OUTUBRO
de 1814 e 2014:
“Sirva o exemplo de escarmento”.
“Sabemos muito bem das tentativas que tem feito as pessoas mais
implicadas nestas desgraças da Naçaõ, para imputar a culpa aos Inglezes. Este
he o seu ultimo subterfúgio; havendo largado nas maõs dos Estrangeiros os
interesses nacionaes, querem agora sacudir a carga de seus hombros, e lançalla
ás costas dos Inglezes” Correio Braziliense VOL. XIII. Nº. 77. outubro 1814, p. 552
Domingos
Antônio de Siqueira o LUZITANO - Povo pede retorno do rei - Lisboa 17.12.1813
Fig.01. O povo lusitano tinha pouco a comemorar no fim das
guerras napoleônicas. Na sua angustia e depois da tripla ruina este povo não sabia mais a quem recorrer.
Este povo se exaurira entre os exércitos franceses e ingleses. Em outubro de 1814 estava esmagado econômica
e politicamente. Sentia-se abandonado pela corte e a mercê de atravessadores,
de mediadores e falsos tuteladores.
[Clique sobre a imagem para ver
os detalhes]
Em politica, esporte e em arte não existe perdão. Um pedido de
desculpa é muito pior do que o erro, a derrota ou fracasso em arte no esporte e
na política,. Certamente que errar é humano. Porém insistir no erro já é tolice
consumada. Pior ainda é achar um culpado e jogar o erro, a derrota e o fracasso
sobre este “bode expiatório” físico ou virtual.
O fazer arte é uma decisão livre e espontânea da vontade da pessoa. O
mesmo vale para quem compete no esporte ou resolve abraçar a carreira política
e nela concorrer para ocupar cargos e funções. Na política ninguém é obrigado a
continuar este exercício do poder por mais que honrada seja uma coroa e elevado
um trono e os seus rituais. Em outubro
de 1814 estava viva ainda a Rainha Maria I (1734-1816) que fracassara ao
exercer a política lusitana e renunciara e se recolhera à vida particular. No passado
das monarquias europeias estava bem viva a memória da rainha Cristina da Suécia
(1626-1689). A renúncia do Rei Eduardo
VIII (1894-1972) da Inglaterra ainda estava ainda para acontecer. Isto sem
mencionar e renúncia recente de um papa. Todos renunciaram sem pedir desculpas
ou apontar para o seu insucesso “bodes
expiatórios” físicos ou virtuais.
João CARDINI - BATALHA de VIMEIRO 21.08.1808
Ingleses e Portugueses contra franceses.- detalhe superior
Fig.02. O povo
lusitano era motivado e alimentado visualmente e por uma rígida parafernália
simbólica arcaica para qual a corte e os cortesões recorriam sistematicamente
para manter os seus cargos. Em
outubro de 1814 estava em fase de montagem, fabricação das versões dos fatos e
dissimulação dos resultados da Guerra Peninsular e altamente desastrosa para os
interesses do POER ORIGINÁRIO e Portugal. No entanto os méritos reais ou
imaginados foram apropriados por regimes políticos mais cultos, ágeis e
solidamente ancorados em pactos nacionais mais experimentados no solo seu
próprio PODER ORIGINÀRIO. Todos eram armas simbólicas que deveriam desfilar e
convencer o Congresso de Viena e a convenção de Paris. Diante do Congresso de
Viena os méritos e os louros das
Guerras Peninsulares de 1808 até 1814 eram embolsados exibidos como troféus pela esperta e ágil
diplomacia britânica. Isto apesar de todas as perdas e os sacrifícios
indescritíveis dos lusitanos -.
Reflexoens
sobre as novidades deste mez. BRAZIL 1814 outubro Correio Braziliense VOL. XIII. Nº. 77.Miscellanea, pp. 549-552
.
Relaçoens da Corte do Rio de
Janeiro com as Potências Estrangeiras.
