MAIS um TIRANO a MENOS
“Com as baionetas é possível fazer tudo, menos ficar sentado sobre as suas pontas”
Charles
Maurice de TALLEYRAND-PERIGORD
(1754-1838)
para Napoleão Bonaparte
Fig. 01 – Após a derrota da batalha de Waterloo, no dia 18 de junho de 1815, chegaram
ao final os 100 dias de governo de Napoleão Bonaparte O seu trono de Imperador permaneceu vazio após a sua 2ª abdicação no dia 22 de junho de 1815 . Alem da animosidade externa internamente
a França via-se dividida em relação a que fora derrotado pelas armas temendo-se
pela vida. Os ingleses tinham tradição de respeito pela vida dos seus
prisioneiros de guerra
Pode-se afirmar que a abdicação, a sua entrega ao ingleses, exílio o
morte de Napoleão Bonaparte NÂO FORAM NO GRITO. De um lado os britânicos agiram
com firmeza de propósitos e souberam comunicar o suficiente necessário de sua
ação para a imprensa para não haver suspeitas posteriores. Napoleão foi
recalcitrante, tentado impor a sua vontades mas sem resultados. Os dados tinham
sido jogados e não havia com questionar os resultados.
O trono do Imperador estava vazio e o seu ocupante a caminho de uma
isolada ilha no atlântico Sul
Depois de tantos tratados rompidos e tantas perfídias praticadas por
Napoleão Bonaparte não restava aos aliados alternativa. Trataram de neutralizar e
silenciar este produto da Revolução Francesa. Revolução que apenas era
índice da emergência de EGO sem limites.
EGO que se expressava pelo Romantismo. Romantismo que tinha os seus fundamentos
materiais nas novas tecnologias e máquinas das fábricas. Maquinas que impunham
a lógica da acumulação de matérias primas, máquinas, gente e capital. EGOS que
comandavam esta acumulação e que assolava a Europa e todo o Planeta.
Fig. 02 – Napoleão Bonaparte soube cercar-se
do que de mais refinado a arte e a moda do seu tempo sabiam lhe fornecer. Nesta
atmosfera e cenário ele cultivou uma imagem pessoal coerente com o seu tempo
que se abria para o romantismo e cultivo de um EGO sem limites. A sua ação
politica partia deste referencial e polo único doEGO com que avaliava pessoas e
acontecimentos.
EGOS que secretamente admiravam o monstro que tinha acumulado e sacrificado
milhões de vidas, destruído sonhos e jogada a França a mercê de outras nações.
Esta mesma era industrial contém implícita a OBSOLESCÊNCIA. Por mais
fulgurantes que tenham sido os feitos de Napoleão Bonaparte, no processo de
acumulação de gente, de tecnologias e de capitais, os seus dias de
OBSOLESCÊNCIA vieram com a mesma velocidade e intensidade. A toda AÇÂO
corresponde outra contrária e com a mesma intensidade.
Fig. 03 – Nos duzentos após batalha de Waterloo no dia 18 de junho de 2015 um
evento e um desfile com os uniformes, armas ritmos de época. Nestes dois séculos a memória
francesa oscilou entre o amor e ódio ao seu líder e herança desta época este
regime ditatorial..
Numa visão dos eventos que trouxeram a corte lusitana para a América é
possível perceber este jogo com a Física na qual toda AÇÂO corresponde outra
contrária e com a mesma intensidade. Passado o tsunami das ações das tropas
francesas era tempo de retomar a reconstrução do Reino no mesmo processo da
reconstrução que sessenta anos antes o terremoto, o tsunami e os incêndios de
Lisboa no dia de Todos os Santos de 1755[1] haviam provocado.
Faltava recapitular, evitar
ações precipitadas e emocionais. Na recapitulação os fatos estavam a vista de
todos amplamente divulgadas pelo jornalismo industrial em franca expansão.
Entre as cautelas a permanência da corte lusitana na América ao longo de mais
seis anos.
O CORREIO BRAZILIENSE divulgou no seu Vol. XV. Nº.
87. AGOSTO de 1815 pp.229 até 233 os fatos da queda e prisão de quem havia
subestimado as leis da Física, da Politica e da Civilização
MISCELLANEA.
BONAPARTE.
