quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

145 - NÃO FOI NO GRITO

A FÉ ABSOLUTA no ESTADO NACIONAL no BRASIL em DEZEMBRO de 1816 e 2016

A grande discussão que se travou ao longo de toda ERA INDUSTRIAL foi o papel do governo e da política na origem, no desenvolvimento e projeto dos ESTADOS NACIONAIS. Tanto em dezembro de 1816, como em dezembro de 2016, a maioria destas discussões se dão na calada da noite, em conchavos de grupelhos e SEM GRITOS a não ser das vítimas após julgamentos apressados pelos donos de plantão dos que usurparam o PODER estatal.
Da parte do PODER ORIGINÁRIO do BRASIL a FÉ ABSOLUTA no ESTADO NACIONAL fez estragos irreparáveis, cavou abismos e construiu muros intransponíveis e que se manifestam de forma calamitosa em dezembro de 2016.

GILLRAY James (1756-1815) “O BLOCO ds PERUCA”   http://pudl.princeton.edu/sheetreader.php?obj=v979v316c
Fig. 01 –  Os olhos britânicos tradicionais viam o regime político norte-americano mais como LIBERTINAGEM  do que LIBERDADE. Habituados com as perucas dos seus juízos não podiam imaginar o Estado sem estes juízes. Os ingleses tradicionais percebiam o  regime norte-americano como dominado pelos mais espertos, mais  fortes e rápidos. Em dezembro de 1816 os britânicos vinham de uma guerra com os Yankes dos quais queimaram a sua capital Washington e tinham sidos derrotados numa batalha naval travada na frente da costa brasileira da Bahia.
   
Em outros termos:

¿quais s competências e limites dos ESTADOS NACIONAIS desta nova  infraestrutura da ERA INDUSTRIAL?

Como todo problema, digno deste nome, não uma solução única e definitiva a vista. Como todo problema a sua função foi de fazer caminhar, experimentar, deliberar e decidir ao longo desta busca de resposta.
GILLRAY James (1756-1815)   O BLOCO da PERUCA http://pudl.princeton.edu/sheetreader.php?obj=v979v316c detalhe
Fig. 02 –  Os britânicos não se imaginavam a possibilidade de  um  regime político -como o norte-americano - capaz de  promover e manter  uma autêntica  LIBERDADE sem cair na LIBERTINAGEM. Os tradicionais ingleses estavam presos a contratos, hábitos e a um repertório impossível de se sustentar num outro TEMPO, LUGAR e SOCIEDADE. Com certeza os norte-americanos davam pouca atenção e respeito às perucas ensebadas, aos chás insípidos  e aos hábitos de uma ilha europeia.


Em dezembro de 1816 os ESTADO UNIDOS eram um laboratório com procedimentos, normas e resultados completamente distintos daqueles nos quais a norma. era o centralismo, a monocracia e o arbítrio do governo central.  

Fig. 03 –  O Banco da PHILADELFIA em 1819 representava as aspirações e o ideal norte-americano da segurança do patrimonialismo individual garantido pelo seu Estado Nacional que estavam construindo. O maior depósito desta instituição financeira era a expressão material da confiança do cidadão norte-americano no seu Estado Nacional. Sem uma casta nobre hereditária, sacerdotal ou militar estes bens podiam circular e ser usufruído por um maior número de cidadãos.
 Correio Braziliense de dezembro de 1816 Vol. XVII. No. 103. 
  Miscellanea- pp.793-795.
ESTADOS UNIDOS.

