O CORREIO BRAZILIENSE e
a
CONFEDERAÇÃO
dos TAMOIOS.
Fig. 01 – A estadia de HANS STADEN (1525-1579), no meio
dos ameríndios no Brasil, coincidiu com a CONFEDERAÇÂO dos TAMOIOS (1554 e 1567). Uma das imagens da sua OBRA mostra a movimentação de
um grupo indígena ao redor dele subjugado e a preparação do pescado num moquém
Certamente o CORREIO
BRAZILENSE “NÃO FOI NO GRITO” proveniente
das profundezas históricas da CONFEDERAÇÂO dos TAMOIOS. Bem ao contrário. O
CORREIO silenciou completamente, entre 1810- 1822, o levante dos ameríndios
brasileiros ocorrido no Brasil entre os anos de 1560 e 1575, portanto 230 anos
antes. Como o autor do periódico também nunca
abriu as suas páginas para noticiar a situação dos primitivos habitantes da
Américas. Ou considerar ou qualquer projeto para eles ou para avaliar eventuais
conquistas deles ao longo da era colonial brasileira. Mesmo o fato de eles
conquistarem, a duras e prolongadas penas,
a isenção do regime da escravidão legal.
Fig. 02 – Retrato de HIPOLITO JOSÉ DA COSTA
De outra parte não há
noticia que algum indígena brasileiro fosse destinatário e / ou leitor do
Correio Braziliense, ou que desejasse conhecer o que nele se publicava em
Londres.
O autor deste blog problematiza
este silêncio recíproco. Em primeiro lugar onde existe um silencio, também existe
um problema a ocultar. Em segundo lugar este vazio - e este problema - aponta um grande e rico manancial a
investigar. Em terceiro lugar este silêncio revela a urgência e a importância que
o autor de Correio conferia a outros projetos. Entre estes outros projetos
estava a representação de um sujeito imaginado que tentava passar ao seu
leitor. Este sujeito imaginado consumia toda a tinta, o papel e os seus esforços
para que o destinatário do seu jornal
entendesse seu projeto central.
ECKHOUT Albert - Dança
dos Tapuias
Fig. 03 – Nesta imagem do INDIO BRASILEIRO visto e
registrado pelos HOLANDESES, meio século após a Confederação dos Tamoios
A CONFEDERAÇÂO dos
TAMOIOS, ou “os velhos de terra” faz
pensar nas atribuições de um senado
Romano. O termo “senado” procede do
latim “Senex”, significando “homem velho”. Senado significa, portanto,
literalmente, “conselho de homens velhos”. Evidente que a idéia não estava madura.
Gerações de “antigos da terra” havia devorado em rituais antropofágicos os
valentes da tribos inimigas. Tribos inimigas e juradas de morte, queriam, de
repente se confederar. Apesar das tentativas nesta confederação, isto era
impossível de um momento para outro. Impossibilidade interna e externa graças à
força , perspicácia, decisão inabalável e equipamentos dos inimigos externos. A
passagem da cultura do caçador nômade face ao agricultor sedentário não
constitui nenhum passo de mágica. Os
territórios de caça eram coletivos da tribo. Esta mentalidade isente do sentido
de posse individual enfrentavam-se com a mentalidade do agricultor sedentário
com posse uni familiar e individualizada. Este confronto não terminou, pois as
nações e as reservas indígenas continua a praticar esta posse coletiva
É impossível imaginar
que Hipólito José da Costa - nascido na Colônia de Sacramento e educação
realizada em Porto Alegre - desconhecesse e soubesse nada do primitivo
habitante do Brasil. Colônia que fora trocada com a Coroa de Castela pela posse das terras das
Missões
Fig. 04 – A multiplicidade dos agentes e dos interesses em jogo
neste contato entre os divididos ANTIGOS
da TERRA e os não menos divididos europeus é visível nesta imagem e mapa
com os nomes dos territórios em aguerridas
e vitais disputas. Certamente os
ruídos e gritos guerreiro não chegaram e nem mais interessavam aos ouvidos e aos
interesses do Editor do Correio Braziliense e as seus leitores.
