O TRIUNFO da REVOLUÇÃO do PORTO.
“O
modo porque os Governos costumam e devem tratar as rebeliões, depende
inteiramente das circunstancias, Quando os rebeldes constituem uma parte considerável
da Nação, já não se pode considerar a rebelião como se fosse tentativa de algum
indivíduo ou poucos indivíduos, contra a ordem geralmente recebida ; então
temos uma dissenção civil, e quando não fosse o direito (que mal se pôde
considerar achando-se a nação em revolução) a prudência pede, que os Governos
façam a devida distinção, entre estes dois casos tão essencialmente diferentes”
Correio Brazilense. outubro de 1820 VOL. XXV N°. , p 149 3 L 449 Miscelânea.
Em
outubro de 1820 PORTUGAL tornou o PROCESSO da PROCLAMAÇÃO visível e
irreversível da sua INDEPENDENCIA em relação ao BRASIL. Este processo tornou-se
visível na REVOLUÇÃO do PORTO, iniciada em 24 de agosto de 1820 e irreversível
com a ENTRADA TRIUNFAL das CORTES em LISBOA em 05 de outubro do mesmo ano,.
Constituía-se,
de fato, um NOVO GOVERNO distante da antigo REGIME MONICRÀTICO e PERSONALISTA.
A este foi dada uma sobrevida com o retorno de Dom João VI para LISBOA. O preço
desta sobrevida foi a perda de suas prerrogativas monocráticas e a sua
submissão e juramento à CARTA CONSTUTUCIONL elaborada pelas CORTES em LISBOA. A
ENTRADA TRIUNFAL das CORTES em LISBOA também decretava a obsolescência do REINO
UNIDO PORTUGAL, BRASIL e ALGARVES sugerido pelo CONGRESSO da VIENA. Diante das
CORTES o BRASIL constava apenas formalmente. Estas novas circunstâncias
provam que “NÂO FOI NO GRITO” do IPIRANGA de 07 de setembro de 1822
As
CORTES em LISBOA tinham experiência e aviso suficiente para entender que
“A LEI PRECEDE os FATOS”. Os que
desconheciam este fato acabaram no patíbulo como “LESAS MAJESTADES”. Foi o caso
de Tiradentes, do General Andrade e o recente trágico fim dos Revolucionários
de Recife de 1817. Sabendo disto as CORTES de LISBOA tinham toda a pressa
possível e não puderam ou quiseram esperar os deputados brasileiros. Os que conseguiram
ir não tiveram nenhuma voz ativa nesta CORTES LUSITANAS. As CORTES, com a LEI
nas suas mãos, estavam seguros de uma CONTRA-REVOLUÇÃO
Fig. 01 – A imagem as CORTES CONSTITUNTES entram no palácio governamental da PRAÇA do ROSSIO para dar curso ao desenho e escrita de uma CONSTITUIÇÂO LUSITANA que buscava uma coerência com o TEMPO, LUGAR e SOCIEDADE LUSITANA. Apesar de formalmente convidados, os potencias candidatos a constituintes do BRASIL, perceberam que eram estranhos neste ambiente lusitano e que estava se fechando sobre si mesmo e no qual DOM JOÃO VI passaria a ser mera figura simbólica
Entrada a Juncta Suprema
em Lisboa.
Lisboa 5 de Outubro.
Hoje pelas onze horas do dia, ao estrondo de uma salva
real do Castello de S. Jorge, tivemos o gosto de ver chegar a esta capital a
divisão das tropas do Norte, (e parte das do Sul), a qual entrou na Praça do
Rocio, (onde se achava postado o Reg. d* Infanteira N. 4. da Guarniçaõ de
Lisboa), por baixo do Arco triumphal erectoá sahida da rua do Amparo, donde se
lançavam flores, e foguetes do ar á chegada dos diversos corpos. Vinha ã frente
destas briosas tropas Sua Excellencia o Marechal de Campo Gaspar Teixeira de
Magalhães e Lacerda, Commandante dos Exércitos do Sul e Norte, com o seu luzido
Estado-maior; e fazendo entre os vivas do circumstante povo e tropa postada, as
devidas continências ao Governo, cujos membros se achavam na varanda do
Palácio, e a seu lado o muito honrado Juiz do Povo com seu Escrivão, passou a
postar-se juncto do Portaõ do Palácio, e foram desfilando as tropas do modo
seguinte pela sua frente. Abriam a marcha três EsquadroenS do Regimento de
Cavalleria N. 2, três do N. 5, e um do N. 10. Vinha depois um parque de
artilhería de 5 peças de campanha e 1 obuz (do Reg. d' Artilhería N. 4), ao
qual se seguiam quatro Batalhoens de Caçadores. Apparecendo entaõ o Commendador
Coronel Sebastião Drago Valente de Brito Cabreira, foi recebido com
enthusiasmo'pelo publico, reconhecido ao muito que a nossa boa causa deve á sua
enérgica cooperação Proseguio a marcha das tropas do modo seguinte: um Batalhão
de Caçadores com a Brigada de Infanteria N. 6 e 18, outro com a Brigada 9 e 21;
segundo parque de artilhería como o precedente; outro Batalhão de Caçadores, 1
Batalhão do Regimento de Infanteria N. 11, e outro d' Infanteria N. 12; os
Regimentos N. 22, 3, 24, e 1 Batalhão do N. 15. Após estes vinha outro parque
de 5 peças, e cobriam a marcha 2 Esquadroens de Cavallaria N. 6. e 3 do N. 12.
O bello porte de todas estas tropas, que entravam no seio da Capital a gozar
dos applausos dos seus habitadores, lhes grangeava sinceros vivas de
reconhecimento, quaes se deram aos seus dignos Irmaõs d' armas da guarniçaõ
desta cidade no memorável dia 15 de Septembro. Acabando de desfilar as tropas,
e achando-se o illustre Commendador Cabreira na Varanda do Palácio do Governo,
fez dalli uma breve falia ao povo, e levantando os vivas aos sagrados objectos
da Religião, d' El Rey e sua Augusta Dynastia, das Cortes, e da desejada
Constituição, mostrando infiammado seu coração em transporte de júbilo, foi
correspondido pelos vivas cheios de enthusiasmo do immenso povo alli presente,
o qual, a sahir do Palácio o mesmo Chefe, o levou entre vivas quasi nos braços
para lhe manifestar deste modo mais o seu regozijo e satisfacçaõ. Os vivas ao
Excellentissimo Principal Decano, Presidente do Governo, varaõ caro por suas
virtudes a todos os Portuguezes, eram repetidos com a maior effusaõ de coração,
sendo naõ menos fervorosos os que se davam aos outros Senhores do Governo. A
constante allegria, o inalterável socego do povo em geral, saõ sem duvida um
admirável testemunho da confiança, que ha de ver em breve um feliz resultado da
grande empreza, que se tomou de fazer prospera e segura a existência desta
Monarchia. A illuminaçaõ espontânea, que fizeram os habitantes da cidade, a
multidão do povo que passeava pelas ruas, e os applausos festivos nos theatros,
completaram o prazer deste allegre dia.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Retrato_de_Gaspar_Teixeira_de_Magalh%C3%A3es_e_Lacerda,_1.%C2%BA_Visconde_de_Peso_da_R%C3%A9gua.png
Fig. 02 – Retrato do Marechal de Campo Gaspar Teixeira de Magalhães e Lacerda, Visconde de Peso da Régua.
