quarta-feira, 1 de março de 2017

148 - NÃO FOI NO GRITO...

A PRINCESA LEOPOLDINA CONECTA a CORTE do RIO DE JANEIRO ao MUNDO CIVILIZADO de MARÇO de 1817.
A Corte do Rio de Janeiro ganhou, em março de 1817, as manchetes internacionais[1] e o interesse de uma leva de cientistas, de artistas e de comerciantes com projetos voltados para a efetiva realidade do mundo brasileiro. A corte de uma das princesas, das mais antigas casas reais e consideradas cortes europeias, estava arregimentando políticos, militares e empresários para o seu casamento com o herdeiro da coroa estabelecida no Rio de Janeiro.

Se um lado este projeto era temerário, na contrapartida significava prestígio, lucros e consolidação de algo que parecia efêmero. Para tanto havia necessidade de um governo competente. Atualizado, ágil e coerente com os governos das nações civilizadas da época.
Fig. 01 –  A transferência da Corte Lusitana, de LISBOA ao RIO de JANEIRO, trouxe vantagens tanto ao Brasil como deu oportunidade a esta corte europeia de se adaptar - não só ao NOVO MUNDO -  como também ao NOVO TEMPO, a NOVA SOCIEDADE e a NOVA ECONOMIA que emergiram após a Revolução Francesa e ao final da tropelias napoleônicas. Os dois monarcas DOM JOÂO VI como DOM PEDRO I  souberam ter suficiente INTELIGÊNCIA, VONTADE e SENTIMENTOS nestas novas circunstâncias.

CORREIO BRAZILIENSE VOL. XVIII. Nº 106, MARÇO de 1817 pp.300-304.

Ministros de Estado no Rio-de-Janeiro.

He bem sabido, que as differentes Repartiçoens das Secretarias de Estado no Rio de-Janeiro. se achavam todas servidas por dous Secretários de Estado unicamente, a saber o Marquez de Aguiar[1] « o Conde da Barca; agora, porém, se acha somente o Conde com todas as Repartiçoens[2]; porque as moléstias e idade do Marquez, o incapacitam absolutamente para o serviço publico.


[1]  MARQUES de AGUIAR – Fernando José de Portugal e Castro (1752-1817) https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Jos%C3%A9_de_Portugal_e_Castro


[2]  CASA da SUPLICAÇÂO e DEMAIS REPARTIÇÔES   http://linux.an.gov.br/mapa/?p=2832
MARQUES de AGUIAR – Fernando José de Portugal e Castro (1752-1817) https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Jos%C3%A9_de_Portugal_e_Castro
Fig. 02 –  Com a doença do  MARQUES de AGUIAR - Fernando José de Portugal e Castro (1752-1817) - e a sua morte em 1817 -  a Corte Lusitana, de LISBOA refugiada no  RIO de JANEIRO, confiou as suas competências  ao CONDE da BARCA. Este também viria a sucumbir no Rio de Janeiro  Este duplo desaparecimento evidencia a sabedoria dos  dois monarcas DOM JOÂO VI como DOM PEDRO I  que souberam contornar este duplo revés e ter suficiente INTELIGÊNCIA, VONTADE e SENTIMENTOS nestas  circunstâncias adversas.

O decreto que encarrega o Conde da Barca das Repartiçoens, que elle ainda naõ tinha, he o seguinte.

 Hei por bem encarregar o Conde da Barca, Ministro e Secretario de Estado dos Negócios da Marinha e Dominios Ultramarinos, da Presidência interina do meu Real Erário, em quanto durar o impedimento de moléstia do Marquez de Aguiar, rubricando por commissaõ os despachos interlocutorios, e de tarifa, dados em conseqüência de folhas processadas, e por mim mandadas pagar ao actual Thesoureiro Mor do mesmo Erário, Baraõ de S. Lourenço[1].


