O
CONDE da BARCA, JOAQUIM LEBRETON e os IRMÃOS von HUMBOLDT.
“ O Conde da Barca foi assaltado, em
todas as gazetas Inglezas, como um partidista Francez. O mesmo Correio
Brazilienie copiou essas infâmias ¿ Quanto nos regogisamos de as poder
contradizer com a authoridade do Soberano?” Correio Braziliense, fevereiro de
1816. P.191
O Conde da Barca e
Hipólito José da Costa estavam em lados e regimes opostos em relação aos
franceses. O Conde da Barca sempre se pautou pela Ciência, cultura e Diplomacia
francesas, enquanto Hipólito tinha aderido ao lado britânico e contra Napoleão
Bonaparte. Temos de reconhecer no editor do CORREIO BAZILIENSE as virtudes e
para conferir qualidades mesmo naqueles que pertencem e militam num paradigma oposto ao seu.
Fig. 01 – Antônio de Araújo e Azevedo (1758-1817) - Ministro e Secretario de Estado dos Negócios da Marinha e
Domínios Ultramarinos do Reino Unido Portugal Algarves e Brasil o
1º Conde da Barca - foi o mediador, em 1816, entre a Missão Artística
Francesa do Brasil e a sua integração na corte lusitana hospedada no Rio de
Janeiro. Os
estudos, as pesquisas e os oportunos contatos sociais e culturais do CONDE da
BARCA com o pensamento e os agentes das Ciências e das Artes do seu tempo
trouxeram ao Brasil nomes, publicações e coleções científicas e estéticas que
mereceram alguma atenção muito depois do seu desparecimento no Rio de Janeiro
em 1817.
Acima de intrigas e de
mesquinharia pairava a busca dos fundamentos de uma civilização coerente como o
seu TEMPO, seu LUGAR e SOCIEDADE. O redator
do Correio Braziliense passou sempre cuidadosamente à margem do nome do Conde
da Barca. As vinculações políticas e ideológicas com a cultura francesa e com a
incipiente influência norte-americana eram motivos suficientes para silenciar
este nome. Apesar de todos estes óbices Hipólito José da Costa foi competente
para transformar suas próprias contradições em complementariedade de uma nova
civilização mundial que ambos queriam no Brasil, porém cada um ao seu modo.
O Príncipe Regente citou e homenageou o
Conde da Barca na ocasião da elevação do Brasil ao REINO UNIDO PORTUGAL
ALGARVES BRASIL. Este fato recebeu o
seguinte registro no:
CORREIO BRAZILIENSE, fevereiro de
1816, vol. XVI, Nº 93. Miscellanea, p.191 Despachos no Rio-de-Janeiro, aos 17 de
Dezembro, 1815.
He um louvável custume dos Senhores
Reys de Portugal, o distribuir mercês, e fazer promoçoens, nos dias solemnes do
Estado, e da Religião: custume de influencia benéfica, e por tanto digno de
conservar.se. Conforme a isto, no dia 17 de Dezembro, 1815, dia dos annos da
Augusta Soberana, se destacáram varias mercês, e entre outras vários títulos:
os mais conspicuos foram Gomes Freire de Andrade, Patriarca de Lisboa; e
Antônio de Araújo de Azevedo, Ministro e Secretario de Estado dos Negócios da
Marinha e Dominios Ultramarinos, Conde da Barca. Por duas razoens nos
regosijamos de vêr na lista das promoçoens estes dous indivíduos. Uma, porque o
seu character pessoal o merece: outra, porque naõ ha nestas promoçoens a menor
suspeita de influencia estrangeira. ¿ Quanto nao deve mortificar um verdadeiro
Portuguez, vèr que se da um titulo a qualquer individuo, pela influencia de uma
corte Estrangeira ? Sempre que o Soberano se vé obrigado a tal fazer, bem caro
deverá pagar similhante condescendência. O Conde da Barca foi assaltado, em
todas as gazetas Inglezas, como um partidista Francez. O mesmo Correio
Brazilienie copiou essas infâmias ¿ Quanto nos regogisamos de as poder
contradizer com a authoridade do Soberano! Eia, que o homem velho morra agora;
que sejam quaes forem as queixas dos seus concidadãos contra elle, como membros
da mesma familia; naõ he o favor de uma Corte Estrangeira quem o elevou aquella
dignidade—• poderão dizer o mesmo outros Condes ? Prouverá a Deus que
pudéssemos fallar claro ao Soberano; porém escrevemos em Inglaterra, aonde uma
acçaõ de Libello pôde ser intentada, debaixo do pretexto, de que he sanecionada
pelo Soberano de Portugal. Porém este despacho do Conde da Barca, he igual a
muitos volumes, que poderíamos escrever, e tanto basta para vergonha de seus
antagonistas, se vergonha elles tivessem, em uma cara forrada de cobre.