Lemos nas
gazetas do continente um paragrapho, que foi copiado em todos os Periódicos
Inglezes, e que julgamos mui importante; assim o submettemos aqui á ponderação
dos nossos Leitores. He o seguinte:—
"
Vienna, 14 de Outubro. Os Ministros de Áustria, Rússia, Prússia, Inglaterra, e
Hespanha, tiveram uma conferência preparatória aos 30 de Septembro. Suppunha-se que quando o Congresso se abrir formalmente,
se admittiraõ os
Ministros de Suécia, e de Portugal.
Segundo um artigo de Berlin o Principe da Coroa (de Suécia) naõ foi convidado
para Vienna cornos outros Soberanos; e de novo se insinuam protecçoens a favor
do filho do Ex-Rey de Suécia; mas quanto
a isto receamos que seja facto duvidoso,"
João CARDINI - BATALHA de VIMEIRO 21.08.1808
Inglese e Portugueses contra Franceses..- detalhe
Fig.03. O gravador
João CARDINI desenhou e gravou a glória do seu tempo e do passado lusitano.
Porém esta honesta produção simbólica foi
pouco conhecida, paga e difundida. Materializava a observação de Miguel
Ângelo para Francisco de Holanda de que
“mesmo quem gostava muito de suas obras o
português não paga os seus artistas. Era o contrário da Itália onde mesmo quem
não gostavam da arte a pagavam bem”. Miguel Ângelo tinha um ajudante
português que lhe passou este infortúnio do artista lusitano. Não adiantava
culpar o artista de colocar no centro de sua obra a bandeira britânica vencendo
a águia das legiões franceses. A culpa
não era nem dos franceses ou dos ingleses e nem adiantava censurar ou enforcar
o artista. Eles estavam ali apenas para evidenciar esta contradição portuguesa
Chamando
a attençaõ do Leitor para este importante paragrapho temos de pedir-lbe que naõ
perca de vista duas circunstancias, 1*. Que estando as gazetas do Continente
debaixo da rigorosa inspecçaõ dos Censores, tudo quanto nellas apparece,
principalmente sobre objectos politicos, saõ expressoens congenies ao modo de
pensar do Governo.
Joaquim Napoleão MURAT (1767-1815) Rei de Nápoles.
Fig.04. O pragmático e desconfiado Napoleão tentou colocar
nas cortes europeias a sua família e aparentados. Na sua condição de origem
tentou misturar o seu sangue plebeu com as mais antigas casas reais europeias. Poucos tinham o gênio, vontade e temeridade
dele. Porém, mesmo na França um dos descentes de sua família voltou como
presidente e depois ocupou o trono como Napoleão III, após o fracasso dos
primeiros Bourbons de República.
2°. Que
havendo-se mostrado duvidas, em quasi todas as gazetas da Europa, sobre a
conveniência e politica de admitir ao Congresso de Vienna Ministro do Rey de
Nápoles (Murat) e do de Suécia, (governado por seu jurado Successor Bernadotte)
como únicos Soberanos filhos das ervas ainda reynantes, creaturas de Bonaparte,
ou abortos da revolução de França; vem agora o nome do Soberano de Portugal
ligado com o de Suécia neste paragrapho.
Jean Baptiste Bernardote Charles XIV ou John como Príncipe
da Suécia por François_Gérard.