CONVENCIDO
Napoleaõ, depois da sua derrota em Waterloo, que naõ se podia manter no Throno
tendo contra si as Potências Alliadas, o partido Francez Realista, e o partido
Francez Republicano, abdicou o seu poder pela segunda vez.
Fig. 04 – Uma encenação em junho de 2015 da btalha de Waterloo na qual Napoleõa
condecora um dos soldados. A forte interação que Napoleão Bonaparte mantinha
com os mais baixos escalões do seu
exército granjeou-lhe uma lealdade e uma dedicação que o soldado raso mantinha
com o “seu” imperador. Esta mística explica não só os gigantescos
expercitos que reunia como o seu retorno intempestivo da Ilha de Elba. Por mais elevada que fosse a graduação
dos seus generais nenhum deles conseguiu criar esta mística pessoal.
Fouche,
por outro nome Duque de Otranto, tinha concertado com Talleyrand entregar a
pessoa de Bonaparte aos Alliados; porque com este acto se assegurava, o mais que
podia presumir, da protecçaõ do mesmo Rey
da França, e se vingava ao mesmo tempo da inimizade, quetivera a
Buonaparte.
Desde que
os Exércitos Alliados entraram em Paris, se espalharam muitos rumores
contradictorios sobre o lugar em que Buonaparte se achava escondido: mas
Fouché, que o seguia cora seus espias, sabia mui bem, que Nopoleaõ estava em
Rochefort, aonde tinha duas fragatas Francezas promptas para o conduzirem aos
Estados Unidos, pelo que foi o porto bloqueado por uma esquadra Ingleza, taõ
estrictamente, que Buonaparte conheceo ser-lhe impossível escapar-se; assim
escolhendo do mal o menos, entregou-se aos Inglezes; e escreveo ao Principe
Regente da Gram Bretanha a seguinte earta, que damos no seu original Francez.
Fig. 05 – A chegada de Napoleão Bonaparte ao HMS BELLEROPHON foi um evento que a propaganda britânica
soube explorar devidamente. Assim um verdadeiro exército de curiosos e de
convidados enfeitou e movimentou a baia onde estava fundeado este glorioso vaso
de guerra. Este tri mastro, com 74
canhões, havia participado das batalhas navais do Nilo e de Trafalgar contra a marinha francesa,
" Altesse Royale,—En butte aux factions qui divisent mon pays et á
iinimitié des plus grandes puissances de 1'Europe, j'ai termine ma carriere
politique, e je viens, comine Temistocles m'asséoir sur les foyers du peuple
Britannique. Je me mets sous Ia proteclion de ses lois, que je reclame, de V.
A. R., coranae le plus puissant, le plus constant, et le plus genereux de mes
ennemis."
O
Príncipe Regente naõ fez caso algum desta carta, que até nem podia ser entregue
a S. A. R. vindo de um indi viduo particular, como Buonaparte se considerava a
si mesmo, depois de sua abdicação ; pelo que o navio Belleropbon, capitão
Maitland, a cujo bordo se achava Buonaparte, o conduzio a Plymouth; aonde se
lhe prohibio toda a communicaçaõ com a terra, ou outras embarcaçoens.
Fig. 06 – Napoleão Bonaparte entrega a sua espada ao Capitão Frederick LEWIS
MAITLAND comandante do HMS BELLEROPHON. O comando e tripulação de vaso de guerra britânico
passuo a tratar o antigo imperador como “general” Napoleão Bonaparte sob protestos da minúscula
corte que reivindicava o tratamento de “imperador”
Parece
que o destino de Buonaparte estava ja determinado de concerto, entre os
Soberanos Alliados; assim logo que estiveram promptos os vasos que o haviam
conduzir a S". Hellena; foi recebello o navio Northumberland de 74 peças,
commandado pelo Almirante Cockburn.
Sahiram
de Plymouth os navios Northumberland c Bellerophon, aos 4 de Agosto, e aos 6
avistaram, juncto a Torbay, o navio Tonnant com o Almirante Lord Keith abordo, como
chefe da esquadra do cannal.