[1] - BARÂO de SÂO LOURENÇA Francisco Bento Maria Targini (1752-1827) - https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Bento_Maria_Targini
BARÂO de SÂO LOURENÇA Francisco Bento Maria Targini (1752-1827) - https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Bento_Maria_Targini
Fig. 03 –  O BARÂO de SÂO LOURENÇO -  Francisco Bento Maria Targini (1752-1827) foi o tesoureiro da Corte Lusitana de LISBOA refugiada no RIO de JANEIRO. Apesar das discordâncias do CORREIO BRAZILIENSE em relação à sua política, à sua titularidade de nobreza e dos seus negócios, Targini mostrou serviço além de um conhecimento  da nova Filosofia de KANT bem superior à média da nobreza e da corte portuguesa 
 O mesmo Conde da Barca o tenha assim entendido, e nesta conformidade o faça executar, expedindo as competentes ordens, por este Decreto somente, sem embargo de quaesquer leys, regimentos ou disposiçoens em contrario. Palácio do Rio-de-Janeiro em 30 de Dezembro de 1816. Com a rubrica d' El Rey nosso Senhor.— Cumpra-se e registe-se. Rio-de-Janeiro, em dous de Janeiro de 1817. Com a rubrica do Exellentissimo Conde da Barca."
Fig. 04 –   O CONDE da BARCA - Antônio Araújo e Azevedo 1754-1817) foi um dos ministros que mais incentivou a transferência da Corte Lusitana, de LISBOA ao RIO de JANEIRO. Faleceu nesta cidade, em 1817, depois do colocar os fundamentos de instituições científicas e históricas e artísticas. Com o seu conhecimento diplomáticos -  adquiridos na França, Alemanha e Rússia – foi responsável pela  ao Brasil da MISSÃO ARTÌSTICA FRANCESA.  Evidente que a sua INTELIGÊNCIA, sua VONTADE e os SENTIMENTOS submergiram numa cultura entrópica. Com sua morte precoce suas iniciativas foram transformadas em atividades burocráticas e aptas apenas para justificar cargos de cujas competências o seu dono pouco conhecia, queria ou sabia apreciar.   


Naõ podemos deixar de lamentar o estado, em que por tam longo tempo se tem conservado o Ministério do Brazil, unicamente nas maõ de duas pessoas, e agora reduzido só a uma única.
Fig. 05 –  Um NOVO MUNDO,  uma NOVA SOCIEDADE e  uma  NOVA ECONOMIA estavam  emergindo nu   NOVO TEMPO que se seguiu  à Revolução Francesa e ao final das tropelias napoleônicas. O mapa POLITICO mundial se redesenhava enquanto a maioria das colônias ibéricas, na América,  proclamavam a sua soberania. O casamento de Princesa  Leopoldina com Dom Pedro I deve ser visto neste novo contexto. A corte lusitana do Rio de Janeiro aproveitava a distância geográfica de Portugal, ao mesmo tempo em que estavam reatando os laços com as tradicionais monarquias europeias..
[clique sobre o mapa para ver detalhes]
Na marcha ordinária dos Negócios, se tem sempre julgado necessarios os serviços de quatro Secretários de Estado nas quatro principaes Repartiçoens, e nas presentes circumstancias do Brazil, aonde he preciso crear tudo de novo, e attender a uma infinidade de estabelecimentos, que se devem accommodar a um paiz nascente he impessivel, que um ou dous Secretários de Estado possam attender a tudo. A conseqüência inevitável desta falta de Ministros responsáveis he, que os negócios saõ dirigidos por officiaes de Secretaria e outros agentes subalternos, com manifesto detrimento da causa publica.
Fig. 06 –    O “BANDO” era uma das formas de comunicação  da Corte Lusitana do RIO de JANEIRO com as comunidades de todo interior do Brasil. O meio de comunicação oral e visual era destinada à   uma população analfabeta e sem outros meios de comunicação com o mundo exterior. Ao mesmo tempo o ritual do “BANDO” era uma forma de intimidar, manter submissa e coagir uma população  pacata. A maioria das comunicações era para arrecadar novos e mais impostos.. Os textos eram fixados nos pelourinhos. A população se vingou da designação “BANDO” e o atribuiu a qualquer ajuntamento de malfeitores. Da mesma forma esta população irá atribuir aos seus cães os títulos nobiliárquicos após a queda da monarquia brasileira.  .

A Corte Lusitana buscava reproduzir-se a mesma por meio dos seus perpétuos associados.