Fig.05. Os pragmáticos povos suecos e noruegueses conseguiram
um equilíbrio do poder político e impuseram uma monarquia constitucional que
equilibrou as antigas práticas reais simbólicas medievais com o os princípios
iluministas. O general Berdardote
um crítico azedo dos métodos napoleônicos entendeu este equilíbrio nórdico e
passou a praticá-lo. Assim fundou uma dinastia que se projetou tempo afora.- apesar
das críticas do editor do Correio Braziliense -
Seria até
ridiculo imaginar, que nenhum Governo da Europa, nem ainda qualquer dos seus
mais Ínfimos gazeteiros, pensasse seriamente, que os estabelecidos, antigos,
reconhecidos, sustentados, defendidos, protegidos, indubitaveis, legalissimos,
firmes, jurados, confirmados, &c. &c. &c. direitos da casa reynante
de Portugal ao throno Portuguez que occupa, se podessem porem parallelo ou
comparar com as pretençoens de um Murat, que foi eleito Rey de Nápoles pelo
usurpador desthronizado Napoleaõ ou Nicolao Bonaparte; ou com o General
Bernadotte, que nem Rey ainda se chama, e que, ao muito dizer, naõ he mais do
que o Successor supposto de um Rey da Suécia, naõ successor hereditário ou
eleito pelos legítimos representantes da Naçaõ ; mas somente levantado por Rey,
pela facçaõ descontente do Monarcha, que se aproveitou da impopularidade do legitimo
Rey para o deitar abaixo.
Dom Pedro SOUZA HOLSTEIN
Fig.06. O editor do Correio Braziliense não poupava criticas
a Dom Pedro SOUZA HOLSTEIN que abreviava como a “familia dos Souzas”. Este embaixador plenipotenciário lusitano - tanto em Paris e
em Viena - era intimamente aparentado com a casa real. Com
o cargo assegurado por este parentesco estava distante das funções que
momento exigia. Este fracasso destes
atravessadores, mediadores e falsos tuteladores pode ter convencido ao
Príncipe Regente prolongar sua permanência no continente americano. Esta
permanência cimentou uma classe política que conduziu a passagem para a soberania
brasileira sem os traumatismos e guerras que outros povos enações
experimentaram no início de sua soberania.
Se pois
os direitos da Casa reynante de Portugal naõ soffrem comparação com os dos dous
mencionados. ¿Qual pôde ser o motivo de os
ajunctarem em um paragrapho, pondo em duvida a admissão de geus ministros no
Congresso ?
Naõ se
pôde fazer outra conjectura racionavel, senaõ que os negócios politicos destes
tres soberanos, supposto que um seja legitimo por todos os títulos, e os outros
tenham só pretençoens mui duvidosas, ficaram por tal maneira decididos nos tractados
de Paris, que já náõ he necessária a sua ingerência nas negociaçoens de Vienna.
Será
fácil aos Negociadores Portuguezes responder a este argumento; porquanto, pelo
artigo 22 do tractado de Paris; todas as Potências, que o assignaram deviam
entrar no Congresso de Vienna: mas será mui difficultoso desfazer a impressão,
que preocupa os homens públicos da Europa contra as forças e recursos, que
possue o soberano de Portugal. A esta opinião desvantajosa he devido o tractar-se
em menoscabo um Governo, que insistimos em dizer, que tem meios de ser
poderoso, e de se fazer respeitar. Mas vejamos as causas próximas desta má
opinião.
Fig.07. O pintor Domingos Antônio SIQUEIRA o LUZITANO exaltou, nesta pintura,
o “General Junot como Consolo de LISBOA”.
Em outra obra o pintor exalta “As VIRTUDES de Dom JOÃO VI”. O maior conflito não eram os opostos
na visibilidade nos campos de batalhas das imagens e seus temas. O confronto era
entre o paradigma dos soberanos monocráticos, divinos centralistas contra as
ideias da igualdade, Liberdade e Fraternidade. Evidente que ambos produziram
monstrengos. Em outubro de 2014 este maniqueísmo esta longe de encontrar o seu
ponto de equilíbrio. Manifesta-se na crença em MITOS irreconciliáveis e
excludentes que renascem na forma de radicalismos, fundamentalismos face a um
pragmatismo materialismo crasso e carente de qualquer transcendência.
Quando os
povos de Portugal s revoltaram contra os Francezes em 1808; uma expedição
Ingleza, que estava preparada para certa empreza do outros lado do Atlântico,
teve ordem de mudar o seu destino, e dirigir-se a Portugal, para animar os
Portuguezes, e combater os Francezes.