Em uma das Gazetas de Philadelphia, achamos o seguinte avizo; que he mui conforme á practica daquelle paiz :— " Chegou de Hollanda no navio Amphitrite, uma carga de Alemaens, lavradores, jardinciros, oleiros, alfaiates, çapateiros, padeiros, carniceiros, carpinteiros, marcineiros, artífices de instrumentos músicos, moleiros, teceloens de meias, ferreiros, carpinteiros de rodas, custureiras, refinadores de açúcar, distiladores, pastores, confeiteiros, tanoeiros, vidracciros, pedreiros, &c. ; criados, rapazes e raparigas, que se desejara ajustar com obrigação de servir por certo tempo a quem lhes pagar a passagem. Dirija-se, quem quizer, a bordo do navio; que está anchorado oa corrente do rio, em frente de Callowhill-street." Copiamos este avizo da gazeta de Philadelphia; por ser sobre um objecto, que muito importa ao Brazil, aonde a população, que vem da África, como escravos, naõ pôde comparar-se em utilidade, com esta, que os Estados Uunidos recebem da Europa. Por duas vezes se receberam no Rio-de-Janeiro, dentro em poucos annos, emigrados, que seriam mui úteis ao paiz: uma vez foram habitantes das Ilhas dos Açores ; outra fôram Chinezes, vindos de Macau. Os primeiros seriam agricultores mui úteis - os segundos eram artistas escolhidos; e de ambas as vezes se perdeo o fructo, que de tal medida se pudera esperar; porque naõ se tomaram previamente as medidas necessárias para a accommodaçaõ daquelles emigrados.
Fig. 04 –  Dom João VI estava em franco processo de passagem de um regime monocrático e personalista para um regime constitucional, contratual  e impessoal, além de deslocado de sua terra de origem e antepassados. Enquanto monarca monocrático foi responsável pela vinda da Missão Artística Francesa mediada pelo Conde da Barca; Missão Artística proveniente da corte decaída de Napoleão Bonaparte dependeu, no Brasil, do erário publico e distante do PODER ORIGINÀRIO e de uma efetiva industrialização brasileira.

O Correio Baziliense faz a seguir uma avaliação indireta da MISSÂO ARTÌSTICA FRNCESA desembarcada no início de 1816 na corte do Rio de Janeiros   competências e limites dos ESTADOS NACIONAIS desta nova  infraestrutura da ERA INDUSTRIAL

Os artistas, que fôram da França tiveram sem duvida a melhor recepção; porém constavam, pela maior parte, de indivíduos excellentes na pintura e outras artes polidas, de que o Brazil no seu estado actual apenas carece: e a demais o governo nao pôde com as enormes despezas, que se requerem, para sustentar artífices, que naõ acham emprego em suas artes, pelo estado de civilização, em que se acha o paiz.
Fig. 05 –  Joaquim LE BRETON  (1760-1819)[1] foi a chefe da MISSÂO ARTÌSTICA FRANCDES no  BRASIL. Ele havia sido SECRETÁRIO PERPÉTUO do INSTITUT  de FRACE da corte decaída de Napoleão Bonaparte.  No Brasil, a Missão chefiada por ele dependeu do erário publico e distante do PODER ORIGINÀRIO e de uma efetiva industrialização brasileira. Na prática pouco efeito teve o seu projeto pessoal junto ao conde da Barca e da corte de Dom João VI[2]

O que de fato ocorreu foi a criação de uma instituição governamental diretamente dependente do trono imperial Distante do PODER ORIGINÁRIO da  nação brasileira permaneceu vegetando ao sabor dos humores imperiais e dos seus agentes comprometidos apenas com a POSSE dos seu CARGOS e cátedras vitalícias, A infraestrutura da ERA INDUSTRIAL

Fig. 06 –  No Jardim Botânico do Rio de Janeiro o portão vazio da IMPERIAL ACADEMIA de BELAS ARTES mostra o que sobrou da sede projetada por Aguste Henri Victor de Grandjean MONTIGNY (1775-1850) [1] para sede burocrática do projeto trazido pela Missão Artística Francesa ao Brasil. Os exemplares das palmeiras imperiais são índices das preocupações da corte lusitana no Brasil em relação à Botânica e aos estudos científicos

O quo se deve, pois, procurar, he, que a emigração para o Brazil seja feita segundo os mesmos principios, que se practicam nos Estados Unidos, aonde o Governo naõ concorre para isto, senão com as leys que promulga. Naõ hesitamos em dizer, que, se no Brazil existisse a mesma legislação, vista a melhoria do clima, a concurrencia da emigração para ali seria muito maior do que para os Estados Unidos.
Fig. 07 –  O prédio do segundo banco norte-americano adotou a robusta e severa ordem dórica grega como forma para reforçar fisicamente  um índice da herança de Atenas  origem do sistema democrático. Estas formas despojadas, robustas e austeras eram uma expressão plástica da POLÌTICA de garantias que o Estado propiciava ao PODER ORIGINÀRIO e ao cidadão avulso que depositava os seus bens neste banco e se colocava a si mesmo nesta construção coletiva.

