quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

NÃO foi no GRITO - 069

O SILÊNCIO da MORTALHA COLONIAL
no BRASIL em FEVEREIRO de 1813 e 2013.

“O homem é digno de censura quando obra alguma ação má, e é digno de censura quando deixa de obrar uma ação boa a que estava obrigado [..] a felicidade da nação deve nascer e ser avaliada dos costumes
 e dos princípios que dirigem, não dos que são dirigidos”.
Correio Braziliense, vol. X. nº 57 fevereiro de 1813, Miscelânea , p. 202
 PIENSA - Jaime - Iemanjá  in G1 - 03.09.2012 a
Fig. 01 A cabeça emblemática branca da Iemanjá da cultura negra africana emerge das atuais águas baia da Guanabara como memória de um longo período de silencio, de opressão e da exploração material e imaterial do regime colonial. Evidente:  sempre existem os saudosistas dos privilégios dos quais foram privados.
A circulação da informação é um dos bens fundamentais da contemporaneidade, como foi em todos os tempos. Sonegar, corromper ou truncar a informação é um mal fundamental  e inverso ao bem que deveria  provocar.
 O estranhamento do editor do Correio Braziliense no seu número de 1813sobre o silêncio de noticia do seu país de origem é um índice do que acontecia ao longo de todo o período colonial. O controle rigoroso sobre a circulação de qualquer informação era um dos instrumentos mais perversos deste regime de conquista e espoliação sem limites. Como resultado o Brasil possui um imenso buraco de três séculos na memória do Poder Originário sobre qual este regime se assentava insensível e apenas interessado nos lucros coloniais.
DEBRET Jean Baptiste 1769-1848 Costume - Barbeiro 1827 Fundação Castro Maia
Fig. 02 -  A barbearia com um raro letreiro manuscrito para clientes com alguma instrução. Mas completamente distinto das barbearias do final do império e do período republicano quando o cliente era cercado uma espécie de biblioteca popular e informal.
 A pouca e a real memória existe no Brasil Colonial era resultante de atos administrativos de dominação jurídica legal reforçada e mantidas  pelas conquista da armas dos militares no mesmo sistema da conquista africana. Para este regime de conquista e espoliação sem limites a voz do Poder Originário era nula se não perigosa.
BRAZIL: Reflexoens sobre as novidades deste mez”.
. Correio Braziliense, vol. X. nº 57 fevereiro de 1813, Miscelânea , pp. 202 - 204
A observaçoens, que temos de fazer, por agora, neste artigo ; naõ saõ sobre as novidades que nos chegassem do Brazil; mas sobre o naõ termos novidades daquelle paiz. Esta proposição desafiará talvez a critica; mas nem por isso deixamos de estar persuadidos que temos razaõ. O homem he digno de censura quando obra alguma acçaõ má, e he digno de censura quando deixa de obrar uma acçaõ boa, a que estava obrigado.
DEBRET Jean Baptiste 1769-1848 Cientista trabalhando aquarela 1827 Fundação Castro Maia
Fig. 03 – O cientista era uma figura exótica entre a nobreza e a servidão colonial pois produzia para uma sociedade local altamente controlada e analfabeta.  No período esta atividade era altamente suspeita e vigiada de perto pela Santa Inquisição para necessitava pedir o NIHIL OBSTAT para publicar algo. Sem imprensa na colônia esta produção deveria ser feita na metrópole. Em 1813 o destinatário da produção intelectual estava do outro lado de um imenso oceano onde os textos se chegavam era muito tempo da sua elaboração original. Mas ninguém  se importava com este detalhe do controle intelectual e com a anacronia pois fora assimilado pelo hábito da heteronímia colonial
A edição e a circulação das informações da informações em relação aos Açores em inglês e distribuído em Londres e não nas colônias lusitanas.
De dia em dia esperamos receber noticias do Brazil, de que se adopta para aquelle paiz um systema de Governo accommodado á felicidade dos povos; mas de dia em dia se frustram as nossas esperanças, e naõ recebemos noticias de que se faça melhoramento algum.
No lugar correspondente deste N°. achará o Leytor noticia de uma obra publicada em Inglez, em que se descreve a mizéria actual dos povos das ilhas dos Açores, e se propõem como remédio separallas da Soberania de Portugal. O que o A. diz a respeito do Governo das iJhas deve, sem duvida, ser aplicável a todo o Brazil, porque todo o Brazil está governado pelo mesmo systema colonial, despótico militar.
Fig. 04 - A figura do conquistador armado a caminha da exploração das minas é uma constante na América do Norte e do Sul. Em geral um europeu acolitado de nativos fazia a sua AMÈRICA e levava tudo o que podia para o Velho Continente e deixando para a terra os prejuízos materiais e imateriais dos seus maus costumes.
