UM
IMPÉRIO de MENTIRINHA APARENTE
... ou uma das estratégias
para saturar o mundo empírico dos sentidos humanos com o objetivo de bloquear e
emperrar o funcionamento do mundo conceitual do PODER ORIGINÁRIO. Processos reais,
dos quais o dominador se vale, com o objetivo de obter lucros simbólicos e
materiais. No entanto oculta o seu objetivo e mantém intocadas as estratégias
pelas quais instaura instrumentos para perpetuar a geração da HETERONOMIA do
OUTRO.
Foto Círio Simon
em 04.11.2011
Fig. 01 – Obra
que se apropriou, em 2011, de um endereço de prestígio no âmbito do poder originário de Porto Alegre. e se vale
deste prestígio para os seus objetivos. Obra
descartável como aquelas espalhadas e abandonadas no Parque Marinha do Brasil. Nesta
imagem evidencia-se como a propaganda e
o marketing busca substituir, esconder e corromper a publicidade de uma fachada necessariamente
limpa e identificável de um
prédio do Serviço Público.
O povo brasileiro celebrava,
há duzentos anos, o seu imperador e muito antes da chegada do Príncipe Dom
João. Havia impérios espalhados por todo
território nacional antes do ESTADO IMPÉRIO inaugurado por Dom Pedro I.
Esta herança cultural
lusitana continua em boa forma nas ilhas dos Açores Herança que o povo cultiva muito
além da sua vigência política no reino lusitano e no império brasileiro. É
verdade que nos Açores, a associação da imagem das sete línguas de fogo do
Divino, encontra um suporte físico na imagem das emanações ígneas das
atividades vulcânicas do seu ambiente geológico.
Imagem a partir
do BLOG http://bagosdeuva.blogspot.com/2010/05/imperio-dos-quatro-cantos-bicentenario_28.html
Fig. 02 – Coleta
de donativos para a festa em 1974, nas Ilhas Açores em vez do tradicional muar um
bovino puxa a carroça Terminada a cerimônia da plantação
do mastro e a eleição do imperador,
que eram o anúncio solene de tais festas, saíam todos pelas ruas, a esmolar.
A corte política lusa
promovia a sua dominação subliminar, ao se valer do populismo social e
econômico, inclusive da cultura pública religiosa. Este processo apostava e
continua a sua aposta na onda da inércia tradicional, que arrasta, esconde, torna
oco e sem sentido a circulação do autêntico poder originário. O Estado colonialista buscava legitimar, com este
instrumento subliminar, e mascarava o uso de todos o seu arsenal aversivo e
coercitivo inerente ao seu projeto de dominação pela dominação.
Segue-se este costume no texto “O
Imperador do Divino”
e suas práticas externas do livro O RIO de
JANEIRO no TEMPO dos VICE REIS do
escritor Luis Edmundo (2000, PP 185-192) da
Academia Brasileira de Letras:
Mandava a tradição que
no domingo de Páscoa, diante das igrejas onde se organizavam as festas do Imperador do Divino, junto a um
coreto que se chamou império, se erguesse, com toda a solenidade, grande
mastro, mostrando no tope, alvissareira, a pomba simbólica do Espírito Santo.
Imagem Luis Edmundo 2000, p.183
Fig. 03 – Os monarcas
do Espírito Santo eram, em geral, meninos de dez, onze e doze anos
Essa cerimônia era
festivamente realizada depois da eleição do imperador, que, embora não coroado ainda, a tudo já assistia, na
sua esplêndida indumentária de grande gala, cercado, não só por uma guarda de
honra, como ainda por uma corte luzida e numerosa.
Os monarcas do Espírito Santo eram, em
geral, meninos de dez, onze e doze anos. Não obstante, muitos foram os adultos
eleitos para imperar durante as sete semanas de folia, que iam da Páscoa a
Pentecostes.
Imagem a partir
do BLOG http://bagosdeuva.blogspot.com/2010/05/imperio-dos-quatro-cantos-bicentenario_28.html
Fig. 04 – A áulica e
numerosa comitiva do monarca provisório numa das Ilhas dos Açores no ano de 2010.
