CIDADANIA e NOBREZA na
INDEPENDÊNCIA do BRASIl.
“Mateus, Mateus, primeiro aos teus”
Antigo adágio açoriano
http://www.dezenovevinte.net/obras/obras_jbd_art.htm
Fig. 01 – CENÁRIO para BAILADO na CORTE Jean Batista Debret
O cenário do evento crucial da Independência do Brasil, em 1822, produziu narrativas nas quais a nobreza ainda foi enaltecida ao modelo do antigo regime medieval e destacada em cores. As narrações, que permaneceram da participação do poder originário Brasileiro neste evento, foram caladas ou, no máximo, registradas de forma bem diferentes daquelas da nobreza evidenciada.
http://www.brasiliana.usp.br/bbd/handle/1918/624530107
Fig. 02 – O CASAMENTO de NEGROS Jean Batista Debret
A cidadania brasileira teve de se contentar, calada e silenciada, com as miúdas, encabuladas e cinzentas entrelinhas bem diferente daquela dos Norte Americanos e Franceses. No entanto, o tema e a forma da nobreza medieval já, neste tempo haviam sido anatematizados e excluídos da História de muitas culturas. Isto aconteceu graças aos preceitos, fundados na Razão do Iluminismo, que regulavam os pactos sociais da maioria das latitudes e das nações. Contudo este fato é silenciado pouco evidenciado no âmbito das narrativas do processo que levou ao pacto da Independência no Brasil. O realce do processo da Independência do Brasil sempre coube à nobreza e à corte lusitana que, nesta época, estava ancorada na sua ex-colônia. Ali pedia, e até impunha, o foco das poucas luzes que ela ainda podia arregimentar para a sua glória e o seu próprio esplendor. A rainha Dona Carlota Joaquina exigia que os seus súditos se ajoelhassem na sua passagem pelas vielas e ruas sujas da capital provisória do Reino Luso.
Fig. 03 – A GULHOTINA na Revolução Francesa
A França apresentava-se como modelo de cidadania, após guilhotinar a nata da sua nobreza. O povo entrou neste cenário com o papel de cidadão e recebeu os focos mutáveis da História. Este povo, transvestido de cidadão, galgou os precários degraus do palco da História incentivado pelos mais diversos interesses. Interesses que escreveram os seus papeis e que dirigiram ostensiva, ou subliminarmente os movimentos do povo transvestido com os novos trajes fabricados pela era industrial em franca expansão. Em especial aqueles que coerentes com os interesses do monetarismo capitalista e do consumismo dos produtos da era industrial incipiente e predadora na sua obsolescência programada. Cumpria-se de novo a sina de Édipo de matar o seu pai [agricultor] e possuir a mãe [Terra].
Fig. 04 – NAPOLEÂO DIANTE da ESFINGE Jean Leon GÉRÔME 1824-1904 - pintura c. 1868
Esta população, uma vez no palco e sob as luzes dos holofotes, avançou temerariamente para representar os temas políticos, sem possuir o menor preparo e competência específica. Esta exposição pública servia aos promotores e financiadores deste espetáculo, como processo ideal para identificar, numerar e eliminá-lo sumariamente como obsoleto, ao final do evento cênico. A guilhotina cortou mis cabeças do povo do que da nobreza. Esta cena ainda não terminou no século XXI. O monótono cortejo público destes autores continua este desfile caricato. Estão no palco os sucessores do destino Maximilian de Robespierre (1758-1794), do Danton e de Napoleão Bonaparte (1769-1821) todos eles sem sangue azul ou nobreza hereditária. Na cena pós-moderna - representada em vários países e culturas - os lideres populares também são descartados depois de estimulados, usados para representar e dar os grotescos recados e representar papeis não coerentes com a sua formação. Eles são eliminados, ato contínuo ou pelo enforcamento ou pela pura defenestração pública, para o delírio das massas que assistem magnetizados, na ágora digital, os atos que se desenrolam neste cenário político pós-moderno.
Fig. 05 – RIO de JANEIRO Outeiro da Glória -- Nicolas Antoine TAUNAY 1755-1830 -
A cultura lusitana trouxe, na sua origem histórica, uma contribuição mundial única no sentido da circulação da nobreza. Cristãos, mouros e israelitas chegaram, ao se constituir a nação portuguesa, a um precário acordo: a sua nobreza não seria de sangue e nem por antiguidade. A nobreza lusitana seria uma conquista independente do clã, da etnia, do gênero e da idade. O critério seria o serviço prestado à nação lusa que se constituía em algo diferente e criativo em relação às demais nações. Este contrato de origem da nação lusa contrariava a política espanhola do sangue, do gênero da cultura islamo-judaica e da Igreja, do mouro clã ou do ancião das tribos ancestrais. Muitos consideram Portugal como a primeira nação moderna e ainda em plena vida própria.