O mal residia na raiz amarga do sistema colonial que a tudo regula e que tolera apenas  uma literatura, que se diria de “autoajuda” nos dias atuais estava fadado  a se perpetuar sem a intervenção de cultura que a resgatassem desta endogenia multissecular
E se a bondade de um governador, ou ouvidor ; se a maldade de outro governador ou Juiz de Fora, podem exacerbar mais ou menos os males do povo ; esta differença, que provem da tempera das pessoas, nada tem com o sistema, que he aonde a reforma deve recatiir." Quando, diz este A., era vez de ama applicaçaõ geral aos livros em vez de investigar os grandes principio» de legislação, o gênio da sua Constituição Nacional, ou as suas relaçoens e dependências com outras, os grandes exemplos e verdades da historia, as máximas da politica generosa, e recta ; e as mais severas verdades da filosofia ; quando êm vez disto, raras T(*-zet se elevam no estudo politico acima do conhecimento das contribuiçoens, que devem pagar ao seu principe; em vez da historia ler a legendas ; em vez de philosophia lem somente uma religião intolerante, em vez de costumes varonis e rectos lem somente o fanatismo, a superstição, e o enthusiasmo.
DEBRET Jean Baptiste 1769-1848 Costume aquarela 1827   http://piauinauta.blogspot.com.br/2011/02/costume-antigo.html
Fig. 05 -  Os prejuízos que o europeu trazia para os bens materiais do Novo Mundo  da falta de higiene e imateriais dos maus costumes não importavam se não atentassem contra o sistema colonial. Ninguém se comovia ou protestava contra a escravidão ou com as aparências e da sobrinha cor de rosa. A advertência de que a felicidade da nação deve nascer e ser avaliada dos costumes e dos princípios que dirigem, não dos que são dirigidos
O principio de que a “felicidade da nação deve nascer e ser avaliada dos costumes e dos princípios que dirigem, não dos que são dirigidos” impõe-se tanto para o Brasil de fevereiro de 1813 como para aquele de fevereiro de 2013. Em 200 anos continua a mesma guerra cultural dos que dirigem promovem a confusão, o silencio compungido e atrapalham qualquer sombra do poder que possa surgir no seu âmbito e sob a iniciativa das forças objetivas que constituem a natureza desta nação.
Quando este he o systema dominante, que se deve esperar de taõ estabelecida ignorância, senaõ erros na primeira digestão. Naõ deve porém entender-se, naõ obstante isto, que os costumes e principios do povo commum, tem lugar nesta conta. porque ainda que a somma total da felicidade da naçaõ deve nascer e ser avaliada pelos custumes e principios do todo, contudo os costumes, e principios dos que dirigem, naõ dos que saõ dirigidos ; dos que governam, naõ dos que saõ governados ; em uma palavra dos que fazem as leys, ou as executam, determinarão sempre a fortaleza, ou fraqueza - a continuação, ou a dissolução do Estado."
Fig. 06 – A imagem de uma urbe iletrada. Não existe o menor vestígio de letreiro que indique a natureza das casas com as portas escancaradas e para onde a população afluía apenas pelas indicações verbais e os gritos dos vendedores e trabalhadores escravos africanos iletrados. Evidente que alfabetizados seriam potenciais críticos e altamente incontroláveis pela violência contra os seus corpos.
Para o Brasil a mudança da corte foi apenas um lugar diferente para o mesmo sistema colonial.
Apresentando ao Governo do Brazil o modo de pensar dos estrangeiros a seo respeito, temos em vista apertar pela reforma; que, segundo a opiniaõ de todos os homens sensatos estrangeiros e nacionaes; deve ser a annihilaçaõ das instituiçoens provenientes do systema de governo colonial. Ha quatro annos que a Corte se mudou para o Brazil,e nada se tem feito a este respeito; quando naõ ha homem imparcial que naõ conheça a necessidade de reforma.
Fig. 07 - A cultura  africana sem índices de escrita, numeração num dos portos aglomerados  no Mali. A África, origem e sede de antiquíssimas civilizações, porém radicalmente  distintas entre si mesmas . A lógica do conquistar as uniu  e lhes quis impôs, pelas armas, um sentimento estanho de unidade de uma comunidade sem se importar das longas e penosas construções das identidades próprias com multisseculares tradições e hierarquias funcionais.
As identidades europeias buscam, em fevereiro de 2013 , a sua unidade. Porém em solo africano as feridas do multissecular erro colonial aparecem cada vez mais expostas. Feridas provocadas e motivadas pela cobiça dos bens materiais para os quais pouco importava as conquistas imateriais especialmente dos nativos.
O sistema colonial implantado no Novo Mundo não diferia daquele que os mesmos conquistadores instalavam na África. Este equivoco foi evidenciado pelo editor do Correio Braziliense quando afirmou que:
"o systema de Governo colonial estabelecido no Brazil, foi uma imitação do systema do governo das conquistas de Africa pelos Portuguezes. Erro este, em politica, da primeira ordem; porque conquista, e colônia saõ duas cousas mui diversas: as conquistas quasi sempre se conservam com a torça d' armas, e governo militar; av colônias devera seguir a legislação da Metrópole.