Fig.08. Os franceses começaram a mostrar o seu serviço na
limpeza dos maiores e seculares tesouros das igrejas, os mosteiros e os museus
lusitanos. Este controle, seleção
de valores e o furto dos mais valiosos são realizados, em 2014, pelas grandes usinas de dados nas mãos e
gerenciados pelas nações e culturas mais ágeis com sólido e articulado serviço
diplomático das culturas mais adiantadas do planeta. O saque é o memo. Mudaram
os valores e a forma.
Nós
observamos sobre isto no nosso Periódico, escrevendo naquelle tempo, que êra
absolutamente necessário, que o Embaixador Portuguez em Londres, cuidasse era
naõ deixar ir aquelle exercito, sem estipular com o Governo inglez, que as suas
armas se considerariam somente como auxiliares, e de forma nenhuma como principaes;
e indicamos as funestas conseqüências, que se podiam seguir de se naõ attender
a esta essencial formalidade.
Fig.09. A invasão inglesa de Portugal veio por mar e de
noite. Encontrou uma terra e um povo lusitano abandonado. Esta armada britânica
obedecia à vagos e imponderáveis
tratados. Assim os britânicos não fizeram a menor em assumir o comando das
operações de guerra. Julgavam e enforcam aqueles que julgavam fracos ou
traidores. Em outubro de 2014,
interferências, as invasões e julgamentos sem apelo ou lógica civilizada ainda
é prática comum em nomede vagos interesses econômicos e de uma democracia que
nada pergunta e nem quer saber da cultura que afeta e interfere.
Esperávamos
naõ somente, que as nossas representaçoens fossem attendidas, pelo Ministro Portuguez,
mas que elle conseguiria facilmente o estipular taes condiçoens, que salvassem
completamente a honra nacional; porque em periodo nenhum puderam os Soberanos
de Portugal ter tanta influencia coin o Governo Inglez; visto que naquele tempo
a exclusão do Commercio, Inglez no continente era generalissima, c os
negociantes da Inglaterra olhavam para os portos do Brazil, como ultima appellaçaõ.
Deixou-.se passar este momento favorável, que nunca mais voltará: naõ se
estipulou cousa alguma á cerca das tropas Inglezas, que entrando victoriosas em
Lisboa, arvoraram a sua bandeira, e tomaram posse da esquadra Russiana, que se
achava no porto, e pertencia a uma naçaõ entaõ inimiga da Inglaterra, mas em
amizade com Portugal.
Fig.10. O povo ibérico esta cansado dos desatinos das suas
casas reais monocráticas, divinas e concentrador de poderes. Este ambiente abria
oportunidades para as ideias iluministas francesas. Porém estes estavam entregues aos desígnios de um imperador ainda mais
monocrático e concentrador de poderes e que valia de todo patrimônio simbólico
das casas reais decaídas. Em outubro de 2014 ainda não se dissiparam estas
forças simbólicas. Transfiguradas em novos rituais e suportes tecnológicos
continuam a gerar tantos ou males maiores
do aqueles que Napoleão levou aos campos europeus. No lugar dos olhos
vigilantes da águia napoleônica estão agora as antenas parabólicas colocadas
sobre os prédios mais altos, os morros e montanhas complementam que rebem e
emitem os sinais para os satélites em rede mundial..
Esta
negligencia, naõ podia deixar de produzir no espirito dos Russos ti ma
desastrosa opintaõ sobre a independência da Coroa de Portugal;—impressão,- que
se teria obviado, se convenientes estipulaçoens em Londres, sobre o exercito
auxiliar, declarassem o serviço a que. se destinavam áquellas tropas.
