sábado, 10 de junho de 2017

152 - NÃO FOI NO GRITO


Em JUNHO de 1817 o GOVERNO foi enfraquecido pelos ABUSOS para enfrentar a REVOLUÇÃO em PERNAMBUCO e manter MONTEVIDEU como o é, em 2017, para se MANTER em PÉ.
 O Governador se achou, pela série de abusos, que sempre trazem os governos ao desprezo, sem ter nem forças físicas nem morais, com que fizesse obedecer á sua autoridade. Correio Braziliense junho 1817p.673.
Fig. 01 –  O regime colonial jogou a pesada máquina militar  sobre a capitania de Pernambuco fazendo sentir  toda a dominação monocrática  lusitana. Maquina militar desproporcional comparada ao poder civil. Este  poder civil evidentemente excluía liminarmente toda a população escrava

A Revolução de 1817 - que eclodiu e foi abafada em 1817 no Recife -   é mais um forte e decisivo índice de que a conquista da soberania brasileira NÃO foi realizada,  em 1822, NO GRITO do IPIRANGA e nem foi algo territorialmente pontual ou veio de um único sujeito num dado momento. Este momento, se o houve, foi longamente preparado e a sua sustentação, no TEMPO, foi paga por alto preço, por uma mobilização massiva e uma atenção continuada em relação às recaídas no COLONIALISMO
 

Fig. 02 –  A treinada máquina militar não demorou em reconduzir a capitania de Pernambuco ao regime colonial e esmagar os idealistas em sacudir o jugo da a dominação monocrática  lusitana. Capitania militar que excluía liminarmente tanto a rala e frágil população civil não alinhada com o sistema de exploração. Neste sistema de exploração os escravos eram meras “PEÇAS PRODUTIVAS” no lugar das máquinas e da indústria proibida no Brasil pelo Alvará se Dona Maria de 05 de janeiro de 1785

Numa colônia de longa tradição de dominação militar e de altos investimentos em rosários de fortalezas e dispondo de uma máquina administrativa nas mãos militares e sendo mantido e subsidiado por uma elite econômica com respaldo de equipamentos e funcionalismo também de formação e obediência militar. A DENOMINAÇÃO de “CAPITANIAS[1] denunciava a origem e o sentido desta máquina administrativa confiadas a militares de carreira.
CORBINIANO LINS  - Mural das REVOLUÇÕES de 1817-1824- 1848 RECIFE 1967
Fig. 03–  A obra mural do, ano de 1967, da autoria de José CORBINIANO LINS evoca a memória é de um ciclo de movimentos heroicos de afirmação do PODER ORIGINÀRIO BRASILEIRO. Esta obra evidentemente não é fotográfica e nem personaliza indivíduos como acontece na obra “O GRITO do IPIRANGA” do pintor Pedro AMÉRICO. No entanto o mural de CORBINIANO LINS exalta o PODER ORIGINÀRIO que tornou possível a proclamação, a construção e a manutenção da SOBERANIA BRASILEIRA, até os dias atuais.


CORREIO BRAZILIENSE –junho de 1817 VOL. XVIIL Nº. 109, pp.672- 680.
Reflexoens sobre as novidades deste mez.
REYNO UNIDO DE PORTUGAL BRAZIL E ALGARVES.
Revolução de Pernambuco.

A anxiedade, que sentimos, ao momento em que publicamos o nosso N°. passado, tendo acabado de receber as noticias vagas e indeterminadas, sobre o levantamento de Pernambuco; se tem em grande parte diminuído; por termos podido de algum modo aves riguar a extençaõ do mal; com os numerosos documentos, que nos chegaram á maõ, depois da nossa ultima publicação. E sabemos que a insurreição se limita a Pernambuco, Paraiba, e Rio Grande do Norte.
Fig. 04 –  A bucólica paisagem nordestina da capitania de Pernambuco escondia horrores sem fim.   O  poder civil excluía liminarmente toda a população escrava. Assim qualquer PODER ORIGINÀRIO brasileiro  era uma ficção e apenas passava por algumas mentes iluminadas e nas horas em que mais pesava o jugo monocrático colonial e monocrático 

