas as
aspirações políticas de um povo que deveria ser o protagonista. O que se
evidencia, aqui, é o protagonismo do político que nunca e continua a não
consegue enxergar por cima dos muros de isolamento físico e dos pobres tetos
das favelas.
[1] -
SOARES, Jurandir «Razões do golpe na Venezuela» - in Correio do Povo, Porto Alegre, ano 98, n° 029, 29.11.1992, p. 08
Fig. 04 – Os últimos sorrisos de uma infância
inocente mas condenada às ruas e ao sabor de uma Natureza bruta que não possui
alma nem coração. Estas crianças, sem condições de deliberar e decidir, estão
no aguardo do que der e vier. Normalmente vem a escravidão do BANDO que possui
e exerce as suas PRÓPRIAS LEIS, que estão, em geral, em CONFLITO com a CIVILIZA´ÇÃO..
Se não existisse o
legalismo e a vontade de fazer prevalecer a lei sobre os fatos as portarias
publicadas no Correio Braziliense de junho de 1812 as crianças de rua seriam
algo do passado. Na sua cegueira não desejam tocar e muito menos, evidenciar as
causas destas crianças de rua. A criança de rua também não pode libertar da rua outra criança.
CORREIO BRAZILIENSE
- JUNHO de 1812, nº 049, p.68
7VOL. VIII. No. 4,9. 4v 688 Política. .
POLÍTICA.Documentos Officiaes relativos a
Portugal.
PORTARIA
Tendo o Principe
Regente Nosso Senhor Ordenado, que se restabeleça a casa pia, supprimida pela
invasão dos Francezes, logo que as circumstancias o permittao; e sendo
indispensável accudir sem demora á necessidade, e desamparo de muitos menores
Emigrados pela maior parte, que sem abrigo algum vagaõ por esta Capital
expostos a todos os vicios, e mizerias. Manda Sua Alteza Real que a dita casa
pia se restabeleça interinamente no Mosteiro do Desterro, onde j á se achaõ
alguns rapazes; e que recolhidos nella todos os trastes, e utensílios da
antiga, que ainda existirem dispersos por fora, se restabeleça o Cofre, e
escripturaçaõ separada na fôrma antecedentemente praticada, para ser presente
ao mesmo Augusto Senhor no fim de cada um anno o Estado da sua renda, e despeza,
e se abra a nova casa pia no Faustisisimo dia 13 do corrente, em que devem
entrar todas as menores desamparadas, que por ora se poderem manter. O
Intendente Geral da Policia o tenha assim entendido, e haja de executar.
Palácio do Governo, em
8 de Maio, de 1812.
Com as Rubricas dos
Senhores Governadores do Reino.
Fig. 05 – A roda das crianças na rua da Misericórdia
do Rio de Janeiro Roda dos Expostos no RJ Desenho de Thomas Ewbank 1845.
Certamente o olhar deste estrangeiro, e proveniente da cultura anglo-saxã, é
uma importante testemunha da distância e do estranhamento que tal prática
produziu sobre este observador.
Certamente este é mais um
texto legal que teve o menor efeito a não ser elevar o populismo a favor de uma
coroa desmoralizada.
Este texto busca as migalhas
que caem das mesas dos ricos. O meio urbano e a sociedade corrompida mostram-se
de corpo inteiro nesta realidade das CRIANÇAS de RUA e que persiste intacta em
junho de 2012. O meio urbano controlado pelas elites, atrai a pobreza como as
mariposas rurais são atraídas pelas luzes urbanas noturnas. Evidente que não
interessa - a nenhuma das duas partes-
resolver e nivelar estes abismos.
