O BRASIL em NOVEMBRO de 1814 e 2014
“As pessoas serão
boas ou más, acidentalmente; o sistema é que acusamos de mau
radicalmente”
in CORREIO
BRAZILIENSE, novembro de 1814, p. 710
As
concepções, as vontades e os sentimentos -
expressos no espaço público brasileiro - foram pouco afetados no sistema
político, econômico e social brasileiro no decurso dos dois séculos entre
o novembro de 1814 e o novembro de 2014.
Vistos pelo lado dos sentimentos - que se desenvolveram e projetaram nestes dois
séculos- oscilaram entre o Carnaval e a
Paixão na síntese de Cecília Meireles. Sentimentos maximizados e projetos por
uma propaganda de vontades sem fatos. Vontades vazias mascaradas por concepções
e por um marketing interessado apenas pelo viés econômico e pela permanência do
sistema colonial.
Retrato_de_Aleijadinho
de Euclásio Penna Ventura
Fig. 01 – Suposto retrato de Antônio
Francisco Lisboa (¿1730 ?-1814) que
passou para a História com o seu apelido de foi vitima do sistema colonial no
qual o artista era alguém inútil. Mesmo se colocando numa posição
subordinada e para produzir esplendor, pompa e circunstância não teve, em vida,
nenhum texto biográfico, documentação e arquivo que guardasse o seu pensamento,
ou uma instituição ou fundação destinada ao estudo sos seus ensinamentos.
O
gigantesco esforço pessoal nas artes de ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA, desaparecido
no dia 18 de novembro de 1814, começou a ter uma tênue forma de letra 30 anos
após a sua morte. Até novembro de 2014 esta obra e esforços pessoais são vistos
e divulgados mais pelo lado da indústria simbólica do que um valor humano
intrínseco no qual a “ARTE ESTÁ em QUEM a
PRODUZ e NÃO no QUE PRODUZ”. O apelido ALEIJADINHO foi mais mortalha do que documento ao longo dos dois séculos que se seguram à sua morte.
Mapa de
1814 da América do Sul.
Fig. 02 – A brutal desproporção - entre o território metropolitano de Portugal e
a sua Colônia Brasileira - trazia problemas políticos, econômicos, sociais e
culturais e insolúveis para um sistema centralista, monocrático e com profundas
raízes no mundo medieval europeu. A cultura lusitana estava perdida na
medida em que quisesse ignorar a sua matriz, por mais estranho, distinto e
surpreendente que fosse o mundo americano. Este - entregue aos ciclos
implacáveis e lentos da Natureza - levou
três séculos para digerir o que lhe
interessava e descartar o que lhe era estranho.
Poucos reflexos tiveram na consciência nacional brasileira os esforços do deputado
mineiro Rodrigo José Ferreira Bretas, a pedido de Manuel Araújo Porto-alegre,
dos Modernistas de 1922 ou dos estrangeiros Blaise Cendrars ou de um Germain
Bazin e tantos outros. Pode-se afirmar que ajudaram a embalsamar a pessoa do artista
e as suas obras em produtos da indústria cultural e com obsolescência
garantida. Obsolescência que vela e apaga definitivamente a essência de um
autêntico projeto civilizatório compensador brasileiro. O sistema político, econômico e social
brasileiro é incapaz de incluir a pessoa do artista e as suas obras de ANTÔNIO
FRANCISCO LISBOA num pacto nacional ou para fundamentar algo, em novembro de
2014, que faça sentido e seja fértil para o PODER ORIGINÁRIO BRASILEIRO. Assim
é compreensível o SILÊNCIO que cercou o desaparecimento de ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA e este que se
estabeleceu sobre o BICENTENÁRIO de SUA MORTE. As informações relativas a este
artista pertencem - e são reféns - de um repertório hermético de uma casta superior letrada.
Fig. 03 – O mapa do CAMINHO REAL VELHO e NOVO pelo qual Portugal escoou toneladas
de OURO e DIAMANTES. DIAMAMTES e OURO empenhado em Londres para saldar
dívidas monstruosas e impagáveis frutos de TRATADOS realizados por um sistema que
se dizia divino e por isto centralista e monocrático. Sistema do qual o PODER
ORIGINÀRIO do OURO e dos DIAMANTES ficava excluído liminarmente. Se resolvesse
se manifestar era enforcado por este
poder como o foi Tiradentes.