O Iluminismo europeu não
foi algo monolítico e sem contradições. A questão do indígena americano recebeu
as mais ardentes defesas de um Rousseau. Outros deram-se conta, na direção
contrária, que este primitivo idealizado era um iletrado vivendo a pré-história
no atual território do Brasil. Para “corrigir” este bárbaro era necessário
reduzi-lo, dominá-lo e fazê-lo trabalhar no âmbito da nova era industrial que
despontava nos centros hegemônicos da Europa.
A contradição entre
estas duas concepções era expressa pelo vice-reinado ainda instalado em
Salvador por meio de um Diretório ainda em 1758 e coerente com corte lusitana de
Lisboa. De um lado reconhecia “no
primeiro parágrafo definia, como o ideal... o “governo” dos próprios índios
através dos “principais”. No contraditório privava os
índios da língua avanhenga e tomava todas as
providências para que ela fosse banida .
Isto apesar de o
bandeirante ser filho de português e mãe indígena. Esta mãe havia ensinado a
língua geral da terra e a preparação dos alimentos nativos da região como a
mandioca, o milho e as carnes da caça e pesca preparando o filho para se
comunicar com toda a população e passar anos nas suas “bandeiras”
conquistadoras. A hegemonia de uma língua decorre da força política de uma
parcela dominante.
O governo de Portugal imantou-se
pelas luzes deste projeto, no âmbito da colônia brasileira. Ali o governo
lusitano uniu-se, ao seu mais figadal inimigo ibérico. Juntos financiaram uma
custosa campanha militar para exterminar as Reduções. Esta campanha foi
descrita, por cima e por fora, por seus intelectuais num típico discurso em
Prosa e Verso. Entre os versos encontra-se o poema “URAGUAI” (1769) de José
Basílio GAMA (1741-1795). Tentavam projetar as suas glórias para a eternidade.
Glórias que imaginavam incontestáveis, únicas e definitivas. Todo o CORREIO
BRAZILIENSE parece ser um corolário deste projeto inacabado iluminista. Projeto
que sempre corre o risco de surgir alguém qualificado para apontar as
contradições que lhe são imanentes. O primitivo habitante do Brasil era matéria
a ser silenciada, ocultada e sem lugar neste projeto como continuam ainda em
2012.
Fig. 05 – Os antigos castelos medievais europeus encontraram
semelhança no Brasil as aldeias dos silvícolas constituídas pelas emblemáticas
e funcionais mandalas das caiçaras
que cercavam as ocas coletivas e um centro sem ocupação e sem dono. Os
combates constantes entre tribos - devido a interesses imemoriais e de ocasião
- trabalhavam contra toda a possibilidade de uma sólida e sustentável CONFEDERAÇÂO
dos ANTIGOS da TERRA
Em 1812, o autor do
Correio Braziliense necessitava fazer ouvidos moucos para esta história antiga
da CONFEDERAÇÂO dos TAMOIOS ou a mais recente das MISSÕES. A estratégia era
remeter a culpa ao sistema colonial. De outra parte, como Hipólito José da
Costa projetava manter a unidade do sistema lusitano, seria um erro flagrante
prestar a menor atenção a particularidades e identidades regionais. A solução era enterrar a identidade
brasileira no silêncio em especial em relação ao seu primitivo habitante.
Contudo proclamada a Soberania - e Independência do Brasil em relação ao sistema
unitário lusitano - foi na questão
indígena que os poetas, os escritores, os músicos e os artistas visuais
encontraram fonte inesgotável par escandir e mostrar esta identidade e
diferença em relação o resto da cultura lusitana.
