CARGOS e FUNÇÕES
em 1815 e em 2015
Em outubro de 2015 é
possível evidenciar os mesmos hábitos, de outubro de 1815, para galgar cargos
públicos ou privados sem o menor respeito por qualquer contrato que gerou este
cargo. A única lei é do personalismo, do saque e uso de astúcias e poder que o cargo
que caiu em mãos erradas. Personalismo que nutre um desprezo olímpico pelas
funções ou limites sociais, políticos e econômicos derivados de um contrato e da lei. O Correio Braziliense,
de outubro de 1815, registra na p.544, este “quadro da dor” diante de
personagens que ocupam
“taes empregos assas remunerados com a
promoção dos indivíduos de lugares menos rendosos para outros de maiores
emolumentos, uma aposentaçao na velhice, algum distinctivo honorífico,
pendrucalho d'habito ou cousa simiIhante, que lisongea a imaginação de
grandeza, &c”
Fig. 01 – O esforçado descendente italiano FRANCISCO BENTO MARIA
TARGINI (1786-1827) galgou degrau em degrau os cargos públicos atingindo o grau
nobiliárquico de 2º Visconde de São Lourenço. Partiu da iniciativa privada e pode
ser visto como expressão do súdito e como cidadão a quem se abre a nobreza
devido à sua dedicação, lealdade e boas relações com a nobreza já estabelecida
e de berço. Porém em Portugal a nobreza não era hereditária e tinha de ser
comprada. Os valores repassados - por estes sequiosos pelos títulos, medalhas e
honraras de uma nobreza – alimentavam a corte, suas extravagâncias e futilidades.
A mistura eclética entre política e economia
não é privilegio do Brasil de outubro de 2015., O mesmo eclactismo está presente
em outubro de 1815, e se faz soberano nos registros das Finanças brasileiras. No
Brasil de outubro de 2015 é alarmante a corrida para CARGOS PÚBLICOS. Alarma o
adeus à legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência que
pratica que a ECONOMIA privada e pública
conduzam pelo nariz a POLÍTICA de uma NAÇÃO.
Fig. 02 – O Príncipe Regente - depois Rei
Dom João VI - trilhou, durante sua vida,
o caminho CONTRÁRIO do esforçado plebeu FRANCISCO BENTO MARIA
TARGINI. O Príncipe, e depois Rei, nasceu no berço da família real que era
considerada como fonte do poder. Ao ser coagido a jurar uma constituição para
manter a coroa tinha esta fonte do poder foi refundada em funções legais, deixava
de lado as fontes divinas da corte. Assim se aproximava da cidadania e da
igualdade com os demais plebeus seus súditos
CORREIO BRAZILIENSE outubro de 1815
VOL. XV- Nº 89.pp. 544-549
Reflexoens sobre as Novidades deste
Mez.
BRAZIL. Finanças.
A memória, sobre o rendimento e despezas do Erário do
Brazil, cuja publicação começamos no nosso N° 86, e acabamos no passado, deve
convencer os nossos Leitores, de que sem esforços extraordinários de gênio, sem
a fertilidade de invençaõ, e sem maiores estudos nesta matéria de finanças,
podiam os que conduzem os negócios da Fazenda Real, no Brazil, occurrer ás
despezas ordinárias, naõ pedir empréstimos, c salvar o Governo de innumeraveis
inconvenientes, que sempre resultam de se achar o Erário individado. A
experiência infelizmente prova, que nem disto saõ capazes
Thomas ENDER –
“No veleiro para o Brasil”
Fig. 03 – Os custos para equipar uma frota marítima lusitana, mantê-la e fazê-la
operacional - com capital próprio e
autônomo - sempre foram as maiores
determinantes da política marítima de Portugal. Para o vacilante esforço nacional
lusitano - para equipar uma frota marítima própria- não valeu a origem italiana FRANCISCO BENTO MARIA TARGINI. Os
Italianos venezianos
e genoveses também
haviam naufragado, há muito tempo nesta empresa apesar tomarem vultosos empréstimos
florentinos.