Neste ponto só nma cousa se precisa; e vem a ser, que os estrangeiros estejam persuadidos de que encontram no Brazil a mesma protecçaõ de suas pessoas, e de suas propriedades, que se acha nos Estados Unidos. Outra vez dizemos, naõ basta que exista essa protecçaõ, lie necessário, também, que o Mundo esteja persuadido de que ella existe, e um só exemplo de castigo arbitrário, uma só ley incompatível com a segurança pessoal do individuo, basta para destruir essa confiança, (que julgamos essencial neste caso.
Fig. 08 –  Desde os primórdios coloniais norte-americanos o cidadão avulso assumia o risco da iniciativa, do empreendimento  e usufruía as recompensas deste risco. Era o ideal “CIDADÂO FEITO POR SI MESMO”. Este sentimento impregnou o seu PODER POLÌTICO em todas as esferas. No  aspecto econômico a monetarização dos bens e da prestação de serviços permitiu a circulação, o acúmulo e ostentação de riqueza. No Brasil colonial isto era incompreensível. Esta ostentação era apenas permitida ao súdito nas igrejas enquanto  o gozo individual dos bens era permitido apenas em Lisboa para reforçar a ostentação da corte

O confronto entre Rússia e Estados Unidos competências e limites dos ESTADOS NACIONAIS desta nova  infraestrutura da ERA INDUSTRIAL. A RUSSIA IMPERIAL centralista e monocrática era fácil de ser ludibriada no Novo Mundo pelos seus súditos. Já os o cidadão norte-americano estava atento aos desmandos mesmo dos protegidos pelo Czar Russo
Fig. 09 –  A própria formação dos ESTADOS UNIDOS foi uma construção entre colônias separadas e auto suficientes que contrataram a formação de uma NAÇÂO SOBERANA.
O processo desta soberania veio de baixo para cima, do rural para o urbano, da delegação e do contrato da UNIDADE. O Brasil a construção da unidade territorial veio de cima para baixo.  De fato nunca houve no Brasil, em toda sua história, algum momento no qual seu  PODER POLÌTICO partiu do seu PODER ORIGINÁRIO. Este sempre foi visto como uma conquista, uma presa e um botim a ser conquistado de fora para dentro, de cima para baixo e do urbano para o rural dividindo pra REINAR sobre parcelas inexpressivas.

 Entre as novidades deste mez achamos uma importante, que he a disputa entre os Estados Unidos e a Rússia, pela seguinte occurrencia. O Cônsul Russiano foi accusado de commetter o crime de força, em uma filha de certo negociante respeitável, na America, a justiça procurou prender o accusado, que se refugiou em casa do Ministro Russiano; o qual sustentou, que o Cônsul naõ podia ser prezo, em conseqüência de seu character publico; e de ser o pretendido crime, de que o accusavam, uma conspiração para o arruinar, estando elle innocente.
Anna_Pavlovna,Nicholas e Michael_Pavlovich_por_F.Ferriere_(1806,_Haag)[1]
Fig. 10 –  A nobreza russa dominava, em 1816,  os aparelhos estatais e mantinha a população na servidão dos seus caprichos, regalias e determinações despóticas. Assim não existia na Rússia czarista  amparo legal  contra qualquer a agressão e violência de conduta desta elite despótica. Assim para esta elite despótica czarista a conduta de um dos seus diplomatas era inatingível. pelo PODER POLÍTICO emanado de plebeus norte-americanos por mais ricos e poderosos que fossem economicamente.

A isto respondeo o Governo Americano, que os Cônsules naõ saõ, pelo Direito das Gentes, reconhecido na Europa, izentos do foro do paiz aonde residem; e que e se accusaçaõ éra ou naõ bem fundada; isso éra o que havia de constar do processo, quando este se fizesse. O Ministro Russiano, naõ se deo por satisfeito com isto; e replicou, que a naõ se lhe entregar o Cônsul, pedia os seus passaportes, e se retiraria para a sua Corte.
Fig. 11 –  O poder despótico do Czar Alexandre I saiu vencedor contra Napoleão Bonaparte, outro déspota preso, em dezembro de 1816,  numa solitária Ilha do Atlântico Sul.  No Congresso de VIENA estes déspotas - que se julgavam sagrados e inatingíveis pelos plebeus vulgares - restauraram o PODER POLÌTICO hereditário e que eles. Porém a primeira ERA INDUSTRIAL estava no seu caminho e que desqualificou, descartou e consumiu este PODER POLÌTICO nominal, perpétuo e sagrado.