Fig. 07 – Napoleão Bonaparte como “hóspede” do HMS BELLEROPHON. Cheio de exigências e acompanhado por um minúscula corte que não podia
fazer nada contra a muralha da opinião publica britânica. Certamente os
perplexos marujos não podiam acreditar nos seus próprios olhos por terem em
suas mãos alguém temido e poderoso
O general
Bertrand foi a bordo do Tonnant, e ali jantou com Lord Keith, e Almirante
Cockburn. Durante o jantar o Almirante Sir George Cockburn explicou ao general Bertrand,
as instrucçoens, que tinha, para conduzir Buonaparte a Santa. Hellena; sendo um
dos artigos, que havia de passar revista á bagagem antes de a receber a seu
bordo, no navio Northumberland. Bertrand expressou em termos fortes a sua
opinião, contra a medida de mandarem o Imperador (como elle ainda lhe chamava,
naõ obstante as duas abdicaçoens) para Stª. Hellena, quando o seu desejo éra
viver socegado na Inglaterra, debaixo da protecçaõ das leys Inglezas. Nem Lord
Keith, nem Sir George Cockburn discutiram com elle este ponto; mas deixáramno fallar.
Depois de
jantar Lord Keith, e Sir George Cockburn, accompanhados pelo general Bertrand,
foram para bordo do Bellerophon; e acharam que Bonaparte estava ja desarmado, tendo-se-lhe
tirado as pistolas e mais armas que tinha • no que houve bastante altercaçaõ
com os officiaes Francezes: Destes, os que naõ haviam de acompanhar Bonaparte
foram mandados para bordo da fragata EuroIas.
Bonaparte despedio-se delles individualmente; e houve entre outros um official
Polaco (o Coronel Pistowski) que o queria por força accompanhar, ainda, dizia elle,
que fosse para o servir como creado inferior; havendo recebido 17 feridas em seu
serviço. Savary c Lallemand foram separados de Buonaparte mas ficaram abordo do
Bellerophon.
Fig. 08 –Coube ao Capitão Frederick LEWIS MAITLAND(1774-1839)[1],
comandante do HMS BELLEROPHON, conduzir Napoleão Bonaparte e sua corte até
Plymouth e desta lugar até a solitária Ilha de santa Helena no Atlântico sul.
Habituado o om a severa disciplina e hierarquia do pacto que sustentava a Grã
Bretanha nos piores momentos era um entre os muitos que empenhara, nas melhores
funções possíveis que o seu cargo exigia
em momentos de triunfo. Porém não era momento de celebração e eventos
ruidosos aos quais o se “hospede” estava acostumado como imperador dos franceses.
Os ingleses uniformizaram o tratamento de “general” para Napoleão apesar d0s
protestos da minúscula corte a bordo.
Lord
Keith informou a Bonaparte, que havia ordem de o mudar para o navio Northumberland,
em que devia fazer á sua viagem para Sta. Hellena; Buonaparte, que recebeo Lord
Keith de meias de seda, chapeo debaixo do braço, tope tricolor, crachá da
legiaõ de honra, e mais ornatos de sua invenção; protestou vehementemente contra
este acto do Governo Britannico; e disse que naõ podia conceber que houvesse alguma
objecçaõ á sua residência na Inglaterra.
[1] Capitão
FREDERICK LEWIS MAITLAND https://en.wikipedia.org/wiki/Frederick_Lewis_Maitland_(Royal_Navy_officer)
Captain_John_Cooke,_1763-1805 – pintura de Lemuel
Francis ABBOT
Fig. 09 – A memoria do Capitão John COOKE (c.1762-1805)[1] estava bem viva como comandante do HMS BELLEROPHON durante a Batalha de Trafalgar
na qual ele pereceu como também o Comandante Nelson. Batalha na qua a
Inglaterra pôs fim a supremacia nos mares pretendida por Napoleão Bonaparte. Dez
anos depois o imperador que os ingleses tratavam com general, estava a mercê
destes vitoriosos de 1805.
Os
Officiaes Inglezes naõ lhe responderam. Sir George Cockburn perguntou-lhe a que
horas queria que viesse no dia seguinte para o levar para seu bordo. Napoleaõ
respondeo, que ás 10 horas. Sir George Cockburn perguntou-lhes se precisavam de
mais alguma cousa antes sahir ao mar; e o Gen. Bertrand respondeo, que queria
20 baralhos de cartas de jogar, e um taboleiro de gumaõ: madame Bertrand disse,
quequeria alguns trastes, que lhe eram necessários.