A' frente do Erário do
Rio-de-Janeiro se acha um Targini, que pelos outros nomes naõ perca; e ouvimos
dizer, que he também Baraõ ou cousa que o valha; e suppomos, que saberá lêr,
escrever, e contar; porque tem servido de escrevente nesta mesma repartição do
Erário, aonde essas qualificaçoens saõ necessárias; porem que saiba mais cousa
alguma, nem que tenha a menor pretençao a possuir os conhecimentos necessários
de economia politica, essenciaes a quem deve arranjar os planos de finanças de
um Estado, he falso testemunho, que ainda ninguém lhe levantou. Para ser
escrevente ou contador, em qualquer repartição do Erário; basta, com um talento
medíocre, o conhecimento practico da escripturaçaõ dos livros de contas, e os
serviços, feitos em taes empregos, ficam asssas remunerados com a promoção dos
indivíduos de lugares menos rendosos para outros de maiores emolumentos, uma
aposentaçao na velhice, algum distinctivo honorífico, pendrucalho d'habito ou
cousa simiIhante, que lisongea a imaginação de grandeza, &c.
Fig. 04 – O
COMÉRCIO dos ESCRAVOS não podia figurar nas suas planilhas da contabilidade
luso-brasileira. Contra este tabu - que tinha de ser mantido face aos
britânicos - nem o esforçado FRANCISCO BENTO MARIA TARGINI
(1786-1827), nem Hipólito José da COSTA u qualquer cortesão tinha voz pública e
eficaz. Muito mais tarde
Wittgenstein escreveu “o que não pode ser dito, deve ser calado”.
Porém nunca se pôde suppôr, que um
mero contador, por melhor que saiba o seu officio, he sò por isso capaz de ser
promovido á administração geral do ramo das Finanças, porque para isso he
sempre necessário o conhecimento dos elementos de que se compõem a complicada
sciencia da economia politica, taõ aperfeiçoada nos nossos tempos. Para provar
isto basta lembrar, que pertence a este ramo do Governo a imposição dos
direitos d'alfandega na importação dos gêneros estrangeiros, e que esta
operação deve ser por tal maneira arranjada, que se favoreça a industria
nacional, que se naõ obste o commercio, e que ao mesmo tempo se naõ provoque o
contrabando, o que sempre resulta dos direitos de alfândega demasiado altos.
Ora £ como se pode dizer, que he capaz de conhecer destas matérias, qualquer
indivíduo, só porque sabe bem a practica da escripturaçaõ de um jogo de livros
de contas no Erário?
Fig. 05 – A
monetarização da ECONOMIA, do COMÉRCIO e
das FINANÇAS PUBLICAS LUSO-BRASILEIRAS estava em pleno curso de implantação em
outubro de 1815. Porém no dia a dia a a população praticava o escambo por
produtos, serviços e patrimônios eram correntes e sem registro em cartório ou
bolsa de valores. O COMÉRCIO dos ESCRAVOS não constava como rubrica da
contabilidade luso-brasileira. Nem aí podia
constar, devido aos tratados oficiais
com os britânicos. Porém a grande frota dos “TUMBEIROS” era britânica e tinham
de serem pagos monetariamente, e no ato, por aqueles que fretavam estas
embarcações, em Londres. Estas “modas” não deixavam rastros como tráfico, as corrupções políticas e
econômicas em pleno curso em outubro de 2015.
