O GRITO ABAFADO das RUAS
em JANEIRO de 2013
“Se
o povo não tem pão, coma brioches”
Frase atribuída à
rainha Maria Antonieta
Os pensamentos
permanecem enquanto as cabeças rolam. Rolam como aquela onipotente, onisciente
e coroada Maria Antonieta. O seu pensamento que permanece em 2013 diria “se o transporte está ruim, por que o povo
não anda de Rolls Royce” Ou diante da noticias dos barracos da favela, perguntaria
espantada: – “Por que eles não moram numa
cobertura em Copacabana?”.
Fig. 01 – O
nomadismo urbano de bandos de jovens sem rumo possui um pretexto de anarquismo
que joga os seus autores na pura contemplação de sua natural finitude e miséria
física, moral e estética. O resultado é o isolamento e uma reserva de ódio recalcado
que pode cair, num segundo momento, sobre eles e de quem estiver próximo deles.
O pretexto de reunir estas energias críticas pode ser um time, uma ideologia e,
até um projeto positivo que redunde num trabalho coletivo benfazejo a todos.
Caso contrário será mais uma “oficina do
diabo” no dito popular.
E existem pessoas,
instituições, classes inteiras que se agarram como carrapatos ao pensamento da
rainha pernóstica e distante de tudo a que cheira a povo. Um dos presidentes
brasileiros foi franco e direto na sua preferência: “gostava mais do odor das cavalariças do que o cheiro do povo”.
Fig. 02 – Declarar-se publicamente
anarquista, de boca para fora, deixa um rastro de entropia física, moral e
estética
Na contra-ofensiva as
pichações físicas, aqui mostradas e comentadas, constituem “café pequeno”
diante das recorrentes pichações morais
das altas esferas administrativas e que poluem o ambiente político de
uma nação. Pichações morais que provocam cenários hediondos na política, na
mídia e com feios e abomináveis respingos no judiciário e especialmente
respingam sobre o seu próprio poder do qual se originam que usam, conspurcam
e fazem questão de desconhecer as consequências
do mal que provocam. Se os pichadores de
espaço público depredam o património físico, os degenerados que se valem da pichação moral,
depredam o patrimônio imaterial de uma nação e com isto dão licença para a
barbárie econômica.
Fig. 03 – Um
rastro de destruição física é coerente,
consequente e torna evidente, aos olhos de todos, a destruição moral,
estética e material que segue num ritmo acelerado aquilo que pensa, julga e
condena. “Onde passam os pensamentos guerra dez anos depois passam os canhões”
já afirmava Napoleão Bonaparte. Ao declara-se
anarquista, mesmo que seja apenas de
boca para fora, produz um tipo de ‘contemplação’ que julga tudo errado, inútil e abre a
vontade para a depredação imediata, definitiva e radical que possa contrariar
tal mentalidade.
É necessário um “basta”
as pichações morais como aquelas físicas. Um “basta” não pode iniciar sem que
outro “basta”. Não pode iniciar estancar uma pichação física sem um final total
e absoluto das pichações morais. Ambas
necessitam dar um passo decisivo para um contrato público e para o imediato
estancamento dos gastos patrimoniais, simbólicos e políticos.
Fig. 04 –
Na lógica anarquista, mesmo que seja de boca para fora, os julgamentos são
totalitários, definitivos, absolutos e irrecorríveis. Para esta lógica não
existe o contraditório, mesmo que prática o portador desta ideologia seja da
classe alta ou média. Sigam-se lideranças destas...
O perigo ronda e se
avoluma de tal forma que este claro pacto político e material levará a coisa
bem piores do que a Revolução Francesa outras nas tendências daquelas das
atuais primaveras árabes. Antes de 1789 a França também parecia um paraíso. O
mesmo poder dito para o mundo de 2013 e com maiores evidências para quem se
situa numa determinada casta social, econômica, cultural e política. As
pichações morais e patrimoniais parecem suaves brisas contrárias e algumas
nuvens escuras no panorama destes apaniguados pelo poder. Poder que se encontra
momentaneamente em suas insubstituíveis e bondosas mãos. Poder que é cobiçado pelos seus
concorrentes mais próximos. Cobiça pelo poder que arma cenários, na tendência
das pichações morais entre leninistas e trotskistas, entre girondinos e
jacobinos entre guelfos e gibelinos.
Fig. 05 – Uma peça de
marketing e propaganda mistura comércio, religião, símbolos materiais e
imateriais. Este truque foi tentado por
outra companhia italiana, no século XX. Parece que efeito não passou de uma
pequena marola na mídia. Ignora-se se esta resiliência moral e simbólica propiciou
mais empregos e trabalho para os jovens, aportando um efetivo ingresso de caixa.