Dizem, que o Imperador apoiara estas pretençoens de seu Ministro; porém julgamos impossível, que o Imperador Alexandre deixe de acommodar-se, quando lhe chegarem as explicaçoens, qne se diz lhe mandara o Governo dos Estados Unidos, por um Enviado especial.
Fig. 12 –  A estátua da Liberdade de Maceió é uma metáfora perfeita da liberdade de mistura com a libertinagem no Brasil. Do mesmo autor e da mesma fundição daquela de Nova York e de Paris[1] peregrinou pelos mais inusitados lugares do Brasil ate ser abandonada à sua própria sorte diante de uma favela nordestina do porto da capital de Alagoas. Diante deste quadro desolador qualquer imigrante que queira escolher o Brasil deverá pensar duas vezes.  

Certamente os projetos dos estrados nacionais russos, norte-americanos e também lusitanos possuem acertos e erros. Todos os paradigmas são perfeitos em si mesmos. Porém esta perfeição ideal  não se sustenta no plano empírico como aquele que animava, movia e lastreava os fundamentos da ERA INDUSTRIAL. Especialmente se neste plano empírico as ações seguem ora num ora noutro paradigma. O que não é possível é a oscilação entre os dois paradigmas. Esta oscilação impossibilita ou desqualifica todo e qualquer contrato por tempo indeterminado e impessoal.
Fig. 13 –  Na base da estatua da Liberdade de Nova YORK  esta gravada em bronze O patriotismo não é algo menor, ou explosões frenéticas de emoção, mas a dedicação tranquila e constante de uma vida”. Adlai Ewing STEVENSON (1836-1914)[1]. Esta estatua é uma doação do povo francês e cópia maior da original que está no Rio Sena e que possui uma cópia também em Maceió no Brasil[2]
Neste plano empírico é muito mais fácil ludibriar uma autoridade distante, alheia à realidade local e fechada sobre si mesma. Neste distanciamento, alienação e centralismo as grandes corrupções a descoberto, em dezembro de 2016, não mudaram em nada em relação ao governo metropolitano de Lisboa.

Já uma autoridade inerente a cada cidadão possui milhões de olhos, ouvidos e mentes atentas e autorizadas a intervir no aqui e no agora de cada ação coletiva e individual 
Fig. 14 –  Em  Nova YORK a Estátua da Liberdade ostente  como um convite à demais nações a frase de Emma Lazarus, “Dê-me as suas multidões exaustas, seus pobres, suas massas ansiosas por  respirar livres.  o miserável refugo da sua gente, enviem estes desabrigados, e expostos ao furor das tempestade . Eu ergo a minha tocha  ao lado da porta dourada” .  Certamente o Brasil está muito distante de poder arriscar um contrato desta natureza. Mesmo a própria nação norte-americana está muito distante de manter este contrato de 1875.   
CORREIO do POVO ano 122 - Nº 065- foto MAURO SCHAEFER -  Dia  0412.2016 Povo no” Parcão” Porto Alegre - Rs

Fig. 15 –  Em dezembro de 2016  as discussões feitas na calada da noite por grupelhos em conchavos ao arrepio da lei só ganham as ruas após os atos consumados. Atos consumados por leis que seduzem o LEGISLATIVO, atropelam o EXECUTIVO e  não possuem o menor temor do pode JUDICIÁRIO. No contraditório é necessário que estas multidões necessitem analisar é o fundamento da sua FÉ no ESTADO NACIONAL. Examinar concretamente  até que ponto esta FÈ é coerente com as competências e os LIMITES de um ESTADO NACIONAL ao sabor da forças da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL. Resta a dúvida se estas multidões não se deixam levar por  explosões frenéticas de emoção” e se elas de buscam “a dedicação tranquila e constante de uma vida” como consta na estátua da liberdade de Nova York.  

A LEI precede os FATOS na medida em que os ESTADOS NACIONAIS são construções artificiais. Sabedores desta artificialidade e precedência da lei os mediadores e políticos realizam as suas discussões na calada da noite, reforçam-se em conchavos de quadrilhas aparelhadas para abafar qualquer GRITO PÚBLICO contra o assalto que praticam. O PODER ORIGINÁRIO só se percebe como vítima de mais um golpe perpetrado por aqueles que se dizem seus LEGÍTIMOS REPRESENTANTES. Representantes que estão presos, de fato, ao seu próprio repertório, aos mecanismos implacáveis da ERA INDUSTRIAL ou aos interesses corporativos bem distantes do BEM COMUM de uma NAÇÃO ESTADO.