 Este successo em Pernambuco, he de muito maior importância em suas conseqüências, do que na sua actual extençaõ; e por isso julgamos mui conveniente publicar juncto tudo quanto tem transpirado a este respeito; porque assim daremos a nossos Leitores os meios de fazerem o seu juizo sobre os acontecimentos, e sobre suas causas. Em duas cartas qae se publicaram nas gazetas lnglezas, assignadas—" Um Braziliano estabelecido em Londres"—se insiste muito em que naõ ha no Brazil causas de descontentamento Nós deixamos copiada neste No a p. 646 uma destas cartas; e ao diante faltaremos delia; mas aqui diremos, contra a opinião daquelle escriptor; que lia em todo o Brazil muita causa para descontentamento; e que se o Governo naõ attender a isso com um remédio radical, quer subjugue quer naõ a presente insurrecçaõ em Pernambuco, continuará a ficar na bordado precipício. Isto saõ verdades amargas, mas naõ he com lisonjas que se induzem os Governos a obrar com acerto. A p 659 damos uma narrativa dos suecessos de Pernambuco, escripta por um sugeito, que de Ia chegou; e naõ só pelo que elle ali escreve, mas por suas declaraçoens verbaes, sabemos, que he decidido inimigo do Governo Provisório, estabelecido pelos insurgentes, e a demais entretem principios diametralmente opposlos aos da revolução. Naõ podemos pois, vistas estas consideraçoens, deixar de dar credito ás asserçoens desta testemunha occular, quando descreve a administração em Pernambuco tam cheia de abusos, que até os olhos menos previdentes conheciam, que a machina do Governo estava caindo a pedaços por si mesma. Em um ponto certamente naõ concordamos com aquelle escriptor, e vem a ser, que elle attribue a desorganização, que observava em Pernambuco, á pessoa do Governador, quando nós mui decididamente a imputamos ao systema.
Luís do REGO BARRETO 1777-1840
Fig. 05 –  O general Luís do REGO BARRETO – o mais odiado dos governantes de Pernambuco - teve  o seu retrato graças à abertura estética trazida pela  Missão Artística  Francesa ao Brasil.. O general e o nobre REGO BARRETO conduziu uma administração dúbia e eclética que se  compunha com a máquina militar e civis. Assim conseguiu desagradar a uns e outros.   

E a prova disto a achamos, no que succede em todas as mais capitanias, e com todos os mais Governadores, como se pode ver, pelas noticias, que temos de tempos a tempos publicado era nosso Periódico, e, por exemplo, no que tem suecedido no Marahaõ, sob o governo de muitos e diversos Governadores. Desejamos porém aqui explicar-nos claramente, que esses abusos nunca podiam justificar uma rebelião; mas dizemos, que saõ provocação mais que bastante. E, pela experiência que a historia nos ensina, he claro ser da natureza humana, que, quando em uma naçaõ faltam os meios constitucionaes de poderem os povos representar as suas queixas ao Imperante, sempre appéliam, com direito ou sem elle, para os meios da força: e por fim se vê o Governo obrigado a declarar guerra contra seus subditos, d' onde se seguem todas as misérias e desgraças, concomitantes das guerras civis.
Fig. 06 –  A extensa capitania de Pernambuco  perdeu territórios imensos em consequência da REVOLUÇÂO de 1817. A máquina militar destroçou o poder civil e eventuais recursos para reerguer qualquer vestígio de PODER ORIGINÀRIO. Este  PODER ORIGINÀRIO que excluía toda a população escrava era, de fato, uma máquina de apropriação e exploração do TRABALHO e do ESFORÇO ALHEIO como da empetecada liteira, carregada nos ombros escravos