 Por exemplo; o Conde da Barca, impossibilitado de attender a todas as repartiçoens, de que se acha encarregado, deixa os negócios do Erário à disposição do Thesoureiro Mor .* este vale-se do Samuel, ou de outro agente desconhecido, o qual talvez entregue ainda a terceira pessoa aquillo de que o incumbiram; depois as contas saõ examinadas em particular, talvez por amigos desses que as fizeram, e como nunca apparecem em publico, naõ ha meio nenhum de ratificar os erros, ou descubrir as fraudes nos casos em que ellas se tenham practicado, por algum desses indivíduos. He preciso confessar, que a escolha de Ministros de Estado se tem cada vez feito mais e mais dificultosa em Portugal; pela feita de educação publica, da leitura de livros e jornaes políticos, e pela negligencia de fazer viajar em character diplomático pessoas de instrucçaõ e talentos, que aprendam practicamente, nos paizes estrangeiros, os systemas de governo e as formas de administração, que se vam adoptando nos differentes paizes da Europa e da América.
A endogenia, que a Corte Lusitana praticava desde séculos,  estava chegando ao seu final com a emergia e domínio da lógica instaurada pela Era Industrial. Outra lógica - derivada de uma nova infraestrutura – solapava uma a uma os rituais, os mitos e as práticas deste sistema de governo. A circulação das informações tonava-se mais   rápida e eficiente. Os controles da inquisição, as fortalezas que cercavam a posse da colônia e a velha hierarquia nobiliárquica estavam se tornado não só obsoletas, mas ridículas e pouca eficácia política, social ou econômica.
Se as pessoas, que cercam, a El Rey, ou saõ conhecidas por Sua Majestade, forem todas da classe daquellas, que naõ tem outras ideas senaõ as que adquirem no seu paiz, e cheias dos prejuizos de educação e de familia, que contrahem naturalmente os homens, que naõ associam senaõ com um pequeno numero de pessoas, he claro que EI Rey naõ pode fazer a sua escolha para Ministros senaõ d' entre essas pessoas que conhece, e por tanto seraõ os seus Ministros pessoas de acanhadas ideas, que desejarão continuar com os systemas velhos, no meio de um mundo moral novo, e faraõ com que a sua naçaõ fique estacionaria, quando naõ dê passos retrogrades, ao mesmo tempo que os demais povos vam fazendo melhoramentos em todos os ramos, das sciencias, das artes, e da civilizaçaõ.  He por este motivo, que o plano de admitir a liberdade dos Cultos no Brazil, tem encontrado a mais decidida opposiçaõ em um individuo, que suppsoto naõ seja Ministro d'Estado tem grande influencia nos negócios públicos na Corte do Rio-de-Janeiro; e que supposto seja homem muito honrado, e talvez hábil jurisconsulto Portuguez, nunca fez estudos políticos, que o habilitassem a julgar com exactidaõ sobre matérias de Estado, e nunca vio mais terra do que aquella em que nasceo; e por tanto naõ poderá jamais comparar os methodos de administração, que ha no mundo, para delles tirar o que for melhor para seu paiz
A PRINCESA  LEOPOLDINA nos JORNAIS de VIENA http://ihp.org.br/26072015/lib_ihp/docs/ctscb20080212b.htm
Fig. 07 –  As tratativas e o efetivo casamento de PRINCESA LEOPOLDINA (1797-1826) com DOM PEDRO I  foram meios postos ao alcance da Corte Lusitana de LISBOA refugiada no RIO de JANEIRO. Trouxeram meios para se conectar com um NOVO TEMPO, uma NOVA SOCIEDADE,  uma NOVA ECONOMIA e uma NOVA POLÌTICA.. Se Portugal -  muito menos o Brasil - tiveram raros momentos significativos no Congresso de Viena,  no contraditório o efetivo casamento de DONA LEOPOLDINA trouxe INTELIGÊNCIA, VONTADE e SENTIMENTOS essenciais para a emergência, exercício e manutenção da  soberania brasileira  

Casamento de S. A. R, o Principe da Beira.

S. A. I. a Archiduqueza Leopoldina de Áustria partirá de Vienna para o Brazil no mez de Junho; em uma esquadra Portugueza que a irá receber em Liorne ou Trieste: o commando desta esquadra foi dado ao Chefe-de-Esquadra Henrique da Fonceca Souza Prego, que arvorará a sua bandeira na náo D. Joaõ Vl, que se acha actualmente no Tejo.
Fig. 08 –  O único porto marítimo que o Império AUSTRO-HÚNGARO possuía, em 1817, era o de TRIESTE. Para este porto foi mandada a esquadra lusa, fundeada em LISBOA, para o transporte de Dona Leopoldina bem como de sua corte de damas, cientistas, artistas e  operários para a viagem até a Corte Lusitana, do RIO de JANEIRO. Nestas  circunstâncias  DOM JOÂO VI como DOM PEDRO I  souberam cercar com  as suas INTELIGÊNCIAS, VONTADES e SENTIMENTOS o evento e abrilhantá-lo  com o máximo de publicidade,