Buonaparte
mostrou-se indignado, que o tractassem simplesmente de general, e observou
bruscamente aos Inglezes, que elles lhe haviam mandado embaixadores, e
reconhecido Primeiro Cônsul da França.
Almirante
Thomas_Pasley pintura de Lemuel_Francis_Abbott_-_
Fig.10 – A memória
da figura da almirante Thomas Passley (1734-1808)[1]
era cultivada como comandante e com suas ações no bloqueio naval que a
Inglaterra mantinha especialmente no Canal da Mancha ao longo dos diss do
governo do imperador Napoleão Bonaparte .
Agora esta figura estava nas mãos embarcada e vigiada por uma frota inteira
e vitoriosa
Na
segunda feira, 7 de Agosto, Sir George Cockbura foi a bordo do Bellerophon,
passou revista á bagagem de Bonaparte: consistia esta em dous serviços de meza de
prata, vários artigos de ouro, toucador, livros, camas, &c. Buonaparte
trouxe com sigo da França 40 creados, a maior parte dos quaes foi mandada para
bordo do Eurotas.
Buonaparte
embarcou entaô na Lincha, levando consigo as seguintes pessoas. General
Bertrand, Madama Bertrand e seus filhos; Conde e condcssa Mouthòlon, e seu
filho; Conde Lascasas; general Gorgand; nove creados. O cirurgião de Buonaparte
naõ quiz acompanhallo; e offereceo-se para o fazer, o cirurgião do Bellerophon.
Quando
Buonaparte chegou a bordo do Northuraberland, Bertrand entrou primeiro,
seguio-se-lhe Buonaparte, a quem a tropa, que se tinha formado na coberta, fez
as continencias como a um general.
Os navios
se fizeram logo á vella para o seu destino. Buonaparte, porém, antes de
submetter-se a sua sorte, entrou o seguinte :—
Protesto,
Protesto
solemnemente perante Deus e os homens, contra a violação dos meus sagrados
direitos, na disposição de minha pessoa e de minha liberdade, pela via da força.
Eu vim livremente ter a bordo do Bellerophon, naõ sou prisioneiro, sou
visitante da Inglaterra. Uma vez que entrei a bordo do Bellerophon, fiquei immediatamenfe
com direito á hospitalidade (Jefus sur
le foyer) ào povo Inglez. Se
o seu Governo, dando ordens ao capilaõ do Bellerophon para me receber, a mim e
ao meu séquito meramente intentou armar-me uma cilada, tem perdiditlo a sua honra,
e manchado a sua bandeira. Se es(e neto for completado em sua execução, em vao se
gloriarão os Inglezes de sua
lealdade, de suas leys, e de liberdade. A fé Britannica será obscurecida na
hospitalidade do Bellerophon.
Appéllo
para a historia : ella dirá, que um inimigo, que por 20 annos fez guerra ao
povo de Inglaterra, veio voluntariamente, em suas desgraças, procurar um azylo debaixo
da protecçaõ de suas leys. Que prova mais forte podia elle dar de sua estimação
e de sua confiança ? Porém ¿ como conrespondeo a Inglaterra a
tal confiança e magnanimidade ? Pretenderam offerecer uma maõ amigável a este
inimigo, e quando elle se rendeo era boa fé, eles o sacrificaram.
NAPOLEAÕ.
A bordo
do Bcllerophron, no mar. 4 d'Agosto, 1815.
Fig. 11 –Napoleão Bonaparte teve sua última vista da Europa a bordo HMS
BELLEROPHON. Europa que teimara em submeter à sua vontade e arbítrio. Os britânicos permitiram que este barco
glorioso em tantas vitórias cruciais fosse cercado de curiosos de toda espécie
e categorias sociais, econômicas e politicas. De outra parte Napoleão temia
uma execução camuflada como ele tinha
liquidado desde os dias do reino da
guilhotina da Revolução Francesa. Porém os inglese deram uma amostra do
respeito aos prisioneiros de guerra que sua civilização exigia..
Após as notícias oficiais e
publicadas na imprensa inglesa o editor do CORREIO BRAZILIENSE abriu outro
espaço para uma análise e comentários atinentes a queda, as razões e as
necessárias precauções com EGOS que não conhecem suas competências e muito
menos os seus limites.