Este exemplo serve para mostrar, que
o modo de escolher as pessoas, que dirijam os negócios da Fazenda, he
radicalmente máo, e o Soberano ha de por força ser mal servido; por que só por
accaso encontrará com um escrevente do Erário, que entenda (do que naõ he o seu
officio) economia politica. Mas gritarão, aqui d'El Rey contra o Correio
Braziliense; e argumentarão, que acima do Thesoureiro Mor está o Presidente do
Erário, e para ajudar a este tem um Conselho da Fazenda. Vamos por partes:
quanto aos gritos contra nós; teremos paciência; e tempo virá, em que o que
escrevemos sirva de bem á terra em que nascemos; e esta lembrança naõ" he
pequena consolação, para quem está ao abrigo de outros males, além desses
gritos. 0 Presidente do Erário. Este importante emprego he, por via de regra,
dado a um fidalgo. A economia politica, que estuda esta classe da naçaõ
Portugueza, naõ deverá talvez ser avaliada, pelo que se observa na maior parte
dos fidalgos, no que respeita a sua economia domestica; casas empenhadas, falta
de credito, &c. &c, naÕ saÕ grandes recommendaçoens para louvar a
economia domestica dos fidalgos. Mas em fim diraõ, que podem elles ou algum
delles, ou a classe, geralmente faltando, serem máos economistas domésticos, e
no entanto pode algum delles ter estudado economia politica, e ser capaz de
administrar as Finanças do Estado. Seja assim, nós falíamos da classe, e por
conseguinte devemos admittir excepçoens. Mas ¿ quando, e porque meio, ha de o
Soberano conhecer quaes saÕ esses, que tem os estudos e o gênio necessário para
administrar esta importante Repartição ? Por mais respeito, que tenhamos ao
Soberano, ainda nos naõ capacitamos, que tenha um Espirito Sancto ao ouvido,
que lhe ensine a advinhar.
Jean-Baptiste
DEBRET – “A corte no Brasil”
Fig. 06 – Os estranhos rituais da corte de Lisboa, transpostos aos trópicos,
ensejavam cenas com o da imagem registrada por um artista europeu. Estes estranhos rituais associados
aos abismos sociais, políticos e econômicos certamente afastavam qualquer
contrato social que não fosse a ESCRAVIDÃO, o SERVILISMO ABJETO e o
COLONIALISMO sob todas as formas..
Concedamos, por fim, que se acertou
na escolha de achar o fidalgo sábio, nestas matérias ¿quaes saõ os meios, que ha, de averiguar ao
depois, se na sua administração se commettem abusos, provenientes ou de sua maldade,
e intençoens criminosas, ou de sua culpa, e negligencia reprehensivel? Nos
paizes em qne se escreve, e se falla livremente em publico, sobre as matérias
de Estado, os talentos dos homens saõ facilmente conhecidos; e até quasi a
opinião publica os designa para os lugares; mas em Portugal, aonde esse tal
supposto fidalgo instruído, nem escreve as suas ideas, nem falia publicamente ¿como se ha de saber, que elle tem os
conhecimentos necessários para administrar as Finanças ?
Fig. 07 – O prédio da alfândega do Rio de Janeiro materializava de um mínimo de
controle financeiro. Este prédio ganhou sentido maior a partir da
produção e exportação do café do vale do Paraíba
Também, nos paizes em que as contas
do Erário saõ publicamente examinadas, he possível averiguar se o homem, que se
julgou capaz do emprego, na verdade o naõ he, ou por falta dos conhecimentos,
ou por falta de gênio, ou por falta de probidade; mas aonde os negócios do
Erário saõ, como acontece em Portugal, mais escondidos que o segredo da abelha,
he impossivel achar aonde ou em que individuo he o negocio deftectivo; o único
critério he o resultado de ver o erário empenhado; isto ja pelo custume naõ
serve de descrédito a quem preside; e assim vaõ as cousas de mal em peior, sem
nenhum prospecto de remédio.
Fig. 08 – O organograma governamental para coordenar a área econômica do Reino
Unido – Portugal – Brasil - Algarves - entre
os anos de 18008 e 1819 reflete as desconexões administrativas desta área. Praticamente
diversos governos sob um potencial governo e trono monocrático tradicional. Sem
uma constituição proveniente de do PODER ORIGINÀRIO da nação pouco tinha a ver
com esta origem. O esforçado FRANCISCO BENTO MARIA TARGINI pouco podia
fazer sem a base da origem deste poder da nação e com uma corte de nobres que
apenas buscavam os seus interesses pessoais. Apenas empresava o seu nome
para ser o culpado de tudo aquilo que
desse errado neste cronograma.
O Conselho da Fazenda. Este tribunal
numea servio, nem pode servir de ajudar o Presidente do Erário nos seus planos
de finanças. As pessoas, de que he composto, saõ jurisconsultos, cujo estudo
tem sido as leys, e tudo quando delles se pode e deve exigir, he que saibam
sentenciar as causas, em que a Fazenda-Real lie parte ; e que tenham assas
probidade e firmeza de character para dar a sentença contra El Rey, se a
justiça assim o exigir; as qualidades, pois, requeridas para este officio, saõ
mui differentes das que se precisam na administração dos negócios econômicos da
Fazenda Real, ou finanças da naçaõ.