Originário a alta nobreza, teve papel
preponderante na Revolução do Porto. No
entanto, após o retorno e a morte de Dom
João Vi apoiou a Dom Miguel, cercou a cidade do Porto e foi derrotado por Dom
Pedro I ou Dom Pedro IV de PORTUGAL
Quartel General em Sacavem, no l.° d" Outubro 1820.
Ordem do Dia. Por Ordem do Supremo Governo do Reyno. Sua Excellencia o Senhor
Marechal de Campo Commandante em Chefe dos Exércitos do Sul e Norte manda
declarar-lhes, que a parte do Governo do Reyno, que se acha em Lisboa, e o
muito Honrado Juis daquelle fiel povo, era nome dellé, acaba de convidar o
exercito de entrar na capital do Reyno, e a abraçar alli os seus dignos Irmaõs
d' Armas da guarniçaõ: achando-se porém a retaguarda do Exercito ainda
distante, precisando toda a tropa descanço, e tempo para se preparar com o seu
costumado asseio, e bizzarria a gozar o dia de gloria, e prazer, em que verá o
fructo dos seus heróicos trabalhos na alegria, e satisfacçaõ daquelle povo, e
exercito, e dignos do fraternal auxilio, que lhe prestamos, para a nossa commum
regeneração, naõ poderá entrar antes do dia 3, ou 4 de Outubro. Sua Excellencia
exige a mais rigorosa disciplina, efaz responsáveis os Senhores Commandantes de
Brigada, e Corpos, da mais pequena falta delia; e espera do zelo dos Senhores
officiaes, e do bom espirito da tropa, que este exercito, que primeiro quebrou
os ferros da sua Pátria, se lhe naõ faça pezado, e se mostre pelo seu
comportamento digno do bom acolhimento que recebe dos seus compatriotas.
Previne Sua Excellencia, que devendo unicamente uma brigada augmentar a
guarniçaõ, e devendo isto fazerse por turno, nenhum official tem direito a
pedir quartel na cidade, se naõ os que pertencerem á brigada, que estiver na guarniçaõ.
JOSÉ DE SOUSA PEREIRA S. PAYO, Ajudante General.
Fig. 03 –Uma FORMAÇAO MILITAR em LISBOA, demonstra a influência da ordem e da disciplina nos exércitos da primeira ERA INDUSTRIAL. As ARMAS eram produtos industriais, além deste ordem unida destes exércitos. O apelo dos políticos, dos empresários fabricantes de armas e dos temerários e aventureiros sempre iniciam por seduzir os militares. Estes, por suas próprias formações, companhias e protocolos de ação, necessitam extinguir, em sis mesmos, qualquer sentimento ou reflexão própria e individual. Nesta disponibilidade de ação e vazio mental são presas fáceis e disponíveis daqueles que pensam, sentem e agem em seu nome
Reflexoens sobre as
novidades deste mez.
REYNO UNIDO DE PORTUGAL BRAZIL E ALGARVES.
Revolução de Portugal.
Havíamos no nosso N." passado feito o resumo da
revoluçafl de Portugal, segundo as melhores noticias, que pudemos obter; e
deixamos a Juncta Provisória do Supremo Governo do Reyno em Coimbra,
dirigindo-se a Lisboa; e nesta cidade os Governadores do Reyno, tracta tido de
convocar as Cortes. Neste estado se achavam as cousas, quando os Governadores
do Reyno escreveram á Juncta Provisória a carta, que publicamos a p. 363;
propondo-lhe que se submettesse por bons modos a seu mando ; mas este passo só
servio de dará Juncta Provisoria mais uma occasiaõ de mostrar o desprezo, com
que olhava para os Governadores do Reyno, o que fez em sua proclamaçaõ, p. 367,
e depois na carta a p. 372. A Juncta Provisória estava ja em Coimbra, quando os
Governadores do Rey no resolveram ainda dar outro inútil passo, e foi mandar o
Marechal Povoas fazer com ella tractados de ajustes. lias dos documentos
publicados de p. 392 em diante se vê, como esta abertura foi tractada: com
effeito os Governadores parece que naõ propunham medida alguma, e só queriam
ouvir as proposiçoens da Juncta; assim esta valeo*se de uma falta de de
formalidade no sobrescripto, e no modo porque o Marechal se annunciou, para naõ
abrir a Carta; recambiou-a fechada, e mandou sair o mensageiro de Coimbra,
dentro em poucas horas. Depois de todos estes passos humilhantes e
contradictorios, os Governadores do Reyno naõ possuíam ja a menor força moral,
e suas medidas vacilantes tinham desanimado até seus mais accerrimos
partidistas.
https://dicasdelisboa.com.br/pontos-turisticos/praca-do-rossio-dom-pedro-iv-em-lisboa-portugal/
Fig. 04 – A atual PRAÇA do ROSSIO de Lisboa está carregada de HISTÓRIA recente e que recua às épocas gregas, fenícias e romanas. As reuniões das CORTES CONSTITUINTES, realizadas, em outubro de 1820, neste entorno, transfiguraram o sentido deste ambiente e que marcaram a entrada de uma política portuguesa própria e cada vez mais distante do BRASIL A preservação desta memória e do patrimônio ganham um sentido econômico na medida em que Lisboa vive, em outubro de 2020., cada vez mais das rendas do turismo interno e externo
Por fim no dia 15 de Septembro as tropas da guarniçaõ de
Lisboa marcharam de seus diversos quartéis para a praça do Rocio, clamaram por
novo Governo, ajunctou-se uma multidão de povo, que se unio no mesmo grito,
mandaram buscar o Juiz do Povo, e por intervenção deste foi nomeado outro Governo.