Entre tantas, uma das contribuições positivas de Antônio
de ARAÚJO e AZEVEDO -o Conde da Barca - foi coordenar a vinda da Missão
Artística Francesa em 1816. Esta mediação tocava numa recente ferida e que estava
muito longe de cicatrizar. Muitos
lusitanos eram vistos como traidores por haverem apoiado o agora descaído
regime napoleônico. Os artistas em questão não eram simplesmente artistas
franceses. Eles constituíam a elite mais próxima de Napoleão Bonaparte. Quem
chefiava esta Missão não era menos que o “Secretário Perpétuo” do ‘Institut de France’,
Joachim Lebreton (1760-1819). Ele havia sido afastado pela política dos Bourbons
que estavam voltando ao poder na França.
Retrato Joachim
LEBRETON, por Adelaide Labille-Guiard,_1795_-_Nelson-Atkins_Museum_of_Art
Fig. 02 – A pintora
Adelaïde LABILLE-GUIARD (1749-1803) realizou o retrato de Joaquim LEBRETON na
época em que este ocupava o prestigioso cargo de SERETÀRIO PERPÉTUO do INSTITUT
de FRANCE. O
Institut de France[1]
foi criação da Revolução Francesa e o colocou no lugar da Universidade de
Sorbonne. Sob a cúpula do INSTITUT abrigam se Cinco Academias de notáveis[2]. Estas Academias orientam
as diversas Écoles entre as quais está a ÉCOLE des BEAUX-ARTS[3]. Este paradigma
revolucionário e mantido por Napoleão I foi profundamente afetado pelo retorno
dos Bourbons. Estes recriaram a Universidade Sorbonne para o ensino. LEBRETON
perdeu o cargo vitalício com esta reforma. O sob a
alta coordenação do Conde da Barca ele foi convidado para chefiar a
MISSÂO ARTÌSTICA ao BRASIL
Formou-se uma oposição surda em Portugal e no Brasil que lutava contra as contribuições
positivas do CONDE da BARCA, LEBRETON e o Barão Von Humboldt. Para esta
oposição o Brasil não carecia destes nobres, dedicados em tempo integral ao
estudo, iniciativas e ações de longo alcance. Ações, iniciativas e estudos com
consequências percebidas como desestabilizadoras para os velhos e arraigados
hábitos coloniais, da vassalagem e da servidão. Para ser NOBRE bastava ser um deles
e cuidar para não exercitar as mãos e a mente. No BRASIL existiam ESCRAVOS legais
para FAZEREM o RESTO e INDISPENSÁVEL e, assim, manter estes hábitos, pensamentos
e costumes na mais absoluta heteronomia dos donos do poder.
[1] - INSTITUT de FRANCE https://fr.wikipedia.org/wiki/Institut_de_France
[2] - ACADEMIES des BEAUX-ARTS https://fr.wikipedia.org/wiki/Acad%C3%A9mie_des_beaux-arts_(France)
Fig. 03 – A corte de Dom João VI, na sua apressada
retirada de LISBOA, não deixou para traz
as obras de arte que eventualmente poderiam ser saqueadas e levadas como
butim de guerra pela tropas napoleônicas. De outra parte após estas invasões a Missão
Artística Francesa trouxe obras de arte e estudos que poderiam constituir oportunas pesquisas estéticas e de técnicas
artísticas. O conjunto destas obras constitui a atual COLEÇÂO DOM JOÃO VI. A Missão Francesa motivou o fim da proibição
do uso da técnica da Pintura com tinta a óleo na qual Francesco COZZA era
mestre...