Accresceo
a-isto, que formando-se de novo a Juncta do Governo do Reyno em Lisboa, entrou
Como membro o Ministro Inglez ali residente; erro na verdade fatal para o
character nacional; porque se a infelicidade e mao nome do Governo Portuguez,
na administraçaõ de suas finanças éra razaõ bastante para que Inglaterra se naõ
quizesse fiar em lhe dar os subsídios, sem ter no Governo um Inspector seu, que
visse o modo porque esses subsídios eram empregados ; ao menos naõ fosse esse Inspector
o idêntico Embaixador Inglez; fosse outro qualquer indivíduo como nome de Commissario,
ou cousa similhante, e esta cautella conservaria a apparente, mas necessária
independência da Soberania da Naçaõ; desattendendo-se a isto se deo novo motivo
á opinião, de que os negócios de Portugal eram Governados pela Inglaterra.
Fig.11. No dia 19 de fevereiro de 1810, foram assinados tratados
de aliança e comércio com a Inglaterra. O lusitano Oliveira Martins comenta duramente (História de Portugal pp. 525 a 527) que: “mais uma vez a dinastia vendia o reino, como Esaú a primogenitura; mais
uma vez, depois de tantas, o Bragança, para conservar o trono, sacrificava o
país (...). A consequência destes tratados era ver, e logo se viu. O comércio,
a indústria portuguesa ficaram de todo arruinados. (...).
Seguiram-se
os infelizes tractados de 10 de Fevereiro, com que a familia dos Souzas
arreigou o seu poder; e com que a Europa toda se persuadio, de que havendo
alguma cousa a tractar com Portugal, bastava que as negociaçoens se fizessem
com a Inglaterra.
Ultimamente, deixando de fallar em muitos
outros factos de menor importância; posto que tendentes ao mesmo fim;
assignou-se o armisticio; em que Portugal foi comprchendido, sem que ali se achasse
um Ministro de Portugal para o assignar também; sofrendo-se que estipulaçoens,
importantissimas aos Portuguezes, fossem ajustadas por outras Potências; e isto
ao mesmo tempo que os amigos do Conde de Funchal espalhavam em Londres, que
aquelle Ministro tinha Plenos Poderes eventuaes para apparecer no Continente
sempre que fosse necessário.
Fig.12. A bandeira do povo lusitano figura apenas como mais um
troféu na caneca dedicada ao britânico
Lord Wellington Símbolo que
ignora todos os sacrifícios e perdas indescritíveis dos lusitanos - os méritos e os louros das Guerras
Peninsulares de 1808 até 1814. A forte indústria cultural e comércio físico e
simbólico britânicos tratavam de transformar esta imagem em valores econômicos
e em moeda sonante a favor do erário inglês. Os seus empresários e comerciantes
embolsavam e exibiam os troféus ajudada e motivada pela sua
esperta e ágil diplomacia britânica. Em
outubro de 2014 o quadro continuamuito próximo deste. Basta ver para onde foram
parar os lucros gerados pela FIFA no Campeonato de um dos muitos jogos
britânicos disputados no Brasil. A Olimpíada de 2016 promete não reverter este
quadro de heteronomia nacional.
He pois a
esta serie de actos, em que escusadamente se tem comprometido a dignidade e
apparencias de independência nacional, que attribuimos a desgraça de até se
duvidar, no paragrapho da gazeta Alemaã, que copiamos, se os Ministros do
Soberano de Portugal, seriam ou naõ admitidos ás negociaçoens de Vienna.
Naõ
julgamos preciso recorrer a exemplos mais antigos, os que temos referido bastam
para mostrar, qué a Corte do Rio de Janeiro deve conservar-se firme; até que
recobre o seu bom nome, e do vida fama; e até que prove ás demais Potências,
que tem recursos, e meios, que a podem fazer digna de consideração.
Fig.13. Na leitura dos textos dos tratados com os ingleses evidencia
a dura prática destes na concepção, redação e assinatura pelos cortesões de Dom
João VI. O alvo direto destes tratados eram também os tesouros, o trabalho e
produção do povo lusitano. Os
brasileiros eram vítimas indiretas. O distanciamento, o atraso e critica colocavam
barreiras aos ambiciosos britânicos. Critica e distanciamento brasileiro que e
tornava cada vez mais urgente a soberania das terras americanas sob o controle
e descontrole dos cortesões lusitanos. Certamente
o redator do Correio Braziliense era um destes críticos. O texto acima - de uma carta de Dom João VI - percebe-se
outra mentalidade do que os atravessadores,
de mediadores e falsos tuteladores que cercavam o Príncipe do Brasil e Regente em
exercício do cargo.