A ceremonia de entregar a Princeza terá lugar no Rio-de-Janeiro; e o Conde Von Eltz a acompanhará como Commissario do Imperador para a entrega. Toda a corte da Princeza, portanto, a seguirá até o Rio-de-Janeiro; e tem havido muitas Senhoras da primeira grandeza, que tem mettido empenhos para ser da comitiva; a (-fiai se diz será composta do Senescal, Conde Edling (de idadede 84 annos) seis Damas do Palácio; quatro Pages, seis nobres Húngaros; seis guardas Austríacos, seis Camaristas, um Esmoler Mor ou Capelão
Fig. 09 –  O ambiente de origem – Palácio de AUGARTEN - de Dona Leopoldina antes de sua transferência da Corte Lusitana, de LISBOA ao RIO de JANEIRO, trouxe vantagens tanto ao Brasil como deu oportunidade a esta corte europeia de se adaptar - não só ao NOVO MUNDO -  como também ao NOVO TEMPO, a NOVA SOCIEDADE e a NOVA ECONOMIA que emergiram após a Revolução Francesa e ao final da tropelias napoleônicas. Os dois monarcas DOM JOÂO VI como DOM PEDRO I  souberam ter suficiente INTELIGÊNCIA, VONTADE e SENTIMENTOS nestas novas circunstâncias

A isto accresse que muitos homens de letras, artistas, e considerável numero de trabalhores tem requerido passagem para o Brazil nesta occasiaõ; e naõ podemos deixar de dizer aqui, que he este um dos melhores presentes, que a Princeza podia levar ao Brazil.
Fig. 10 –   Francisco I, o pai da Princesa  Leopoldina, foi o anfitrião do Congresso de Viena que traçou os destinos da civilização ocidental  após a Revolução Francesa e ao final da tropelias napoleônicas. Humilhado por Napoleão que lhe tirou o título de Imperador após a derrota de Austerlitz  e ao mesmo tempo em que uma das suas filhas havia sido humilhada pelo audacioso corso.. O casamento de sua filha a Princesa Leopoldina  com o príncipe  DOM PEDRO trouxe para o Novo Mundo a INTELIGÊNCIA, a VONTADE e os SENTIMENTOS cultivados numa das cortes e numa das  mais antigas da Europa

Enquanto a Corte Lusitana seguia a própria lógica o povo de Lisboa estava chegando ao desespero com a falta de produtos de primeira necessidade.

A velha política do “PÃO e CIRCO” - ou dos espetáculos públicos, propiciados e patrocinados pela corte e pelos seus associados, com o dinheiro dos tributos do povo - não fechava as contas. Evidente que estes produtos estavam nas mãos e sob o controle dos associados à corte.

  Com o esgotamento das minas de ouro do Brasil e os juros escorchantes provocados pela derrapada do Tratado de Methuen[1] e a sequencia dos ajustes a favor dos bancos e a mistura explosiva da política e da economia, tirava qualquer margem de negociação da diplomacia lusitana. Acresce-se a negação e a proibição de instaurar a lógica da Era Industrial no Brasil pelo alvará de Dona Maria, publicado em 05 de janeiro de 1785[2], reduzia o povo português como cativo dos associados e aproveitadores das benesses da corte e o tornava dependente e refém para a satisfação das suas necessidades básicas.

As ordens e as contraordens -  provenientes de um governo formado por associados e aproveitadores das benesses da corte – tendia a só aumentar a confusão e o desespero.




LISBOA.  Edictal do Senado da Câmara, sobre a escacez do paõ.

CORREIO BRAZILIENSE VOL. XVIII. Nº 106, MARÇO de 1817 p. 239



SENDO presente no Senado da Câmara, pela Representação do Administrador da Almotaceria, de dezesete do corrente, quo nestes próximos dias passados tem havido falta de Paõ. Ordena o mesmo Senado, que em quanto durar a dieta falta fique prohibida a factura, e venda de toda a qualidade de Bolos, e Bíscoutaria, dando para o consummo dos que se acharem feitos, tres dias, depois da affixaçaõ deste Edital; e isto debaixo da pena do perdimento de todos os Bolos, e Bíscoutaria, que for achada exposta à venda, ou nas suas respectivas Fabricas, e de dous mil reis de condemnaçaõ, a metade para a Fazenda da Cidade, e outra para os officiaes, que fizerem a apprehensaõ. Lisboa 18 de Janeiro de 1817.