Fig. 06 – HERALDICA : ESCUDO de HERNAN CORTEZ
Pode-se atribuir a expansão territorial desta pequena terra aos efeitos fantásticos deste contrato de origem da nação lusa. Como uma cultura não se instaura no grito, ou por um único ato, este contrato, do outro lado, nunca foi respeitado na pureza de sua intenção original e nem regulamentado pelas gerações seguintes. Apesar disto este contrato ainda regulava, na sua essência, a nobreza do Império Brasileiro. A República Brasileira sepultou os seus resquícios formais, e, no deboche, passou a atribuir os títulos de sua nobreza aos cães.
Fig. 07 – STROHL Hugo Gerhard (1851-1919) - Escudo de Krain até 1918
Ninguém busca recuperar títulos ou brilhos falsos da nobreza medieval decaída. Títulos de nobreza não correspondem mais às funções originais para os quais foram criados por decisão humana. No contrário as funções, por si mesmas, não constroem e sustentam uma cultura exigente e complexa de uma civilização em desenvolvimento crítico. As funções não preservam e não geram forças e energias necessárias para a natureza daqueles que exercem um cargo numa cultura entrópica e ainda sem projeto definido. Mesmo os mais severos e minuciosos contratos estão sujeitos à entropia. Eles não abarcam todos os horizontes de uma cultura planetária sujeita a um equilíbrio homeostático entre forças múltiplas e mutantes.
http://www.nytimes.com/slideshow/2011/08/21/arts/design/08212011_DETROIT_SS.html
Fig. 08 - USA - DETROIT – Ruínas industriais – NYT 21.08.2011
Na aplicação tecnológica da Ciência é possível um equilíbrio homeostático entre forças naturais múltiplas e mutantes. Por mais complexos, sofisticados e adiantados que sejam, seria grotesca a sua aplicação à sociedade e cultura humana, como uma espécie de mecânica política. Contudo ganham espaço e sentido de suporte no âmbito da circulação das informações. Passam a constituir ferramentas e inestimáveis alavancas para o exercício de um poder coletivo e constantemente renovado. Nem títulos, nem cargos ou singelo voluntarismo de boa vontade, preparam o cidadão para orientar, coordenar e vetorizar tomadas de decisão de consequências locais e planetárias. Também não há como ceder à eugenia de uma colméia de insetos que prepara longamente a sua rainha que confere ao seu enxame os mesmos e idênticos clones. Procusto já tentou realizar esta façanha pelo instrumento do seu leito unificador, antes de ser vencido pelo grego Perseu.
Uma nação contemporânea que se abstém de uma meritocracia, de mecanicismos ou eugenia impõe uma educação especifica para a administração dos cargos públicos. As nações mais atentas à esta preparação, possuem instituições quase específicas para este tipo de educação cidadã. A França possui para esta preparação especifica de sua elite burocrática as suas “Écoles” referendadas às respectivas Academias e ao “Institut de France”. Para o povo em geral e para aqueles que não exigem de si mesmos esta preparação especifica, destinou a Sorbonne. Nenhuma é perfeita e todas estas formas estão sujeitas à rápidas, silenciosas e intempestivas entropias institucionais.
Fig. 09 – LIBIA - O TRONO- SOFÁ da Filha de Gaddafi - GLOBO 27.08.2011 -Objetos de uma nobreza fabricada e com raízes popularescas. Os objetos de ostentação desta nobreza são também de gosto duvidoso de uma duvidosa coerência com o poder originário e com o pacto social de uma nação islâmica sem imagens e figuras antropomorfas.
No entanto, na ausência deste projeto, brotam livres os arcaicos resquícios da política do sangue azul, do clã, da cultura do gênero ou da gerontocracia das tribos ancestrais. Desenvoltos infestam o terreno da política pública, fomentados e adubados pelos interesses comerciais e ao sabor de projetos corporativos duvidosos e de curto prazo. A ignorância, a mistificação e a desqualificação das informações são as maiores aliadas - para quem busca o poder - sem possuir as qualificações para o seu exercício continuado e honesto.
Fig. 10 – William John THOMS 1803-1885
A cultura inglesa foi pioneira em entender o papel que a Ciência poderia desempenhar no direcionamento dos focos mutáveis da História. Aplicou este saber sobre o povo que se move neste cenário e convidado a desempenhar o papel de cidadão na palco público. A Inglaterra, impulsionada pela crescente de sua indústria, concebeu e reconheceu a Ciência do Folclore. Este saber recebeu o status de Ciência da mente e pela proposta formal por William John Thoms (1803-1885). Este publicou, em 22 de agosto de 1846, um artigo, com o título Folk-lore, na revista The Athenaeum de Londres e com o pseudônimo de Ambrose Merton.
http://www.folkloredelnorte.com.ar/folklore.htm
Fig. 11 – Emblema argentino do FOLK-LORE aprovado no Primeiro Congresso Nacional de Folklore em novembro de 1949 - Ideado por Rafael Jijena Sánchez, e desenhado por Guillermo Buitrago.