Bem como nas conquistas de Africa, se estabeleceo no Brazil um governador-general para cada provincia, que se chamou capitania; um governador subalterno para as diferentes cidades, e villas, e ainda commandantes militares ás aldeas, e povoaçoens menores ; deste modo o terror das armas parecia ser a única ley.
Agora o Brazil, que nunca foi conquista, deixou de ser colônia, e ainda assim nenhum pano se tem dado para adoptar a forma de governo ás circumstancias actues; os naturaes clamam; os estrangeiros prestam ouvidos a estes clamores ; « por tanto o mal naõ pode ficar longo tempo sem remédio. Os nossos desejos logo saõ, que gêja o mesmo Governo Portuguez quem applique este remédio, que tino espere até que os outros o tragam".
Fig. 08 – Uma imagem de um mercado humano sob o controle de poucos brancos e sob o ícone de sua santa escondia no alto do galpão. O artista e cientista Johan Moritz Rugendas retrata um mundo iletrado sem o menor vestígio de letreiro e comandado por indicações verbais e os gritos dos vendedores dos  trabalhadores escravos africanos iletrados. Noticias vindas deste mundo analfabeto não interessavam a qualquer “civilizado” e bem instalado no Velho  Mundo..
No entanto a corte instalada desdem1808 e com todo o peso e preço da sua máquina administrativa da mudança nada produzira em 1813. Nada produzira o alto investimento de toda ordem e cujos custos recaia sobre o Poder Originário. A mesma mortalha do silêncio legal a menor mudanças ou benefício visível silêncio. A voz do editor Correio Braziliense soava solitária:
A existência do governo militar he incompatível com a liberdade do cidadão, e por consequência com a felicidade da naçaõ. Quatro annos constituem um periodo assaz longo para pensar nestas matéri a se estabelecer o systema de governo que deve reger o vasto Império do Brazil; mas como nada se tenha feito a este respeito, julgamos do nosso dever, o lembrar a necessidade e urgência de taò importante parte das obrigaçoens daquellas pessoas, de quem depende á felicidade de tantos milhoens de habitantes.
Porém em fevereiro de 2013 esta mesma lógica persiste apesar  de o Brasil ter arrastado a sua capital ao Planalto Central e ali ter construiu uma ilha de fantasia. Um longo período de administração militra soó reforçou este silêncio e os seus fantasmas continuam a atormentara torturados e torturadores. Diante disto é necessário reconhecer que o sistema continua funcionando ativa ou subliminarmente, mude ou não seu nome. Diante da força deste sistema é  inteiramente compreensível que o sistema legislativo brasileira insista ainda século XXI em definir o Poder ORIGINARIO com o PODER CONSTUTUINTE. O Sistema Colonial Brasileiro passou 300 anos sem ser ameaçado por uma constituinte convocada. Agora passaram outros 200 anos procrastinando as mesmas energias e as enganando com meias verdades, eventos administrativos e marketing eleitoral.
Fig. 09  - Outra imagem de uma urbe transformada em capital de um império iletrado. Não existe o menor vestígio de letreiro que indique a natureza das casas com as portas escancaradas e para onde a população afluía apenas pelas indicações verbais e os gritos dos vendedores e trabalhadores escravos africanos iletrados. A sociedade colonial no entrechoque com a presença da corte lusitana teve acréscimo de trabalho e menos lazer para a leitura e a escrita. Na imagem de Johann Moritz Rugendas não existe menor vestígio de livraria,  jornal, período e nem mesmo contabilidade escrita A presença militar a cavalo e empenachada de um lado é uma amostra das guarnições militares e fortalezas que se erguiam não só pelo litoral. Mas atingia o Rio da Prata, a Região  Pantaneira e do Mato Grosso e a entrada para a Amazônia
A procrastinação da mudança tornou-se, em 2013, uma guerra cultural para quem busca confundir, silenciar e atrapalhar qualquer sombra do poder que possa surgir no âmbito e sob a iniciativa das forças objetivas que constituem a natureza desta nação. Enquanto as forças contrárias a esta eterna procrastinação buscam apenas se regular pelo singelo principio de que a felicidade da nação deve nascer e ser avaliada dos costumes e dos princípios que dirigem, não dos que são dirigidos” .
Fig. 10  - A imagem contemporânea da Rua 25 de Março da capital econômica e de fato do Brasil possui na sua essência e natureza intrínseca os mesmos componentes do sistema colonial . As  pessoas se movem, orientam e reproduzem na mesma lógica do sistema vigente há 200 anos.
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
CORREIO BRAZILENSE nº 057 fevereiro de 1813
Costume brasileiro
Barbeiro
História e Rugendas
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