Conta-se, por exemplo,
no começo do vice-reinado, o caso de certo tanoeiro chamado Cunha, ao qual
fizeram os moradores desta cidade imperador
do Espírito Santo, por sinal que imperador
atrevidíssimo. Sagra-se o homem após uma missa cantada no primeiro
domingo de Pentecostes, aceitando ele as insígnias do poder, e instalam-no
sobre um trono magnífico a fim de receber, da submissa vassalagem, as saudações
do protocolo. Estão as cousas neste pé, quando, para saudar Sua Majestade, surge o vice-rei Conde
da Cunha, que, logo da escada do coreto, lhano e amabilíssimo, numa cortesia
das chamadas de mergulho, saúda-o por três vezes.
De tal sorte, porém,
se compenetra o tanoeiro da sua alta jerarquia, que tem como resposta ao gesto
de gentileza do conde apenas um leve franzir de testa e um muchocho...
Absolutamente desconcertado, o conde sorri, não sem algum constrangimento,
dizendo para os da sua comitiva esta frase, que a História ainda guarda:
– Ah, que se o
tratante não representasse tão ao vivo o seu papel, metia-lhe este bastão pela
boca...
E os seus dedos
crispados e trêmulos apertavam singularmente a vasta bengala de jacarandá de
cabo de marfim e biqueira de prata...
Imagem a partir
do BLOG http://bagosdeuva.blogspot.com/2010/05/imperio-dos-quatro-cantos-bicentenario_28.html
Fig. 05 – Procissão, em 1910, das Ilhas dos Açores No domingo
de Pentecostes, isto é, cinqüenta dias depois do domingo de Páscoa,
paramentava-se toda a igreja, engalanavam-se todos os altares, acendiam-se as
luzes dos grandes dias de festa, e, ao som de músicas e coros, havia missa
cantada
Muitos desses monarcas improvisados foram a
vergonha e humilhação de várias irmandades, diga-se de passagem.
Vieira Fazenda
refere-se, por exemplo, a um deles, certo meninote eleito imperador do Espírito Santo, e, que,
furioso com o embaraço que lhe causavam coroa, cetro, manto, trono e corte,
vendo-se privado, ainda por cima, do recreio e dos brincos naturais da sua
idade, resolveu vingar-se da confraria que o elegera, e que em trono dourado o
retinha em atitude de cerimoniosa e severa etiqueta. E é assim que nasce da
cabeça do garoto uma idéia absurda, que ele não tarda a pôr em prática.
Simula, assim posto,
certa necessidade inadiável, e, sem dizer água vai, abala, correndo à procura
dos fundos discretos da igreja... Resultado – move se-lhe, na cauda,
imediatamente, cingindo-se ao severo protocolo, toda a áulica e esplendorosa
comitiva, composta de provectos e sisudos irmãos. Volta, momentos após, o imperador ao trono, porém, havendo
descoberto, no despique, diversão que o alegra, de novo abala a correr,
levando, ao encalço, o cortejo majestático que, nesse dia, nada mais fez que
correr do coreto para a igreja e da igreja para o coreto...
Imagem a partir
do BLOG http://bagosdeuva.blogspot.com/2010/05/imperio-dos-quatro-cantos-bicentenario_28.html
Fig. 06 – Início da procissão, em 2010, de um
Ilhas dos Açores. No domingo de Pentecostes, isto é, cinqüenta dias depois
do domingo de Páscoa, paramentava-se toda a igreja, engalanavam-se todos os
altares, acendiam-se as luzes dos grandes dias de festa, e, ao som de músicas e
coros, havia missa cantada
Terminada a cerimônia
da plantação do mastro e a eleição do imperador,
que eram o anúncio solene de tais festas, saíam todos pelas ruas, a esmolar. À
frente ia o alferes da bandeira com
o estandarte do Divino, seguido de algumas figuras da irmandade, com sacolas, e
logo as músicas e o imperador no
seu espetaculoso uniforme de gala entre dois irmãos de opa vermelha. Em geral,
tanto o alferes como a legião
de pedintes, formando o coro da festança, vestiam indumentárias garridas, os
tricórnios ou chapéus de massa festivamente decorados de fitas, flores e
plumas.