Certamente era o efetivo lucro econômico, que interessava aos seus
financiadores desta campanha publicitária. Parece que desta imagem nem mídia
mereceu.
Partidos que pincharam o termo TRABALHO nas
suas siglas como tantas outras palavras de ordem, são meros recursos retóricos.
Na prática diária perderam toda a sua origem semântica quase desde a origem
destas agremiações. Hoje são tristes cortejos de zumbis a cadáveres daquilo que
enunciam no seu programa inaugural. Sé que tiveram algum projeto diferente da
mera conquista e de sua própria manutenção no poder. Projeto transformado em
programa sério que os mantenham unidos entre si mesmos. Projeto transformado em
programa e capaz de retornar ao poder do qual dizem ser os mediadores diante do
Estado brasileiro como agentes de mudança coerente com a sua sigla e para o bem
comum.
Fig. 06 – As
ditas “primaveras árabes” revelam o imenso tempo nos quais os respectivos pactos nacionais estiveram longe do Poder
Originário e em lugar ignorado. As manifestações e expressões reprimidas
longamente, explodem incontroláveis, repetem as cenas da Revolução Francesa com
todo o circo de horrores que todas estas explosões.
A esperança é que atrás
desta geração de jovens e de políticos militantes surja outra que consiga
contrariar o tradicionalista Paixão Cortes quando sentenciou (1984: 7)[1]
que "o brasileiro fala muito,
documenta pouco, analisa menos e conclui definitivamente, a sua moda, na hora
que interessa”. Para a geração
2013 esta frase ainda é refúgio, salvação e sorte daqueles. Abriga aqueles não
querem mudar, impossibilitando-os de realizar uma ruptura epistêmica e incapaz
de deixar um espaço conceitual para um autêntico e coerente Poder Originário.
[1] - PAIXÃO CORTES, João Carlos.
Aspectos da música e fonografias gaúchas. Porto Alegre: Repressom 1984
Fig. 07 –Mesmo que estas explosões sejam estetizadas e tenham a fortuna de uma imensa
mídia, de um nutrido mercado de arte e
um cortejos de seguidores elas apenas arranham a superfície do problema efetivo
e real . Com esta estratégia possuem muito mais em ocultar a verdade
oculta elas
O reducionismo e as
naturalizações entrópicas constituem portos seguros para quem não querem mudar.
O fazer pelo fazer impede qualquer ruptura epistêmica e é incapaz de deixar um
espaço conceitual para um autêntico saber e um agir coerentes. O mundo conceitual, coerente com o agir,
necessita preparação e correção para produzir algo de útil além de degradantes slogans
pichados em paredes alheias. Afinal somos aquilo que lemos e escrevemos.
Fig. 08 –
Declarar-se anarquista, de boca para fora,
é tão confortável e vazio de sentido, quanto declarar-se rico por
qualquer motivo que seja. Ambas as declarações são peças de marketing e propaganda
que escondem outras motivações, vivências e heranças culturais bem distintas daquilo
que declaram na superfície de uma parede pública.
FONTES
IMPRESSAS
FOUCAULT, Michel(1926-1984). Microfísica do poder. Rio de Janeiro :
Graal, 1995. 295.
FREUD, Sigmund.(1858-1939).O mal estar na civilização (1930). Rio de Janeiro : Imago, 1974.
pp. 66-150. (Edição standard brasileira
de obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v.13)
MACHADO
da SILVA Juremir Resiliência de político.
CORREIO do POVO - ANO 118 - Nº 116 - PORTO ALEGRE, QUINTA-FEIRA, 24
DE JANEIRO DE 2013 - 2 ■
Fig. 09 – O
anarquista, de boca para fora, explora as suas próprias contradições e não é
capaz de formular um projeto digno deste nome. Projeto que o tire da cômoda
posição de cima do muro donde joga pedras sobre a multidão que passa. Projeto
para transformar em complementariedade as suas contradições. Projeto, que ao
menos, se proponha criar condições mínimas de diálogo e de interação com a sua
própria categoria social, classe de trabalho ou de interesses.
FONTES NUMÉRICAS
DIGITAIS
BANSKY
GRAFITEIROS
em AÇÃO no FÓRUM MUNDIAL – CP - 27.01.2013
MARIA
ANTONIETA
http://filibertomino.blogspot.com.br/2012/08/maria-antonieta-ante-la-guillotina.html
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