CARTA de LE BRETON ao CONDE da BARCA:

CORREIO BRAZILIENSE dezembro de 1816 Voh. XVII. No. 103de 1816

DIA da ARTE no BRASIL  : 12 de agosto.

ESTATUA da LIBERDADE

ESTATUTO DO IMIGRANTE

GILLRAY James (1756-1815) liberdade de comércio

Família REAL portuguesa

IMPERADOR ALEXANDRE da RÙSSIA

LIBERTAÇÂO das AMÈRICAS

MUÇULMANOS e DECADÊNCIA no  BRASIL

NOBREZA RUSSA


REQUIEM-  i816- pela  RAINHA MARIA I de PORTUGAL (1734-1816)

MARCOS PORTUGAL (1780-1830)  

José Maurício NUNES GARCIA  (1767-1830)

RIQUEZA NORTE-AMERICANA

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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

144 - NÃO FOI NO GRITO

INTRIGAS de JORNAL e a CONVERSA de SURDOS entre o PODER POLÍTICO e o PODER ECONÔMICO.
A relação tumultuada entre o poder político e o poder econômico é tão antiga como a humanidade e cheia de desconfianças, traições, corrupções e de poucas luzes públicas.
Fig. 01 –  Os primeiros jornais impressos e divulgados pela primeira ERA INDUSTRIAL mereciam a mesma fé dada aos  textos sagrados e da erudição clássica. Na medida em que  o PODER POLÌTICO era inatingível, monocrático, hermético e sagrado  também a economia era controlada por este poder. Restava aos jornais, ao público e súditos investir pela especulação, por hipóteses absurdas e divagações cuja única prova era o SIGILO zelosamente guardado pelo poder político e econômico.   A proliferação de títulos e de jornais impressos investia contra o PODER instituído que se considerava de ORIGEM DIVINA e, portanto, inatingível.

Este espaço foi uma mina de ouro para os primeiros jornais da ERA INDUSTRIAL. Assim o CORREIO BRAZILENSE, de novembro de 1816, explorou este cenário por meio de um diálogo fictício entre o rei de Portugal- Brasil e Algarves e o seu ministro das Finanças.
Fig. 02 –  Os não convidados para os longos e caros “BEIJA MÃOS REAIS” e nem queriam ou tinha tempo para isto possuíam  uma fonte permanente de intrigas, de  maledicências e suspeitas em relação a aqueles que se prestavam para esta vassalagem Os investimentos econômicos, nestes faustosos eventos, tanto do trono como dos vassalos era matéria jornalística mais do que suficiente para intrigas, suspeitas ao gosto daqueles que liam e financiavam este tipo de imprensa. 
REYNO UNIDO DE PORTUGAL BRAZIL E ALGARVES.
Reflexoens sobre as Novidades deste Mez.

CORREIO BRAZILIENSE  DE NOVEMBRO, 1816. VOL. XVII. No. 102. 3 z
Miscelânea, p.661 até 667

Finanças do Brazil.

Se a abilidade de um individuo, de augmentar suas riquezas, fosse por si só bastante para qualificar alguém a ser administrador das finanças de um reyno, sem duvida Targini, Baraõ do quo quer que he que nos naõ lembra, devia reputar-se um excellente financeiro. He verdade, que poderíamos aqui applicar o rifaã Hespanhol "Quien cabras no tiene y cabritos vende de algures le viene." Targini escrevente do Erário, sem outros bens mais que o seu minguado salário, acha.se elevado a Thesoureiro-mor do Erário, Baraõ, e homem riquíssimo; administrando um Erário, que sempre se acha pobre. Ninguém dirá que estas matérias saõ segredo de Gabinete, que naõ convém que nenhum do povo examine.
Fig. 03 –  O Tesoureiro Francisco Bento Maria TARGINI era o culpado de tudo e de plantão. Enquanto isto o rei era sagrado, monocrático e  se confundia com Estado. Qualquer crítica pessoal ao soberano podia ser reprimida e castigada   severamente.  A alternativa era desgastar, desqualificar e investir contra a imagem de quem administrava os bens reais e da nação. Havia uma tropa  de pretendentes e de concorrentes ao cargo exercido pelo Visconde de São Lourenço.
 
