A CONFEDERAÇÃO dos TAMOIOS ou
a VOZ SILENCIADA dos VELHOS da TERRA.
A CONFEDERAÇÂO dos TAMOIOS foi um dos primeiros gritos públicos da independência do Brasil e marcou o início do processo visível da erradicação do trabalho escravo do indígena brasileiro.
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Fig. 01 – INDÍGENA BRASILEIRO idealizado e europeizado por Henricus HONDIUS
Para conferir e dar visibilidade a estas duas conquistas silenciosas, o objetivo central deste blog, é trazer argumentos que reforçam a convicção de que o PODER ORIGINÁRIO BRASILEIRO teve um longo, sofrido e continuado caminho. Caminho continuada que não foi realizado aos solavancos e aos gritos intempestivos, como certas narrativas parecem sugerir. Caminho contínuo acompanhado de um sofrimento único, ocultado numa espessa cortina de silêncio apreendido e cultivado no silêncio denso das florestas seculares.
http://www.clerioborges.com.br/temiminosarariboia.html
Fig. 02 – INDÍGENA BRASILEIRO no blog de Clério José BORGES SANT´ANNA. O denso silêncio da floresta rompido pela música indígena.
As mais poderosas forças do longo, sofrido e continuado caminho do PODER ORIGINÁRIO brasileiro sempre foram silenciosas ou foram silenciadas. A CONFEDERAÇÃO dos TAMOIOS, que ocorreu entre os anos de 1556-1567, foi uma destas forças silenciadas logo após a fundação de São Paulo de Piratininga, em 1554.
Fig. 03 – GALEÃO EUROPEU nas COSTAS do BRASIL in Hans Staden
As narrativas produzidas em relação a CONFEDERAÇÃO dos TAMOIOS, por historiadores e cronistas europeus, constam nos manuais da História do Brasil. Narrativas que dividem sistematicamente os habitantes da terra, a favor e contra franceses ou portugueses. Ou numa visão maniqueísta, distinguem bons e maus indígenas. Sabe-se que estiveram envolvidos holandeses, ingleses e até o alemão Hans Staten. Na percepção dos indígenas da época eram apenas tribos de brancos e negros vindos do outro lado do grande mar. Mesmo para a grande maioria do atual PODER ORGINÁRIO brasileiro são narrativas e leituras nebulosas, incompreensivas e obscuras como as florestas que cobriam o território nacional da época. A aparência destas narrativas é constituída de confusas cronologias de fatos e listas de nomes de seus agentes numa língua morta para esta maioria brasileira.
Fig. 04 – A OCUPAÇÂO EUROPEIA do TERRITÓRIO BRASILEIRO Hans Staden
Os termos Aimberê, Araribóia, Maracujáguaçu, Mangaratiba, tupinambás, Pindobuçu, Koaquira, Uyba-tyba, Cunhambebe, Ariró, Guayxará, Taquarassu-tyba, goitacases, guaianeses, tupinambas ... não fazem o menor sentido para o presente, além de integrar textos de narrativas míticas e legitimadores da ocupação européia do atual território brasileiro. Servem mais como cortinas, para confundir, do que ajudar a compreender a época e o local da CONFEDERAÇÃO dos TAMOIOS.
Fig. 05 – ALDEIA INDÍGENA BRASILEIRA Hans Staden
Restaram apenas narrativas mitificadas sobre indígenas que eram a FAVOR ou CONTRA a cultura lusa. Este maniqueísmo continua a existir, na prática diária e é conveniente para o processo de exploração da mais valia de quem não possui voz e vez. No contraditório os ANTIGOS da TERRA, diante desta cegueira e surdes do europeu, a aferrar-se também, por sua vez, à mitificação de um legado transmitido oralmente e que lhes confere uma autonomia de favela e do quanto pior, melhor.
Fig. 06 – INDÍGENA BRASILEIRO Hans Staden faz pensar no “Erro de português” de Oswald de Andrade »Quando o português chegou Debaixo de uma bruta chuva - Vestiu o índio
Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português”. Erro de Português”. Oswald de Andrade. In: CARUSO, Carla. Oswald de Andrade. São Paulo: Callis Editora, 2000, p. 45.