MANOEL CYPRIANO DA COSTA.

Fig. 11 –  O PELOURINHO era o local e a forma de a Corte Lusitana, de LISBOA - depois a do  RIO de JANEIRO -  impor, por escrito, as suas ordens e suas contraordens. No Brasil era também o lugar da aplicação dos castigos exemplares. Qualquer desrespeito, ou atentado, a eles significava um desafio ao poder metropolitano português. Por estas razões os PELOURINHOS do BRASIL foram arrasados a partir do dia 07 de setembro de 1822. Permanecerem as praças com estas designações do instrumento visível do colonialismo lusitano. O PELOURINHO de Alcântara do Maranhão foi localizado no lixo da cidade, quase um século depois da independência.  

Edictal do Senado revogando o Edictal acima.

Tendo constado no Senado da Câmara, que a falta de Paõ, que houve nestes últimos dias nas Praças desta Cidade, procedera de terem alguns Padeiros deixado de entrar nas mesmas Praças com as quantitades de Paõ, a que se haviaõ obrigado, pretextando por esta fôrma faltas de Trigos, quando agora se vem a conhecer o contrario. Manda o Senado ficar sem effeito o Edictal que em conseqüência havia mandado affixar, podendo-se continuar na fartura, e venda de toda a Bíscoutaria, prohibida pelo referido  Edictal.  Lisboa 27 de Janeiro de 1817.
MANOEL CYPRIANO DA COSTA

SIQUEIRA Domingos 1768-1835 Sopa_dos_Pobres_em_Arroios_(1813)_Gravura 42 x 78 cm https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sopa_dos_Pobres_em_Arroios_(1813)_-_Domingos_Sequeira.png
Fig. 12 – A  multidão a espera de PÃO no Largo do Arroio em LISBOA fornece uma imagem do  regime da  Corte Lusitana, refugiada  ao RIO de JANEIRO em março de 1817. Um NOVO TEMPO, uma NOVA SOCIEDADE e uma NOVA ECONOMIA baseado na ERA INDUSTRIAL era posto em cheque pelo  m regime consolidado ao longo da ERA AGRICOLA A corte de DOM JOÂO VI conseguia contornar este cheque,  com muita dificuldades. Porém nesta passagem perdeu  e entregou muitos dos  privilégios acumulados por meio dos  seus cacoetes monárquicos  e autocráticos. Para procrastinar e contornar o perigo eminente de outra REVILUÇÂO FRANCESA as autoridades residentes em Lisboa organizavam SOPAS coletivas para amainar a fúria popular. Evidente que os atravessadores, os aproveitadores de qualquer desgraça coletiva estavam escondendo alimentos e cobrando preços escorchantes dos infelizes necessitados.. É o mesmo quadro se repete em março de 2017 com os refugiados mundiais.
[clique sobre a imagem para ver detalhes]

Falta de paõ em Lisboa.

CORREIO BRAZILIENSE VOL. XVIII. Nº 106, MARÇO de 1817 p. 304-305.

A p. 239 publicamos dous Edictaes do Senado da Canif Lisboa, o segundo dos quaes revoga o primeiro, dane razaõ desta repentina mudança, que o primeiro Edicts passado ignorando os que o faziam o verdadeiro estado nrgocio sobre que davam as providencias. Porém naõ he so isso que nos induz a fallar dos Editais ha outra razaõ, que he o naõ se dizer no segundo a causa verdadeira de naõ poderem os padeiros de Lisboa fornecer a cidade com paõ; causa que o Senado de Câmara naõ pode ignorar, se perguntasse a qualquer padeiro a razaõ porque fazia paõ; e naõ haveria, quem lhe naõ pudesse dar a eeplicaçaõ seguinte.

He custume, quando chega o Natal, fechar-se o ter até que toma o balanço; e os padeiros, que isto sabem, vem-se de graõ a tempo, para naõ faltarem com paõ cozii praça, pela porçaõ a que se obrigam. No tempo do Admmistrador antigo trabalhava a contadoria mesmo nos dias-sar de modo que em o primeiro dia de Janeiro logo o mercade dia publicamente.