Sabemos
muito bem das tentativas que tem feito as pessoas mais implicadas nestas
desgraças da Naçaõ, para imputar a culpa aos Inglezes. Este he o seu ultimo
subterfúgio; havendo largado nas maõs dos Estrangeiros os interesses nacionaes,
querem agora sacudir a carga de seus hombros, e lançalla ás costas dos
Inglezes. Sejamos justos: os Inglezes poderiam pedir cousas que lhes fizessem conta
e fossem de seu interesse, mas nunca podiam pedir sacrifícios da honra
nacional, que humilhavam Portugal, o de nenhum lucro eram para a Inglaterra. He
pois uma calumnia contra o governo Inglez as insinuaçoens que se tem feito a
este respeito, em varias publicaçoens e impressos Portuguezes, evidentemente
fomentados por aquelles que se interessam em lançar a culpa aos Inglezes, para occultarem
os seus próprios crimes ou ignorância.
Como quer
que seja, suppondo, o que naõ concedemos, que os Inglezes pediram taes cousas ¿para que lhas concederam? Mostrem que foram
coactos no que fizeram, e entaõ os acreditaremos. Só a coacçaõ e força insuperável
os pode justificar, justiça, nem ainda apparencias de razaõ, naõ poderão elles
produzir para desculpa.
Fig.14. O titulo de “PRINCIPE
do BRASIL” deve ter motivado Dom João VI
para prolongar a sua permanência nesta parte o seu reino. Explica simbolicamente
a relutância real em voltar aos braços do povo lusitano após sete anos do fim das
guerras napoleônicas e a fazer sob a mais forte coação política e familiar. No entanto, em outubro de 2014, a presença
física das autoridades não consegue corrigir o distanciamento oceânico entre o
povo e os seus governantes a mercê de
atravessadores, de mediadores e falsos tuteladores. Estes substituíram a coroa
real física pelos cargos oficiais de
cujas funções nem quer ouvir falar.
A amizade
da Inglaterra he utilissima a Portugal, os soccorros e auxilios, que lhe tem
prestado saõ de summa importância, tera-no sido, e podem sello para o futuro;
he logo naõ so da honra, mas do interesse de Portugal naõ ser ingrato; mas
nenhuns benefícios possíveis ou imagináveis podem ser iguaes ou exigir a
submissão da independência de Portugal. Tudo depende das pessoas que a Corte do
Brazil empregar; as que até aqui tem empregado, ja se vê como tem obrado. Sirva
o exemplo de escarmento.
Em outubro de 2014 o povo brasileiro continua
esmagado econômico, político e pelas forças de segurança física e virtual.
Continua abandonado por aqueles que TOMARAM “POSSE” dos CARGOS
PÚBLICOS e que estão a mercê de atravessadores, de mediadores e falsos
tuteladores.
Domingos
Antônio de Siqueira o LUZITANO - Povo pede retorno do rei - Lisboa 17.12.1813 - Detalhe
Fig.15. O eterno povo
lusitano, brasileiro ou de qualquer outra paragem pouco tem a comemorar em outubro de 2014. As
guerras tribais, as ameaças do ebola e as desgraças das intempéries são combustíveis
para vender as noticias - pautadas e editadas - conforme os interesses das
forças hegemônicas. O panorama do
povo de 17 de dezembro de 1813 de Lisboa pouco difere da multidão aglomerada e ansiosa
da Rua 25 de Março e São Paulo, da Rua Voluntários de Porto Alegre ou do Largo
da Carioca. Povo que mais se defende dos mediadores, atravessadores e
tuteladores do poder da nação na qual este povo é origem, razão de ser e
pretextos. Estes entes governamentais, centralistas e onipotentes nada mais querem
saber das angustias e deste povo exaurido e anônimo.