A obra do Conde da Barca
- ao trazer ao Brasil aquilo o que de mais prestigioso tinha reunido a corte
imperial da Napoleão - era vista como uma homenagem ao Corso que estava preso
numa ilha solitária no Atlântico Sul. Como tal também esta Missão constituía
uma ameaça potencial de apoio uma nova fuga e libertação de Napoleão Bonaparte.
Por esta razão a vigilância do novo embaixador dos Bourbons no Rio de Janeiro
tornou-se um patrulhamento milimétrico dos passos destes artistas franceses em
desgraça com o novo regime francês do Rei Luís XVIII. Vigilância especialmente dirigida
sobre LEBRETON o chefe da Missão.
Nicolas
d'ESCRAGNOLLE TAUNAY (1768-1830) Vista do Rio de Janeiro
Fig. 04 – Uma visão do Rio de Janeiro por um dos
membros da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA. Os integrantes
deste projeto forneceram uma soma significativa de imagens do Brasil e que de
outra forma não seriam registradas antes da invenção da fotografia. O próprio
tema da paisagem era algo que não estava na pauta dos temas da arte colonial
brasileira. A técnica da pintura a óleo era outra contribuição desta Missão
Francesa.
A Missão Artística
Francesa, de 1816, trazia ao governo do Brasil um verdadeiro PROJETO CIVILIZATÓRIO
COMPENSADOR que todo governo necessita. É possível avaliar a eficácia deste
projeto 200 anos depois percebendo a estética anterior do Brasil com aquela que
se seguiu.
Fig. 05 –
Apesar de silencioso, sem gritos e até sem continuidade aparente o
PROJETO CIVILIZATÓRIO da MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA evidenciou mudanças,
distinções e diferenças perceptíveis entre o REGIME COLONIAL e o REINO UNIDO em transição para o REGIME IMPERIAL BRASILEIRO . Evidente que não é possível falar de “CAUSA e EFEITO”, pois estas mudanças são perceptíveis em
várias culturas da época. Porém em outras não tanto. Assim os projetos desta
Missão Francesa equilibraram as contribuições de outras culturas abrindo estética,
intelectual e fisicamente o Brasil para o mundo sob o forte impulso da ERA
INDUSTRIAL. Esta busca de equilíbrio, de transformar as contradições
brasileiras em complementariedade confere, à Missão Francesa de 1816, as características
inerentes ao um PROJETO HISTÓRICO em busca de uma identidade própria e ainda no
porvir.
[Clique sobre o texto para ler]
Antes desta Missão a estética
do BARROCO dedicou-se a um trabalho anônimo traduzido numa série de eventos,
aparatos e instrumentos. A partir e após esta Missão os artistas ganharam
autonomia e cidadania visível na assinatura do seu nome e foros de contratos
formais. Assim o ano de 1816 pode ser
considerado a ABERTURA ESTÉTICA do BRASIL ao MUNDO OCIDENTAL. O governo
do Príncipe Regente Dom João VI fundou
no, dia 12 de
agosto de 1816, a Escola Real de Belas Artes e Ofícios Este governo oferecia erudição estética tanto para as
ARTES como para os OFÍCIOS[1].
Este dia passou a ser o DIA da ARTE no BRASIL como o dia 11 de agosto era - e continua
sendo - o DIA do ADVOGADO devido a fundação da primeira Faculdade de Direito do
Brasil no dia 11 de agosto de 1827[2].
O BRASIL passava a cuidar de sua própria burocracia e a sua reprodução por
tempo indeterminado.