Este anno esteve o terreiro fechado por alguns vinte naõ só pelo balanço, mas também porque houve ali um pequeno roubo. O Erário sempre teve também este custur suspender as suas operaçoens, quando dava balanço; aprendendo aquellas repartiçoens da practica taõ usual particulares, que dando balanço a seus livros e fazendí um dia determinado, nunca isso lhes pôde impedir nem im a continuação de seu tracto: bem estava o mercador, se vez que quizesse dar balanço a seus livros fosse obrigado char a porta. Porém, deixando de parte o absurdo de tal custume, a vei he, que, neste caso aproveitáram-se os padeiros da de si prolongaçaõ de tempo em que esteve o terreiro fechado, taram em trazer paõ á praça dando em razaõ o naõ se vi graõ; sendo o custume de se proverem de farinha de s excellente, para acautellar os accidentes, de naõ haver vento que moam os moinhos, e outros.

Abrio-se o terreiro, com os mesmos preços, que havia antes de se ter fechado, contra o que se esperava, pelo rumor de haver falta de trigo, e foi o concurso dos compradores quasi levado ao ponto de motim, porque todos esperavam próxima subida nos preços, o que se verificou, ainda que gradualmente.

 O Almotacel deo parte ao Senado, que apparecia no mercado pouco paõ fabricado, o Secretario, Manuel Cypriano, que fez e desfaz no Senado como lhe parece, saío-se logo com o edictal de sua cabeça; a persuadir o povo que havia falta de pad, de maneira que o Governo foi obrigado a mandar, por avizo, que se publicasse o segundo Edictal, contradizendo o primeiro; e levantou os direitos das barricas de farinha entradas pela barra. Ja que falíamos neste Secretario, diremos também, que foi por cabeça delle, que se impôs um tributo para as exéquias da Raynha, por cuja occasiaõ se queimou a Igreja de S. Juliaô. Aquelle Secretario, juncto com o Juiz do Povo de quem he Assessor, apresentaram uma conta de despezas nas taes exéquias, de nove mil e tantos cruzados; e se expedio uma ordem para que os Juizes dos officios cobrassem uma derrama de 1.200 reis de cada Mestre de lojem, e 100 reis de cada official; o que se calcula chegar a mais de 30.000 cruzados, quando as allegadas despezas eram nove mil. He por estes e outros bons governos, que nos dizem achar-se em Lisboa a carre de porco pelo preço he 6.400 porque ha um monopolista que tem 30.000 cabeças.
Fig. 13 –  A figura sinistra e truculenta de William Carr BERSFORD (1768-1854) pairava silenciosa, ameaçadora e receosa de qualquer questionamento no espaço vazio provocado pela transferência precipitada da Corte Lusitana, de LISBOA ao RIO de JANEIRO. De um lado DOM JOÂO VI deviam-lhe a sobrevida e defesa intransigente do território lusitano diante das ameaças concretas das legiões de Napoleão Bonaparte. Desaparecido este perigo o oficial irlandês deixou-se ficar. Nesta permanência mandou enforcar sumariamente General Gomes FREIRE de ANDRADE e que mereceu execução exemplar[1]  além dos seus liderados jovens oficiais de a Academia Militar de Santarém. Contudo a estratégia britânica sempre foi retirar-se para as suas ilhas depois de IMPOR AOS OUTROS a SUA ORDEM o que se repete em março de 2017 com a retirada estratégica pelo BREXIT

O Almotacel deo parte ao Senado, que apparecia no mercado pouco paõ fabricado, o Secretario, Manuel Cypriano, que fez e desfaz no Senado como lhe parece, saío-se logo com o edictal de sua cabeça; a persuadir o povo que havia falta de paõ, de maneira que o Governo foi obrigado a mandar, por avizo, que se publicasse o segundo Edictal, contradizendo o primeiro; e levantou os direitos das barricas de farinha entradas pela barra. Ja que falíamos neste Secretario, diremos também, que foi por cabeça delle, que se impôs um tributo para as exéquias da Raynha, por cuja occasiaõ se queimou a Igreja de S. Juliaõ[2]. Aquelle Secretario, juncto com o Juiz do Povo de quem he Assessor, apresentaram uma conta de despezas nas taes exéquias, de nove mil e tantos cruzados; e se expedio uma ordem para que os Juizes dos officios cobrassem uma derrama de 1.200 reis de cada Mestre de lojem, e 100 reis de cada official; o que se calcula chegar a mais de 30.000 cruzados, quando as allegadas despezas eram nove mil. He por estes e outros bons governos, que nos dizem achar-se em Lisboa a carne de porco pelo preço he 6.400 porque ha um monopolista que tem 30.000 cabeças.
Jean Baptiste Debret-autorretrato trabalhando na taberna
Fig. 14 –  Os efeitos benéficos e as mudanças culturais, econômicas e políticas que se vislumbravam com o enlace das duas casas reais eram todas apenas potenciais.. Os cientistas, artistas e operários - hospedados na Corte Lusitana de LISBOA instalada no RIO de JANEIRO na época  de  DOM JOÂO VI - não encontravam ambiente, equipamentos e estímulos além da boa vontade, da inteligência e dos parcos recursos que eles traziam da Europa.