Fig. 09 – Portugal e Brasil não careciam de nobres dedicados, em tempo integral,
ao estudo, iniciativas e ações Um deles
era Antônio de ARAUJO e AZEREDO (1754-1817) Conde da Barca. O redator do Correio
Braziliense passa cuidadosamente à margem deste nome. As vinculações políticas
e ideológicas com a cultura francesas e com a incipiente influência
norte-americana eram motivos suficientes para silenciar este nome. Apesar disto
os estudos, as pesquisas e os oportunos contatos sociais e culturais com o
pensamento e os agentes das Ciências e das Artes do seu tempo trouxeram ao
Brasil nomes, publicações e coleções científicas e estéticas que mereceram
alguma atenção muito depois do seu desparecimento no Rio de Janeiro em 1817.
Uma destas contribuições foi a sua coordenação da vinda da Missão Artística
Francesa em 1816. .
Isto fatiando cm geral: tractando
agora de indivíduos; se éra condição sine qua non, que o Presidente do Erário
do Rio.de-Janeiro fosse um fidalgo, dizemos que S. A. R. fez mui bem em
escolher o Marquez d'Aguiar—passava por homem de conhecimentos e leitura, logo
poder-se-hia presumir, ainda que naõ houvesse provas, de que teria estudado
economia politica —gozava o character de probidade, tàl, que o punha acima de
toda a suspeita—nus governos que fez de varias provincias mostrou bastante
moderação.
Fig. 10 – O Brasil de 1815 já possuía, em
outubro de 1815, três vezes o tamanho
geográfico do Império Romano no seu
apogeu.. O Rio Grande do sul era uma espécie de apêndice
deste imenso território. Fruto de decididos
avanços nas suas conquistas e recuos estratégicos frente à Coroa Espanhola. Em
outubro de 1815 palco de manobras das forças que percebiam na rainha Dona
Carlota Joaquina ter sob seu controle e anexação da Cisplatina na qualidade de
filha da casa real espanhola. O atual estado e Santa Catarina era metade devido
ao território do CONTESTADO pela Argentina e
equacionado só no período republicano,
Bem; porém as suas outras oecupaçoens
publicas, sua idade, suas moléstias, saõ um terrivel desconto a todas essas
qualidades boas, que lhe desejamos admittir em toda a extensão possível. Sim j
nos diraõ; mas basta que o Presidente do Erário só tenha a superintendência; e
Ia está o Thesoureiro, que attenderâ a tudo o mais, supprindo as faltas e
ausências do Presidente. Eís-nos aqui atirados outra vez para o Targini, ou
Baraõ Targini, ou o que na verdade he; em uma palavra o tal escrevente do
Erário, de quem nunca ouvimos uma só boa qualidade que o recommendasse; e que
naõ faz mais do que inchar-se como pomba rola, ou pavaõ, com as honras, que
ninguém sabe como lhe caíram em casa. O Leitor desejará saber, porque tractámos
assim de chufa o Thesoureiro mor. Diremos—para nos pagar adiantado do mal que
elle ha de dizer de nós, por lhe tocarmos no Erario. Naõ fatiaríamos nos indivíduos,
se esperássemos, que se respondesse á memória que publicamos, mostrando ou que
os dados em que se funda saÕ falsos, ou que as conclusoens naõ saõ legitimas;
em uma palavra mostrando, que se a despeza excede a receita, todos os annos, no
presente estado das cousas, he porque nem se pôde gastar menos, nem ter maiores
rendas. Mas em vez de esperarmos, que o Targini responda, publicando as contas
do Erário, de forma authentica, para justificar o estado de descrédito em que o
tem posto, a experiência nos ensina, que naõ teremos outra resposta senaõ
vituperios; assim he bem que vá ja recebendo alguma cousa á conta de pagamento.