Por todas as noticias, que temos, parece, que estas foram as causas remotas da insurreição de Pernambuco ; e a causa próxima foi um rumor, que se levantou, sem o menor fundamento, de que havia entre os habitantes daquella cidade certa rivalidade e ódio dos Portuguezes Europeos, com os Portuguezes Brazilianos O Governador, em vez de acalmar tam mal fundada suspeita, e sem que tivesse acontecido um só facto, pelo qual se mostrasse existência de tal rivalidade, entre as duas classes de Portuguezes publicou a injudicionissima Ordem-do-dia, que copiamos a p 600; na qual admitte a existência dessa rivalidade e ódio; creou com isto o fundamento para sustos, que naõ existiam ; e vendo que se ateava o incêndio, determinou no dia seguinte usar de meios de rigor, mandando prender grande numero de pessoas, que lhe eram suspeitas. O exemplo e experiência das prizoens arbitrarias, taes como a Septembrizada de Lisboa, cujas victimas ainda hoje padecem, sem recurso, nem remédio, induzio naturalmente os Pernambucanos á resistência aberta; e o Governador se achou, pela série de abusos, que sempre trazem os governos ao desprezo, sem ter nem forças phisicas nem moraes, com que fizesse obedecer á sua authoridade. Neste indefezo estado se acolheo a uma fortaleza, aonde naõ tinha meios alguns de resistir. Os insurgentes lhe intimaram que se rendesse, apresentando-lhe as condiçoens em um ultimatum, que publicamos a p. 601; e que elle aceitou, fazendo o assento, em conselho de guerra, com os poucos officiaes que o seguiram, que deixamos copiado a p. 603.
Caetano PINTO de MIRANDA MONTENEGRO (1748-1827) https://pt.wikipedia.org/wiki/Caetano_Pinto_de_Miranda_Montenegro
Fig. 07 –  A administração da capitania de Pernambuco foi personalizada por Caetano PINTO de MIRANDA MONTENEGRO.  Interessado em manter  o seu cargo pouco fazia para cumprir as funções. Confiante na estrutura monocrática real do estado colonial a sua administração de Pernambuco (1814-1817) esteve distante do seu tempo, do seu lugar e da sociedade nordestina, como registra o texto do Correio Braziliense de junho de 1817..

Ficou assim Pernambuco em perfeito estado de anarchia; e por fortuna os insurgentes nomearam um Governo Provizorio, que sendo obedecido sem resistência, evitou os maiores males, que se deviam temer de tal estado das cousas. O acto por que tal Governo se nomeou, vai copiado a p. 603; e o modo por que está lavrado mostra, que foi obra do momento. Uma vez, que as revoluçoens começam pelo povo, a tendência he sempre para a forma de Governo Republicano; por mais imprópria que esta seja; por isso que as apparencias de democracia saõ as que mais lisongêam os indivíduos das classes mais numerosas. Assim os insurgentes, em vez de seguirem o conselho de um de seus mesmos membros, que propunha mandar uma Deputaçaõ ao Soberano, resolveram logo declarar-se em Estado independente; publicaram o manifesto (á p. 604.) aonde em vez de argumentos só usaram de invectivas directas contra a pessoa do mesmo Soberano: decretaram (pelo documento a p. 610.) o tractamento geral de-Vós— ; como prova de seu espirito republicano; e começaram a tomar as muitas medidas, que se vem dos papeis que publicamos de p. 607, em diante; pelas quaes se dispuzéram a manter com a força a sua independência.
Fig. 08 –  O retrato individual era inteiramente proibido no regime colonial lusitano brasileiro. A imagem personalizada e individual era privilégio de reis e de bispos e as imagens da terra estavam proibidas como propriedades secretas da coroa lusitana.   Assim imagem de ANTÔNIO GONÇALVES da CRUZ - O CABUGÀ foi recomposto a partir  de narrativas comparações e ambientações nas quais viveu este personagem. Ambientações tiveram de recorrer aos pintores holandeses que não tinham este tabu do retrato e da paisagem   

Nomearam, em conseqüência, um Agente Diplomático, que partio logo a tractar com o Governo dos Estados Unidos. Este Agente, cujo nome he Antonio Gonçalvez da Cruz[1], chegou a Boston em um navio, com bandeira do Governo insurgente; e logo saíram dali vasos de negociantes especuladores, que levaram a Pernambuco mantimentos e muniçoens de guerra.


[1] A embaixada de ANÒNIO GONÇALVES 0 CABUGÀ no ESTSADOS UNIDO

Fig. 09 –  A resistência de Recife - e  da capitania de Pernambuco - não esmoreceu com derrota de 1817 imposta pela  pesada máquina militar do regime colonial e pelo peso da dominação monocrática  lusitana. Esta dominação continuou transvestida pelo regime imperial. As mesmas figuras e elites continuavam o processo  de dominação. A população escrava, o povo e aqueles que aspiravam juntar-se aos povos maias adiantados e evoluídos econômica, técnica e socialmente  tiveram de retornar nos anos 1824 e 1848  a palco da revolta. Na imagem o cais deserto de Recife enquanto por ele passam ao largo os primeiros vapores europeus e norte-americanos.