Na conclusão

O Rio de Janeiro, como capital do REINO UNIDO, modificou-se com presença, a  permanência e o efetivo funcionamento da corte lusitana.

Em contrapartida esta Corte Lusitana teve tempo, meios e coragem para repensar a si mesma. No seu agir foi suficientemente ágil para salvar, ao menos, a monarquia nos acontecimentos que tumultuavam a metrópole lusitana.  A falta de pão em Lisboa em 1817 era um dos sintomas da falência do regime monárquico monocrático e centralista construído e consolidado ao longo da ERA AGRICOLA.

Certamente a presença da corte, dos cientistas, e dos operários que acompanharam Dona Leopoldina não foi uma simples migração de uma única pessoa. Porém esta única pessoa arrastou consigo todo um sistema, uma civilização em projeto nacional e de soberania.

No entanto, apesar deste passo, o cenário próximo estava posto para as revoltas em Pernambuco, em Santarém culminando com o movimento que iria eclodir, em 1820, na cidade do Porto. Resultados cujas causas se acumulavam graças às práticas temerárias de um governo formado por associados e aproveitadores das benesses da corte monárquica,  monocrático e centralista construído e consolidado ao longo da ERA AGRÍCOLA.

 Fig. 15 –  Em março de 2017 se evidenciam cada vez o final de todas as esperanças e a fé cega nos ESTADOS NACIONAI. A multidão no Largo do Arroio em LISBOA, em março de 1817, se mundializou e não a espera só  PÃO, mas a DEMOCRACIA, o BEM ESTAR  e a SEGURANÇA  constituídos, mantidos reproduzidos ao longo da  ERA INDUSTRIAL.  As promessas e as esperanças da  ERA INDUSTRIAL foram aniquiladas e mostram  a sua falácia, ao longo de um NOVO TEMPO, uma NOVA SOCIEDADE e uma NOVA ECONOMIA da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL Os mais diversos regimes políticos, econômicos e sociais consolidado ao longo da ERA INDUSTRIAL estão em cheque novamente
O DELITO da SOLIDARIEDADE com os REFUGIADOS

A confusão e o desespero - provocados pelas ordens e as contraordens - só não foram mais catastróficos com o que restava da reserva moral de uma dinastia que se abria para outras dinastias, se associava a novos agentes e distintos dos britânicos. Certamente a distância, o silêncio e a reflexão efetivados no Novo Mundo mostraram outros horizontes possíveis.

Em síntese estes acontecimentos NÃO FORAM REALIZADOS NO GRITO. Porém contribuíram decisivamente para que o BRASIL se aproximasse da linha definitiva na qual proclamasse a sua soberania e  a assumisse  de forma irreversível. Iria se somar aos estados nacionais surgidos sob o impulso da ERA INDUSTRIAL. Em março de 2017 o BRASIL está ensaiando os passos vacilantes e a mentalidade apropriada à ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL para o convívio com 200 nações soberanas e o concerto planetário de uma civilização planetária.
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS.



CARGOS e FUNÇÔES

CASA da SUPLICAÇÂO

CONGRESSO de VIENA

CONSPIRAÇÂO de SANTAREM de 1817

CRONOLOGIA do PERÌODO JOANINO no BRASIL

CORREIO BRAZILIENSE de MARÇO de 1817

DONA LEOPOLDINA

DONA LEOPOLDINA nos JORNAIS de VIENA

Francisco I da AUSTRIA

OBJETOS de ÉPOCA

OLIVENÇA ou OLIVENZA

Os “BANDOS” 
Os “BANDOS no CEARÀ
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/bando-o-braco-forte-do-governo-portugues-1.1461051


PRIMÓRDIOS da REVOLUÇÂO LIBERAL de 1820


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