As particularidades deste successo, ficam referidas a p. 378, conforme o que
publicou a Gazeta de Lisboa, no dia 16 de Septembro. Em tudo isto naõ apparecem
os Governadores do Reyno, nem os seus Secretários, nem o seu Coadjuctor Conde
de Palmela; parece que até nem se sabia de sua existência, senaõ porque o novo
Governo) movido de compaixão por suas pessoas, e para evitar desordens» lhes
mandou por guardas em suas casas, para os proteger contra algum insulto
popular. 0 novo Governo, que se intitulou provisório, mandou logo pôr um
embargo para que naõ saíssem navios de Lisboa; e depois, examinando o Erário,
publicou a conta, que copiamos a p. 383; e como achou o Erário exhausto, pedio
uma subscripçaõ voluntária, a qual foi conrespondida com numerosos donativos,
tomando-se as devidas precauçoens, para que elles fossem apulicados aos fins,
que se destinavam; e expediram ao povo a proclamaçaõ a p. 381. Feito isto
mandaram a carta, que fica copiada a p. 388, á Juncta Provisória, que tinha ja
saido, ou estava a ponto de sair de Coimbra : e chegando a Alcobaça expedio a
resposta, que se acha a p. 400, e a portaria de p. 401, pela qual unlo a si o
Governo Interino de Lisboa, e se dividio em duas secçoens, uma encarregada da
Administração do Reyno, outra da convocação das Cortes. O Governo Interino de
Lisboa, aceitando as medidas da Juncta Provisória, esta marchou para Lisboa
aonde fez a sua entrada publica, aos 5 de Outubro, da maneira que se vè pelo
extracto da gazeta copiado a p. 443 ; e apparecendo os membros do Governo ás
janellas do Palácio, foram saudados com as acclamaçoens do innumeravel povo,
que enchia a praça, e expediram a proclamaçaõ copiada a p. 408. Vejamos agora
uma pequena parte do contraste, entre o antigo e novo Governo. Os Governadores
do Reyno, em sua primeira proclamaçaõ, tractaram de rebeldes a Juncta do Porto
e seus sequazes. Legalmente fallando, qualquer opposiçaõ armada contra as
authoridades constituídas he uma rebelliaõ ; mas o modo porque os Governos
custumam e devem tractar as rebellioes, depende inteiramente das
circumstaucias, Quando os rebeldes constituem uma parte considerarei da Naçaõ,
ja naõ se pode considerar a rebelliaõ como se fosse tentativa de algun
indivíduo ou poucos individuos, contra a ordem geralmente recebida ; entaõ
temos uma dissençaõ civil, e quando naõ fosse o direito (que mal se pôde
considerar achando-se a naçaõ em revolução) a prudência pede, que os Governos
façam a devida distincçaõ, entre estes dous casos tam essencialmente
differentes. Mas os Governadores de Lisboa, sem considerar a magnitude da
revolução, tractaram os Portuenses de rebeldes : e logo depois sem cuidar em
medidas, que vigorassem o seu partido, cedem d revolução, chamando Cortes, e
indicando assim, que elles eram os que tinham andado errados, e que a Juncta
Provisória éra a que obrara com acerto. Esta declaração, portanto, devia ser o
golpe mortal a seu partido. Depois, escrevem a esses que tam pouco antes haviam
tracta-. do como rebeldes, a carta de p. 363, em tom tam humilde, que naõ podia
ter outra resposta senaõ o desprezo ; e ainda assim tem asimpHcidade de exigir,
que a naçaõ tenha nelles confiança! Ora; que confiança se podia pôr em homens,
que mostravam iam inconseqüente character ? Mas todo o Governo estava montado
neste systema de illusaõ e engano ; e por isso cahio o seu poder, como, quando
corre a cortina do theatio, desapparecem as vistas. A gazeta de papel pardo,
que no dia 15 pela manhaS declarava, que èra só um partido astucioso, que
procurava com falsidades inspirar desconfiança do Governo, essa mesma gazeta,
no mesmo dia pela noite, preparava o artigo, que publicou na manhaS seguinte,
que éra chegado o momento de suffocar, pela unanimidade dos votos da naçaõ, o
germen de civis discórdias. E taes eram os podres esteios em que se apoiva tal
Governo! Os interessantes documentos, que se acham de p. 389 em diante,
mostrarão a actividade tanto do Governo Provisório de Lisboa, como da Juncta,
que, como mostra o documento de p. 401, se dividio em duas secçoens ; mas além
disto notaremos algumas das medidas em particular, e primeiramente, quanto á
escolha de pessoas. Quando os Governadores do Reyno se viram nos apertos, pela
revolução do Porto, desapparecêo o nome de seu Secretario Salter, tal vez se
puzesse na lista dos doentes; e, para o substituir, nomearam os Governadores ao
Dezembargador Antônio Gomez Ribeiro. De todos quantos homens podiam lembrar,
naõ havia outro que fosse mais geralmente detestado, ja por seu character
individual, ja porqne fora antigamente encarregado da commissaõ, para devassar
d'uma supposta sublevaçaõ da província das Minas no Brazil, ja porque fura o
Juiz, que coiideinnara o infeliz Gomez Freire. Deixemos de parte a questão, se
o ódio geral contra o character deste indivíduo éra ou naõ bem merecido; mas
perguntamos s se uma pessoa tam geralmente mal vista, éra própria para o lugar
de Secretario do Governo, em um momento mais do que todos, em que esse Governo
precisava de popularidade ? Agora o contraste ; os membros do novo Governo
Provisorio em Lisboa foram nomeados tumultuariamente, he verdade, e sem as
formalidades, que se observaram no Porto, mas só se escolheram aquelles, que
tinham a aura popular. Sobre tudo esse Goyerno Provisório teve logo para seu
Secretario o Desembargador Felipe Ferreira de Araújo e Castro; homem geralmente
conhecido por sua probidade, seus talentos, seus estudos ; naõ havia ninguém
que naõ conhecesse as boas qualidades e aptidão daquelle indivíduo para os
maiores empregos, excepto os Governadores do Reyno, que deixavam na obscuridade
tam conspicuo merecimento. Assim soube logo a revolução aproveitar-se de uma
pérola, que d'antes estava atirada ao monturo ; e de Secretario do Governo
Provisório passou a ser membro da Juncta Suprema, depois da uniaõ, como se vedo
officio a p. 411. Naõ se achava no Governo antigo, para pôr í frente do Erário,
senaõ um marquez de Borba, que nunca servira em repartição alguma, nem mostrara
jamais que houvera feito alguns estudos, que para tal emprego o qualificassem ;
ainda independentemente de seu character moral. A revolução achou logo o
Desembargador Manuel Fernandez Thomuz, cujos talentos éram já mui conhecidos, e
que foi posto nesta repartição pela segui» te' Portaria. " Sendo
indispensável, que no Erário haja Adoiinistiadm Geral, com a jurisdicçaõ da
Presidência delle ; determina a Juncta Provisional do Governo Supremo do Reyno,
que o Deputado da mesma Juncta Manuel Fernandes Thomaz, encarregado dos
Negócios do Reyno e Fazenda, sirva o referido lugar de Administrador geral do
dicto Erário ; o qual o terá assim entendido e executará, expedindindo as
participaçoens, que se fizerem necessárias. Palácio do Governo em 4 de Outubro
de 1820." " Com as Rubricas dos Governadores do Reyno."