[1] Os OFICIOS receberam, no Rio de Janeiro, uma Sociedade Propagadora de Belas Artes criada no
dia 23 de novembro de 1856 como mantenedora que fez funcionar, em 1857, uma
Escola de Artes Ofícios e ativa
até os dias atuais
[2] - FUNDAÇÂO DA FACULDADE de DIREITO no BRASIL https://pt.wikipedia.org/wiki/Faculdade_de_Direito_de_Olinda
Fig. 06 – Não há registro de prédio próprio da
Escola Real de Belas Artes e Ofícios, criada no dia 12 de agosto de 1816. LEBRETON
sugere ao CONDE da BARCA que poderia ser aproveitado um prédio vago. Já o prédio do
efetivo funcionamento
Academia Imperial de Belas Artes (AIBA),
criada no dia 15 de
Novembro de 1826 é da foto acima. Projetado por Grandjean de Montigny[1] fotografado por Marc
Ferrez e cujo portal se encontra no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. No
Regime Republicano foi aberta a Avenida Central (Rio Branco) do Rio do Rio de Janeiro onde se inaugurou o
prédio da ENBA e atual Museu de Belas Artes
A carta de LEBRETON, em
12 de junho de 1816 ao CONDE da BARCA é anterior em 60 dias da efetiva realização
desta criação institucional.
Tanto o CONDE da BARCA
como LEBRETON conheciam o Alexandre von HUMBOLDT (1769-1859) e o seu irmão
Wilhelm o Barão von HUMBOLDT (1767-1835) e quem haviam entrevistado. Alexander
em entrevista com LEBRETON exaltara a Academia de Belas Artes da cidade do
México além de textos publicados por ele. A Academia Real de San Carlos – Cidade do México
foi fundada em 1785 e levou o nome do patrono do Rei da Espanha inicialmente
Carlos III[2],
depois de Carlos IV[3] e pai de
Dona Carlota Joaquina e esposa de Dom João VI.
Diz o barão de Humboldt que a coleção
de gessos transportada para o México em beneficio da Academia, custou ao Rei da
Espanha, Carlos IV, perto de 200 mil francos...e que não se encontra, em
nenhuma parte da Alemanha, uma coleção de gesso copiada do antigo, tão bela [...].
É verdade que, desde 1803, Humboldt encontrou a ourivesaria não só na capital,
mas nas pequenas cidades do México, em estado de perfeição e de atividade
surpreendente, grande número de operários brancos, mestiços, ou índios enchia
os ateliers, em que se fabricavam serviços de baixelas de prata “no valor de
150 a 200 mil francos e que pela elegância e acabamento põem rivalizar com tudo
que se faz de mais belo nesse gênero nas partes mais civilizadas da Europa”.[4]
[1] GRANDJEAN de MONTIGNY https://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_Henri_Victor_Grandjean_de_Montigny
[2] Carlos III da Espanha https://es.wikipedia.org/wiki/Carlos_III_de_Espa%C3%B1a
[3] Carlos IV
(1748-1819) da Espanha https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_IV_de_Espanha
[4] - DAW ADES . Arte na América Latina. São Paulo : Cosac & Naify Edições , 1997 p.
27.
Johann
Christoph Friedric SCHILLER (1791-1805) – Alexander von HUMBOLD (1769-1859) –
Johanna Wilhelm Christina Carl Pridrich
BARÂO von HUMBOLDT (1767-1835) – Johan Wolgang von GOETHE ( 1749-1832)
reunidis em Weimar.
Fig. 07 – A tendência Neoclássica foi muito além da
estética. A retomada da concepção da Academia no sentido do SIMPÒSIO (banquete)
de NOTÀVEIS em praça pública de Platão, ganhou em Weimar uma forma apropriada
ao novo TEMPO e LUGAR. O
estimula a esta concepção veio do INSTUTUT de FRANCE e das suas CINCO ACADEMIAS
de notáveis pelo seu trabalho e obras. A UNIVERSIDADE - abolida pela Revolução
Francesa – voltou na França, em 1816, com o retorno do Regime do Bourbons
Nas observações acima de
LEBRETON torna-se nítido o PROJETO CIVILIZATÓRIO COMPENSADOR da VIOLÊNCIA que
um Estado é obrigado a usar e promover como delegação da VIOLÊNCIA e do
contrato que CIDADÃO AVULSO realiza com seu Estado. De outro lado as ações do
ESTADO repercutem do ponto mais alto até a base passando por todos os degraus
do seu poder, pois ele passou a ser agente colocado no topo político, econômico
e social. Devido ao seu gigantismo de um Leviatã e o centralismo dum Estado
Nacional as suas ações - como a criação e a manutenção de uma Escola de Artes e
Ofícios - não são exemplos passivos a serem imitados. Ao contrário, a Escola de Artes constitui, marca e impõe
civilizadamente o pertencimento político, social e econômica do cidadão ao seu Estado.