Imagem a partir
do BLOG http://bagosdeuva.blogspot.com/2010/05/imperio-dos-quatro-cantos-bicentenario_28.html
Fig. 07 – Procissão em
1910 numa Ilhas dos Açores. No
domingo de Pentecostes, isto é, cinqüenta dias depois do domingo de Páscoa,
paramentava-se toda a igreja, engalanavam-se todos os altares, acendiam-se as
luzes dos grandes dias de festa, e, ao som de músicas e coros, havia missa
cantada
Quem não tinha a moeda
de prata para meter na sacola, vinha com o seu peru, com uma caixa de
rebuçados, um metro de fita, o que fosse – mas, que por pouco, não deixava
nunca de provar ao santo elevado apreço e maior devoção.
Davam todos, até os
pobrezinhos.
O
Divino é muito rico,
Tem
brasões e tem riqueza,
Mas
quer fazer a sua festa
Com
esmolas da pobreza.
Fig. 08 – Procissão em 2011,
em Aveiro Portugal . No
domingo de Pentecostes, isto é, cinqüenta dias depois do domingo de Páscoa,
paramentava-se toda a igreja, engalanavam-se todos os altares, acendiam-se as
luzes dos grandes dias de festa, e, ao som de músicas e coros, havia missa
cantada
Para garantir o
transporte das dádivas em objetos, sempre numerosos e, por vezes, das mais
estapafúrdias em qualidade e feitio, fechando o préstito, vinha, sempre, um
burro ou uma carroça, sob a guarda e tutela de irmãos levantando círios acesos.
Dai
aquilo que quiserdes,
De alma boa, de alma cega,
Ouro
mesmo em barra ou pó,
Que
o burro tudo carrega!
O alferes pedinte não
esquecia que as ofertas em dinheiro podiam ser substituídas por qualquer cousa
que os alimentasse naquela hora de diversão e de quete:
O
Divino Espírito Santo
É
um grande folião,
Amigo
de muita carne,
Muito
vinho e muito pão.
Venha
um bom copo de vinho,
Venha
um naco de galinha,
Venha
um peixe, um ovo, um fruto
Ou
uma cuia de farinha
Qualquer
cousa servia para consolo do
Divino
Espírito Santo,
Divino
e celestial,
Na
terra mansa pombinha,
No
céu pessoa real..
Imagem Luis Edmundo 2000, p.186
Fig. 09 – Sagra-se o homem aceitando ele as insígnias do
poder, e instalam-no sobre um trono magnífico a fim de receber, da submissa
vassalagem, as saudações do protocolo. Quando, surge o vice-rei Conde da Cunha para
saudar Sua Majestade que, logo
da escada do coreto saúda-o por três vezes numa cortesia. Porém o tanoeiro
compenetra-se da sua alta jerarquia, que responde ao gesto de gentileza do
conde apenas um leve franzir de testa e um muchocho... O conde sorri
desconcertado, não sem algum constrangimento, dizendo para os da sua comitiva
– Ah, que se o tratante não representasse tão ao vivo o seu
papel, metia-lhe este bastão pela boca...
Pela frincha da casa
colonial, enfiava-se, então, o estandarte de seda, que era respeitosa e
anti-higienicamente beijado, lambido por toda a carola família, do dono da casa
ao último escravo. Na volta, vinha o estandarte acompanhado de alguns embrulhos
ou de algumas moedas. Moedas para a sacola, embrulhos para a cangalha do
burro...
Obrigado,
minha gente,
Pelo
que vindes de dar.
O
Divino Espírito Santo
Muito
vos há de aumentar.
E, dando por finda a
missão do bando, depois do eloqüente resultado:
A
bandeira se despede
Com
toda a sua folia.
Viva
a dona desta casa.
Viva
toda a companhia...
Dias inteiros andam
os pedintes pelo bairro, a sacola na mão e os alforjes do burro escancarados
como goelas à generosidade do público.