Em agosto de 2015 é possível verificar que pouco adiantou estas
precauções, razões e tropeços deste tirano. A atmosfera estava carregada de
EGOS e capazes de transformar a indústria bélica em massacres crescentes. Estes
EGOS foram sementeiras de grandes, pequenos e micro tiranos que se espelhavam m
Napoleão Bonaparte.
Fig. 12 – A viagem sem volta de Napoleão Bonaparte contemplado pela tripulação do HMS BELLEROPHON num interpretação do ano de
1880 do pintor William Quille ORCHADSON (1832-1910)[1]
(óleo sobre tela 165,1 x 248,9 cm). A
permanência da memória desta catástrofe de um dos seus inimigos mais
implacáveis e determinados alimentou grandes segmentos da identidade britânica
e acendeu outras formas de combater a tirania que se espalhou mundo afora, sob
novas formas, após as condições de Era Industrial que a Grã Bretanha manejava
para seus interesses. .
CORREIO
BRAZILIENSE Vol. XV. Nº. 87. AGOSTO de 1815 pp.251 até 254
Buonaparte.
A p. 229 damos uma narração algum tanto
circumstanciada do que se passou com este homem, desde que abdicou pela segunda
vez a coroa de França, até que partio para o seu destino na ilha de Santa
Hellena. O character audaz, e imprudente de Buonaparte, mostra-se bem nos dous
documentos últimos, quo sahiram de sua maõ: um he a carta, que ele dirigio ao
Principe Regente de Inglaterra, pedindo-lhe um azylo neste paiz ; outro he o
protesto, contra a sua deportação e prizaõ em Sancta Hellena.
Fig. 13 – O destino do HMS BELLEROPHON era uma pequena e solitária Ilha de Santa
Helena no Atlântico Sul. A aproximação desta ilha foi severamente bloqueada
após o desembarque de Napoleão Bonaparte. Este bloqueio durou até
1821, ano da morte deste prisioneiro
especial.. A ilha de santa helena é
uma das emergências de uma cadeia de montanhas submersas que existe entre a
África e a América.
Buonaparte, havendo feito obstinada guerra aos
Inglezes e procurado por todos os modos a ruína de seu commercio, e a
destruição de seu character e reputação, assentou agora, que duas palavras suas
em uma carta ao Principe Regente obteriam de S. A. R. um acolhimento mui
respeitoso ! Este passo foi efeito da vaidade, arrogância, e presumpçaÕ, que
saÕ os traços mais principaes deste inimigo da humanidade; porém vendo que este
plano lhe falhou, mudou o tom, queixando-se da falta de generosidade do
Principe Regente ; e tendo a audácia de dizer ; que tinha preparado a S. A. R.,
e á naçaõ Ingleza, uma oceasiaõ de apresentar ao mundo um rasgo de
magnanimidade, mas que se perdeo o momento; e que se o deixassem viver como
particular em Inglaterra, daria a sua palavra de honra de se naÕ embaraçar mais
em negócios públicos.
Fig. 14 – A casa, destinada Napoleão
Bonaparte, na pequena e solitária Ilha de Santa Helena no Atlântico Sul ,
localizava-se no centro desta numa estradinha tortuosa que leva para a
localidade de LONGWOOD. Assim qualquer aproximação deste prisioneiro deveria
atravessar montanhas e vales e impossível de não percebida pelos ingleses.
Buonaparte sabia mui bem, que a Inglaterra éra o
único paiz da Europa, aonde sua vida seria protegida pelas leys; porque em
outra qualquer parte, o Soberano o poderia mandar esquartejar sem dar
satisfacçoens a ninguém, nem mesmo embaraçar-nse com justificar o acto ; e naÕ
haveria quem lhe tomasse contas. Aqui na Inglaterra naÕ ha quem tenha tal
direito; e qualquer pessoa, que matasse Bonaparte, fosse com ordem do Soberano
ou naÕ fosse, havia ser enforcada.