Cortes Constituintes de 1820 (por Roque Gameiro: Quadros da História de Portugal, 1917)
Fig. 05 – AS CORTES CONSTITUINTES de 1820 reuniram-se em LISBOA e trataram de uma CONSTUTIÇÃO na QUAL o BRASIL retorna à sua CONDIÇÂO COLONIAL e sem direto a ter as suas próprias CORTES CONSTITUINTES, Os poucos e desavisados constituintes nascidos no Brasil eram tratados como mazommbos e desconsiderados pela sua origem colonial. Em outros termos isto significava a PROCLAMAÇÂO da INDEPENDÊNCIA de PORTUGAL em relação ao BRASIL Na parede imagem de DOM JOÃO VI como mera figura simbólica, sem voz e vez nesta ambiente além de sua obrigação de jurar a Constituição elaborada por estas cortes.
Seria
impracticavel correr por todos os individuos do novo Governo, para mostrar como
cada um delles tinha a aura popular ; basta notar, que de nenhum delles se
soube aproveitar o passado Governo. Agora, quanto ás medidas ; a primeira e
amais importante he o cliamenlo de Cortes, e o novo Governo, dando a isto o
pelo requerido pela opinião publica, e havendo-se dividido a mesma. Juncta em
duas secçoens, ficou uma dellas incumbida das medidas necessárias para esta
convocação, exclusivamente de todos os mais negócios ; naõ se podia por tanto t
radar com mais gravidade, nem dar maior respeito para com o publico a essa
medida da Convocação de Cortes. Pelo contrario os Governadores do Reyno
declararam o chamamento de Cortes; mas tam intempestivamente, e de maneira tam
pouco calculada a inspirar confiança, .que uinguem créo na sinceridade da
medida ; attribuiram-a todos a conselho artificioso do Conde de Palmela,
riram-se do modo, porque tal medida se propunha pôr em execução, e ficaram os
Governadores 110 mesmo estado de fraqueza moral em que dantes se achavam. Ja
deixamos copiado a p. 383 o mappa do estado em que o Governo Provisório achou o
Erário ; mas, depois de se nomearam clavictilarios, pela portaria p. 398, para
guardar o Cofre dos donativos voluntários, ese publicaram listas dos
contribuintes, e no que achamos uma contribuição de Évora. A demais, na gazeta
de Lisboa de 4 de Outubro, se publicou circunstanciadamente a receita e despeza
do Erário, desde 1º até 30 de Septembro. As particularidades das contas
publicas em tam breve período, naõ saõ em si de nenhum interesse geral; mas
servem de maneira mui conspicua, para attrahir ao Governo a confiança da Naçaõ,
principalmente na crise actual.
Sobre este ponto tam essencial, nuõ disseram nada os
Governadores do Reyno, nem lhes suggerio medida alguma o seu conselheiro Conde
de Palmela; e por uma razaõ bem obvia; porque lhe podiam lançar em rosto, que o
mesmo Conde fora quem pugnara, para que a Administração dos Diamantes estivesse
em Londres e naõ em Lisboa ; e assim com muita razaõ se poderia duvidar da
sinceridade de suas profissoeus de patriotismo. A Juncta Provisória havia
também publicado ja, no Porto, um mappa demonstrativo da receita e despeza do
Cofre do Thesouro Publico; desde 26 de Agosto até 6 de Septembro; em que se
mostrou um saldo existente em Cofre de 52:052.839 reis: publicaçoens estas,
que, mais que nenhumas vigoram a confiança do publico. Mesmo depois, a
commissaõ de Governo, que ficou no Porto, publicou uma conta mensal da receita
e despeza com as seguintes palavras no topo .-— " Vede aqui, pela primeira
vez, a conta regular do dinheiro publico recebido no thesouro nacional, donde
veio, como se dispendeo, e que balanço resta. Comparai a Administração nova com
a antiga, e conhecereis o merecimento da nova Era, que começou aos 24 de Agosto
passado." Mandou o Governo Provisório no dia 20 de Septembro expedir um
Avizo á Juncta do Commercio, para que participasse por edictal, que estavam a
sair a cruzar até a altura das ilhas a fragata Lealdade e escuna Constância,
que daraõ comboio aos navios, que quizerem delle aproveitar-se. Assim se
começou a tirar, ainda da pobreza em que se achava o Erário, meios de proteger
o commercio. Depois se expedio o seguinte. Avizo. " O Governo Interino
estabelecido em Lisboa manda, que V. S. faça proceder sem perda de tempo a uma
vizita das Cadeia, a fim de se sentenciarem os culpados, na conformidade das
ley»» enviando a esta Secretaria de Estado a conta de se haver assim executado,
com o mappa dos condemnados, ou absolvidos, circumstancias notáveis de uns e
outros, para que possa constar a effectiva observância das leys, e verificar-se
assim a prompta punição do crime, como a ju ta protecçaõ, que se deve
áinnocencia. O que participo a V. S. de ordem do mesmo Governo para que assim
se execute. Deus guarde a V. S. Palácio do Governo em 27 de Septembro de 1820.
FELIPE FERREIRA DE ARAÚJO E CASTRO. Senhor Antônio Jozé Guiaõ.
Naõ podia escapar ao novo Governo, os entrávez, que o
passado punha á Imprensa, assim nomeou logo uma Commissaõ de Censura, como se
vê pelo documento p. 396. 0 contraste, pois, dos dous Governos salta aos olhos,
nem sabemos como possa obscurecer-se; e na participação feita aos ministros
estrangeiros (p. 389) assim como nas demais providencias, se manifesta uma
dignidade de procedimento, que em vaõ se buscará na Administração de Forjaz e
Companhia. Compárese mesmo o procedimento militar; veja-se a ordem dia a p. 445
no exercito na Juncta Provisória; e leia-se a proclamaçaõ do Conde de
Barbacena, que copiamos no N.° passado p. 316. Causas da revolução em Portugal.
Pareceria incrível se naõ nos fosse demonstrado, o desvario com que os partidistas
do antigo systema de Governo tem querido explicar as causas da presente
revolução, desviando-se sempre da verdadeira, enganando-se a si, e procurando
enganar os outros, com o mais deeidido e grave perigo, tanto do Governo como da
Naçaõ. Tem-se attribuido a revolução até ás bruchas; e isto nos commumea mui
gravemente de Lisboa, alguém que tem pretençoens de politico, e que talvez
depois de isto lêr deixe de nos importunar mais com sua conrespondencia. O
argumento de qu. usa he, que só por arte do diabo se podia fazer uma revolução
tam geral, sem que houvesse nem motivo justo de queixa, nem combinaçoens
previas. O Padre Jozé Agostinho, com outros sandeos de sua laia, tem accusado
os Sebastianistas, que na inocência de suas opinioens só poderiam ser assaltados
pela mordaz disposição de tal energúmeno. Outros em fim, como o Conde da Feira,
naõ tem duvida era jurar, que a revolução he obra dos Pedreiros Livres e de
mais ninguém. Nem nos devemos admirar, que haja em Portugal quem assim pense,
quando agora mesmo está o Imperador d'Alemanha pregando uma Cruzada, contra os
Framaçons, Carbonari, Místicos, &c. e queixando-se mui peculiarmente dos
jornaes e outras obras literárias, a quem as actuaes revoluçoens se attribuem.