Olhando porém seriamente, para o modo porque se fazem as despezas, sem attender
ainda á sua natureza, os defeitos da administração do Erário do Rio-de-Janeiro
saõ bem notáveis. Demos um exemplo, na compra dos artigos necessários para os
arsenaes, tropa, casa Real, &c.
Jean-Baptiste
DEBRET – “Intelectual estrangeiro no Brasil”
Fig. 11 – Os esforços de qualquer intelectual eram perigosos para a mentalidade colonial e
escravocrata. Assim foram implantados no Brasil Reino e Império apenas raros
e poucos cursos superiores, gravitando
ao redor da corte no Rio de Janeiro. Na prática eram cursos profissionalizantes
e em estado lastimável no final do período imperial brasileiro. A Universidade,
para todo o território brasileiro, teve
de esperar o ano de 1931. Antes raras universidades locais se a atribuíam título de universidades e que Antõnio Cunha denominou de “temporãs”[1]
Em vez de se propor a lanços
públicos, para se arrematar a quem por menos fornecer o artigo necessário,
encarrega-se um indivíduo de fazer a compra; e fica & sua boa consciência o
portar-se como homem de bem. Se quizer. Aqui em Inglaterra custumam muitos
fabricantes, e mesmo officiaes de officios mechanicos, quando se lhe compram
artigos para exportação, darem recibos por mais do que o preço, que recebem, e
isto á vontade do comprador; chama-se a esta operação dar desconto.
[1] CUNHA, Luiz Antônio,
Universidade temporã : o ensino superior da Colônia à Era Vargas. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira. 1980, 295p.
Fig. 12 – A expressão para “INGLÊS VER” - cunhada
com a chegada da corte ao Rio de Janeiro, em 1808 - reflete o amontoado de casas
do Rio de Janeiros - sem um projeto urbanístico. Em
outubro de 1815 era índice da falta dos limites entre o político, o econômico e
o social e era visível de instalação de vidros nas janelas dos prédios. Este
processo ganhou dimensões dantescas, em outubro de 2015, com a progressão de favelas e de ocupações
irregulares insanáveis apesar de todos os esforços, boa vontade e fortunas e
vidas humanas despejadas neste ralo.
Agora, mandando-se de Brazil comprar
em Inglaterra muitos artigos por conta do Erário, tomáramos que nos dissessem
como averiguam lá, que os recibos que de cá se mandarem, se he mesmo que alguns
recibos se mandam, designam as sommas verdadeiramente pagas por conta do
Erário, ou se incluem também o desconto ¿ e que proporção he o tal desconto ?
Nesta matéria havemos a seu tempo fallar mais ao largo • mas aqui vem ao
propósito, somente para mostrar, que o systema das arremataçoens em hasta
publica, causando a competência publica entre os vendedores, habilitaria o
Erário a comprar o mais barato possível, e fazendo-o no Rio-de-Janeiro por seus
officiaes, podiam-se verificar tanto os preços, como a bondade dos artigos, de
maneira que naõ he practicavel, quando as compras se fazem em outros paizes
distantes, e sem a con. currencia dos lauços. He verdade, que as compras saõ
ordenadas por varias repartiçoens, no que naõ tem muitas vezes parte alguma o
thesoureiro mor do Erário.
Jean-Baptiste
DEBRET – “Rua no Rio de Janeiro - Brasil”
Fig. 13 – O observador mais desavisado podia ser testemunha em qualquer rua,
pátio ou lugar público dos contrastes e os abismos sociais, econômicos e
políticos. Estes índices eram camuflados por uma
sequência estonteante de eventos, festas
e procissões que naturalmente tinham por figura central as autoridades
coloniais que assim podiam ostentar a
sua “magnanimidade e majestade”. Eventos, festas e procissões que passavam longe de
qualquer manifestação política.
Porém occupe aquelle lugar um homem
capaz, e elle conhecerá, que he do seu dever o propor o plano para as compras
dos artigos necessários, nas diversas repartiçoens, de maneira que se introduza
em todas um systema uniforme; isto he sem duvida da repartição das Finanças;
posto que o naõ seja de nenhum contador ou escrevente do Erário. Ajunctou-se á
este plano do melhoramento das finanças varias tabellas, que póem a matéria em
um ponto de vista mui claro, e serrem como de resumo de todo o plano.