Ao rico que perderia o espelho de sua superioridade. As “metrópoles civilizadas”
das mansões e dos palácios urbanos espelham-se na miséria dos seus semelhantes
mergulhada na sociedade circundante das favelas e sentem-se lisonjeadas em ostentar
este poder e assim mostrar uma superioridade que, de outra forma, não teriam. Transformam este abismo para
ensinar os seus filhos e educa-los para perpetuar esta situação e privilégio. O
contínuo dos 400 anos de escravidão é apenas uma das partes desta situação. Ao miserável não interessa também, pois
necessitaria assumir a sua condição e lutar e trabalhar muito para modificá-la.
Não teria mais, ao mesmo tempo, o culpado para apontar e necessitaria assumir a
ação para ter o direito à sanção moral dos seus atos.
Fig. 06 – A Rua da Misericórdia no Rio de Janeiro
com roda expostos até o final da década
de 1840
A solução lusitana de 1812 de remeter estas crianças ao meio rural, pelas mãos armadas do Intendente Geral da Policia e mediado pelos bons ofícios dos
clérigos, certamente era condenar estes seres humanos a integrar a força
escrava sob o açoite do feitor.
Fig. 07 – A escravidão rural e as crianças Esta
prática desestimula, de um lado, a permanência das crianças no meio rural e do
outro, aquelas que já estão na rua, no meio urbano, percebem este perigo e
preferem permanecer nas favelas do que dar este passo temerário do retorno ao
interior do Brasil, onde sabem que serão explorados, ao extremo de suas forças,
mesmo seu frágil trabalho braçal
O que se assiste no Brasil
de junho de 2012 são exatamente estes mesmos bolsões da escravidão dissimulada
no meio rural e formada de boa vontade daqueles que desejam redimir-se das
mesmas condições de miséria das crianças encaminhadas ao meio rural em junho de
1816.
Estas notícias lidas,
pensadas e publicadas na Londres 1816 ensejaram ao redator do Correio Braziliense
oportunidade de comparar o
Estado português - candidatando se a gerente de problemas em relação ao pátrio poder - com o exercício do poder publico anglo
saxão. Cultura na qual a medição do Estado é menos visível na ânsia de mostrar
serviços em relação a mediar problemas no âmbito do pátrio poder. Isto pelo
fato concreto de que na cultura
anglo-saxã, a cidadania é mais igualitária, responsável e mais solidária na
solução destes problemas básicos e que não possui a cultura de remetê-los à mediação
de um Estado provedor e populista.
Mas o mundo continua
enquanto todos os paradigmas são íntegros e integrais. O Estado de cultura latina, continua
a tentar mediar e a sanar a falha ou a simples ausência do pátrio poder. Questões fundamentais da natureza da
criatura humana, não podem ser enfrentadas, pois sonegam-se, falsificam-se ou
obstruem-se qualquer acesso à informações confiáveis e reversíveis às suas
fontes.
Fig. 08 – Documento, passado pelo padre Ignácio
Gonçalves da Porciúncula da DOAÇÂO de um moleque crioulo de nome José, de
oito anos, filho de sua escrava Maria, a Vicente, filho de Maria Rita da
Conceição.
No Brasil atual
acredita-se ainda no boto. O “pai da
criança é o boto”. O que parece um mito complacente ou uma piada constitui
uma triste realidade para milhares de crianças jogadas no mundo sem referências
e responsáveis ausentes. As mentes infantis não conseguem elaborar e assimilar
esta piada obscena. Este mito complacente de sua origem, as atinge em cheio,
obscurecendo de forma irreversível as suas vidas. Este trauma da falta de
informação fidedigna impele as suas vontades para a violência incontrolável
para qualquer poder de coerção, venha este poder donde vier. Em qualquer rua do
Brasil basta abrir uma janela e o olhar do espectador é obrigado a contemplar
ao vivo o espetáculo “dos filhos do boto”.
Milhares e milhões de “crianças de rua”
não encontram a informação sobre a sua origem de sua vinda ao mundo e, muito
menos, obtém a informação de quem é o responsável por elas neste instante.