Mas ¿ aonde estavam os pedreiros livres e os jornaes na Hespanha ? ¿ Aonde os
de Portugal ? ¿ Aonde nos mostrarão, quer em Hespanha, quer em Portugal, essas
pretensas sociedades de Carbonari, ou outras de tendência política?
https://archive.org/details/osegredorevelado45barr
Fig. 07 – Os CULPADOS de
TUDO surgem e são fabricados em todos os tempos e lugares independente de
qualquer prova, lógica ou mínima veracidade. Este movimento, da busca do
CULPADO de TUDO, está em plena ebulição, em outubro de 2020, com os denominados FAKE NEWS. Esta ebulição
evidencia o papel de achar algum bode expiatório, uma desculpa por algum
fracasso ou a simples debilidade mental
No entanto, ue todos os jornaes eram rigorosamente
prohibidos, excepto os que o Governo mantinha para nelles publicar só o que suppunha
ser-lhe favorável, no entanto que o tracto social dos homens éra pesquizado e
esquadrinhado ao mais intolerável ponto, a fim de que nem sombras restassem de
associaçoens políticas ; arrebenta a revolução, e apparece logo geral, tanto em
Hespanha, como em Portugal. Agora, que naõ foram os jornaes que tal effeito
produziram, he evidente; porque taes jornaes naõ havia. Seriamos Pedreiros
livres. Mas estes haviam de apparecer depois de declarada a revolução, quando
ja naõ tinham que temer a perseguição do extincto Governo: mas naõ apparece o
menor symptoma disso. Se se ajunctam em suas loges ainda, a practicar seus
ritos e suas ceremonias, de certo os seus calumniadores os naõ mostraram na
Hespanha ou em Portugal, tomando parte alguma nos negócios políticos depois da
revolução. Ora ¿ he crivei, que se os effeitos revolucionários fossem filhos
dessas associaçoens dos Framaçons, quando tivessem conseguido a mudança,
deixassem de apparecer figurando n'uma obra que éra sua ? Naõ examinaremos aqui
até que ponto o Gabinete de Áustria crê, ou naõ crê, nessas patranhas, que
apregoa sobre os Framaçons ; mas em Portugal estamos persuadidos, que os
mesmos, que imputam aos Framaçons ideas revolucionárias, e que os accusam de
ser origem dos sentimentos desfavoreis ao Governo, naõ crem nisso que dizem,
faliam assim por hypocrisia, e conhecem que saõ calumniadores. Eis aqui a
prova. Entre outros estratagemas, que lembraram ao Conde da Feira e seus
coadjuetores, para oppór um dique ao espirito revolucionário, que se
manifestara abertamente no Porto, foi o solicitar que se reunissem em loges
alguns poucos Framaçons, que havia em Lisboa, e procurar com sua influencia a
creaçaõ de unia opinião publica, opposta ás ideas da revolução. Claro está, que
os Framaçons, em Lisboa, saõ tam poucos, que, ainda que seu systema pacifico
lhes permittisse, o que positivamente lhes prohibe, metter-se nas commoçoens
políticas, naõ podiam ter pezo algum em contrabalançar a opinião publica de
todo o Reyno, nem essa opinião éra cousa que se desfizesse em três dias ; mas a
mesma tentativa, só de per si, prova a má fe com que esses Godoyanos
calumniávam e calumniain os Framaçons, contra a verdade de que estaõ
persuadidos. Parece evidente, que um tam pequeno numero, como he o dos
Framaçons em Portugal, ainda que elles realmente trabalhassem por causar a
revolução, naõ éra capaz de produzir tam geral sublevaçaõ ; para explicar tam
extensivos effeitos, he preciso achar causas proporcionalmente geraes, mas a
indagação das verdadeiras causas, he o que naõ faz conta aos Godoyanos; e por
isso se apegam a esses ridículos subterfúgios. He manifesto que os custumes de
Portugal tem mudado prodigiosamente, durante os cincoenta annos passados : ¿ e
cuidou o Governo daquelle Reyno em mudar as suas instituiçoens políticas, de
maneira que as adaptasse a esses custumes assim mudados ? Naõ.. Eis aqui pois
uma causa geral, que devia pór toda a naçaõ em directa opposiçaõ com seu
Governo. Porem desçamos a um exemplo na Administração. As rendas do Erário naõ
eram adequadas ás despezas do Governo ; nem se podiam augmentar; porque a
pobreza da Naçaõ naõ admittia a imposição de novos tributos. Logo, naõ havia
outro remédio, senaõ cortar por todos os estabelecimentos públicos, que naõ
fossem da primeira necessidade. Mas o Governo naõ pensou jamais em tal medida
de economia; continuaram os gastos da mesma forma, com um déficit, que por
força augmentava todos annos. Por conseqüência todo o Reyno se resentia desta
penúria do Governo, que naõ podia deixar de acabar em uma banca rota. Eis aqui
um motivo mais que bastante, para excitar o descontentamento geral contra o
Governo, porque este mal éra geralmente sentido por todos, directa ou
indirectamente. Ajunctem a isto os abusos na Administração da justiça; a
existenria de um exercito, em tempo de paz, que nem a população nem as rendas
do Erário podiam manter, sem vexame geral ; e outros muitos erros de igual
tendência, e digam-nos ¿ se estas causas geraes naõ explicam melhor a
revolução, do que os jornaes, que naõ havia, ou meia duzía de Framaçons, que
nem tinham, nem podiam ter, por sua pequenhez, alguma influencia na opinião
publica, senaõ em quanto, por ser uma classe perseguida, érain mais um motivo
de queixa, contra as oppressoens injustas do Governo ? Nem he matéria
indifferente, antes sim mui importante, examinar quaes saõ as verdadeiras
causas do descontentamento publico; porque, dando-se ouvidos a exposiçoens
factícias e impertinentes, se perde de vista a verdadeira origem do mal; e,
sendo esta desconhecida, naõ he possivel atinar com o remédio ; e por fim chega
a crise, quando ja nenhum remédio aproveita. Agora duas palavras sobre as
Conseqüências da Revolução. Quando em numa Naçaõ apparece nova ordem de cousas
politicas, effeito de commoçaõ popular, he impossível determinar as combinaçoens,
que resultarão desuccessos imprevistos; e com tudo he licito conjecturar, com o
auxilio da historia, e pelo conhecimento das circumstancias presentes, o que se
acha ainda envolto na obscuridade do futuro. A naçaõ, que vio derribado um
Governo, durante cuja administração observava e padecia tantos males,
naturalmente se enche de alegria e de enthusiasmo; porque se persuade, que
todas as suas difíieuldades devem desapparecer, com o Governo que as naõ tinha
remediado; e naõ temos a menor duvida de que o Governo actual muito fará para