Ao mesmo tempo expediram os Insurgentes outro Agente (cujo nome he Felix Jozé Tavares de Lima) para Buenos-Ayres; a fim de tractar também com o Governo Insurgente do Paraguay. No entanto que os Insurgentes mostravam a grande actividade, que se vê dos numerosos decretos, que expediram, e que sempre se observa em taes circumstancias; o Governador da Bahia publicou as tres proclamaçoens, que copiamos a p. 618; e na verdade, se os Insurgentes de Pernambuco mostraram falta de conhecimentos políticos, querendo ali estabelecer de repente uma republica, o Governador da Bahia excedeo-os na in consideração de snas proclamaçoens; pois ha muito tempo que naõ lemos tres documentos públicos tam miseráveis. Basta reflectir, que aquelle Governador assevera, por sua palavra de honra, que o Insurgente Martins he desprezado por todas as naçoens da Europa e da America, o que naõ pôde deixar de provocar a rizo; pois aquelle Governador assevera por sua palavra de honra, que um homem, que naõ éra conhecido das naçoens, éra por ellas desprezado! A outra parte destas proclamaçoens, em que o Conde dos Arcos declara, que naõ attenderá a negociação alguma, sem assegurar a morte dos cabeças da insurreição, tem a nossa mais decidida desapprovaçaõ; porque tal declaração só tende a induzir os Pernambucanos á mais obstinada resistência; mui bem disse o Poeta. Una salus victis nullam esperare salutem. A demais, ja no nosso Nº. passado expressamos a nossa opinião, que o melhor methodo de curar taes males, he evitar o sangue; este he, como disse um contemporâneo nosso, o mantimento e a nutrição das revoluçoens. Além destas proclamaçoens, o Governador da Bahia fez outra cousa, muito mais acertada, que foi armar em guerra dous navios mercantes, o Mercúrio e o Carrasco, e mandállos bloquear Pernambuco ; porém diz o rumor (posto que a verdade ainda se naõ saiba) que os taes navios naÕ levaram bastantes mantimentos, e achando também levantadas as capitanias da Paraiba, e Rio-Grande do Norte, voltaram outra vez para a Bahia, a refazer-se de mantimentos. O conde dos Arcos mandou também marchar tropas por terra; que vám debaixo do commando do Brigadeiro Joaquim de Mello, e se ajunctaraõ juncto ao Rio-de-S. Francisco; porque Sergipe d' El Rey, que he a provincia limitrophe, mostrava disposiçoens de se unir aos Insurgentes : e do Rio-deJaneiro sairam duas fragatas, para também bloquearem Pernambuco; mas naõ trouxeram nem mantimentos, nem tropa : os mantimentos haviam de ir tomállos á Bahia; e as tropas teriam de vir ao depois em navios, que se estavam preparando.
Os Governadores de Portugal também se dispuzèrano a mandar alguma força naval, para bloquear Pernambuco, mas naõ sabemos se cora offeito partio; o certo he que de Lisboa se mandou intimar ás Potências Estrangeiras, que Pernambuco ia a por-se em estado de bloqueio: o que consta pelos documentos a p. 636.
Lady Maria DUNDA GRAHAM by Sir THOMAS LAWRENCE https://alchetron.com/Thomas-Lawrence-1104208-W
Lady Maria DUNDA GRAHAM by Sir THOMAS LAWRENCE https://alchetron.com/Thomas-Lawrence-1104208-W
Fig. 10 –  A inglesa Lady Maria DUNDA GRAHAM esteve em Recife  na época da Revolução de Pernambuco. Na sua passagem pelo Rio de Janeiro registrou a natureza tropical exuberante. Porém nos seus desenhos está ausente a população e  poder civil evidentemente toda a população escrava.