O Erário he o deposita das contribuiçoens do povo: a bem do povo se devem empregar as suas rendas; o Erário rico pode gastar em cousas que enriqueçam a naçaõ; o Erário pobre naõ he capaz de promover os estabelicimentos nacionaes, que exigem despezas do Governo; logo as circumstancias, que occasionam a riqueza ou pobreza do Erário, naõ devem ser matéria de segredo de Gabinete, mas sim um ponto, em cujo exame pôde entrar todo o individuo da naçaõ ; porque a todos isto toca de mui perto.
Fig. 04 –  O Regente e depois Rei Dom João VI aproveitou os vastos conhecimentos e práticas de Francisco Bento Maria TARGINI como seu Tesoureiro. Este havia trabalhado para o Marquês de Pombal, depois para Maria I e enfrentou os gastos da transferência da corte ao Brasil tão bem como a montagem da corte no Rio de Janeiro.  Targini dominava várias línguas clássicas e modernas. Introduziu a filosofia de Kant em Portugal e traduziu para o português o Paraiso Perdido
Explicaremos, pois, o pouco que por agora intentamos dizer nesta matéria; suppondo que El Rey mandara chamar Targini, e tinha com elle uma conferência, sobre o estado actual do Erário; no que se passava o seguinte dialogo:
 Rey. Preciso de uma somma considerável para fortificar as fronteiras do meu reyno do Brazil, crear uma boa marinha de guerra, chamar para este paiz artistas e povoadores da Europa ¿diz.ei-me, Thesoureiro-mor, quaes saõ os restos das despezas, e as poupanças, que tendes feito nas minhas rendas?.
 Thesoureiro. Restos, Senhor! O Erário naõ tem um real; V. M. está pobre; as rendas naõ chegam para as despezas.
 Rey. ¿ Como pôde o meu Erário estar pobre, sendo eu o Soberano de um paiz, em que se produz o ouro, os diamantes, o assucar, o caffe, o arroz, o algodão, e tantos outros objectos preciosos e em tanta abundância, qqe nenhum outro paiz do mundo o excede ?
Thesoureiro. Senhor, tudo isso será assim, mas as despezas saõ tam consideráveis, que para ellas naõ chegam as reudas.
Rey. ¿ Quo despezas temos nós a fazer, que sejam mais consideráveis, que as de outros Estados de igual grandeza, (por exemplo os Estados Unidos) aonde o Erário naõ padece a pobreza, que aqui se allega ?
Thesoureiro. Os Estados Unidos naõ tem Casa Real que sustentem, nem o Clero, nem eutras muitas cousas, que nós cá temos.
Rey. Valha-me a fortuna; ahi vem as despezas da Casa Real em primeiro lugar; pois principiemos por diminuir estas. Eu commigo nao gasto mais do que outro individuo meu vassallo, e o que ha de mais he para sustentar o decoro da Coros, com criados, cavallos, carruagens, &c.; e ainda assim envergonho-me de ser puchado em uma carruagem velha, com duas mulas miseráveis, e dous lacaios esfaimados ; mas disso mesmo me quero privar, para dar o exemplo de economia ; e espero quo o meu Thesoureiro-mor fará o mesmo, largando metade do seu ordenado.
Thesoureiro. Deus tal nao permitia. Os ordenados das pessoas empregadas saõ mui tênues, a mal lhe chegam para viver.
Rey. Isso naõ pode ser; ¿ pois como ajuntastes riqueza para comprar casas, terras, e metter dinheiro nos fundos do Banco da Inglaterra, se o vosso ordenado vos nao chega para viver?
Thesoureiro. Senhor, ha outra cousa, que V. M. naõ repara, e he, a necessidade de sustentar a dignidade Real, com os criados, cavallos, carruagens, &c. ; e tudo isto requer despezas.
Rey. Ja me fallastes nisto outra vez. Eu estou capacitado de que todos os meus vassallos estimariam, que eu gastasse dobrada somma na sustentação da dignidade Real; porque isso mesmo he gloria e esplendor para o Reyno ; com tanto que se naõ dissipassem as rendas do Erário, que saõ applicaveis a ou. trás despezas publicas ; mas ja disse, que ainda assim, e para dar exemplo, quero diminuir essas despezas da Casa Real. Porém a questão he { como podeis vôs estar tam rico, oaõ teudo tido bens patrimoniaes, e dizereis ao mesmo tempo, que os ordenados apenas chegam para viver.
Thesoureiro. Senhor, eu naõ fallava de mim ; mas sim das despezas da Casa Real.
Rey. He ja terceira vez que fallacs nisso; estou prompto a diminuillas—que outras despezas ha que admitiam diminuição?
Thesoureiro. As despezas da Casa Real he certo que saõ mui consideráveis; porém eu naõ posso aqui de repente dizer, quaes sejam as outras que se possam diminuir.
Rey. Pois nem ao menos podeis dizer ¿, se podeis ou naõ dispensar parte do vosso ordenado ?