Reflexoens
sobre as novidades deste mez.
CORREIO BRAZILIENSE, VOL. X I I I . Nº. 78. 4 v - novembro de 1814 Miscellanea, p.709 - 715
Governo
militar das provincias.
Copiamos
a p. 659 uma carta do Marquez de Pombal a um certo Povoas, entaõ governador do
Maranhão que nos foi remetida com uma serie de factos de outro Povoas, agora empregado
em outro Governo, afim de fazer o contraste, entre as máximas recommendadas, e
o procedimento do actual Governador. Do Governador do Ceará, S. Payo, nos
chegou outro similhante cattalogo, authenficado com documentos reconhecidos passados
pôr índia Mina, &c.
Nós
agradecemos muito aos nossos conrespondentes a communicaçaõ destes factos, principalmente
vindo provados taõ amplamente como estes vem. He por meio destas multiplicadas informaçoens,
recehidas de diversos pontos, que podemos formar idea do modo porque os
negócios públicos saõ conduzidos naquelle paiz, e podermos fallar na matéria
com conhecimetito de causa. Neste sentido, as informaçoens produzem o seu
effeito; mas devemos notar aqui aos nossos conrespondentes, que seria impossivel
inserir todos, nem ainda a maior parte dos factos particulares, que nos chegam
á noticia. Cada um sente o seu mal individual, o escriptor publico, só pode servir
se deste conhecimento para se queixar do mal em geral, e tentar romover-lhe o remédio; em tanto quanto
as representaçoens da opinião publica podem dar esperanças de remédio.
Cena_de_extração,
lavagem e classificação de ouro e de diamantes
Fig. 04 – As toneladas de OURO e de DIAMANTES eram extraídos, classificados e
destinados ao sistema colonial lusitano. Neste sistema colonial o PREJUIZO
Ficava com o TRABALHO e a degradação da Natureza. Os lucros e os benefícios
eram auferidos por um sistema centralista
e monocrático e com fundamento que se dizia divino. Os furos destas fraudes e
saques eram o paraíso dos atravessadores, dos mediadores e dos falsos
tuteladores.
Em uma
das catilínarias, que os Godoyanos escrevem contra nós, appareceo no Jornal
Pseudo.Scientitico ha dous mezes, um esfarrapado discurso sobre o que disse o
Correio Braziliense, nao nos lembra agora a que respeito, em que se tornava a repetir
que as accusaçoens contra os empregados públicos, montam ao mesmo que dizer,
que o Soberano nao emprega senão homens ignorantes e máos; e por tanto as
criticas do Correio Braziliense só se devem entender como insultos ao Soberano.
Temos por varias vezes exposto a falsidade deste
sophísma dos Godoyanos; mas a carta do Marquez de Pombal, e a narrativa dos
factos que a acompanharam, dando.nos motivo de fallar outra vez no Governo das
províncias do Brazil, nos induz a tocar nesta máxima dos Godoyanos
Fig. 05 – A investida lusitana sobre o imenso território colonial do Brasil
profundo deu-se por terra de Goiás e pelas águas do Rio da Prata e dos
afluentes do Rio Amazonas Região revirada pelos faiscadores de ouro,
conquistada pela patas das manadas de
gado, m esta região é, em novembro de 2014, um dos celeiros do Brasil e do mundo. Um pouco antes da Guerra do
Paraguai (1865-1870) esta região foi
visitada pelo comerciante italiano Bosi que descreveu o potencial deste
território do Brasil profundo e onde o sistema colonial lusitano chegava com
muito dificuldade e de forma difusa.
Desapprovando
a forma de administração das províncias do Brazil; explicando por factos
individuaes, que nos chegam á noticia, as razoens porque desapprovamos aquelle
Governo; estamos taõ longe de accusarmos o Soberano, que até nem aos mesmos
Governadores ou Magistrados, de quem nos queixamos, attribuimos a causa
principal dos desgovernos, que desejamos ver remediados.