Guerra do Rio-da-Prata.
Enquanto eclodia em Recife a Revolução de 1817 o governo do Rio de Janeiro estava as voltas com a ocupação militar da banda Oriental do Rio da Prata a partir de Montevidéu..
Jean-Baptiste_Debret_-_Revista_das_tropas_destinadas_a_Montevidéu_na_Praia_Grande
Fig. 11 –  As manobras  da pesada máquina militar do regime colonial no preparo para invadir o URUGUAI e TOMAR MONTEVIDÉU. Gastos que pesavam sobre a capitania de Pernambuco e que, assim,  sentia  todo o peso da dominação monocrática  lusitana. Nos primórdios da ERA INDUSTRIAL nem Portugal e muito menos o Brasil tinham fábricas de armas e equipamentos para municiar esta maquina militar desproporcional ao poder civil da Nação. Isto ensejava aos produtores de armas, munições e equipamentos militares exercer um poder de dominação que derivou para um desbragado colonialismo praticado aos países industrializados até os meados do século XX

O commentario á Nota das Potências Alliadas, que publicamos a p. 646; debaixo do nome de " Carta de um Braziliano estabelecido em Londres," foi dirigido ao Edictor da Gazeta Ingleza, chamada Times, e inserido naquelle jornal, d' onde o trasladamos.
Outra carta, debaixo da mesma assignatura, se havia ja publicado no mesmo jornal; sobre a revolução de Pernambuco; mas porque naõ continha factos e somente raciocínios, econjecturas, naõ julgamos necessário inserilla na nossa collecçaõ. E comtudo tendo-se ella feito publica, em Portuguez, tomaremos a liberdade de notar uma passagem, que nella se acha, entre as provas, que se pretendem dar, de que no Brazil naõ existiam causas algumas de descontentamento, que conduzissem á insurreição, ou rebelião, que arrebentou em Pernambuco.
Diz, ali, o Braziliano estabelecido em Londres, que tam longe está de que a Corte do Rio-de-Janeiro tractasse com menos affeiçaõ os Brazilianos, que, pelo contrario, ha muito tempo se observava no Governo certa predilecçaõ ao Brazil, em preferencia de Portugal. Se aquelle escriptor soubera, quando tal declarou, que os Governadores de Portugal estavam preparando, para dar ao Mundo, uma prova da existência de desafíèiçaõ, naquelle paiz; patenteando a suppressaõ de uma conjuração contra o Governo; talvez se naõ arriscaria a declarar, que se observava na Corte predilecçaõ de preferencia ao Brazil, em menos cabo de Portugal; porem o que está escripto ja naõ pôde recolher-se.
Mas passando á carta, que publicamos a p. 646; e que, de forma quasi official, explica os passos, que se deram, a respeito da invasão de Monte Video, muito sentimos achar ali a declaração de que aquella conquista fôra feita de accordo com a Corte de Madrid, até o ponto em que o Governo Hespanhol se arredou de seus ajustes; e que o fim daquella guerra éra oppôr-se aos progressos da revolucçaõ da America Hespanhola. Sentimos achar similhante declaração, em um papel demiofficíal; primeiramente pelo que nos diz respeito. Nos tinhamos olhado sempre aquella invasão, meramente pela face de uma medida de expediente, para cubrir as fronteiras do Brazil, contra as incursoens do chefe Artigas; e sempre suppozemos que a Corte do Rio-de-Janeiro obrava neste sentido. Agora porém temos a mortificaçaõ de nos vêr contradictos ; e de sabermos, por modo tam authentico, que nos tínhamos redondamente enganado. Sentimos, porém, ainda mais, o achar esta declaração; pelas conseqüências, que ella deve ter, quando a Carta do Braziliano chegar a Buenos-Ayres e a Caracas; porque rompendo ella o véo do mysterio, com que até agora se cubriam aquellas operaçoens, he necessário esperar, que os Governos revolucionários de Buenos-Ayres, de Caracas, e das mais colônias Hespanholas, que se tem declarado independentes, olhem para a Corte do Rio de-Janeiro, como para um inimigo de sua existência política, e naõ ja como um disputante sobre questoens de mais ou de menos território
Gravura de Gilberto Bellini - ENTRADA do GENERAL LEBOR em MONTEVIDEU
Fig. 12 –  O  general LECOR e as tropas brasileiras entraram em Montevideo no dia 20 de janeiro de 1817. Sob o pretexto do protetorado as tropas brasileiras ficaram encurraladas nas muralhas da cidade sem terem acesso ao interior e muito menos estabelecer um efetivo PODER ORIGINÀRIO desta PROVÌNCIA CISPLATINA. Apesar disto o PODER ORIGINÀRIO URUGUAIO se organizou, conseguiu lideres confiáveis e conseguiu a sua efetiva soberania e reconhecimento internacional inclusive do Brasil.