Nos desdobramentos, desta raiz Iluminista, nasceram, não só as Ciências com aplicação tecnológica, mas também as Humanas. As Ciências Humanas desdobraram-se, como as Ciências de aplicação tecnológica, em todas as direções. Além dista a Sociologia, a Psicologia, a Antropologia, a Ecologia ... criaram, os seus heróis de origem e cercaram a sua competência com limites próprios. Estes heróis de origem e seus seguidores constituíram o seu panteão de uma nova nobreza. Desta maneira a Ciência foi elevada, pelo Iluminismo, como a nova plataforma de nobilitação e de legitimação inquestionável. Os seus pioneiros, e os heróis, substituíram a nobreza da política do sangue, do gênero da cultura islamo-judaica e da Igreja, do mouro clã ou do ancião das tribos ancestrais. O seu âmbito histórico foi a Era Industrial. Estas mesmas Ciências moviam-se neste âmbito e a sua vida dependia das suas circunstâncias. Entre estas circunstâncias está a lei da obsolescência programada. Assim o Folclore é considerado obsoleto e velho, há muito tempo, pois está sujeito, desde a sua origem, a lei da obsolescência programada das circunstâncias da Ciência. No seu lugar eguem-se - vitoriosas e vistosas - a Antropologia, a Etnografia e a Semiótica, associadas a tantas outras Ciências Humanas alavancadas pelos meios numérico digitais.
Fig. 12 – CAPELAMOVEL de CASAMENTOS - The Guardian em 14.09.2011
Neste meio tempo, enquanto a linha de montagem era hegemônica, ela planejou, desenhou e gerou produtos e mentalidades que elevaram o povo no palco da História. Para tanto o Folclore reescreveu todas as narrativas das diversas culturas. Talvez o caso inglês é emblemático. Ali a Ciência do Folclore, no auge de sua credibilidade pública, gerou uma narrativa de uma tradição que parece autêntica e verdadeira. Construiu esta narrativa a partir de parcos e de problemáticos vestígios pontuais encontrados nos acervos de um passado revisitado. Ao perscrutar com o olhar interessado nos produtos apropriados à era industrial dizia-se orientado pela Ciência do Folclore. A Ciência do Folclore colheu, neste passado, narrativas, peças únicas e vestígios que interessavam a este olhar industrial. Por obra e graça deste olhar industrial os parcos e problemáticos vestígios pontuais do passado revisitado, foram generalizados, redesenhados e apropriados aos processos da produção do múltiplo, em larga escala. Evidente que a concepção de obsolescência programada estava embutida neste processo industrial, pois as máquinas não podiam parar. Esta exigência de não poder parar, sob pena de morte provinha do custoso e caro acúmulo de materiais, mão de obra especializada e de capitais, que impunham uma lógica bem distinta da nobreza fixa no tempo e lugar.
Contudo as máquinas industriais pararam. Os nobres e heróis deste ciclo históricos tiveram o mesmo destino da obsolescência dos produtos industriais e que haviam substituído a nobreza medieval tradicional. A Enciclopédia, com os seus heróis e saberes, foi engordar as prateleiras dos sebos em todas as concentrações urbanas provocados pela era industrial. Os novos heróis e nobres duram não mais do que os 15 minutos previstos pelo artista Andy Warhol.
Folclore
http://www.arteducacao.pro.br/Cultura/Folclore.htm
William John THOMS
http://en.wikipedia.org/wiki/William_Thoms
FOLKLORE – emblema argentino aprobado por el Primer Congreso Nacional de Folklore, celebrado en Buenos Aires en el mes de Noviembre de 1949, fue ideado por Rafael Jijena Sánchez, y llevado a la realidad por el pintor Guillermo Buitrago en 1939.
http://www.folkloredelnorte.com.ar/folklore.htm
MAXIMILIAN de ROBESPIERRE - GUILHOTINA
http://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2011/07/maximilien-robespierre.html
NAPOLEÃO BONAPARTE
http://pt.wikipedia.org/wiki/Napole%C3%A3o_Bonaparte
ORTEGA y GASSET – Rebelião das Massas
http://cultvox.locaweb.com.br/livros_gratis/rebeliao_massas.pdf
Mateus, Mateus, primeiro os teus
http://www.eunaotenhonome.com.br/blog/blogdoluciovaz?tv_pos_id=21179