Fig. 14 – No território metropolitano o prédio da alfândega da cidade do Porto, as
riquezas que por ali circulavam. Porém muitas das vinhas e lagares eram de
propriedade britânica que graças ao Tratado de Methuen[1],
em 1703, instalou ali guarnições inglesas para “defender” os seus interesses
econômicos. Assim
Portugal não tinha uma contabilidade nacional. O Correio Braziliense, de
outubro de 1815, também contornou este contencioso com a Inglaterra e que levou
para Londres todo o ouro das Minas Gerais.
Na tabeliã Ia. (p. 373) se acham as
particularidades das despezas de um mez, nas repartiçoens A, B, C, D, E: e na
tabeliã 2\ (p. 374) os rendimentos de um anno, distinguindo as capitanias
d'onde vem, e as repartiçoens por onde se cobram. Depois (p. 375, e p. 376) vem
a conta das despezas distribuidas por cada mez; e na tabeliã seguinte (p. 377)
se acham os meios de prover a estas despezas, também mensalmente, fundando.se o
cálculo na tabeliã 2a. E finalmente; porque a má administração passada tem
feito com que as cobranças do Erário se verifiquem sempre depois de vencidos os
termos dos pagamentos, que devem sahir do Erário; vai a tabeliã de p. 380,
mostrando os sacrifícios de descontos, que he preciso que o Erário faça, para
fazer os pagamentos no devido tempo; c ficar para o futuro com sobras;
adquirindo assim o credito de punctual. Esta matéria nos parece taõ clara, taõ
fácil de execução, e taõ evidentemente útil; que o naõ a quererem seguir no
Erário, naõ pode deixar de motivar suspeitas de más intençoens, vista a
continuação do péssimo systema de ter sempre o Erário individado. Sendo o arranjamento
do Erário tal, que se houvesse sempre o dinheiro necessário pára fazer os
pagamentos, naõ seria preciso outra precedência senaõ em chamar os indivíduos
pelos seus nomes, segundo estivessem classificados nos livros, pelas letras do
A, B, C ; e cada um esperaria com paciência, que lhe chegasse a soa vez. Mas
esta simplicidade de administração he o que naõ serve aos Godoyanos • porque
nas águas envoltas se pescam as enguias. Naquelle systema simples de
pagamentos, de escripturaçaõ, e de precedência fundada unicamente nas datas, e
na ordem alphabetica; naõ podia haver lugar de empenhos; faltando este meio,
cessavam os rebates dos que compram as dividas do Erário por menos do que valem;
porque tem empenhos para as cobrar logo, e embolçar o rebate; pagando o Etário
a divida por inteiro; e ficando o credor originário privado do desconto, que
soffreo.
Fig. 15 – A cena dos esforçados
carregadores de Piano No Rio de
Janeiro - registrada com hilaridade por Auguste
François BIARD (1798-1882) - é uma amostra dos abismo da
classe privilegiada e dona do piano e que coloca todo o peso sobre s cabeças
dos escravos o peso deste instrumento de distinção. Certamente não havia com registrar,
em qualquer estatística ou relatório econômico, o produto deste trabalho.
A comparação entre a
política e a economia britânica de outubro de 1815 e de outubro de 2015 com a política e a
economia Brasil e de Portugal de outubro de 1815 certamente é injusta. Porém convém
atualizar o reparos em relação a veemência jornalística de Hipólito José da Costa e sua situação em
outubro de 2015. No presente continuam os mesmos hábitos de galgar os cargos
públicos ou privados sem o menor respeito por qualquer contrato e com um
desprezo olímpico pelas funções ou limites sociais, políticos e econômicos
derivados de um contrato e da lei que
gerou este cargo. A única lei é do personalismo, do saque e uso de astúcias e poder que o cargo
que caiu em mãos erradas.
Fig. 16 – As bases econômicas, sociais e políticas do mundo do COMMONWEALTH estavam
em plena formação em outubro de 1815. Com a consolidação e a expansão da era
industrial o império britânico compensou
amplamente a perda da joia da sua coroa que eram os Estado Unidos. O
editor do Correio Braziliense tinha vivido e trabalhado nos Estados Unidos.