A conrespondencia, entre o Director Supremo de Buenos Ayres, e o Commandante das Tropas Portuguezas em Monte Video, mostra que, se naõ havia ja uma declaração aberta de guerra, éra porque os de Buenos-Ayres ainda criam, que as hostilidades da parte dos Portuguezes eram meramente locaes; mas quando Ia chegar dedaraçaõ do Braziliano, asseverando que tal foi a substancia da Nota appresentada, por ordem do Gabinete do Rio-de-Janeiro, ás Potências Alliadas, he impossível que em Buenos-Ayres se naõ tomem medidas de natureza bem differente da neutralidade, que até agora se tinha querido conservar: e se nisto se unirem os Insurgentes de Caracas, e de outras partes, que tem mandado corsários ao mar; naÕ sabemos como o Governo do Brazil esteja preparado para encontrar as difficuftades, que devem resultar daquella declaração.
O Braziliano estabelecido em Londres tem razaõ, quando se queixa de que a Corte do Rio-de-Janeiro naõ publicasse a tempo os seus manifestos, explicando ao mundo os motivos da sua invasão ao território de Monte Video; porque com isso teria evitado o pedirem-lhe as outras Potências essas declaraçoens; eser obrigada a fazéllas em tempo tam desvantajosocomo o presente. Mas quando aquelle escriptor tracta de bagatella a insurreição de Pernambuco, e quando suppoem que, a pezar do íêlo das demais Potências, a Corte do Rio-de-Janeiro pôde insistir em conservar a posse do território de Monte Video, pedimos licença para differirmos inteiramente de sua opinião. Pelo jornal de acontecimentos na Bahia, publicado nas gazetas Francezas, e que nôs deixamos aicma copiado a p. 665; se vê qne o Governador da Bahia se naõ acha ali seguro; e se com as prizoens, que tem feito, puder aterrar os descontentes, nem por isso se poderá dizer que tem socegado os espíritos. He neste sentido, qua a revolução de Pernambuco nunca se pôde considerar bagatella, ainda havendo forças para a subjugar; visto que, neste ponto de vista, aquella revolução he somente o symptoma de fermentação, que existe, a qual nunca se pode julgar extincta, por que se tenham decapitado uma dúzia das pessoas mais conspicuas nos seus tumultos. Porém, se naõ houveram mil outras razoens, para que a Corte do Rio de-Janeiro naõ entrasse no projecto de se combinar com a Hespanha, para extinguir uma revolução, que he ja inextinguivel; bastaya o comportamento do imbecil Governo de Hespanha, a respeito da Corte do Rio-de-Janeiro, conforme o decreve o Braziliano, para que nunca se intentasse entrar em ajustes alguns com os Hespanhoes, para subjugar suas colônias. Quem diria, que o Governo de Hespanha, depois de ter feito empenhar o Gabinete do Rio-de-Janeiro, em uma expedição contra suas colônias, havia naõ somente recusar a cooperação de suas tropas, como tinha ajuslado, mas até queixar-se ás Potências Estrangeiras de haver seu Alliado começado a cumprir com o que promettéra? Parece, ao ver isto, que governa em Hespanha o mesmo Godoy, que declarou a guerra a Portugal, pelo motivo d' este o ter auxiliado no Roussilloa, contra os Francezes seus inimigos. E com tudo tal he a politica fatal, em que o nosso Braziliano confessa haver.se envolvido a Corte do Rio-de-Janeiro
Lady Maria DUNDA GRAHAM by Sir THOMAS LAWRENCE https://alchetron.com/Thomas-Lawrence-1104208-W

Fig. 13 –  Outra vista d Rio de Janeiro da inglesa Lady Maria DUNDA GRAHAM  e realizada  da época da Revolução de Pernambuco e da tomada de Montevidéu pelas tropas luso-brasileiras. A presença desta britânica em território brasileiro e o seu trânsito livre pelas suas seriam impossíveis sem os tratados da abertura dos portos. Na prática os ingleses estavam se apropriando das regalias ibéricas e que estavam perdendo no seu conflito coma as suas TREZE COLÔNIAS rebeladas  e com as quais estavam em guerra declarada e efetiva.