Fig. 06 – O barbudo e velho HANS STADEN (1525-1579), no meio
da aldeia. Ele soube entender
o sentido do ritual da antropofagia e o transformou de totem da
tribo em tabu coletivo. O totem de que a
carne do forte fortalecia as tribo contras os seus inimigos foi aproveitado pra
provar que a carne de um branco e velho
iria tornar fraca a tribo e os guerreiros .
O editor do Correio
Brazilense unia-se a cultura dos administradores britânicos que agiam por cima
e por fora de qualquer outra cultura qu na fosse a sua. No Brasil, antes desta
explosão cultural as missões européias, não lusitanas, foram generosas em
produzir documentos científicos e artísticos cujo tema era esta primitiva
população brasileira.
Os Tamoios, que os portugueses viam como
rebeldes confederados aos franceses, permanecem uma imagem profícua para o
Brasil. Não apenas para pensar o
nascimento da nação mas, recentemente, inclusive, para pensar os destinos dos povos indígenas atuais
que, aos poucos, encontram formas de se
representar como um “conjunto” e como um “movimento”.
PERRONE – MOISES
Beatriz et SZTUTMAN Renato “Notícias de uma certa confederação tamoio”
in MANA 16(2): 401-433, 2010 *p. 403
Fig. 07 – Chefe Guaicuru preparando-s para a viagem até a corte
do Rio de Janeiro onde foi
desenhado por Debret e depois este desenho foi publicado em Paris. Esta tribo
havia sofrido a aculturação missioneira e dos bandeirantes
Na mesma época em que o
CORREIO BRAZILENSE silenciava o tema do primitivo habitante ameríndio. o
francês João Batista Debret abriu o seu olhar, atenção e traço para registrar
as abundantes acampamentos de indígenas que se formavam ao redor da corte lusa
refugiada no Rio no Rio de Janeiro. Bastava estar atento.
Quant à l'histoire particulière des
sauvages, une circonstance heureuse m'en fournit les premiers matériaux : deux
jours s'étaient à peine écoulés depuis notre arrivée, que Ton nous fit voir des
indigènes Botocoudes récemment amenés à Rio-Janeiro par un voyageur qui me
donna la facilité de les dessiner avec soin, en ajoutant à cette complaisance
des renseignements aussi vrais qu'intéressants sur les moeurs de ces indigènes,
au milieu desquels Il avait vécu. Le hasard me fit ainsi commencer, au sein
d'une capitale civilisée, cette collection particulière des sauvages que je
devais achever dans les forêts vierges du Brésil.
Os
Tamoio ou Tamuja, como os chama
Anchieta, é um cognato de tamo que, em muitas línguas tupi-guarani, significa “avô”, “homem velho”, e não raro
também chefe, líder doméstico, espiritual e/ou político. Entre os Guarani
atuais, como salienta Pissolato, tamoi
significa, em princípio, “avô”, mas costuma ser utilizado de modo mais amplo para se referir a “homens mais velhos,
em particular líder p. 415
É interessante perceber
que os Iroqueses da América do Norte empreenderam a sua confederação, antes da
descoberta da América. As suas cinco nações originais continuam a aglutinar os
descendentes atuais. Também foram estudados e descritos pelos jesuítas e cujas
obras foram publicadas na Europa que Hipólito não poderia ignorar.
Uma nação pertence a
todos, porém a ninguém individualmente. A Confederação dos Tamoios desejava
implantar esta lógica. Percebia a necessidade de afirmar este principio diante
do sentimento comandado pela cupidez e as ações de apropriação e de posse individual e singular,
que o europeu estava implantando na terras que sempre pertenceram a todos.
Terras e bens que inclusive poderiam serem usufruídos pelos europeus, contanto
que eles também respeitassem este legados dos seus ancestrais. Principio que os
guiou no passado e aos seus descendentes até os dias atuais nos seus toldos e suas
reservas. Os parques nacionais passaram a constituir curiosidades exóticas e
únicas para a CULTURA OCIDENTAL numa
espécie de MUSEU ao VIVO e ao CEU ABERTO.