Fig. 09 – Quando toda a capital do Império Lusitano,
com todos os seus equipamentos e funcionários cabiam, em 1812, numa das enseadas da baia da Guanabara no Rio
de Janeiro e sem as favelas de hoje. A comparação com 2012 mostram o potencial
de crescimento numérica das riquezas e habitantes teve um pesado contraponto na
pobreza dos seus habitantes da perferia onde predominam as crianças
Clique sobre o mapa para ampliá-lo. .
O Brasil poderia abrigar
facilmente um bilhão de criaturas humanas. Contudo se este número será uma
catástrofe se o mito benigno da origem persistir. Com este número e nestas
condições, o Brasil será mais um exportador de terroristas planetários.
A verdade não dói. Dói a
necessidade de mudar a mentalidade e os comportamentos que esta verdade impõe a
quem a conhece. LOPES FILHO escreveu[1],
em 1996 que:
“para mudar, é preciso ter
humildade. É a ocasião oportuna para
identificar como centro de sua política, a nação. E como destinatário do
sucesso governamental, o povo e primeiro lugar, imenso contingente órfão de atenção,
benesses e efetiva prestação de serviços públicos básicos”.
Não dói reconhecer a
verdade da fragilidade social. Dói apenas para quem é vítima desta
desigualdade. Se a maioria não tomar a decisão da mudança de um Estado injusto,
esta verdade vai doer para todos e para sempre. Vai doer para os injustiçados.
Eles terão de tomar em suas mãos a História. Para tomar em suas mãos a História
necessitam expressar a sua vontade em relação ao fato político, em relação
aquilo que eles nunca realizaram e tratar de entender a natureza desta mudança.
Chega-se à conclusão,
também diante do panorama das crianças de rua,
de que NÃO FOI NO GRITO desta Portaria Regia que se resolveu este
problema. Este também não será sanado, nem no presente e nem no futuro, PELO
GRITO estridente do marketing governamental. Estas mediações, e as
novas leis estatais, rendem, no máximo, discursos, por cima e por fora, sobre um problema que todos sabem que não
tem, e nem terá, solução nesta forma ruidosa e legal. Somente uma profunda e silenciosa
mudança de mentalidades e comportamentos, provenientes do PODER ORIGINÁRIO,
poderá ser o portão de um caminho da solução coerente e para todos deste
problema.
FONTES
Roda
de Expostos no Rio de Janeiro
CORREIO
BRAZILIENSE em
http://www.bn.br/portal/
Trabalho infantil é rotina
CORREIO
do POVO ANO 117 Nº 255 - PORTO ALEGRE, SEGUNDA-FEIRA, 11 DE JUNHO DE 2012 – p. 16
Geral
OD:
|
mssI36_25_20
|
Título:
|
Termo de doação do padre Ignácio Gonçalves da Porciúncula de
um moleque crioulo de nome José, de oito anos, filho de sua escrava Maria, a
Vicente, filho de Maria Rita da Conceição [...]. -
|
Publicador:
|
[s.n.],
|
Data:
|
1812
|
Assunto(s):
|
Escravos
como doação
Slaves |
Tipo de documento
original:
|
Manuscrito
|
Direitos:
|
Biblioteca
Nacional (Brasil)
|
Coleção:
|
Arthur
Ramos
|
Back up:
|
HD-002
DVD-0036
|
ESCRAVIDÃO
RURAL no NORDESTE
Presidente Lugo reconhece paternidade
CORREIO do
POVO -ANO 117 Nº 250 - PORTO ALEGRE, QUARTA-FEIRA, 6 DE JUNHO DE 2012
[1] - LOPES FILHO, Osíris «Cair na real» Folha de São Paulo, ano 76, n°
24.448, 10.03.1996, 2° ca, p. 02
Este material possui uso restrito ao apoio do processo continuado
de ensino-aprendizagem
Não há pretensão de lucro ou de
apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus eventuais usuários. ...
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1º blog :
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