O escriptor daquella carta insiste em que o exercito Portuguez poderá continuar na posse de Monte-Video; naõ obstante a confrariedade das Potências estrangeiras; naõ obstante a resistência de Buenos-Ayres; e naõ obstante a revolução de Pernambuco. Quando as ultimas noticias saíram do Rio-de-Janeiro, naõ havia afi no Gabinete senaõ um Ministro de Estado; e permitta-nos o nosso Braziliano, que lhe digamos, que as difficuldades apontadas, saõ bastantes para dar que fazer a qualquer gabinete completo, e cheio de homens de actividade e saber. As cartas do Rio-de-Janeiro, de 9 de Abril, diziam, que tinham dali saido duas fragatas para o bloqueio de Pernambuco, e se estavam aprontando tropas, que sairiam depois, para se unirem com as da Bahia, e procederem contra Pernambuco. Porém aquellas fragatas em vez de irem a Pernambuco, fôram ter á Bahia para metter mantimentos; porque os naõ tinham: ¿ Quem tem a culpa disto ? O Ministro da Marinha: ¿e quem he o Ministro da Marinha?  Naõ o ha! Os habitantes do Rio de-Janeiro tinham mostrado grande lealdade de sentimentos, para com seu Soberano, quando se soube a noticia da revolução em Pernambuco; e houveram particulares, que fizeram oífertas, uns de suas pessoas, outros e seus bens. Mas se os homens honrados estaõ promptos a desapprovar a rebelião, e decididos a prestar o seu auxilio para a derribar; por isso mesmo que saõ honrados naõ podem approvar nem os abuzos do Governo, que servem de provocação ás rebelioens, nem os erros de politica, tal como a ingerência nas colônias Hespanholas, que compromettem o Gabinete, e naõ podem senaõ servir de estorvo á prosperidade da naçaõ. A carta do Braziliano insiste, em que a guerra do Rio-daPrata naõ éra impopular no Brazil: nós assim o julgamos sempre, e como a suppunhamos útil, também de nossa parte cuidámos em ajudar, no que em nós cabia, as mesmas ideas; porém o Braziliano pôde estar certo de que a sua declaração ha de mudar estes sentimentos no Brazil, assim como fez mudar a nossa opinião; porque muito custará aos Brazilianos o convencerem-se, de que se devem sugeitar aos inevitáveis incommodos, que a guerra traz com sigo, para o fim de ajudar a metter outra vez as colônias Hespanholas, debaixo da dominação de S, M, Catholica, de quem se naõ pôde es erar outro pago por taes serviços, senaõ o que se vê das queixas que elle fez ás Potências Alliadas, nesta occasiaõ, e a guerra que declarou contra Portugal, para favorecer a França, seu commum inimigo.
- Maria Teodora da COSTA e Dionísio José MARTINS na Revolução de 1817
http://blogs.diariodepernambuco.com.br/historiape/index.php/2016/07/11/domingos-jose-martins-o-noivo-da-revolucao/
Fig. 14 –  O capixaba Dionísio José MARTINS era representante do comercio na junta governamental  criado pela REVOLUÇÃO de PERNAMBUCO de1817. Apaixonado por Maria Teodora da Costa este amor teve de superar a barreira criada entre os nativos e a hegemonia lusitana. Este namoro repetiu em Recife o eterno drama de Romeu e Julieta. Maria Teodora era filha de um dos mais ricos comerciantes lusos de Recife e traficante de escravos. O pai se opôs tenazmente à aproximação do nativo da terra e para ele de segunda categoria.
A rememoração dos gestos e concepções fundantes da soberania apoiada apenas no episódio isolado e personalizado do  GRITO do IPIRANGA de 07 de setembro de 1822 encobre, obscurece e desqualifica o imenso esforço, os trabalhos e os sacrifícios do PODER ORIGINÁRIO BRASILEIRO. Episódios anteriores como a Revolução que eclodiu  em 1817 no recife ou bem posteriores como a Revolução Farroupilha de 1835-45 jamais quiseram dividir a Nação Brasileira. Apenas estavam tentando se livrar do jugo estrangeiro e colocar os fundamentos coerentes com o PODER ORIGINÀRIO da NAÇÂO BRASILEIRO e do seu governo minimamente preocupado com o BEM COLETIVO.
Fig. 15 –  Um selo 1917 e que circulou no  CENTENÀRIO de REVOLUÇÂO DE RECIFE está no contexto do REGIME REPUBLICANO que esta Revolução apregoava e que o Brasil adotou em 1889. Certamente a reescrita permanente das narrativas fundantes de uma nação é uma das tarefas imprescindíveis para atingir um consenso, uma identidade e que redunda num PACTO e um CONTRATO NACIONAL no qual todos se reconhecem.