[Clique sobre a imagem para ver os detalhes]
Certamente os políticos,
esportistas e artistas autênticos acham tolice consumada pedir desculpas. Em
vez deste pedido inútil tratam de não insistirem nos seus eventuais erros. Porém
os atravessadores, os mediadores ou tuteladores continuam a achar algum culpado
de plantão em quem jogar a sua culpa. Buscam um “bode expiatório” real ou imaginado, sobre quem jogar os seus erros
e de sua camarilha. Continuam a imitar as ações perversas das pessoas
ineptas e responsáveis pelas desgraças da Nação lusitana em outubro de 1814.
FONTES
BIBIOGRÀFICAS
HOLANDA, Francisco.
Diálogos de Roma: da pintura antiga. Lisboa: Sá da Costa,
1955, 158p.
MARTINS,
Oliveira (1845-1894) História de
Portugal – J.P. Oliveira Martins (3ª ed) Lisboa: Bertrand, 1882, 2 vol
FONTES
NUMÈRICAS DIGITAIS
CAMPANHAS INGLESAS em PORTUGAL e ESPANHA
CARDINI, João
CASA BERNARDOTE
BERNARDOTE Jean-Baptiste ou Carlos XIV
GUERRA PENINSULAR 1808-1814 na VISÃO INGLESA
CORREIO BRAZILIENSE de OUTUBRO de 1814
Dom Pedro de SOUZA HOLSTEIN (1781-1850)
Domingos Antônio SIQUEIRA (1768-1837) o
LUZITANO
Dona Maria I de Portugal
Rainha Cristina da Suécia
Eduardo VIII
PEIXEIRADA em Bayonne
FRANÇA e BRASIL
MURAT, Joaquim Napoleão 1767-1815
TRATADO ANGLO-LUSITANO de
19.02.1810
ANTIGOS TRATADOS entre PORTUGAL e GRÃ BRETANHA
SAQUES FRANCESES
http://asinvasoesfrancesas.blogspot.com.br/2011_01_06_archive.html
http://asinvasoesfrancesas.blogspot.com.br/2011_01_06_archive.html
ANEXO:
No séc. XIX, em
1810, foram assinados tratados de aliança e comércio com a Inglaterra (19.02)
desta maneira dura comentados por Oliveira Martins:
“ Mais uma vez a dinastia vendia o reino, como
Esaú a primogenitura; mais uma vez, depois de tantas, o Bragança, para conservar
o trono, sacrificava país(...). A
consequência destes tratados era ver, e logo se viu. O comércio, a indústria
portuguesa ficaram de todo arruinados. (...).
Arruinada no fim do XVI século, à mercê da Europa
e das suas intrigas e equilíbrio. No século XVIII o rendimento do Brasil vem
dar riqueza a um país desolado e despovoado; e agora, de facto perdida outra
vez a independência – se alguma houve realmente a não ser durante o reinado do marquês
de Pombal – perdia com ela o tesouro português. No fim do XVI século, era
desabar do império ultramarino que fazia cair por terra a nação. A dinastia de
Avis soube acabar heroicamente. O D. Sebastião de agora, o D. Sebastião dos
Braganças, sabia fugir em vez de morrer; sabia apenas sacrificar tudo para
salvar a si, como fizera o seu avô, Dom João IV. Por tudo isto, o último homem
dos Avis deixou no coração do povo um rastro de luminosa saudade, e o último homem dos Braganças deixou
apenas aquele enjoo que provoca o vômito..” ( Oliveira Martins, História de
Portugal, excertos de pp. 525 a 527)
MARTINS, Oliveira, 1845-1894 História de Portugal / J. P. Oliveira Martins. - 3ª
ed. emendada. - Lisboa : Viuva Bertrand, 1882. - 2 v. ; 18 cm. -
(Bibliotheca das Sciencias Sociais ; 2, 3)
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Círio SIMON
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