He ao
systema, e naõ ás pessoas, que dirigimos as nossas queixas. As pessoas seraõ boas
ou más, accidentalmente; o systema he que accusamos de máo radicalmente. Diraõ
que o Soberano he quem authoriza o systema. Sim; porque essa he a ordem que
elle achou estabelecida, e que se deve seguir até que novas leys a revoguem;
mas he o cúmulo da impudencia, e o systema dos Godoyanos, asseverar, que nunca
se pode dizer que uma ley he má; porque ella existe pela expressa ou tácita
approvaçaõ do Soberano. Se isso fosse um crime ninguém se attreveria a propor
ja mais alguma reforma na legislação; porque toda a reforma suppôem mal das
leys que se devem reformar. Uma ley ou um systema de legislação pôde ser agora máo,
e até péssimo, quando em sua origem éra bom e saudável. Demonstrar a sua maldade
ao Soberano, persuadir o publico que deve desejar uma mudança, he pôr o
Soberano no caminho de fazer bom; informando-o do que se passar, e servillo, dispondo
o publico a reconhecer, e ser agradecido pelas alteraçoens que o Soberano
fizer.
Fig. 06 – A extração do OURO de aluvião continua nas margens dos rios da
Bacia Amazônica no século XXI como no século XX, em Serra Pelada. Além da degradação da Natureza, consome a
CRIATURA HUMANA, o seu TRABALHO sem que
a Nação brasileira tenha qualquer retorno sustentável e significativo. O
sistema colonial continua a agir subliminarmente em proveito dos
atravessadores, dos mediadores e dos falsos tuteladores.
Entremos
na matéria. O erro fundamental do systema de administração do Brazil, he o
principio de despotismo, que existe nos poderes dos Governadores, e o que peior
he nos dos magistrados. A nossa questão he, que naõ deve haver ninguém que
tenha o poder de mandar prender, soltar, cobrar tributos, administrar as rendas
Reaes, &c. sem um poder ou autoridade correspondente, em outra pessoa de
differente classe, que sirva de impedimento, e previna o abuso daquelle poder.
Por
exemplo. O Ouvidor de Porto Seguro, de acordo com o Commandante da 7ª Divisão
dos Botecudos (com patente de Alferes) foram encarregados de abrir a navegação
do Rio.grande, desde Belmonte até o interior das Minas, prohibida até agora, por
causa dos diamantes que ha em Jiquitinhona, cuja navegação he dificultosa por
causa de suas cachoeiras. Estes dous sugeitos, de sua authoridade própria, estabeleceram
um monopólio em todos os gêneros, que no paiz se chamam molhados, negociando
elles mesmos, e empregando na conducçaõ de suas fazendas os soldados destinados
a guarda dos postos, que se estabeleceram nos caminhos para protecçaõ dos
viajantes; e porque os dous juizes ordinários de Caravellas interpuzéram uma
appellaçaõ contra o Ouvidor, mandou este prendêllos, e de tal modo os ameaçou,
que eles desistiram da appellaçaõ. E por fim estabeleceram o monopólio das
águas ardentes com tal rigor, que até ficou prohibido a todos os indivíduos
destillar nos seus lambiques particulares; procedendo a multas e outros
castigos, contra os infractores do estabelecido monopólio.
Museu_do
Diamante em Minas Gerais
Fig. 07 – A arquitetura funcional dos prédios públicos coloniais brasileiros era
despojada de qualquer ornamento. Despojamento imposto como índice do seu papel
subalterno da estética, da política e da economia metropolitana lusa. O sistema colonial, totalitário e
monopolista impunha este despojamento
para não suscitar nenhum sentimento de pertencimento, de autonomia nacional ou
de riqueza individual que não estivesse sob o seu arbítrio direto e único.
O Povoas,
de quem fallamos acima; Governador do Riogrande do Norte, mandou de authoridade
própria, sem processo, nem sentença, exterminar dos territórios de seu Governo,
O Cap. Mor Antônio Ferreira Cavalcanti; e porque sua mulher requereo ao
Governador a favor do marido, teve aquella Senhora a mesma sorte. Juncto a este
facto, nos chegaram á maõ, documentados, outros muitos do mesmo Governador, que
nos occupariam grande lugar, se os referíssemos.
He
evidente, que os indivíduos oprimidos por estas autoridades nas Provincias do
Brazil, remotas da Corte, acham que he menor mal submetter-se a estes insultos
e injustiças, do que ir requerer o seu remédio, abandonando suas casas e
haveres, expondo-se á incerteza de litígios com homens ordinariamente bem
patrocinados; e perante ministros, que estaõ sempre prompto e para dar a estas queixas o nome de
desobediência, e o character de rebelião.