isso, e que o chamamento de Cortes produzirá um espirito de energia nacional,
que, sem esta circumstancia, seria impossível esperar ein Portugal. Eis aqui a
parte favorável do quadro ; mas as pessoas prudentes, e que se naõ deixam levar
do enthusiasmo cego (e neste numero da gente cordata contamos os membros da
Juncta do Governo Supremo Provisório) naõ pódern deixar de prever as
difiiculdades, que resultam a Portugal deste mesmo estado de cousas melhorado,
em tantos respeitos, como dissemos acima. A mesma Juncta Suprema do Porto, na
carta, que escreveo aos Governadores do Reyno, e que deixamos copiada a p. 372,
reconhece a existência de partidos, que nós tínhamos indicado antes em vários
números deste Periódico, fundados em informaçoeus particulares, e nos rumores
públicos. Sobre isto assim se explica a Juncta nessa carta. " Vossas
Excellencias sabem igualmente, que, para cumulo de nossas desgiaças, se haviam
formado e iam engrossando em Portugal, nessa própria cidade, três diversos e
oppostos partidos, que, com o aparente intuito de salvar a naçaõ, mas em
realidade para conservarem ou promoverem seus particulares internes, urdiam o
indigno projecto, ou de nos entregarem a uma naçaõ estranha, ou de nos manterem
debaixo da vergonhosa tutella de outra, ou de derribarem do throno o nosso
adorado Soberano, para lhe substituírem o chefe de uma illustre Casa
Portugueza, cuja lealdade com tudo se recusaria, sem duvida, a k»m intempestiva
honra.". Esse partido Hespanhol, cuja existência fica iudubitavel por este
documento, manifestou-se por muitos modos, e naõ foi menos conspicuo o dos
elogios, que se prodigalizaram em Portugal e fora delle, pelos Portuguezes
desse partido, naõ somente á Constituição Hespanhola, mas até ao Rey Fernando,
que alguns desses mesmos panegiristas haviam pouco d' antes pintado, como um
Satanaz encarnado. Um escriptor Portuguez em Londres, copiou passagens de
authores Portuguezes antigos, para provar, que se devia desvanecer a antipathia
nacional entre Portuguezes e Hespanhoes; e até inventou o exdruxolo nome de
Lusos-Hespanhoes-Constitueionaes, para dar designação a essa supposta uniaõ, de
Portugal com Hespanha. Talvez até isto se negue, e se chame " notável
descaramento em mentir;" mas nem por isso he menos verdade; nem pôde
admirar, que quem sustentou as doutrinas do servil Investigador, e depois se
tornou tam accerimo Campeão dos direitos populares , pregássse a sugeiçaõ de
Portugal a Castella, e, quando vi o a revolução de Portugal seguir caminho
diverso, se volte outra vez como catavento, segundo a parte de que sopra o
favor. Mas quando se tracta de descaramento em mentir, perguntamos ¿ se naõ foi
no Investigador Portuguez \ oi. XXII. p. 217, que se publicaram as Cortes de
Lamego, copiadas por exteuso da obra de Brandão ? e, f se esse Investigador naõ
éra o Jornal da Embaixada Portugueza em Londres ? e { quem éra o tal Ministro
nessa epocha? Ora leiain-se os commeutarios do Investigador a p. 223, desse
mesmo volume, sobre as actas das dietas Cortes, e conhecer-se-ha a tendência
desse jornal da Embaixada Portutugueza em Londres. ¿ Naõ foi o mesmo
Investigador a p. SC5 do mesmo vol., que publicou as actas das Cortes de
Coimbra, em 1385, para dar seguuda prova da soberania nacional, que se propunha
estabelecer, como aquella de que dependenia a soberania Real ? ¿ E quem éra o
ministro Portuguez em Lonries, que entaõ protegia aquelle jornal ?
João de Portugal, Duque de Valência de Campos (1352-1387)_Genealogia de_D. Manuel_Pereira, 3.ºm conde da Feira_ (1534)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cortes_de_Coimbra_de_1385
Fig. 08 – Em outubro de
1820 as nações europeias passaram a idealizar a sua memória medieva. Depois de
exaurirem as fontes emanadas da ATENAS idealizada, este movimento trouxe à tona
para Portugal as CORTES de COIMBRA medievais com as suas histórias regionais do
ano de 1353. O arsenal e a oficina
desta fabricação de um passado glorioso, eram as ARTES, a HISTÒRIA e a
LITERATURA. Este movimento das HISTORIAS REGIONAIS encaixava-se no nome
genérico de ROMANTISMO.
Fig. 09 – O Rio de Janeiro tornou-se repentinamente o centro administrativo do vasto império lusitano que abrangia terras da EUROPA, da ÁFRICA, da ÁSIA e da AMERICA. Esta centralismo administrativa não podia deixar ter uma violenta, uma continuada e uma silenciosa reação de portuguesa, Como em todos os tempos e lugares convinha achar um culpado e um inimigo externo dos fracasso de Portugal tinha,, O culpado da vez , em outubro de 1820, era o Brasil. Os acusadores não se davam conta- ou não queria, se dar conta - de que foram portugueses natos que sempre mandaram no Brasil. Aos mazombos cabia obedecer, trabalhar e entregar, o fruto de seu trabalho, a Lisboa
A dificuldade de continuar nessa uniaõ resulta de uma
variedade de circumstancias, que seria demasiado longo especificar; mas basta
lembrar, que, havendo Cortes em Portugal, e naõ as havendo no Brazil, esta
disparidade, na mais essencial instituiçaõ politica, deve traçar uma linha de
divisão, em vez de formar um laço de uniaõ entre os dous povos. Naõ deve aqui
esquecer, que, nesta mesma occasiaõ, depois de ja declarado o systema da
revolução, qua lie continuar Portugal unido com o Brazil, estaõ esses
escriptores, a que «Iludimos, ou por ignorância ou por fins sinistros, atribuindo
ao Brazil os males que soffria Portugal ; e exaqui meios e modos de soprar a
discórdia, de fomentar as divisoens, que só podem ser úteis ás vistas do
partido, que queria entregar Portugal a Hespanha, ou do outro, que desejava
realizar o sonho, de fazer de Portugal uma naçaõ á parte, e cheia de grandeza,
e respeitada no mundo. Mas vejamos como a mesma Juncta do Porto caracterizou
esses partidos, na carta, que copiamos a p. 372. " Quaesquer que fossem as
imaginadas vantagens destes projectos, elles tendiam essencialmente a
roubar-nos a nossa independência, e a riscar da lista das naçoens um povo leal
e bravo, que tem figurado entre ellas com tanta gloria: e, quando menos, a
lançar do throno Portuguez uma Familia Augusta, que o possue por títulos tam
legitimos, e que por sua clemência, bondade e amor de seus povos, tem adquirido
os mais sagrados direitos á nossa obediência e fidelidade."