Jean
Baptiste DEBRET – interior brasileiro
Fig. 08 – Imagem das condições do trabalho intelectual
encontradas no Brasil por um dos membros da Missão Artística Francesa. Reflete a situação da corte lusitana hospedada
no Rio de Janeiro. A
população brasileira da época era composta de 50% de escravos. A população
livre era majoritariamente analfabeta. Para a nobreza a cultura era algo estranho,
inútil e até perigoso. Os estudos, as
pesquisas e as instituições culturais estavam sob o rígido controle da ‘Mesa da
Consciência’ do governo metropolitano e sob a ameaça constante da Inquisição.
Evidente que este pertencimento
pode ser mera formalidade e até as raias da corrupção. LEBRETON apresentou ao
Conde da Barca a sua experiência pessoal e funesta - para todas as partes - que
ele viveu na França
A observação relativa aos alunos é
igualmente apoiada em enorme inconveniente da escola da França, inconveniente
que tentei remediar em esforço inútil juntamente com dois Ministérios dispostos
a secundar-me. Consiste ele no fato de admitir-se à escola de Paris todos os
alunos que se candidatem com um fraco começo de desenho, sem exigir qualquer
grau de educação primária, nenhuma instrução de qualquer ordem. Como o ensino e
inteiramente gratuito, a pobreza para ali envia seus filhos, em lugar de colocá-los
em oficinas de artesões, onde teriam de
pagar pela aprendizagem. Cedo a vaidade da criança ou da família o impede de
retroceder..
Estas suas observações
eram preventivas, pois no Brasil não havia ainda este mal e nem a Escola de
Artes e Ofícios. Porém a realidade brasileira era bem mais cruel e avassaladora
de qualquer projeto, prevenção ou iniciativa.
O longo período do Regime colonial e a metade da população da escravidão
e sem o menor direito à cidadania e muito menos a qualquer instituição. Foram
uns poucos heróis que tiveram de enfrentar estes óbices em patamares sociais,
políticos e econômicos infinitamente inferiores aqueles da França.
O Brasil necessitava franquear a porta da ERA
INDUSTRIAL aproveitando os rearranjos da infraestrutura europeia os violentos
conflitos provocados pela Revolução Francesa e as guerras napoleônicas. O CONDE
da BARCA desenvolvera nos seus deslocamentos, contatos e observações diretas
esta passagem para a nova lógica industrial. Esta passagem necessitava
pesquisa, inteligência e mãos na tecnologia percebidas por LEBRETON, o Conde da
Barca e Von Humboldt. Contra esta visão militavam os efeitos e a própria geração que foi vítima do Alvará
de Dona Maria I de 05 de janeiro de 1785[1]
O mundo Europeu estava ingressando no mundo
máquinas cujos produtos remetia para as suas colônias além da mão de obra ociosa
na produção primária, agrícola e até industrial. Conforme carta, do dia 12 de
junho de 1816, de Joaquim LEBRETON ao CONDE da BARCA:
Acho que o Brasil poderia entrar bem
mais frutuosamente na partilha das perdas que enfrenta a indústria francesa, e
com as quais se beneficiam o norte da Alemanha, a Bélgica holandesa e os
Estados Unidos. Por uma única operação pode-se trazer de Paris pelo menos cem
operários escolhidos segundo o emprego que deles fosse proposto fazer, e que se
repartiriam por oficinas organizadas nos pontos mais úteis.