Nos
deduzimos a origem destes males da demaziada jurisdíeçaõ que se concede ás
authoridades, principalmente militares; -
e dos nenhuns freios que se impõem ao seu abuzo. Os homens em poder abuzaraõ sempre de sua
jurisdicçaõ, em quanto se persuadirem que o podem fazer impunemente ; he logo o
systema, e naõ as pessoas, que se devem mudar ; para dar um remédio efficaz a
taõ multiplicados desmanchos.
Os Reys
antigos de Portugal custumavam ir em correiçaõ pelas provincias, a fim de
examinar por si mesmo se os magistrados executavam ou naõ os seus deveres, na
administração da justiça. A multiplicação dos negócios obrigou depois os Monarchas
Portuguezes a delegar esta diligencia a outras pessoas; mas o custume das
correiçoens, ainda assim, serve para provar, que nós podemos legalmente suppor,
que as injustiças dos governadores das provincias requerem constante exame, e prompto
castigo.
As
distancias do Brazil nao permittem que ali se adoptem áquellas correiçoens, á
maneira porque as faziam os Reys de Portugal; porém outros muitos meios se
podem inventar para que, dando menos poderes aos Governadores; e estabelecendo restricçoens
a esses mesmos poucos poderes, por meio de conselhos, e corporaçoens, compostas
de pessoas do paiz, mudadas em breves períodos, e em rotação constante, sirvam
de cohibir os excessos, que naturalmente devem resultar de poderes mui grandes,
e exercitados sem outro freio mais do que a consciência do Governador.
Museu_de_Arte
Sacra de São Pulo no antigo Convento da Luz
Fig. 08 – A arquitetura religiosa colonial funcionava como Propaganda da Fé
contrastando com as choupanas e casas de porta e janela de uma população que
desejava enriquecer rapidamente para poder voltar para Lisboa.
Para esta população flutuante e desenraizada pouco importava e nada podia deliberar e decidir diante deste sistema colonial, totalitário.
Nunciatura Apostólica no Rio-de-Janeiro.
Era uma
vez um dia, e havia uma caza em certa terra frequentada de um Duende, que
tantos pratos quebrou, tanto embrulhou as meadas de linho, e vexou tanto a
gente da casa, até que a familia se resolveo a mudar se um dia, levando com
sigo todos os trastes: deixaram porém ficar um cepo de páo, que naõ lhes servia
de cousa alguma. No meio do caminho sentaram-se a descançar, e dar-se uns aos
outros os parabéns de estar livres do Duende- eis senaõ quando apparece este
sentado em cima do cepo, que tinha trazido ás costas; alegando que elle
pertencia á familia, e que o cepo entrava no numero dos trastes; o que foi de
grande confusão, e consternação para a familia.
¿ Que
tinha o Núncio do Papa que ir fazer ao Brazil, quando a sua Missão Apostólica
éra em Lisboa? E ja que quiz desamparar as ovelhas de Portugal, recommendadas
ao seu cuidado, ¿ por que levou
ás costas o tribunal da Nunciatura? Com que authoridade, ou porque ley, se acha
esta jurisdicçaõ estrangeira estabelecida no Rio-de-Janeiro.
Fig. 09 – A imagem da aparente pacata Iporanga - do interior de São Paulo no século XIX -
pode dar uma ideia do Brasil profundo abandonada à sua própria sorte. A
paisagem agreste dominada pela torre da igreja num traçado urbano no qual as
ruas e os becos eram precedidos pelos prédios e vontade dos seus donos. Esta
paisagem é um índice do sistema político, econômico e social que o Correio
Braziliense, de novembro de 1814, fustiga como mau e perverso.
Nos
tempos perigosos da ignorância, se viram os Reys de Portugal obrigados a fazer
concordatas com os Ecclesiasticos, cedendo, por obviar maiores males, parte de
sua Regia Jurisdição, em matérias testamentarias, matrimoniaes, &c. Mas essas
concordatas, além de serem quasi extorquidas do soberanos pelas convulsoens daquelles
tempos, naõ foram relativas ao Brazil, eram somente limitadas á Europa ; e saõ
de sua natureza taõ odiosas, por serem restricçoens do poder Regio, que nunca
poderão admittir interpretação extensiva.