Pouco importava, para o indígena brasileiro da época, as divisões dos brancos entre si. Apenas sabiam que estes invasores vinham do além do profundo oceano. As divisões dos invasores lhes eram estranhas e sem o menor sentido. Percebiam apenas que invadiam os seus campos e territórios de caça das tribos.
Na prática o indígena brasileiro, do século XXI, goza dos mesmos direitos e legitimações que tinha em 1500. Direitos desrespeitados, na prática diária. Ele conquistou, na base de uma resistência silenciosa continuada ao longo de meio milênio, o pouco que pode manter da sua terra, identidade e de honra.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Maximilian_zu_Wied-Neuwied
Fig. 07 – INDÌGENA BRASILEIRA da época da Independência do Brasil e registrado por uma expedição científica européia è possível perceber a lenta e inexorável migração indígena, das costas do Atlântico, para o interior brasileiro
O exemplo que sangra e inflama opiniões, ainda em 2011, encontra–se na terra indígena é território tradicional dos povos Makuxi, Wapixana, Ingaricó, Taurepang, Patamona e Sapará na terra denominada de Raposa Serra do Sol no longínquo de Roraima e profundo território do hemisfério norte do Brasil. A mídia e as narrativas percebe e trata ainda o tema, apenas o perigo que interesses norte-americanos e brasileiros poderiam decorrer destes conflitos. Pouco importa a sorte e o destino dos “pobres bugres” em relação aos quais não há interesse maior do que a posse de sua terra. Terra da qual se quer, agora, o usufruto ao limite máximo, intensivo e pontual da monocultura ao modelo industrial e do geneticamente modificado.
No entanto existe um sentido claro e inconteste de que a CONFEDERAÇÃO dos TAMOIOS determinou e continua vigente na NÃO ESCRAVIDÃO INDÍGENA BRASILEIRA, apesar abolida oficialmente em 1595 e das numerosas tentativas de trazê-lo ao regime da pura servidão. Se de um lado teve este resultado da autonomia indígena frente à heteronomia da força do seu trabalho e cultura face ao europeu, de outra instaurou a AUTONOMIA de FAVELA indígena. Como sempre estas narrativas também foram criadas ou transcritas pela ótica e mediação do vencedor.
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Fig. 08 – INDÍGENA BRASILEIRA As lutas entre as tribos e etnias num mapa europeu do Brasil
No contraditório busca-se distância de qualquer LOUVAÇÃO da cultura e da permanência do status indígena brasileiro. Evidente que esta cultura havia atingido um grau de grande refinamento nas suas interações com Natureza brasileira e a sustentabilidade desta interação era praticada e vivida por gerações a perder de vista ao longo de milhares de anos. Contudo era a infra-estrutura e a lógica cultural do coletador e do caçador. Se fixarmos o olhar para o território da qual a atual cidade de São Paulo é centro e metrópole, consta-se que os indígenas, que ali viviam, antes do ano de 1500, eram uma escassa centena de indivíduos e que se sustavam precariamente com a caça e alguma coivara. Quinhentos anos depois os habitantes no mesmo território são contados aos milhões. Possuem nível e dignidade de vida bem superior ao que revelam os sambaquis. Entre estes milhões de habitantes, certamente milhares ou milhões possuem aspecto fisionômico e trazem, no seu código genético, fortes traços dos primitivos habitantes da região. Certamente estes não sonham em retornar a vida é à cultura dos seus próprios antepassados.
Albert ECKHOUT - Dança dos Tapuias
Fig. 09 – O INDÌGENA BRASILEIRO registrado pelo artista da Missão de Maurício NASSAU
Sem defender nem saudosismos e nem procurar legitimar todas as formas nas quais se realizou esta ocupação do campo de caça busca-se o GRITO abafado dos ANTIGOS da TERRA [ta moios], no meio deste torvelinho de milhões de habitantes. Sempre cabe a todos conhecer, reconhecer e adotar a sua origem.