A reescrita das narrativas se impõe na medida em que a ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL avança com os seus novos meios materiais,  a sua lógica e a teleologia que lhe imanente. A História NÃO existe. Existem as narrativas que expressam e buscam conferir forma aos fatos, aos pensamentos e aos agentes que estão mergulhados na torrente do TEMPO, do seu LUGAR e da sua SOCIEDADE.
Fig. 16–  O evento passageiro  da Revolução de Pernambuco de 1817 deitou raízes e passou a integrar o imaginário do seu PODER ORIGINÁRIO. O preço, pago pelo  poder civil, foi alto e desproporcional ao saque da sua economia pelo poder central colonial lusitano e depois pelo imperial brasileiro. Certamente a liberdade conquistada com estes árduos sacrifícios, teve e tem um sabor de vitória, de conhecimento de si mesmo e de identidade própria e original.  

 Agentes, pensamentos e fato que não se repetem jamais. Porém  Marc Bloch[1] adverte (1976, p.42) que
É tal a força da solidariedade das épocas que os laços da inteligibilidade entre elas se tecem verdadeiramente nos dois sentidos. A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez não seja mais útil esforçar-nos por compreender o passado se nada sabemos do presente .

É NESTE PRESENTE que a ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL avança com os seus novos meios materiais,  a sua lógica e a teleologia que lhe é imanente. As narrativas orais, escritas ou visuais se abastecem dos signos de comunicação com esta teleologia, lógica e meios que rememoram os agentes, os pensamentos e fatos conferindo-lhes formas legíveis  e façam sentido NESTE PRESENTE.


[1]              BLOCH, Marc (1886-1944)  . Introdução à História.[3ª ed] Conclusão de Lucian FEBVRE - .Lisboa :Europa- América  1976  179 p.

Antônio  PARREIRAS (1860-1937) “JOSE PEREGRINO de CARVALHO JURA FIDELIDADE à REVOLUÇAO” Tela 1918 209 x 400 cm – Palácio da Redenção – JOÂO PESSOA PB
José PEREGRINO de CARVALHO  jura  ao seu pai que não abandonará a Revolução
Fig. 17 –  A herança desta conquista da Revolução de Pernambuco de 1817 passou de pai para filho.  Pai e filho trataram de reproduzir e consolidar conhecimento de si mesmos na busca de potencial vitória, e, assim,  estabelecer as novas bases de  identidade própria e original, A escolha de um novo sistema estava feito. Faltava trabalhar com o firme objetivo de implementar este paradigma e os seus corolários. O jovem JOSE PEREGRINO de CARVALHO, foi preso e morto,  aos 19 anos de idade, e sua cabeça e mão exposta na Paraíba. No centenário da Revolução o seu feito mereceu o reconhecimento e  sua imagem figura, deste esta data,  no Palácio da Redenção em João Pessoa
A REVOLUÇÂO de 2017 na PARAIBA
.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
“CAPITANIAS” esta denominação durou até 28.02.1821, portanto CAPITANIA de PERNAMBUCO.

CORREIO BRAZILIENSE JUNHO de 1817

REVOLUÇÂO 1817 PERNAMBUCO
A embaixada nos ESTADOS UNIDOS de ANTÔNIO GONÇALVES da CRUZ -O O “CABUGÀ”

Manuel de CARVALHO PAES de ANDRADE

Padre JOÂO RIBEIRO PESSOA de MELLO MONTENEGRO  (1756-1817) e a REVOLUÇÂO dos PADRES

Gervasio PIRES FERREIRA (1758-1838)

Lady Maria DUNDA GRAHAM by Sir THOMAS LAWRENCE


General  Luis do REGO BARRETO

Caetano PINTO de MIRANDA MONTENEGRO (1748-1827)

REVOLUÇÂO de 1817

PERNAMBUCO e os seus heróis

REVOLUÇÂO de PERNAMBUCO 1817  - DATA SHOW

EXPOSIÇÂO BIBLIOTECA NACIONAL



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