Para que
uma sentença seja valida, e obrigatória; he preciso que seja proferida por um juiz
competente; e nenhum juiz, nenhum tribunal pode ser competente; sem que a sua
jurisdicçaõ lhe seja expressamente concedida pelo Soberano.
¿ Aonde
está a ley; porque o tribunal da Nunciatura seja authorizado a lavrar uma
sentença no Rio-de-Janeiro ?
Eis-aqui
um dos casos em que o Soberano naõ he apoiado pelo patriotismo de seus
subditos. Desejávamos ver no Rio-de-Janeiro um activo e patriota Procurador da
Coroa, que requeresse a S. A. R. a favor dos sagrados interesses da Regia
Soberania; e que, ainda no caso de S. A. R. o naõ attender da primeira vez,
instasse segunda e terceira, lembrando-se que da manutenção dos direitos
majestatícos depende a honra nacional, assim como a gloria do Soberano. Leia-se
a Deducçaõ Chronologica, e ali se achará que, longe de taes representaçoens ao Soberano,
a favor dos direitos de sua coroa poderem ser desagradáveis ao Monarcha, o
Procurador da Coroa, no reynado d'El Rey D. Jozé, foi sempre bem attendido, nos
muitos requiriraentos que lhe fez a favor dos direitos de sua Coroa.
SÃO PAULO -
Largo da Memória 1814 por ordem do Marechal
Pedro MULLER e do pedreiro Vicente Gomes Pereira
Fig. 10 – A paisagem urbana de São Paulo em 1814 recebeu o seu primeiro monumento público por ordem do Marechal MULLER a serviço da coroa lusitana O monumento existe até novembro de 2014 mas é pouco notado pela população da capital do Estado de São Paulo na medida em que os monumentos na maioria das vezes os monumentos são imposto de cima para baixo ao modelo dos antigos e odiados pelourinhos lusitanos
O
Procurador da Coroa no Rio-de-Janeiro, tendo deixado ao Nuncio estabelecer ali
o seu tribunal da Nunciatura, sem preceder a authoridade de uma ley, consulta
do Desembargo do Paço, e manifestação das instrucçoens do mesmo Núncio, deixou
abrir a porta a abuzos, que podem vir a ser sumamente prejudiciaes aos direitos
Regios.
Se nos
bem lembramos, foi este mesmo Núncio, quem a Corte de Roma mandou a Nápoles
tractar do restabelicimento dos
Jezuitas; e que portanto o mandaram despejar dali. Compare o Procurador da Coroa
este facto, com a presente restauração da Ordem dos Jezuitas, da Inquisição,
&c.; e veja se naõ éra do seu dever oppôr-se á introducçaõ deste tribunal estrangeiro
no Brazil, aonde nenhuma ley o authorizava.
Oratório_devocional
de uma casa de um colono.
Fig. 11 – A arte sacra coletiva das igrejas ou dos oratórios devocionais era o
único luxo que Lisboa permitia para a Colônia Brasileira. Manifestações de
maior ostentação deveriam ser guardadas quando do regresso do colono brasileiro
para a metrópole. Isto evitava qualquer gérmen de autonomia ou de acúmulo de
poder político na Colônia Brasileira. A pintura de retratos à óleo estava
reservava aos reis e ao bispo.
Diamantes.
A ultima
remessa, que chegou a Londres, destas luzidias pedrinhas, foi recebida com
honras extraordinárias; porque se mandou convidar uma grande procissão de gente
para assistir á abertura dos sacos. Nós admiramo-nos de ver que se convidaram até
alguns daquelles mesmos sujeitos, que sendo nomeados no Rio-de-Janeiro para
está administração, naõ foram admitidos a ella pela authoridade cá de Londres.
A nossa admiração porém cessou, quando se nos disse, que se tinha achado outra vez
falta no pezo dos diamantes.
A
primeira noticia, que demos ao publico de uma similhante falta, foi supposta
digna de uma satisfacçaõ authentica: e a desculpa que se deo, fundamentou-se na
ignorância em que estava o Erário do Rio-de-Janeiro, a respeito dos pezos e
medidas Inglezas; agora, tendo decorrido tempo bastante para aprenderem a
differença dos pezos, será necessário esperar outra explicação desta falta.