Imagem a partir
do BLOG http://bagosdeuva.blogspot.com/2010/05/imperio-dos-quatro-cantos-bicentenario_28.html
Fig. 10 – Um Imperador no seu trono em 1910 numa das
Ilhas dos Açores. Era das mãos de um sacerdote que o improvisado imperador recebia a coroa de metal ou
de papelão, o cetro, o globo e a bênção católica A sacra coroação do monarca,
feita com todos os preceitos estabelecidos para a coroação dos verdadeiros
reis. Só aí, sob o pálio da irmandade o monarca deixava a nave da igreja,
ingressando o seu império, onde
ia receber as saudações da vassalagem respeitosa e submissa.
Que não se calcule,
porém, a dinheirama que se levantava aos poucos, nem o número de objetos
recebidos, e que eram, depois de levados pela cavalgadura, postos no leilão de
prendas, sempre pelo melhor dos preços.
No domingo de
Pentecostes, isto é, cinqüenta dias depois do domingo de Páscoa, paramentava-se
toda a igreja, engalanavam-se todos os altares, acendiam-se as luzes dos
grandes dias de festa, e, ao som de músicas e coros, havia missa cantada, e,
logo a seguir, a sacra coroação do monarca, feita com todos os preceitos
estabelecidos para a coroação dos verdadeiros reis. E era das mãos de um
sacerdote que o improvisado imperador recebia
a coroa de metal ou de papelão, o cetro, o globo e a bênção católica. Só aí,
sob o pálio da irmandade, deixava ele, o monarca, a nave da igreja, ingressando
o seu império, onde ia receber
as saudações da vassalagem respeitosa e submissa.
Imagem Luis Edmundo 2000, p.190
Fig. 11 –
Erguendo os mastros da “FRAGATA” e
da “FORTALEZA”
no pátio IMPÈRIO do DIVINO . Como
último número dessa fantasiosa luminária, após uma saraivada vistosíssima de
rojões, vinha sempre o combate da fortaleza com as fragatas. Ao meio ficava o
forte, tendo uma nau de guerra de cada lado.
O império, em alguns lugares, era de
pedra e cal. A maior parte, porém, cifrava-se em modestos coretos de madeira e
lona pintada, sobre os quais se estendia um toldo de fazenda vistosa.
Tiveram diversas
formas e tamanhos esses impérios memoráveis;
foram, entretanto, todos eles, suficientemente espaçosos e capazes de receber
não só a áulica e numerosa comitiva do provisório monarca, como, ainda, os múltiplos presentes, que lhes chegavam
a cada hora, arrecadados todos em benefício da igreja.
Imagem a partir
do BLOG http://bagosdeuva.blogspot.com/2010/05/imperio-dos-quatro-cantos-bicentenario_28.html
Fig. 12 – Junto ao império outro palanque para o leilão de prendas
Junto ao império, erguia-se, quase sempre,
outro palanque para a música e para o leilão de prendas. Uma girândola
anunciava a entrada do imperador para
o império. Os instrumentos
soavam e, enquanto o povo, de um lado, saudava o príncipe, beijando o pavilhão do Divino, de outro lado as
músicas e o leiloeiro cuidavam do que era mais importante: da parte financeira
da folgança.
– Quanto dão por esta
caixa de segredo em forma de coração? Quem tiver namorada que a compre. Pode
não haver nada dentro, mas também pode existir uma jóia de altíssimo valor...
Quanto dão pela jóia de altíssimo valor? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe
três...
E batia com o vasto
martelo de pau sobre o balaústre do coreto, fechando o negócio.
O leiloeiro foi sempre
um homem de chalaça fácil, embora de difícil propósito, não raro escolhido
entre atores de farsa nos elencos do teatro local e convidado pelas irmandades
para garantir o bom humor e o lucro nos leilões.
Entre a música e as
farsolices do pregoeiro, corria a noite tranqüilamente até a hora dos fogos de
artifício, que a encerravam com dignidade, em números de uma pirotécnica
simbólica e divertida.
Imagem a partir
do BLOG http://bagosdeuva.blogspot.com/2010/05/imperio-dos-quatro-cantos-bicentenario_28.html
Fig. 13 – Entre a música
e as farsolices do pregoeiro, corri o dia tranqüilamente ainda em 2010.
Como último número
dessa fantasiosa luminária, após uma saraivada vistosíssima de rojões, vinha
sempre o combate da fortaleza com as fragatas.