De outro lado o comércio
com os produtos industrias necessitavam de novas mentalidades, estética e
investimentos de capitais inclusive no trato e na institucionalização das
Escolas e Academias de Artes. Joaquim
LEBRETON faz resgados elogios ao Conde da Barca da Escola de Artes de Londres que
ele visitara pessoalmente.
Relativamente a venda observarei, sem
procurar estabelecer paridade, que no caso da Academia Rela de Belas Artes de
Londres, é o produto da exposição anual que faz inteiramente sua valiosa renda,
e ela não possui senão um meio século de existência. É com este capital
acumulado no Banco, que são pagos o Presidente, os professores da Academia, os
modelos, os prêmios, as viagens e a estadia dos alunos enviados à Itália para
ali se aperfeiçoarem. [...] Fez-me a Academia Real, a honra, certo ano, de
convidar-me a ir de Paris ao seu banquete solene. Falo assim de visu.
O gesto do redator do Correio Braziliense em atribuiu
a competência do CONDE da BARCA em saber manobrar cuidadosamente e com
sabedoria entre a contradição franco-britânica transfigurando-a em
complementariedade produtiva e civilizada. Já o trato de LEBRETON com o CONDE
da BARCA é mais próxima e fruto de longas negociações para um êxito mínimo da
Missão Artística Francesa no Brasil.
Com esta perspectiva o texto a
seguir está longe de um elogio formal e interesseiro:
[1] Alvará de Dona Maria I de 05 de janeiro de
1785 http://www.historiacolonial.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=978&sid=107
Conclusão
e assinatura da CARTA de LE BRETON ao Conda da Barca em 12.06.1816
http://www.dezenovevinte.net/txt_artistas/lebreton.pdf
Fig. 09 – A amizade e admiração e respeito reciproco entre o 1º Conde da Barca e Joaquim Lebreton é compreensível pelo ambiente
desfavorável a ambos tanto na Europa como pelo estreito meio político, cultural
e social que enfrentaram na corte lusitana hospedada no Rio de Janeiro. A sua alta formação, os estudos e as
pesquisas que apontavam para a lógica da ERA INDUSTRIAL e as mudanças
inadiáveis na medida em que o Brasil quisesse interagir no novo cenário mundial.
[Clique sobre o texto para ler]
O governo do BRASIL REINO fundou da Escola
Real de Belas Artes e Ofícios no dia 12
de agosto de 1816com
projeto diferente do que vinha sendo tratado por LEBRETON com o CONDE da BARCA.
O pensamento vivo do chefe da Missão Artística Francesa não durou mais do que
60 dias. Afinal “A FORMA é a MORTE da ARTE” na concepção de Paul KLEE.. Todos estes projetos perderam os seus
promotores com o desaparecimento do CONDE da BARCA em 1817 e de LEBRETON em
1819 e o retorno de Dom João a Portugal em 1821. A tradição colonial, a
heteronomia do súdito e do escravo analfabeto retornou ao comando da cena
pública e a sua lógica imanente. Sob o
comando desta tradição colonial, a heteronomia do súdito e do escravo começou a
funcionar a Academia Imperial de Belas
Artes (AIBA) no di 15 de Novembro de 1826. O projeto foi
salvo pelo trabalho continuado e silencioso de alguns mestres envelhecidos da
Missão Artística. No entanto acontecia o que Joaquim LEBRETON prognosticara em
12 de junho de 1816:
Há certo grau de velhice em que não se
podem mais lecionar as belas artes com resultado [....] a maioria se encontra sempre em estado de
declínio ou mesmo de caducidade
O Brasil NASCEU VELHO[1] e originário de culturas
mundiais velhas, desgastadas e de contraditórias. Se a velhice e ótima para a tradição e a memória,
no entanto a gerontocracia, no comando, é péssima para expressar o aqui e o
agora de uma instituição conectada com a vida e sua renovação.