Mas, quando Buonaparte appella para a generosidade
de S. A. R., e da naçaõ Ingleza; quando deseja viver em Inglaterra, naÕ se lembra que a sua presença deve ser o
horror das pessoas para que appella; naÕ por ter feito guerra aos Inglezes,naÕ
por ter procurado destruir-lhe o seu commercio, naÕ pellos ter calumniado; naÕ
em fim por nenhuma de suas hostilidades como inimigo—a generosidade pede o
esquecimento desses actos, quando o offensor rendido deixa de ser inimigo
armado. Os motivos, que fazem Bonaparte indigno da generosidade Ingleza, e que
a sua consciência lhe faria ver, se a sua vaidade o naÕ cegasse, saõ motivos de
outra ordem mais importante e de mais permanentes efeitos. Como insultador de
tantos soberanos da Europa, a quem tractou com indesculpavel desacato,
Bonaparte devia ser obnoxio ao Principe Regente da Inglaterra. Como destruidor
da liberdade, em França, e em todos os mais paizes aonde ella podia existir, Bonaparte
devia ser objecto de execração a uma naçaõ livre, como he a Ingleza; estes
crimes naÕ podem esquecer-se; por nenhuma das partes.
Fig. 15 – Um dos raros acessos para desembarque na Ilha de Santa Helena era a
minúscula praia da JAMESTOWN com um reduzido números de prédios exprimidos
entre paredes de pedra A partir deste
povoado era necessário atravessar
montanhas e vales para chegar até a casa de Napoleão Bonaparte,.
¿ De quem pois esperava Bonaparte protecçaÕ na
Inglaterra ?
De um pequeno numero de indivíduos, que, atordoados
com o esplendor das victorias Francezas, naõ viam nunca os crimes daquelle
chefe de salteadores, nem as conseqüências funestas dessas mesmas victorias.
Mas o numero de taes indivíduos he taÕ pequeno na Inglaterra, que delles
nenhuma protecçaÕ podia obter Bonaparte.
Ultimamente, ponderaremos os fundamentos porque
Buonaparte esperava o favor de viver em Inglaterra, cousa que ninguém lhe
prometteo, e que só a sua vaidade lhe fez crer, que bastava explicar o seu
desejo, para que lho cumprissem.
Fig. 16 – A casa de Napoleão Bonaparte numa fotografia antiga. Localizava-se no
centro da Ilha de Santa Helena numa estradinha tortuosa que leva para a
localidade de LONGWOOD. . Foi nesta
casa que Napoleão faleceu no dia 05 de maio de 1821.
Buonaparte achou-se em Rochefort, cercado por terra
pelas tropas, que se destinavam a apanhallo, e entregallo ou a Luiz XVIII., ou
aos Alliados; na cidade éra acompanhado pelos espioens de Fouche, sem cujo
conhecimento naÕ podia dar um passo; por mar estava bloqueado por uma esquadra
Ingleza.
Nestes termos sendo inevitável o ficar prisioneiro
ou de uns ou de outros, escolheo lançar-se no meio dos Inglezes, aonde
considerou a sua vida segura. Escreveo portanto, ao PríncipeRegente, e sem esperar resposta; porque o perigo o
apertava, passou-se a bordo da esquadra Ingleza; alegando que appellava para a
magnanimidade de seus inimigos, com a mesma hypocrita arenga, com que os
bulroens e estafadores representam a alegam a generosidade de sentimentos da
pessoa a quem. querem enganar, quando vaõ pedir dinheiro emprestado, &c.
Fig. 17 – Após a espalhafatosa transladação dos restos mortais de Napoleão
Bonaparte para Paris e seu desfile em 15 de dezembro de 1840 sob o Arco do Triunfo[1],
a sua casa em Santa Helena passou ser objeto de turismo e de desfiles de caravanas
de curiosos.. A França possui um papel especial nesta conservação da
memória material e imaterial de um dos personagens e pontos culminantes de sua história.
Mais ridículo ainda seria o acreditar, no fundamento
alegado por Buonaparte para obter a generosidade, que lhe fazia conta; e vem a
ser a sua promessa debaixo de palavra d'honra, que naÕ se intrometeria mais em
negócios públicos.
Promessa, debaixo de palavra d'honra de Bonaparte !
Vil déspota, ¿quando cumpristes tu com o que
promettestes, se a tua vaidade, ambição, e avareza te guiavam para outra parte?
¿ Naõ jurastes servir a
Republica Franceza? Sim; mas destruistes com a ponta da bayoneta os conselhos
da naçaõ. ¿ NaÕ jurastes manter a Constituição, em que te declarastes Cônsul ?
Sim, mas em breve fostes perjuro, para te declarares Imperador. ¿ NaÕ jurastes a fé matrimonial á
mulher com quem casastes ? Sim, mas tu a repudiaste, sem outro motivo mais do
que de te fazer conta cazar com outra.