Ao meio ficava o
forte, tendo uma nau de guerra de cada lado.
O número, apesar de
velho, interessava sempre. Fazia-se mister que a fortaleza ganhasse e as
fragatas perdessem a incruentíssima batalha, que se travava.
Rompia o inominável
bombardeio entre evoés e palmas.
Em dado momento, as
naus, menos por falta de intrepidez que de pólvora, cessavam fogo. Era a
derrota confessada.
Dominando o campo da
luta, a fortaleza, no delírio da vitória, então, salvava em direção ao povo,
que recebia os chamuscos e aplaudia satisfeito.
Era quando, por um
dispositivo qualquer, o quadro que representava o forte, caía, deixando ver, em
vez de um reduto de guerra, a imagem suavíssima de uma pomba, a do Divino
Espírito Santo, de asa queda, de bico aberto, fulgindo entre luzes de várias
cores. Todos, aí, se ajoelhavam, rezando, batendo piedosamente com as mãos no
peito...
Imagem a partir
do BLOG http://bagosdeuva.blogspot.com/2010/05/imperio-dos-quatro-cantos-bicentenario_28.html
Fig. 14 – Nas das ruas de
uma cidade das Ilhas do Açores em 2010. O dia corre tranqüilamente entre a música e as farsolices
do pregoeiro..
Subiam as últimas
girândolas a anunciar aos quatro ventos o final da festança. Repicavam os
sinos.
Com aplauso, vivas ao
fogueteiro que, ainda quando não prestasse, era saudado como muito bom, e vivas
ao Divino Espírito Santo, a multidão, satisfeita, dissolvia-se, espalhava-se e
perdia-se, desaparecendo sob o manto da noite escura e silenciosa.
Este hábito. mantido por forças subliminares,
abriu caminho e tornou natural a prática do poder imperial no Brasil. No
caminho deste tsunami, silencioso e subliminar, ele foi reforçado pela onda da
moda parisiense do poder histriônico imperial napoleônico e trazido, em 1816, na
bagagem da cultura atualizada da Missão Artística Francesa. No contraditório
não se deseja afirmar que a tradição popular, associada a tradição erudita
francesa do culto imperial, tenha sido a causas do Brasil adotar, em 1822, o Regime
Imperial. Apenas limita-se, aqui a constar que, este regime imperial havia se
tornado “natural”, não causou muita espécie e resistência quando foi
transferido para valer de fato, e de direito no âmbito do poder político
brasileiro. Os ecos desta força subliminar ainda foram possíveis ouvir em
Canudos em, 1896, em pleno Sertão e Regime Republicano. Certamente reduzir este
movimento de Antônio Conselheiro a uma pura vertente messiânica e sebastianista
é querer desconhecer as forças de inércia de uma cultura coercitiva de 400 anos
de dominação colonial continuada. Cultura sem direito de deliberar e decidir a
não ser sobre superfluidades e festas para alienar os cinco sentidos humanos.
Imagem a partir
do BLOG http://bagosdeuva.blogspot.com/2010/05/imperio-dos-quatro-cantos-bicentenario_28.html
Fig. 15 – Ainda
em 2010, numa das Ilhas dos Açores
os instrumentos soam e, enquanto o povo, de um lado, saúda o príncipe, beijando o pavilhão do
Divino, de outro lado as músicas e o leiloeiro cuidam do que era mais
importante: da parte financeira da folgança.