Abigail de
ANDRADE (1864-1889)- Rua do Rio de Janeiro - 1889 - óleo 69 x 98.5 cm
https://pt.wikipedia.org/wiki/Abigail_de_Andrade http://www.dezenovevinte.net/artistas/co_abigail.htm
Fig. 10 – Na contramão da mitificação, do embalsamento
ou da naturalização da Missão Artística Francesa do Brasil é necessário admitir
que o seu PROJETO CIVIIZATÒRIO
COMPENSADOR permaneceu apagado na memória da esfera oficial e raramente ganhou
as ruas, mesmo do Rio de Janeiro. A pintora
ABIGAIL de ANDRADE registrou, no início
do Regime Republicano, a imagem que evidencia que a antiga capital imperial continuava entregue aos
hábitos coloniais no final do Regime Imperial
brasileiro.
Na conclusão são necessárias
três observações:
1-
a
necessidade e o sentido das lideranças para cultivo do pensamento e da sua
implementação na direção de um contrato institucional e concebido para
durar por tempo indeterminado;
2 - a força de inércia e
entropia alimentada e incrementada a partir da tradição renovada de heteronomia do Regime
Colonial e
3 - a presença do pensamento de
Alexandre Humboldt e a universidade do seu irmão no projeto de LEBRETON.
A carta de Lebreton ao Conde da
Barca vem motivada por este pensamento vivo dos irmãos von Humboldt. Na etapa
entre 1816 e 1826 pode-se cogitar da presença do pensamento de Humboldt ao
menos na fundação da Escola Real de Belas
Artes e Ofícios. Pensamento
de Humbold não visível a partir de 1826 na Imperial Academia de Belas Artes
(IABA) inclinada em direção da tradição lusa e francesa..
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS
DAW, Ades . Arte na América Latina. São Paulo:
Cosac & Naify Edições , 1997
MONNIER, Gérard. L’art
et ses institutions en France: de
la Révolution à nos jours. Paris:
Gallimard-Folio-histoire, 1995. 462p.
MORALES de los RIOS FILHO, Adolfo
(1858-1928). O ensino
artístico no Brasil. Rio de
Janeiro: IHGB, 1938. 429 p http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa285480/adolfo-morales-de-los-rios
.
PEREIRA GOMES Sônia et ali 180
Anos da Escola de Belas Artes: Anais d Seminário EBA180: Rio de
Janeiro: UFRJS, 1997 498 p.
-----------185 Anos da Escola de Belas Artes:
: Rio de Janeiro: UFRJ, 2001/2002, 224 p.
-----------Catálogo do acevo de artes
visuais do Museu D. João VI. Rio de Janeiro ( publicação vinculada ao
Projeto Integrado de Pesquisa 180 Anos da Escola de Belas Artes/UFRJ:
1816-1996) 300 p.
PEVSNER, Nikolaus (1902-1983). Las academias de arte: pasado y presente. Madrid :
Cátedra. 1982. 252p. – (edição brasileira
- Academias
de Arte: passado e presente. São
Paulo, Companhia das Letras, 2005). https://en.wikipedia.org/wiki/Nikolaus_Pevsner
FONTES
NUMÉRICAS DIGITAIS
Adelaïde
LABILLE-GUIARD (1749-1803)
ANDRADE,
Abigal de (1864-1890)
A
MISSÂO ARTÌSTICA FRANCESA no BRASIL 1816
BRASIL
NASCEU VELHO
BRASIL
REINO
ENSINO
ARTÍSTICO no BRASIL
FUNDAÇÂO
DA FACULDADE de DIREITO no BRASIL https://pt.wikipedia.org/wiki/Faculdade_de_Direito_de_Olinda
HILDEBRANDT
Eduard 1818-1869
LEBRETON Joachim (1760 França-1819
Brasil)
MANUSCRITO
de JOAQUIM LEBRETON (12.06.1816) ao
CONDE da BARCA
[transcrição
do manuscrito original de Lebreton, feita por Mário Barata em finais dos anos
1950 e publicada originalmente na Revista do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Rio de Janeiro: Ministério da
Educação e Cultura, 1959, pp.285-305)] .
Os IRMÃOS VON HUMBOLDT e uma PONTE
LONGE DEMAIS
Sociedade
Propagadora de Belas Artes[1]
criada no
Rio de Janeiro no dia 23 de novembro de 1856
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