Estamos curiosos para ver essa explicação.
A
responsabilidade das administraçoens publicas, he matéria de grande
importância; e havendo o Soberano, por uma ley, encarregado esta repartição ao
Banco do Rio-de-Janeiro, he bem notável que o seu Embaixador em Londres se
tenha obstinado em naõ largar de si este pezado encargo.
Nós
estamos bem convencidos de que a Coroa de Portugal perde muito com os extravios
e contrabando dos diamantes, que tem lugar nas minas; porém he verdadeiramente
lamentavel, que até daquelles mesmos que chegam a entrar no Erário, se achem
faltas, que ninguém pôde averiguar aonde ou como aconteceram. Quando as
finanças de um paiz se acham expostas a taes desarranjos, naõ podem haver rendimentos
que cheguem para as necessidades do
Estado; por mais rica que uma naçaõ seja.
Cartaz de
um filme comercial com um ator no papel_de_Aleijadinho inspirado - com grande liberdade poética - na
pintura de Euclásio Penna Ventura
Fig. 12 – As modestas
verbas destinadas à produção audiovisual brasileira continuam a atualizar o
aviso de Miguel Ângelo para Francisco de Holande de que “em Portugal, mesmo os que gostam
de arte não põe a mão no bolso para
pagá-la”. O mestre do Juízo Final sabia do que estava falando, pois
tinha um ajudante que era português e sabia das agruras de ser artista na sua
terra. Pior nas colônias lusitana. Mesmo a abundância de ouro e dos diamantes
não mudou este juízo de Miguel Ângelo. O sistema era mau.
A orientação
pelo Fio de Ariadne - oferecido pelas obras de arte presentes - ou ausentes -
na cena brasileira evidenciam e iluminam as concepções, as vontades e os sentimentos
presentes e atuantes, em novembro de 1814,
no labirinto da vida política, social e econômica nacional. Ao tomar
como referencial a memória, a presença das obras de Aleijadinho percebe-se que
as concepções, as vontades e os sentimentos que a média da cultura brasileira em novembro de 2014 muito pouco diferente do
ano em que ele faleceu.
O sistema
continua mau. Não adiantou todo esforço, criatividade e sacrifício individual
de ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA. Suas poderosas contribuições pouco influíram no
sistema político, econômico e social cultural do espaço público brasileiro. As
comovidas homenagens, os eventos pontuais e os produtos pouco produzem para
desfazer a maldade do sistema brasileiro. Sistema que continua a oscilar
freneticamente entre o Carnaval e a Paixão conforme a magistral síntese de
Cecília Meireles. Sentimentos maximizados e projetados por uma Propaganda, por
edições de fatos encadeadas em um marketing cujo único interessa é o viés
econômico apenas. Eventos, produtos e comoções servem apenas para as projeções
de uma fama personalizada, barata e
transitória além de engordar os currículos e as contas de autoridades de
plantão, mediadores e atravessadores. O sistema continua mau em novembro de
2014.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
BOSSI, Bartolomé
(1819-1890) Viagem pitoresca pelos rios
Paraná, Paraguai, São Lourenço, Cuiabá e o Arinos, tributário do grande
Amazonas com descrição da província de Mato Grosso com seu aspecto físico, geográfico, mineralógico e seus
produto naturais – Brasília: Senado Federal 2008, 132 p http://www.senado.gov.br/publicacoes/conselho/asp/publicacao.asp?COD_PUBLICACAO=387
HOLANDA, Francisco. Diálogos de Roma: da pintura antiga. Lisboa: Sá da Costa, 1955, 158p.
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA (¿1730?-1814)
ALEIJADINHO
Retrato
ALEIJADINHO
EVENTOS do BICENTENÀRIO da MORTE de
PRODUTOS
do BICENTENÀRIO da MORTE de ALEIJADINHO
CORREIO BRAZILIENSE
NOVEMBRO de 1814
MILITARISMO e as INSTITUIÇÕES POLÍTICAS
no BRASIL.
TAFIÁ ou CACHAÇA nos impostos, entre 1814-1816, em CAYENA
MEMÒRIA
de SÂO PAULO - Largo da Memória 1814
construído por ordem do Marechal Pedro
MULLER e do pedreiro Vicente Gomes Pereira
IPORANGA- SP 1814
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Círio SIMON