Thesoureiro. Se formos a bulir com tudo, por força havemos de diminuir também as despezas da Casa Real, e a minha lealdade e amor a V. M, naõ me permittem que pense em tal.
Rey. Uma vez por todas, eu sou o primeiro a querer diminuir as despezas de Casa Real; naõ me falleis mais nisso: saibamos quaes saõ os outros gastos,que se fazem, e podem admit. tir diminuição.
Thesoureiro. Eu, quanto mim, Senhor, ficarei sem nada, se V- M. assim o determina.
Rey. Tal nao desejo, quem serve deve ser pago. Mas dizci-me ¿ de que viveis, se vos naõ chegam os vossos ordenados, ou de que viviries se continuasseis a servir sem ordenado ?
Thesoureiro. Das minhas economias.
Rey. ¿Que economias pode fazer, quem naõ tem rendas para economizar ?
Thesoureiro. Eu cá me arranjaria com as minhas linhas.
Rey. Quizéra eu que applicasseis essas tinhas a traçar algum plano, para que os pagamentos andassem cm dia; e naõ fosse eu atormentado com ouvir fallar em rebates do que tem de pagar o Erário.
Thesoureiro. Senhor os rebates saõ necessários, e os rebatadores gente mui útil.
 Rey. Ao Erário naõ podem os rebatedores ser úteis; por que o Erário sempre paga a divida por inteiro.
Thesoureiro. Mas saõ úteis ao indivíduos a quem os rebatedores adiantam o pagamento, para depois o receberem do Erário.
Rey. Mas o credor do Erário quando rebate paga usuras horrorosas.
Thesoureiro. Isso naõ pode deixar de ser, pela incerteza em que está o rebatedor do tempo em que ha de receber a divida do Erário.
Rey. Eis ahi justamente o que Eu queria ver remediado; pois ainda que o Erário naõ pudesse pagar em dia, pouíam os pagamentos fazer-se por ordem alphabetica, datas, ou outras divisoens, demaneira que todos soubessem quando lhe cabia a sua vez de ser pago, sem que nem o Thesoureiro-mor, nem algum outro official do Erário pudesse fazer mercê ou injuria a ninguém com indevidas preferencias, de que se queixam todos, e Eu naõ sei, nem tenho meios de averiguar, se com razaõ ou sem ella.
Thesoureiro. Eu naõ posso impedir, que os calumniadores emas línguas faltem; nem está no meu alcance faz ar novos planos de finanças.
 Rey. Más línguas sempre houve no Mundo, mas he preciso, que se tirem os motivos de suspeita, estabelecendo tal ordem dos pagamentos, que ninguém possa fazer preferir os pagamentos de seus afilhados aos de outros que naÕ tem padrinhos. E quanto aos plano» a este respeito, eu devo espcrállos do Thesoureiro-mor ; porque o seu officio naõ he outro senaõ fazer os pagamentos do Erário em boa e devida forma.
Thesoureiro. Creia V. M. que tudo quanto se diz a respeito do máo arranjamento do Erário he sem fundamento. Só eu sei o que me custa alcançar o dinheiro para os pagamentos ; pois o Banco naõ me quer nunca ajudar; e até se me dificultam os saques para a Inglaterra.
Rey. Ouvi dizer, qne as ultimas letras, que daqui sacou o Erário sobre os Administradores dos Contractos Reaes em Londres, fôram sacadas a quasi 3 por cento mais caras, do que éra o preço do Cambio na praça { porque razaõ perdeo o Erário esta diferença.
Thesoureiro. Senhor as despezas da Casa Real obrigaram-me a fazer esses sacrifícios, para ter dinheiro com que as supprir.
Rey. ¿ Outra vez as despezas da Casa Real ?
Thesoureiro. V. M. prohibio-me que fallasse nas despezas da Casa Real, quanto ao futuro, mas isto he quanto ao passado, o que eu digo.
Rey. Quem foi o corretor, que negociou essas letras, com a differença de 3 por cento.
Thesoureiro. Eu naõ sei que houvesse tal differença de tres por cento.
Rey. Naõ vos pergunto isso; pergunto-vos quem foi o Corrector que negociou as letras.
Thesoureiro. Supponho, que foi Samuel.
Rey. Pois manda-me cá a Samuel, e lhe preguntarei se houve nas dietas letras a tal differença de 3 por cento demais do cambio corrente na praça; e se eu achar que tal differença houve; quero ser informado da razaõ.
Thesoureiro. Veja V. M. que se nos mettemos nisso, he preciso examinar as contas das despezas da Casa Real.
Rey. Pois bem; se eu achar, que todas as extravagâncias das despezas publicas, saõ para a Casa Real; como eu naõ tenho culpa diso, eu o direi publicamente ao meu Povo; e lhe declararei que tal naÕ he minha vontade, e elles me acredita, raõ : deixemos pois isso ; manda-me cá o Samuel, que quero examinar o negocio das letras.
Thesoureiro. Qual Samuel ?
Rey. Pois naõ me dissestes, que suppunhas que o Corrector das letras fora Samuel ? He esse Samuel quem eu quero examinar.
Thesoureiro. Naõ sei aonde está, uns dizem que foi para Inglaterra, outros que está doente; e outros . . .
Rey. Basta. Chegará o tempo de ajustarmos contas. Naõ digo que sejas culpado; porque se o pudera dizer, do meu dever fora castigar-vos; porém digo, que a repetição quo tendes feito, em fallar das despezas da Casa Real, e o naõ explicares o negocio das letras naõ he de quem sabe e entende da administração das rendas publicas ; mas sim de quem deseja embaralhar; e se naõ dereis disto a conveniente satisfacçaõ será preciso declarar-vos indigno do lugar que occupaes. Fazei publicas as publicas contas; e com isto mostrareis que entendeis do vosso officio, e que sois homem honrado; e senaõ cada um julgará o que lhe parecer.