Fig. 10 – A glorificação de DOM JOÂO VI buscava as suas raízes e legitimidade que era conferida aos lusitanos nas CORTES de COIMBRA do ano de 1353. Os artistas tratavam de atualizar esta glorificação num vasto arsenal de imagens extraídas das ARTES, da LITERATURA e requentada conforme os humores estéticos de cada época .
Nestas expressoens reluze sentimentos patrióticos, bem differentes
desses Luso-Hespanhoes-Constitucionaes; que passando de Investigadores a
Campeoens, e dahi a partidistas da sugeiçaõ á Hespanha, assopram ainda o fogo
da desunião, imputando ao Brazil os males, que tem soffrido Portugal. ¿ Que
culpa tem o Brazil de que os Governadores de Portugal desattendessem as urgentes
necessidades do Reyno ? ¿ Porventura
veio algum filho do Brazil governar Portugal, para que pelos actos desse
individuo fosse accusado todo o seu paiz ? Nem um só. Portuguezes dos quatro
costados foram sempre todos os Governadores do Reyno, e todos os seus
Secretários e Conselheiros. Se quizerem levar a queixa mais longe, e
attribuirem os males todos de Portugal ao Gabinete do Rio-de-Janeiro; outra vez
lhes retorquimos que naõ ha nesse Gabinete um sô Ministro filho do Brazil; e o
Primeiro Ministro até no nome he Portugal.
¿Com que justiça, pois, se acusa o Brazil dos males de
Portugal ? Se a queixa fosse contra o systema do Governo, contra os indivíduos,
que o compõem, na Europa ou na America, o argumento seria sensato, mas uma
accusaçaõ contra o Brazil he tam sobre maneira injusta, que só pode ter por fim
provocar a retorçaõ, excitar os ódios, e crear divisoens só úteis ao partido da
dominação estrangeira, que temos acabado de descrever, com as mesmas palavras
da Juncta. Se o nosso fim fosse retorquir, e animar a contenda ¿ que série de
males lhes naõ poderíamos alegar, feitos pelos Portuguezes no Brazil ? Mas
nunca nos deixaremos levar de taes provocacoens. Desejamos correr o veo sobre
scenas tristes, e somente mostrar, que a existência destes partidos,
constituirão uma das grandes difiiculdades, com o que o novo Governo tem de
luetar. Naõ temos duvida de que esse mesmo Governo cuidará em supitar taes
partidos : tanto mais quanto vemos, que uma das accusaçoens, que faz ao Governo
passado, he a de naõ haver reprimido esses partidos antipatrióticos. Quanto aos
escriptores de cata-vento, naõ temos duvida que assim como inventaram o nome de
Luso-Hespanhoes-Constitucionaes, gritarão contra essa antipatriotica uniaõ,
logo que o Governo Provisório e a naçaõ se mostrarem, como se mostram ja,
decididos pela uniaõ do Brazil; mas o Governo deve guardar-se da hyprocrisia de
taes virn-casacas. Devemos ainda acerescentar, que até temos lido ein.
escriptos, cujas ligaçoens com esse partido Hespanhol naõ seria difficil
traçar, que " a opinião prevalente he, que a Juncta em Lisboa declarará
uma Constituição similhante á de Hespanha, como passo preliminar para a uniaõ
dos dous paizes, em forma de confederação, ou de algum systema livre de Governo
para toda a Península." Que naõ he tal a opinião prevalente, se conhece
bem das declaraçoens da Juncta, que deixamos apontadas ; mas inculca-se isso
assim, para o fim desse partido ; e portanto destas mesmas falsas
representaçoens se conhece a necessidade de estai em guarda contra as insidias
de partidos antipatriotas, cujo fim he destruir a independência nacional. Por
mais geraes, que sejam as causas do descontentamento da Naçaõ, por mais
culpados, que hajam sido, os Governadores do Reyno, em naõ remediar isso a
tempo, nem por isso deve o Governo perder de vista o grande perigo que ha, em
que os intrigantes, fundando-se nesses mesmos factos, inventem exaggeraçuens,
supponliam causas falsas, e irritem os ânimos a favor de diverso .'partidos,
que, produzindo uma confusão ao depois irremediável, venham a concluir na
subversão do Estado. Queremos de tudo isto concluir, que, se o Governo de
Portugal tal qual se acha, e ao depois de formadas as Cortes, naõ se guardar
das insidias desses partidos, que, como todos sabem, foram primeiro intentados
por aristocratas degenerados, e depois seguidos por ignorantes ou facciosos
palradores, corre Portugal o risco de fazer uma separação total ou parcial do
Brazil, ficando entaõ uma potência tam acanhada, que mal poderá figurar no
inundo com mais graduação do que a provincia da Andaluzia, e nesse estado de
abatimento fácil preza será da Hespanha, quando terá um fim, que de certo naõ
merece, o nome Portuguez, e até a linguagem Portugueza na Europa será extincla.
Comportamento dos Empregados Públicos. Temos visto publicado, que o Ministio de
Sua Majeslade fidelissima ein Hollanda, Brito, tomara sobre si negar
passaportes a individuos ea navios, que se destinavam a Portugal. Lemos também,
que o Ministro Portuguez em Hamburgo, naõ só publicara uma proclamaçaõ aos
Portuguezes, contra a revolução de Portugal, mas diiigiia aos Ministros
Estrangeiros um piotesto contra ella, de st u motu próprio. Sabemos de Fiança,
que o Embaixador ern Paris, o Marquez de Marialva, recusara também dar
passaportes para Portugal, o que causou em Baiona violentas diputas, entre
proprietários de navios, e o Cônsul Portuguez.
Pela Carta que inserimos abaixo, na Conrespondencia, se
verá, que o Encarregado de Negócios em Londres, Guerreiro, passou ainda mais
longe, porque tentou pôr El Rey em Quarentena, recusando remetter-lhe cartas e
periódicos, que se mandavam a Sua Majestade; levando essas cartas e esses
periódicos, noticias, que éra importante que Sua Majestade soubesse pela via da
imprensa, ja que por outros canaes lhe naõ deixam saber o que se passa. Ora ;
que tristes reflexoens se naõ offerecem, vendo estes agentes diplomáticos tomar
sobre si, evidentemente sem ordens algumas, medidas de hostilidade contra
Partugal ! Mais, um Encarregado de Negócios d'El Rey recusar directamente o
enviar a seu Soberano as cartas, que se lhe remettíain, e continham noticias,
se desgradaveis, importantíssimas, para a salvação da Monarchia. Ministros,
negando passaportes a vassallos Portuguezes, que desejavam regressar-se a suas
casas, e á sua pátria, sem que contra elles se allegasse crime nem accusaçaõ
alguma.