¿Naõ fizeste paz com a
Hollanda? Sim, mas tu lhe destruístes a sua Republica, para lhes nomeares teu
imbecil irmaÕ para déspota. O mesmo fizestes com a Republica da Itália, com a
Suissa, com as cidades livres d'Alemanha, com as cidades Hanseatiças
Seria bem longo enumerar todas as perfidias deste
inimigo da humanidade—e falia de sua promessa de palavra d'honra !
Nenhum homem pôde jamais fazer tanto bem á Europa como
Buonaparte—ninguém lhe fez nunca mais mal. Temos dicto; sobre este Individuo.
INGLATERRA.
A luta da Inglaterra contra Buonaparte, que tantas vezes
ameaçou annihilar os Inglezes, ficou gloriosamente concluída om a humiliaçaõ
deste inimigo implacável.
A exclusão dos navios estrangeiros, da ilha de St».
Hellena, foi annunciada no seguinte documento
Londres: Secretaria dos Negócios Estrangeiros.
26 de Agosto, 1815.
Lord Bathurst, um dos Principaes Secretários de
Estado de S. M., notificou hoje, por ordem de S. A. R. o Principe Regente, aos
Ministros das Potências Amigas, residentes nesta Corte, que, em conseqüência dos
acontecimentos, que tem succedido na Europa, se tem julgado conveniente, e
determinado, em conjuncçaõ com os Soberanos Alliados, que a Ilha de Sancta
Helena seja o lugar destinado para a futura residência do General Napoleaõ Buonaparte,
sob taes regulamentos, quaes se julgassem necessários para a perfeita segurança
de sua pessoa; e para este fim se tem resolvido, que todos os navios e vasos
estrangeiros quaesquer, sejam excluídos de toda a communicaçaõ, com a quella
ilha, e de se approximarem a ella, em quanto a dieta ilha continuar a ser o lugar
de residência do dicto Napoleaõ Buonaparte.
Não houve manifestação e muito menos ação da parte
do Regente Dom João VI diante desta renúncia, fim das hostilidades e prisão de
Napoleão Bonaparte. De fato o seu governo estava livre de sobressaltos. O cenário
era de reconstrução física, econômica e política. No aspecto político não há
como esquecer as simpatias de muitos lusitanos pela Revolução Francesa e os
seus porta-vozes
Assim é compreensível o tempo de permanência da corte portuguesa no
Rio de Janeiro após a renúncia de Napoleão Bonaparte. Havia necessidade de que
estas energias - acumuladas ao longo dos
últimos anos - tomassem outro rumo e objetivo.
Fig. 18 – O local da sepultura de Napoleão Bonaparte de 1821 até 1840- Nesta data
o seu corpo foi transladado para o Hotel des Invalides em Paris[1]
onde os seus restos mortais receberam a visita da rainha Vitória da Inglaterra
entre tantas personagens que mesmo sendo os seus inimigos reconheciam o sei
gênio militar.. A França hasteia
neste local o seu pavilhão tricolor.
Este período de acomodação e reconstrução coincide com tempo de vida do Corso na Ilha de
Santa Helena. Napoleão morreu no dia 05 de maio de 1821 Dom João VI desembarcou
em Lisboa no dia 04 de julho de 1821.
Napoleão Bonaparte aproveitou os seus seis últimos
anos di vida na solitária ilha de Santa Helena para reescrever a sua
auto-biografia e a partir do paradigma que ele mesmo tinha vivido
Da parte dos silenciosos e eficazes ingleses havia o
contraste flagrante com o paradigma francês Enquanto Napoleão confiava as suas
ações na concentração do poder na sua pessoa, no militarmos, na propaganda e no
populismo, os britânicos buscavam transformar cada súdito em soldada sem
centralismo ostensivo. Na sua cultura material transformaram o seu artesanato
em produção industrial de escala, intimamente associado a comércio e com capacidade de desvendar todos os segredos de
um contrato ou de um tratado que lhes era favorável.
A RENDIÇÂO de NAPOLEÃO VÌDEO
Navio BEELEROPHON
NAPOLEÂO a BORDO
ILHA de SANTA HELENA
TENTATIVA de RESGATE de NAPOLEÃO de SANTA HELENA VIA BRASILL
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