O diálogo, reproduzido acima, não possui outra fonte e ninguém que o assine, a não ser o Redator do CORREIO BRAZILENSE. Este texto constitui uma amostra  espaço que foi uma mina de ouro para os primeiros jornais da ERA INDUSTRIAL. Os jornais a mídia do Brasil de novembro de 2016 continuam a explorar o pensamento que está atrás deste texto do diálogo fictício de novembro de 1816. Esta exploração é possível na medida em que se encontram ainda no mesmo  cenário armado graças a mesma opacidade entre o poder político, legislativo e econômico. Em relação a novembro de 1816 o cenário atual apenas criou outros véus. Os bancos ingleses agora são bancos  refugiados nas alvuras alpinas.
Fig. 05 –  O personalismo e o culto do EU absoluto, onipotente, onisciente e eterno estava distante de expressar uma política coerente com a vasta esfera politica lusófona expressa nas posses do Reino Unido Portugal, Algarves e Brasil. Na contramão desta unidade estava em marcha a ERA INDUSTRIAL e busca de mercados para as máquinas e a reserva de mercados e que em novembro de 2016 formam um imenso bazar planetário Os meios de comunicação continuam a jogar as intrigas entre o mundo político e econômico para gaudio de massas humanas cada vez mais numerosas e cada vez mais domesticadas entre o terror e as recompensas materiais possíveis nestes territórios em migalhas.

De outro lado o uso da imprensa e dos meios de comunicação não menos opacos. Nesta semiescuridão arma-se espaço para o jogo cênico e cínico de interesses que o leitor não possui meios de averiguar. Especialmente no regime monocrático, centralista e personalista que ainda persiste no Brasil de novembro de 2016.  O número de novembro do Correio Braziliense é um “ARMAZEM LITERÁRIO” repleto de argumentos, de sentenças, de meias verdades jornalísticas e prontas para serem aquecidas para despejá-las no ventilador da mídia atual. Mídia tecnicamente adiantada mas que conserva a sua essência o poder de intriga, de surpresas e  de desestabilização de qualquer paradigma contrário ao seus interesses.
Fig. 06 –  O refúgio do poder político brasileiro no Planalto Central não foi suficiente para torná-lo imune ao poder econômico e os ataques dos meios de comunicação. Estes se armaram e passaram a intrigar em rede nacional e internacional.   De outro lado também não há nenhuma novidade, pois o jornal  de Hipólito José da Costa era editado e impresso em Londres e distribuído nos navios fretados ao serviço da bandeira britânica.
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS

CORREIO BRAZILENSE novembro de 1816

FRANCISCO BENTO MARIA TARGINI

FRANCISCO BENTO MARIA TARGINI:  ataque e defesa

Intrigas de CORREIO BRAZILENSE

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