Nesta origem procura-se conhecer, aqui, as razões, a narrativa, os meios pelos quais os ANTIGOS da TERRA [ta moios] tentaram unir tupis, aimorés, guaranis e outras nações diante do avanço dos europeus. No entanto, estes ANTIGOS da TERRA não conseguiram a união que se imaginavam. Mesmo assim fizeram frente aos invasores e predadores dos seus campos de caça. Posses sem fronteiras formais e estáveis, mas conquistados duramente pelos antepassados destes caçadores. Estes venceram culturas de coletadores nômades que usavam estes em eventuais ocupações. O europeu pastor, agricultor vinham com projeto sedentário e que perturbava a lógica e a infra-estrutura da cultura dos caçadores.
Albert ECKHOUT - Caça dos Tapuias
Fig. 10 – O INDÌGENA BRASILEIRO registrado pelo artista da Missão de Maurício NASSAU
Os europeus não se defrontaram no atual território do Brasil com impérios com tradições de alto grau intelectual, consolidadas pela escrita e testadas como aquelas que os espanhóis encontraram no atual México ou Peru. Diante da cultura como dos INCAS e dos ASTECAS impôs a implantação imediata da Universidade.
O indígena, que ocupava o atual território de Brasil, em 1500, não necessitava, não queria e nem era prioridade o funcionamento de uma UNIVERSIDADE européia ao estilo do que ocorreu no México e Lima.
Os caciques percebiam a necessidade de preparar os seus descendentes para o mando. Nas escolas dos jesuítas encontravam o essencial por um pequeno refinamento da inteligência e o treino competência da fala. Mas uma universidade já era exagero. Exagero que favoreceu o europeu. De um lado por manter esta instituição na metrópole onde podia preparar mais um administrador de sua colônia. Do outro lado evitava qualquer suspeita, contestação ou revolta articulada frente as métodos administrativos de sua colônia. Para o Jesuíta a cooptação dos caciques, por meio dos seus filhos, era um precioso instrumento de dominação das almas e dos corpos da massa indígena.
CORREIO do POVO – Porto Alegre RS em 19 de julho de 2011 CADERNO CIDADES p. 1
Fig. 11– INDÍGENA BRASILEIRA ATUAL: entre um projeto em Ruínas do seu passado numa Redução e carregando a esperança que os eu artesanato seja absorvido pela industria cultura futura.
As imensas forças do mundo físico como do magnetismo ou as forças morais não fazem ruídos e agem sem estardalhaço e coerentemente com as suas energias.
O PODER OORIGINARIO também é um imenso potencial de forças que agem e destroem todos os discursos e vingam-se silenciosamente contornando profetas, políticos ou pretensos empresários deixando-os falar, berrar e morrer nas suas neuroses mal elaboradas e pior conduzidas...
Só recebe Justiça aquele que chegar ao tribunal com um processo escrito bem instruído e com bons advogados na lógica da cultura européia. Para o indígena não existe tribunal e a sua lógica da Justiça segue a lógica da oralidade e do testemunho visual presencial e concreto.
Fig. 12 – ARTE INDÌGENA BRASILEIRA ATUAL com forte vinculo telúrico com apelo para indústria cultural
FONTES
CONFEDERAÇÂO dos TAMOIOS
http://pt.wikipedia.org/wiki/Confedera%C3%A7%C3%A3o_dos_Tamoios
http://pt.wikipedia.org/wiki/Arariboia
http://www.clerioborges.com.br/temiminosarariboia.html
EDUCAÇÂO na COLÔNIA (1549-1570)
MATTOS, Luiz Alves de. Primórdios da Educação no Brasil: o período heróico (1549-1570). Rio de Janeiro: Editora Aurora, 1958
GRAMÁTICA TUPI GUARANI
ANCHIETA, José de (1534-1593). Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1933.
GRAMÁTICA GUARANI de Antônio Ruiz MONTOYA 1585-1652
http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/02309600#page/13/mode/1up
HANS STADEN
MAPAS HISTÓRICOS - AMÉRICA do SUL e no BRASIL - imagens color
http://picasaweb.google.com/myoldmaps
PRINCIPE Maximilian WIED NEUWIED
http://pt.wikipedia.org/wiki/Maximilian_zu_Wied-Neuwied
RORAIMA – Terra Raposa Dourada
http://www.socioambiental.org/inst/esp/raposa/?q=artigos-assinados&page=4