Porem os seus esforços eram para que o Reino Lusitano mantivesse sua unidade
com o Brasil.
O sonho do editor do Correio
Braziliense, em outubro de 1815, era caminhar na direção de um mundo lusitano
unido. Enfileirar-se e acompanhar o Commonwealth britânico em construção e que tantos
benefícios trouxeram aos seus mentores em todo planeta entre 1815 e 2015.
Fig. 17 – Os vastos territórios do Reino Unido – Portugal, Brasil Algarves era um
bem a ser preservado para posteridade. Porém tudo isto era idealismo e ficção. Ficção sem
um projeto político digno deste nome. Idealismo imediatamente desmentido por,
um centralismo mórbido lusitano e europeu. No lado prático a falta de uma
economia sustentável - a partir, de uma pesquisa e de indústria nacional –
transformavam tudo em mera metafísica e discurso oco. De outro lado os tratados
leoninos om a Inglaterra pulverizavam vontades, sentimentos e potencias
conhecimentos.
Nesta perspectiva não
lhe interessava a soberania brasileira isolada e desconectada do seu passado e
presente lusitano. Evidente que o conflito ianque inglês estava bem vivo aos
olhos de todos, em outubro de 1815, e as
duras guerras, saques, incêndios e sangue derramado . Esta direção de um mundo
lusitano unido por um pacto político, social e econômico pacto não pode avançar
para o mundo da sua prática. Militavam contra ele uma corte refugiada no Rio de
Janeiro e cercada de mediadores, atravessadores e tuteladores de interesse
pessoais e muito mais mesquinhos do que o projeto de um pacto ao estilo do Commonwealth britânico. Militavam contra ele os hábitos
multisseculares de uma monarquia que estava em processo de migração entre o absolutismo
e os contratos constitucionais. Enquanto isto os ingleses já haviam atingido há
alguns séculos, em outubro de 1815, este patamar e contrato coletivo.
Fig. 18 – O embaraçoso panorama político brasileiro de outubro de 2015 possui uma
matriz e uma atmosfera social e econômica que emana de outubro de 1815 A pouca
nitidez entre as competências e os limites, entre economia e a política, geram “as águas turvas nas
quais se pescam as enguias” Os
grandes alardes, gritarias, processos e ameaças encobrem negócios outros,
atravessadores experientes e falcatruas maiores do que aqueas que aparecem com
aparente clareza cristalina ne mídia digital
para um povo que ainda está na escravidão e num colonialismo cada vez
mais sofisticado.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS.
ALMEIDA
PRADO, J. F. Tomas
Ender. São Paulo: Melhoramentos, 1955. p.383.
CUNHA, Luiz
Antônio,
Universidade temporã : o ensino superior da Colônia à Era Vargas. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira. 1980, 295p.
TAUNAY,
Afonso E. A missão artística de 1816.
Rio de Janeiro: Revista MEC/SPHAN, no18, 1956, 351p
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
ALFÂNDEGA
do RIO de JANEIRO em 1815
BRASIL
1815
BRASIL
Finanças – essas secretarias - ministérios
COMÈRCIO
do PAU-BRASIL e MINISTROS e CONSELHOAS a FAZENDA
COMMONWEALTH
CORREIO
BRAZILIENSE outubro de
1815 VOL. XV- Nº 89
FRANCISCO
BENTO MARIA TARGINI (1786-1827) 2º Visconde de São Lourenço
NEO
COLONIALISMO
PORTUGAL
+BRASIL – SECRETÀRIOS e MINISTROS da
FINANÇAS
PORTUGAL
– FAZENDA
MINISTROS
das FINANÇAS a partir de 1830
PROVÌNCIA
CISPLATINA
REINO
UNIDO PORTUGAL BRASIL E ALGARVES
RIO de
JANEIRO no período de Dom João VI
Rio de
Janeiro visto por Eduard HILDEBRANDT (1817-1868)
Rio de
Janeiro visto por Thomas ENDER
TRATADO de METHUEN em 17.12.1703
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