Permitir superfluidades
e festas, e até estimulá-las, desvia a inteligência e a vontade de tudo o que
pode comprometer diretamente e frontalmente o poder real e efetivo do ESTADO ou
do PODER RELIGIOSO. Para estes poderes urge criar, induzir e permitir o
surgimento “espontâneo” de
estratégias para saturar o mundo empírico dos sentidos humanos tendo com o
objetivo de bloquear e emperrar o funcionamento do mundo conceitual do poder originário. Poder anestesiado e
alienado permitindo ocultar e manter intocados os instrumentos da dominação e objetivo
de outrem. Para encobrir a tragédia
real do exercício do poder do Estado cruel e implacável do Poder este vale e
faz ressurgir a SÁTIRA romana associada aos autos-de-fé medievais. No Barroco
colonial este limite era zelosamente estabelecido pelos instrumentos jurídicos
escravidão legal, da Inquisição e da Mesa da Consciência real. Este conjunto
era planejado pela Propaganda da Fé que usava e estimulava os cinco sentidos humanos para atingir os
seus objetivos subliminares de dominação colonial e de espoliação do trabalho
humano. Para este projeto não escapava nenhum mistério sacro. Antes era
oportunidade e ocasião do simulacro sensorial de uma sátira velada ao poder
terreno do Estado. A cultura do poder originário mergulha neste mar do
esquecimento. Cabia aos mecanismos da
dominação colonial, e de espoliação do trabalho, preceder e antecipar-se a
qualquer crítica potencial contida na natureza dos mistérios sacros,
transformando este tabu em totem a ser adorado.
Imagem a partir
do BLOG http://bagosdeuva.blogspot.com/2010/05/imperio-dos-quatro-cantos-bicentenario_28.html
Fig. 16 – Obra em azulejo de 2010 para o cultivo
da memória de um IMPÈRIO das Ilhas dos
Açores.
O lucro, o êxito e a fortuna
do regime colonial, e da espoliação do trabalho que promovia e acobertava, era
manter e eternizar a coesão social e a identidade popular ao redor da Igreja e do
Estado unidos no mesmo projeto de dominação. Em ambos os casos o Serviço Público civil e religioso
investia apenas na propaganda e no marketing que substitui, esconde e
corrompe a publicidade. Publicidade que ambas necessitam evidenciar e mostrar
continuadamente nas suas intenções e ações, não apenas em eventos isolados
e sobre os quais elas deliberavam e decidiam de uma forma soberana e de última
instância.
Resumindo: o objetivo do tipo de dominação,
que acabamos de estudar, é o de saturar o mundo empírico dos sentidos humanos
para bloquear e emperrar o funcionamento do mundo conceitual do OUTRO. Mundo
conceitual do OUTRO que poderia tornar-se competente, a qualquer momento, para
entender o embuste, a trampa e o logro continuado de algo colocado em outro
lugar, tempo e cultura. Operação que se traduz, em bom português, com o termo jogar
o OUTRO na “heteronomia” da sua vontade, da sua inteligência e dos seus mais
nobres e puros sentimentos.
Imagem a partir
do BLOG http://realfamiliaportuguesa.blogspot.com/
. Fig. 17 – O trono real português, em 2011, como memória do período real lusitano
e das suas dinastias que aguardam o retorno deste regime.
Generalizando: a micro-estrutura reproduz a macro
estrutura na qual opera. Politicamente os indivíduos singulares, os pequenos
grupos e as instituições reproduzem em si mesmos, e em ponto menores, o macro
regime no qual operam, funcionam e se reproduzem. Ou vice-versa, num circulo
virtuoso, ou vicioso, conforme a sua origem e sua natureza intrínseca. Se não o
conseguem, de fato e de direito, realizam na forma de FARSA, de SÁTIRA ou com o pé na
porta.
TEXTO
deste BLOG extraído de
Edmundo, Luís. O Rio de Janeiro no tempo dos
Vice-Reis – 1763-1808 / Luís Edmundo. – Brasília : Senado Federal,
Conselho Editorial, 2000. 480 p.
– (Coleção Brasil 500 Anos)
1. Rio de Janeiro (RJ),
descrição. 2. Rio de Janeiro (RJ), história. 3. Usos e costumes, Rio de Janeiro
(RJ). I. Título. II. Série.
CDD 918.1541
FONTES
NUMÈRICA-DIGITAIS
O Rio de
Janeiro no tempo dos Vice-Reis – 1763-1808 DISPONÌVEL no DOMÌNIO PÚBLICO BRASILEIRO em:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=5194
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=5194
LUÍS EDMUNDO de MELO PEREIRA da
COSTA
IMPÉRIO BICENTENÁRIO nos AÇORES
TRONO REAL PORTUGUÊS VAZIO
SÁTIRA
AUTO de FÈ
ATO em PORTO ALEGRE, no dia 11.11.2011 contra o
IMPERIALISMO
Este blog possui
apenas fins pedagógicos.