O espetáculo a CEU
ABERTO denunciam, no seu conjunto material, não só os discursos “por cima e por fora” iluministas requentados. Discursos
estrondosos de marketing, de propaganda e de contra propaganda. Discursos cada
vez mais estridentes, monótonos e ensurdecedores - de ouvidos e mentes - mas necessários
para abafar e silenciar os argumentos e necessidades primárias do poder
originário.
Fig. 08 – As figuras de DACUI e AIRES evidenciam que a tribo da origem da índia não necessitava nada dos comerciantes
e da era industrial de outra parte nda tinha de oferecer de atrativo par a
mundo industrial. A 29 de novembro de 1952, na igreja da Candelária, no
Rio de Janeiro, o sertanista Aires Câmara da Cunha casa-se com a índia Diacuí,
do Xingu. O padrinho foi Assis Chateaubriand. Presentes 10.000 pessoas, entre
grã-finos, índios e curiosos. O fato, na época, foi registrado pela imprensa de
todo o mundo.
O longo cortejo europeu
foi movido pelas mais diferentes motivações nas suas empresas na América face
ao seu primitivo habitante. O primeiro conquistador procurou impor a sua lógica
e pretendido direito de “descobridor”
sobre os nativos. As legiões de religiosos viam neste ameríndio “almas a
conquistar” a qualquer preço. O discurso iluminista abriu caminho ao
comerciante da 1º era industrial diante do ‘bom
primitiva e sem culpas”, mas cuja cultura e língua mais atraplhavam o
negócio imaginado e controlado pelo europeu. No Brasil o positivismo motivou um
Marechal Rondon (1865-1958) e no Rio Grande do Sul Carlos Torres Gonçalves
(1876-1974) a perceber no índio um ser humano. Eles o denominavam de “irmão
selvagem” e com este discurso abriu reservas, toldos e aldeias como peças de um
museu ao céu aberto de uma cultura disfuncional para o tempos e as práticas contemporâneos.
Contudo estas motivações
possuíam, na prática, o seu centro na
cultura e mentalidade mercantilista, capitalista e da era industrial incipiente
do qual o Correio Braziliense era uma das expressões escritas. O ENTE indígena
fugia a estas motivações. Restava praticar o silencio e a cegueira intencional
para que este SER ameríndio não fosse
percebido muito menos viesses atrapalhar o euro centrismo que se queria
hegemônico. O ameríndio não se enquadrava no ente europeu. Este o
esquadrinhava buscando nele um potencial
consumidor ou um fornecedor continuado de matéria prima como havia sido o ouro
momentâneo da América ou a madeira que deu o nome ao nosso país e que a longo
tempo já se esgotara.
FONTES
GAMA, José Basílio – URAGUAI - in
DEBRET, Jean Baptiste,
1768-1848 Voyage
pittoresque et historique au Brésil [...] (Volume 1)
ou, Séjour d'un Artiste Français au Brésil,
depuis 1816 jusqu'en 1831 inclusivement, époques de l'Avenement et de
l'Abdication de S. M. D. Pedro 1er, fondateur de l'Empire brésilien. Dédié à
l'Académie des Beaux-Arts de l'Institut de France, par J. B. Debret ..: Paris : Firmin Didot Frères 1834 3 v., v. 1 : il., front., 48 gravs., 1 mapa ; 54,5 x 35 cm
Francês
ANCHIETA José
1534-1597 GRAMÀTICA AVANHENGA ART E da GRAM A T I C A mais falada na costa do Brasil. Padre José
de :Ànchieta da Ordem de JESU Impressor Coimbra per Antônio de M«íz em. I $
9S
Alvar
Núñez Cabeza de Vaca
(1492-1568)
HANS STADEN (1525-1579)
DIACUI
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