Fig. 11 – Em outubro de 1820 restava um doloroso pôr do sol sobre a debilitada marinha portuguesa e que não mais fazia o menor sentido e concorrência diante das demais potências marítimas. Mesmo nestas tristes circunstâncias a burocracia conseguia manter a pequena frota lusitana presa, inoperante e encalhada nas docas aos portos. Certamente não cabia ao BRASIL a culpa deste colapso da marinha portuguesa.
Ministros, que negaram de seu próprio alvedrio
passaportes a navios, que iam commerciar a Portugal, quando uma das queixas
daquelle povo he, que o seu commercio se annihila pela improvidencia do Governo
; dando assim esses ministros a mais bem fundada prova ás queixas daquelles povos;
e isto sem que para tal tivessem ordem de seu Soberano. A causa disto he a
impunidade, com que se tem visto tantos empregados públicos desobedecerem a
ordens positivas de sua Corte, chegando a insolencia ao ponto de que até um
Guerreiro intente fechar a porta ás communicaçoens com seu Soberano, recusando
a seu aibrtrio naõ remetter as cartas, que lhes saõ dirigidas pela Legaçaõ;
quando o sagrado do sobrescripto pareceria bastante, para que Guerreiro
mostrasse a taes cartas o mais profundo respeito. He escusado querer occultar
factos tam escandalosamente públicos; as conseqüências de tal proceder nos
empregados, obrando cada um como lhe parece, sem esperar por ordens ou
'nstrucçoens; mais, obrando em manifesta violação de seus deveres na falta de
respeito ao Soberano ; naõ podem deixai de produzir uma anarchia, que faz
impossível que dure o Governo, se as cousas se naõ remediarem a tempo. Quando
vimos D. Miguel Forjaz feito Conde da Feira, seudu tam publico em Portugal o
partido Hespanhol, que ali reynava e reyna ; e as nenhumas medidas, que o mesmo
Forjaz tomou para o reprimir, naõ podemos deixar de prever, que as cousas se
approximávam ao fim que tiveram. Vem a poz isso a carta, que elle escreveo ao
Conde de Palmeila, e que houve bom cuidado de publicar, junetamente com a
resposta na gazeta de Lisboa; naturalmente se offérece a questão i porque se
publicaram taes cartas na gazeta, contra todo o custume daquelle Governo ? O
Conde de Palmella naõ duvidou dizer na sua resposta, que tomava sobre si a
parte da responsabilidade, que lhe tocava, pelas medidas do Governo de Lisboa,
a que elle assistia coino conselheiro. Agora que todas essas medidas se mostram
ter sido as mais impróprias, e absurdas ^¿ poderá o Conde recusarse a que o
publico o chame a contas, por essa responsabilidade, a que elle ue offereceo?
Tomemos, no sentido que o Conde de Palmella quizer, a sua expressão de ser
necessário mudar as bazes do edifício social; qualquer que fosse a mudança que
elle tivesse em vista ¿ porque naõ foi ao Rio-de-Janeiro, para a aconselhar ?
Naõ somente podia fazello, mas foi expressamente mandado ir, por seu Soberano,
para esse expresso fim, de ser ouvido, e cooperar nas medidas, que se queriam
adoptar, e que a necessidade da occasiaõ requeria: em vez disto foi-se metter
em Lisboa ; e naõ temos razaõ de lhe lançara culpa, pela responsabilidade a que
elle voluntariamente se submetteo } A desgraça consiste, em que a
responsabilidade dos empregados públicos, sobre o que tantas vezes temos
insistido, naõ passa de meras palavras, a sua efficacia ainda a naõ vimos na
practica. Cada empregado publico obra como lhe parece,
Após este leitura
chega-se à conclusão de que as CORTES em LISBOA, de outubro de 1820, OBRARAM
também “COMO LHES PARECIA”. Empolgados por um passado esplendoroso, sufocados
por um presente atribulado e sem grandeza e alcance de oferecerem um futuro de
um império lusitano, A verdade é que criaram por meio da LEI de CONSTITUIÇÂO,
que deveriam PRECEDER os FATOS, talharam, ao seu talante e medida, uma pequena
pátria fechada sobre si mesma e contrária a tudo o que PORTUGAL já fora algema
vez
Uma vez que
aqueles que se julgaram competentes para esta tarefa não sentiram o menor remorso com a perda do
Brasil uma vez que os seus interesses e dos seus sócios estivessem assegurados
por LEI.
Em outubro de
2020, depois de dois séculos destes episódios não houve a coragem de se manter
fora e independente da União Europeia como a Suíça e muito menos a energia e a
competência de um BREXIT britânico
Não adiantem desculpas: se “a LEI PRECEDE os
FATOS” estes fatos são previsíveis pelo estadista a altura do seu momento. Em
POLÌTICA, em ESPORTE e na ARTE não existe espaço para pedidos de perdão
.
PRAÇA do
ROSSIO
https://www.visitasvirtuais.com/local.aspx?id=PracaDomPedroIvRossio
+
https://dicasdelisboa.com.br/pontos-turisticos/praca-do-rossio-dom-pedro-iv-em-lisboa-portugal/
Reunião
da JUNTA
CASTELO
de SÂO JORGE LISBOA
https://pt.wikipedia.org/wiki/Castelo_de_S%C3%A3o_Jorge
Entrada a Junta Suprema em .Lisboa
5 de Outubro de 1820
https://pt.wikipedia.org/wiki/Junta_Provisional_do_Governo_Supremo_do_Reino
.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cortes_Gerais_e_Extraordin%C3%A1rias_da_Na%C3%A7%C3%A3o_Portuguesa
SEDE
da JUNTA SUPREMA da REVOLUÇÂO de 1820
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pal%C3%A1cio_das_Necessidades_1997.JPG
PALÀCIO da RIBEIRA LISBOA
http://marinhadeguerraportuguesa.blogspot.com/2015/04/o-paco-real-da-ribeira-xvi-xviii_21.html
O CAÇADOR DE
PEDREIROS-LIVRES: JOSÉ ANASTÁCIO LOPES CARDOSO E SUA AÇÃO CONTRA A MAÇONARIA
LUSO-BRASÍLICA (1799-1804)
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-83092017000100310
Padre
Jozé Agostinho
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Referências para Círio SIMON
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DISSERTAÇÃO: A Prática Democrática
http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/1445
TESE: Origens do
Instituto de Artes da UFRGS
http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/2632
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BLOG PODER ORIGINÁRIO 02 ARQUIVO
http://prof-cirio-simon.webnode.com/
VÌDEO
http://www.youtube.com/watch?v=qdqXEg7ugxA
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